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Capítulo V – Resultados dos dados e análise: A aprendizagem organizacional vista do

5.1 Resultados e tratamento dos dados

5.1.3 Análise dos dados

Neste estudo, a técnica proposta adequa-se à discussão da gestão entre as organizações investigadas, principalmente, em relação aos processos de decisão, à qualidade da informação percebida pelos inquiridos e também a clareza da linguagem com que tais eventos ocorrem no dia a dia das instituições. Esta técnica possibilita assim a análise sobre a existência ou não de práticas características da aprendizagem organizacional frente aos saberes, competências e habilidades coletivas nos níveis hierárquicos das instituições.

As nove variáveis são agrupadas em três grupos distintos, conforme as questões comuns propostas nos inquéritos junto dos gestores, pessoal de nível intermédio e pessoal técnico operacional, expressando-as em três dimensões. Tais dimensões são nominadas e discutidas sob a égide dos fatores que congregam as práticas sobre decisão, informação e linguagem.

Os grupos das variáveis são analisados quanto a possíveis diferenças entre os três níveis inquiridos: gestor, intermédio e técnicos operacionais.

Pode-se dizer que os dados recolhidos e analisados no âmbito de atuação dos gestores quando comparados com o pesssoal dos níveis intermédio e técnico operacional, reforçam a hipótese inicial de que os gestores, localizados hierarquicamente no topo da pirâmide organizacional, tendem a atribuir maiores valores de satisfação com suas atividades desenvolvidas nas três

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dimensões (decisão, informação, linguagem). Ou seja, este grupo considera bastante satisfatórias, não somente as decisões tomadas na organização, como também os graus de informação e clareza de linguagem entre os setores.

Observa-se ainda a presença de aspectos relevantes, caso 8 e caso 9, nas dimensões decisão e linguagem, que correspondem a opinião de dois gestores.

No grupo decisão, observa-se que os gestores atribuem uma pontuação média de 91,76 para a forma como esse processo é desenvolvido na organização. Por outro lado, o nível intermediário (76,19 pontos, em média) e o nível técnico-operacional (média de 68,76), tendem a atribuir menores valores de satisfação acerca do ambiente em que ocorrem as decisões. Tal contexto pode estar relacionado à dimensão informação que, possivelmente, não dialoga satisfatoriamente com o fator decisão.

A dimensão linguagem parece ser a mais frágil nas organizações estudadas. Para os gestores, a linguagem é totalmente satisfatória (84,63 pontos). Já para os níveis intermédio e técnico- operacionais, com pontuações de 60,21 e 60,40, respectivamente, parece que esta dimensão apresenta ruídos nas comunicações entre os atores envolvidos. Ou seja, não se estabele uma comunicação satisfatória entre os intermédios/ténicos e os gestores, já que a diferença de pontuação 84,63 (gestores) e os outros níveis (60,21 e 60,50) pode ser considerada como um indicativo de não dialogicidade – ou, pelo menos, dialogicidade empobrecida - entre essas partes.

A análise entre os níveis hierárquicos mostra que, nas dimensões decisão e informação, todas as diferenças são significativas e confirma a distinção entre gestores e intermédios, e estes, do pessoal técnico operacional.

Registrada essa diferença, a análise prossegue com o intuito de compreender o significado e o sentido do trabalho para estes atores no cotidiano das organizações quanto ao chamado cubo de aprendizagem, intuição, interpretação, integração e institucionalização (Crossan et al., 1999 como citado em Machado et al., 2010; Eco, 2007). As dimensões decisão e informação ganham contornos diferentes e o resultado sob a perspectiva dessa teoria, não alcança as necessárias

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fases que culminam na aprendizagem dos 4 I's.

Na dimensão linguagem, observa-se diferença significativa entre o segmento dos gestores comparado com os outros dois segmentos (intermédio e técnico operacional). Entretanto, não há diferença significativa nas médias de intermédios e técnico operacionais em relação à clareza da linguagem. Este fenómeno sugere que gestores, embora considerem clara a linguagem que utilizam na orientação do trabalho, junto aos seus subordinados, não dialoga satisfatoriamente com os demais níveis, de acordo a percepção destes últimos.

A realidade investigada demonstra o comportamento dos três níveis organizacionais quanto às dimensões, decisão, informação e linguagem, nos processos de trabalho e na interação dos grupos, conforme os dados obtidos. Neste cenário discute-se as práticas que caracterizam a aprendizagem organizacional e observa-se percepções adversas sobre os encaminhamentos das decisões. A orientação distinta para uma mesma ação no trabalho ou ainda sinalizada por fonte com autoridade organizacional também distinta, inclusive por níveis hierárquicos, pode ensejar uma baixa capacidade de desempenho cooperativo na força de trabalho. (Fleury & Fleury, 2006; Kolb,1990; Senge, 1999).

De acordo com os pressupostos da teoria organizacional, o planeamento para a eficiência e a eficácia de resultados, sugere um alinhamento das ideias e suas consequentes ações, de modo a transmitir aos membros da organização, clareza de metas e objetivos (Fleury & Fleury, 2006). Estas competências e habilidades assumem os respectivos significados para os grupos de trabalho de acordo com a cultura organizacional e frente às práticas efetivamente conduzidas. Verifica-se na investigação, procedimentos comuns na vida organizacional nos quais a pauta de reuniões, metas e ações, não raras vezes são modificadas e/ou não cumpridas, motivadas por fatores internos e externos, que oscilam desde os aspectos do cotidiano a questões de maior determinação económica, política e fiscal.

Registre-se que esta visão é corroborada pela experiência profissional da própria investigadora, ao longo dos serviços prestados na esfera municipal e na esfera estadual, no exercício de suas funções.

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A atuação no ambiente de trabalho, frente aos processos decisórios das organizações supra, na lida com as rotinas da gestão, planeamento, acompanhamento, implementação de serviços, permite certificar à investigadora, práticas do comportamento organizacional no embate de suas metas e resultados. Não trata-se de um recorte sob estudo, mas sim de uma presença e participação nesses espaços de convívio, que pelas suas atribuições, possibilita um conhecimento sobre a cultura organizacional do serviço público (Silva Neto et al, 2009).

A comunicação empreendida sobre as macro-estratégias tem uma incidência da ordem de 87,9% e as reuniões são utilizadas como via para a disseminação das informações conforme percepção de 42,4% dos respondentes. Estas evidências demonstram uma fragmentação dos instrumentos restantes (tabelas 5.14 e 5.15). Em outras palavras, um dado volume de macro- estratégias é transmitido via reuniões e outro, via instrumentos diversos, o que remete a interpretações adversas, sinalizadas pelo instrumento vetor, comunicado formal, contactos informais.

Verifica-se a adoção de práticas caracterizadas pela informalidade, apoiadas nas vivências anteriores, com pouca permeabilidade dos conhecimentos formais, observados os instrumentos utilizados para a disseminação das informações, ao mesmo tempo em que estas (reuniões) acontecem num patamar de 38,3% conforme o olhar do técnico operacional.

No âmbito do presente estudo, os resultados encontrados na tabela 5.2 e no gráfico 5.2, apresentam a ocupação dos postos de trabalho por género, na estrutura organizacional, quando verifica-se a presença das mulheres em dois terços no nível intermédio e também dois terços no nível do técnico operacional e, no topo das organizações, a atuação destas é da ordem percentual de 8,5% em ambos os setores.

Esta situação vista sob a perspectiva do fenómeno “teto de vidro”, confirma que a realidade local não é diferente dos indicadores apontados pelos estudos desenvolvidos a respeito e afere- se compreensão semelhante, pois os embates vivenciados no nível intermédio e as pressões próprias desse nível de comando habilitam e imprimem experiência às suas ocupantes (de nível intermédio) como aptas aos postos de nível superior.

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Esta afirmativa encontra respaldo na experiência da própria investigadora, tanto pela trajetória enquanto servidora do município, na ocupação de postos de administração e na lida direta com planos de cargos e carreira, gestão de pessoas e planeamento, quanto no convívio dentro das organizações sob estudo, notadamente na abrangência de suas atividades junto aos níveis em discussão.

As dimensões decisão, informação e linguagem assumem contornos divergentes quanto a percepção dos técnicos operacionais sobre os processos de trabalho, em detrimento da visão dos gestores e dos intermédios, na medida em que discutem os resultados das práticas de inovação e experiência e, trabalho em equipa multidisciplinar (gráficos 5.13, 5.14 e 5.15 e, tabelas 5.22, 5.23 e 5.24).

Os dados e resultados aferidos apresentam diferentes apropriações do conhecimento veiculado nesses ambientes, pois a compreensão difere entre os níveis hierárquicos, sobre temas de potencial desdobramento no planeamento e nas ações administrativas e estratégicas, especialmente na base organizacional. Registre-se que o entendimento entre o gestor e o intermédio são aproximados, entretanto no âmbito do técnico operacional, está-se a pontuar indicadores diferentes.

O comportamento dos setores investigados apresenta similaridades no âmbito institucional, divergências quanto à natureza de seus serviços e ao longo do desenvolvimento dos estudos, a análise dos dados constata que essas divergências não se confirmam, posto que a conduta da gestão reage de modo similar em ambos.

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