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Capítulo II – Referencial teórico

2.1 Aprendizagem organizacional

2.1.3 Inovação nas organizações

No ambiente de negócios de hoje, a tarefa executiva recorrente e exigente tem sido a performance da gestão e decisões para a efetividade da inovação e da mudança. Por vezes parece que cada um dos aspectos do mundo dos negócios encontra-se em estado de ininterrupta mudança – tecnologia, regulação governamental, concorrência global.

Essas rápidas mudanças no mercado tornam cada vez mais difícil, e essencial, para a empresa pensar em termos de futuro e estar constantemente antecipando qual serão os determinantes de valor do amanhã – a combinação certa de qualidade, serviço, características de produto e preço. Para competir nesse ambiente altamente dinâmico, as empresas precisam criar novos produtos, serviços e processos; para predominar, precisam adotar a inovação como um modo de vida corporativo (Tushman & Nadler, 1997, como citado em Starkey, 1997, p. 166).

Schumpeter (1997), em seu livro “A Teoria do Desenvolvimento Económico”, faz a distinção entre invenção e inovação, onde teoriza a invenção como criação de um novo instrumento e que, é compreendida como inovação, somente quando esse produto é transformado em um

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produto novo. Observado que o ponto essencial dessa construção é que, este produto, ainda que original, seja economicamente utilizável.

Schumpeter (1997) afirma, em sua teoria, que a inovação é propulsora de desenvolvimento, na essência dos processos económicos, a partir da criação das ideias postas em prática e que transformam continuamente o capitalismo.

Galbraith (1997 como citado em Starkey, 1997, pp.190-218) faz distinção entre a invenção e inovação nos seguintes termos: enquanto invenção é a criação de uma ideia nova, a inovação constitui um processo de aplicação de uma ideia nova para criar um produto ou processo novo. Ideias novas - exequíveis, concretizáveis e vendáveis - estão sendo procuradas e promovidas como nunca, porque são consideradas o recurso por excelência do crescimento de produtividade e da capacidade de competir no mercado mundial.

Nos estudos de Asheim e Cooke (1997), onde discutem inovação com ênfase no aprendizado regional (learning regions), apresentam duas dimensões de organização no sistema produtivo que passa pela capacidade da gestão de possibilitar investigação e desenvolvimento, na identificação de novos produtos ou processos, como também, a capacidade de aprender, a partir de contínuo esforço e valorização das trocas de conhecimento, saberes e experiências. Entendem que o sucesso económico nas organizações, está na competência de se estabelecer proximidade e flexibilização dos processos internos e externos da atmosfera de seus serviços ou produtos (Asheim & Cooke 1997 como citado em Diniz, 200) afirma que o surgimento da abordagem dos sistemas de inovação, com ênfase na economia regional, deve-se às competências organizacionais de articularem seus saberes corporativos, identificados com suas capacidades, a fim de imprimir significado e utilização dos conhecimentos apreendidos.

Nessa mesma discussão, Asheim (2007 como citado em Gerry, 2007) coloca os diferentes tipos de base de conhecimento como o analítico, o sintético e o simbólico, apropriados às diferentes regiões para fazer frente aos diferentes desafios, sustentados pelos processos dedutivos, indutivos e criativos, respectivamente. Nesta perspectiva, identifica-se a participação das pessoas no ambiente de trabalho, como vantagem “construída”, pois fomenta o planeamento através de estratégias organizacionais próprias, que podem ser assumidas como inovação.

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Asheim (2007 como citado em Gerry, 2007) ao refletir sobre os sistemas de inovação regionais afirma que o conhecimento não é mais restrito a algum grupo ou região, porém, diferentes regiões apresentam diferentes desafios para o alcance de ambientes com conhecimento criativo, onde o conhecimento é produzido por pessoas nos seus espaços de trabalho.

Não obstante, percebe-se que as organizações, incluidas àquelas que compõem o setor público, encontram-se nesta dinâmica pela busca da tecnologia para cumprir os protocolos da regulamentação do Estado, face aos modelos de prestação de contas e outros tocantes ao controle interno e aos processos da prestação de serviços no âmbito de suas atribuições.

Ao voltar-se para o ambiente interno das organizações, verifica-se essa situação na qual os atores dos processos de trabalho – gestores, decisores, técnicos, profissionais, prestadores de serviços e fornecedores, bem como outros parceiros e stakeholders localizados dentro da estrutura organizacional, seguido de demais setores que compõem os serviços, também requerem maior participação, acesso à informação, interação com os processos de trabalho, educação e formação continuada. Concomitantemente, os respectivos gestores têm que responder com desempenho competitivo e inovador às pretensões dos seus co-atores.

Organizações altamente inovadoras são sistemas de aprendizagem altamente eficazes. As organizações que conseguem ser autocríticas – e conseguem aprender a continuar melhorando o trabalho de hoje e, ao mesmo tempo prepararem-se agressivamente para o trabalho de amanhã – serão mais bem-sucedidas do que aquelas que se encaminham para a maior estabilidade, para a complacência e para uma emulação reactiva das iniciativas alheias em vez de uma pujança proactiva e vanguardista. A inovação sustentada, embora possa parecer algo paradoxal, exige, em simultâneo, tanto estabilidade como mudança; a estabilidade possibilita economias de escala e aprendizagem incremental, enquanto a mudança e a experimentação são necessárias à conquista de avanços nas áreas de produto, processo e tecnologia (Tushman & Nadler, 1997, como citado em Starkey, 1997).

A discussão neste enfoque do estudo percebe a inovação tratada sob duas categorias: a primeira está relacionada com mudanças incrementais, que propiciam características adicionais, novas versões ou extensões de uma linha de produtos anteriormente padronizada, voltadas para as

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necessidades de clientes e, construir significativa vantagem competitiva; a segunda diz respeito a inovação de produto, enquanto processo, que envolve a combinação criativa de ideias ou tecnologias existentes associadas ao desenvolvimento das práticas dos serviços. Ambas as categorias requerem a adoção de postura aberta para mudança, capaz de lidar com o novo, com os riscos inerentes a aplicação, e para tanto, considera-se estratégico, potencializar a gestão em suas habilidades explícitas e tácitas (Perin, Sampaio & Hooley, 2007).

A inovação de processo modifica a forma com que os produtos e serviços são feitos e entregues, sendo invisível para o usuário, exceto no caso de mudanças no custo ou na qualidade do produto. E ainda, afirmam que como na inovação do produto, a maioria das inovações de processo são aperfeiçoamentos incrementais que resultam em custos menores, melhor qualidade ou ambos, e que à semelhança do que ocorre na inovação do produto, quanto maior o grau de mudança de processo, tanto maior a incerteza e também a necessidade da aprendizagem organizacional (Perin et al, 2007).

Este entendimento a respeito da inovação estabelece um movimento de mudança do que está posto para outra situação, a aprendizagem que remete ao processo de aprender desencadeia novo conhecimento e sua aplicação, os quais agregados ao conceito anterior, e, somados ao que está confrontado, poderá resultar na construção de outro saber.

Amparado por esta teorização, o presente estudo busca a compreensão acerca das práticas de inovação nos setores de serviço da saúde e do transporte coletivo urbano, a fim de verificar a existência deste movimento em torno da aprendizagem organizacional, na consecução de suas atribuições e competências.

Na iniciativa privada há uma clareza determinada que orienta o caminho a ser percorrido, na lógica do capital. Na coisa pública verifica-se esse percurso desafiado pela complexidade das políticas públicas, pelo discurso político, pela burocracia dos processos e não raras vezes, pela ausência ou equívoco dos objetivos a serem alcançados; além do cumprimento dos indicadores socioeconómicos estabelecidos pelo Estado e resposta à sociedade (Bresser-Pereira, 1998).

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eficaz, participativa, com planeamento estratégico estão presentes nos ambientes de serviços públicos de saúde e de transporte coletivo urbano, posto que a gestão das atividades de trabalho é marcadamente questionada, nos dias atuais, para prestar atendimento de qualidade, custos justificados, prestação de contas e equacionamento do orçamento público (Bresser Pereira & Spink, 2006).

Os gestores, de modo consciente ou não, acerca das potencialidades das ferramentas gerenciais e, assessorados pelos níveis intermédios dessas organizações, definem a linha tênue da aprendizagem enquanto saber que mobiliza conhecimentos dissemina e partilha informações com a utilização de recursos inovadores.

Ao investigar as práticas e experiências de inovação nos serviços públicos de saúde e de transporte coletivo urbano, faz-se necessária a compreensão acerca da atitude organizacional frente às ações administrativas presentes na implementação dos processos, nas discussões dos resultados, na incorporação da rotina das instituições e respectivos registros.