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Análise e classificação do material coletado

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CAPÍTULO I O JORNALISMO VISUAL NAS NARRATIVAS JORNALÍSTICAS E NO

CAPÍTULO 3 REPORTAGENS VISUAIS A PROPOSTA DE TIPOLOGIA DE

3.2 Análise e classificação do material coletado

A terceira parte de nossa pesquisa foi a análise qualitativa do material coletado. Constituindo-se em:

(i) ordenação dos dados; (ii) classificação dos dados; (iii) análise propriamente dita;

(iv) proposição de uma taxonomia que oriente a partir de agora as pesquisas e os trabalhos em Facilitação Gráfica, pois acreditamos que: “A análise qualitativa não é uma mera classificação de opinião dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações” (Minayo, 2009, p.25).

Quanto à análise, utilizamos como referência o estudo de Amaral (2010), que propõe uma tipologia para infográficos, adaptando-a, levando em consideração as características da Facilitação Gráfica. Amaral propôs uma tipologia para o

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webinfográfico, ou seja, o infográfico em ambiente digital e on-line (conectado à rede). Diferente de nosso trabalho que coletou materiais de comunidade de facilitadores gráficos e por meio de palavras-chave na internet, Amaral selecionou os veículos e o recorte de tempo que analisou. Dali selecionou quantas reportagens estavam “em forma de” webinfográfico e dessas recortou usando o seguinte filtro:

> Presença de elementos que compõem o webinfográfico;

>> Classificação do webinfográfico em relação à geração (as mesmas do jornalismo digital defendidas por Barbosa e Schiwingel);

>>> As mídias que compõem o webinfoigráfico.

Feito o filtro, o pesquisador analisou se a multimidialidade (áudio e vídeo) nos exemplos coletados era: (i) ilustrativa (ii) coadjuvante (iii) protagonista (AMARAL, 2010, p. 188).

Espelhando-se nessa categorização proposta, adaptamos para:

- Se as facilitações gráficas enviadas pertencem a veículos da imprensa (ou seus canais nas redes sociais digitais) ou a canais informativos (por exemplo, o canal do Youtube de um médico que explica enfermidades de diversas formas, e uma delas foi um vídeo em forma de Facilitação Gráfica);

- Estilo que caracteriza uma Facilitação Gráfica no jornalismo digital. Acreditamos ser cedo ainda para estabelecer gerações na Facilitação Gráfica praticada no Brasil, mas podemos destacar três modalidades: vídeos desenhados em papel e caneta, vídeos animados simulando o desenho, vídeos animados e desenhados fazendo uso de ferramentas digitais para inserir o desenho.

- Classificação da Facilitação Gráfica no jornalismo digital de acordo com a multimidialidade: presença de texto, vídeo, foto e áudio.

- Análise da multimidialidade nas facilitações gráficas, se são ilustrativas, coadjuvantes ou protagonistas no processo de comunicação.

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Como já discutimos anteriormente, a Facilitação Gráfica predispõe o uso de imagens, palavras-chave e citações (registrada com traços gestuais) de modo conjunto para caracterizar a síntese com o intuito de explicar algo. Facilitação Gráfica, em seu terreno original (realizada em eventos ao vivo) é um subproduto de algo já realizado (evento, palestra, curso, debate, etc). Assim como uma reportagem, que para existir vem de um fato, uma história, ou algo a ser contado/ comunicado.

Com base nos estudos de Sodré, notamos que a Facilitação Gráfica na imprensa assemelha-se a uma reportagem documental, pois apesar de recorrer a desenhos simples e frases explicativas, vai fundo em alguns temas e tem um caráter explicativo e quase comprobatório, como se quisesse comprovar um ponto, desenhando para que se faça entender.

Consideramos “multimídia” todas as FGs encontradas, pois é essencial que se tenha desenho e texto para configurá-la, ela é multimídia na essência. Além disso, focamos as buscas em canais de webjornalismo (sites, mídias sociais e plataforma de vídeos), dando as FGs mais chances de explorar outros elementos, como áudio. Assim, alinhamos critérios com o referencial de nossa metodologia:

Portanto, entendemos o conceito de multimídia como a união desses diferentes formatos de apresentação de conteúdos em um único material, jornalístico ou não, com a diferença em relação à multimidialidade, caracterizada como tal dentro do contexto do webjornalismo, como uma característica do meio (AMARAL, 2010, p. 154).

A maioria das FG encontradas, (devido à ferramenta de busca que consistiu em digitar palavras-chave em uma plataforma de vídeo - Youtube), está no formato vídeo. É, pois, multimídia, por congregar os elementos imagem, texto, áudio e efeitos de animação. Nessa análise, contabilizamos seus elementos para compor a classificação.

Focados os esforços em encontrar facilitações gráficas midiatizadas, nosso corpus possui 33 trabalhos, divididos em amostras únicas, playlists (coleção de vídeos similares) e canais (nesse caso, a maioria dos vídeos dos canais trata de FGs). Sobre o reconhecimento da Facilitação Gráfica, enquanto atividade consolidada, apesar de todos os exemplos trazerem os elementos da técnica, apenas 12% dão o devido crédito, ou seja, dizem que aquele material é uma Facilitação Gráfica de algo, ou contratam facilitadores gráficos da comunidade. Dos 33 analisados, 29 (88%) não chamam o trabalho de FG nos créditos (os nomes mais

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utilizados são ilustrações / desenhos) e outros nem crédito dão ao material ou ao profissional que realizou o trabalho.

Ainda sobre os créditos, um ponto interessante para se notar, fazendo um comparativo da pesquisa atual com a original, de 2014, é que nesta os vídeos são feitos por equipes. A maioria coloca os créditos e separa em “texto”, “narração”, “desenhos” e “edição” (com variações na forma com que cada equipe chama cada frente de trabalho). Na pesquisa anterior, os facilitadores gráficos “especializados” revelaram em entrevistas trabalhar sozinhos, no máximo em dupla, e muitos não creditam seus trabalhos, e se creditam, colocam o nome das empresas/coletivos das quais fazem parte.

Graças ao rumo que quisermos dar à coleta de dados e por nos basearmos em uma série de vídeos de um canal de imprensa (Revista Superinteressante) conseguimos reunir 18 (54%) trabalhos em FG na imprensa, contra 15 (46%) de outros canais informativos, tais como canais independentes de divulgação científica e canais governamentais de divulgação de informações, cursos e campanhas.

Além de observar as plataformas onde os trabalhos estavam inseridos e seus elementos multimídia, foi necessário separar o ‘estilo’ de cada um. Notamos que os vídeos - e painéis - de FG podem ser construídos de diferentes maneiras, e ao assistir - ou contemplar - cada um podemos identificar o modo como foram “inscritos”.

Quanto à forma como os trabalhos se apresentam (o que chamamos de estilo) notamos que:

● 51% são vídeos utilizando papel e caneta e a mão do profissional se movendo.

● Cerca de 6% (2 trabalhos) estão na forma que chamamos de “painel”, ou seja, são imagens estáticas que possuem os elementos que caracterizam as FGs, mas não estão em forma de vídeo.

● Outros quatro exemplos (12%) são vídeos simulando desenhos reais, existem softwares disponíveis na Internet que fazem esse tipo de adaptação.

Existe a “versão analógica” desse software, e temos um exemplo que foi feito assim. Os desenhos foram feitos “à mão” com papel e caneta, porém recortados e inseridos no cenário de captação da imagem conforme a narração pedia. Os desenhos são previamente escolhidos e postos em ordem, o programa edita e

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acelera as imagens de acordo com a narração do vídeo. A mão que aparece desenhando é uma mão humana, porém é praticamente a mesma em todos os exemplos, trata-se de uma simulação. Chamamos esse exemplo de “Live action - Vídeo com desenhos prontos, porém inseridos conforme a narrativa”.

● Ainda nesse campo da “versão digital” dos trabalhos de FG, 13% (4 exemplos) são de vídeos onde o desenho é realizado de fato enquanto as imagens são captadas, porém não faz uso de papel e caneta e sim de outras ferramentas, como programa de edição de imagem e tablets especiais para desenho digital.

O Canal Minutos Psíquicos (que não é jornalístico, porém é de divulgação científica) possui vídeos em papel e caneta e também desenhos digitais, assim como a playlist sobre as regras em alguns esportes olímpicos (do canal da rede TV Band no Youtube), que utiliza alternadamente as técnicas para compor as imagens dos vídeos. Estes dois exemplos respondem por 4% de nossos trabalhos analisados.

Apenas um canal (porém com diversos vídeos no portfólio) congregou três estilos diferentes em seus vídeos: o canal de estudos Descomplica. Nele, podemos encontrar vídeos desenhados com papel e caneta, vídeos com simulador de desenhos e, por fim, vídeos de desenhos digitais.

Confira na tabela a seguir a distribuição dos estilos de forma mais detalhada: Tabela 2 – Distribuição dos estilos

Estilo absoluto %

Vídeos desenhados (papel e caneta) 17

51,51515 152

Vídeos simulando desenho 6

18,18181 818

Vídeos com desenho digitais 4

12,12121 212 Vídeos com Papel e Caneta; Desenho Digital 2

6,060606 061

Painel 2

6,060606 061 Vídeos com Papel e Caneta; Simulador de Desenhos; Desenhos

Digitais 1

3,030303 03

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Vídeo com desenhos prontos, porém inseridos conforme a narrativa 1

3,030303 03 Estilo HQ - História em Quadrinhos 0 0

Total 33 100

Fonte: Autora (2018)

Amaral (2010), em sua classificação quanto à multimidialidade nos infográficos, referenciando Salaverría (apud AMARAL, 2010), afirma que “a convergência das mídias deve ser por integração, e não justaposição, com o intuito de criar uma narrativa jornalística coesa”. Nas FGs em vídeo observamos sim uma justaposição, mais que uma integração, pois somente um vídeo não continha áudio- narração. Isso porque tratava-se de um painel feito ao vivo durante um programa de entrevistas que foi, posteriormente, disponibilizado no Youtube. Fora este, duas mídias justapostas (imagem/ desenho gestual) e texto são sobrepostos áudio- narração.

Notamos que ao optar por vídeos no Youtube, não coletamos nenhum exemplo com somente imagens e texto escrito, ou imagens e áudio montagem, imagens e foto-montagem. Portanto, nossos 33 exemplos se dividiram nas categorias:

1. texto escrito e áudio-narração. 2. áudio-narração.

3. texto escrito, áudio-narração e foto-montagem. 4. texto escrito e áudio-montagem.

5. áudio narração e foto-montagem.

6. texto escrito, áudio narração, foto-montagem e áudio-montagem.

Dois trabalhos, feitos pela mesma profissional e para o mesmo “cliente”, no caso a TV UOL, possuem somente o recurso multimídia “áudio-narração”. Relembrando que possuir imagens é pré-requisito da FG, por isso estamos observando os demais elementos (texto, áudio, fotografia, enquanto montagens, e áudio-montagem - que não narração). Vivian Dall’Alba é quem assina as “ilustrações” (como consta nos créditos) destes dois vídeos. Um faz uma retrospectiva do ano de 2017, enquanto outro pontua assuntos que merecem atenção em 2018. Ambos foram publicados nos últimos dias de dezembro de 2017 e

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foram feitos da mesma “forma”. Um desenho por assunto. Os desenhos são bem representativos e ilustram a fala da narração. Sem o áudio não seria possível compreender do que se trata, a não ser pela caricatura de algumas figuras públicas, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, ouvindo somente a narração e sem acompanhar os desenhos é possível compreender ambas as listas.

Nenhum exemplo foi encontrado que possuísse como elemento multimídia somente fotografias, montagens ou áudios-montagens (além do desenho gestual).

A maioria da amostra (55% ou 18 trabalhos) possui a justaposição de texto escrito e áudio-narração. A seguir, com 18% (6 trabalhos), encontramos exemplos somente áudio-narração. Depois outros cinco trabalhos (16%) com texto escrito, áudio-narração e fotografia montagem. Entendemos como “fotografia-montagem” quando outras imagens que não os desenhos gestuais são colocados nos trabalhos, podem ser imagens “oficiais” de personalidades e filmes, ou logos de empresas, fotos de situações ou outros recursos imagéticos que não desenhos gestuais.

Por fim, o vídeo híbrido, “Casamento Gay, quer que desenhe?”, do Canal Põe na Roda, integra texto escrito e áudio-montagem durante a realização das ilustrações e mistura atuação dos atores no vídeo e narração dos mesmos; o vídeo alterna entre falar sério, fazer piadas sobre os estereótipos homossexuais masculinos e desenha uma coisa ou outra, sempre se valendo do humor. Os desenhos isoladamente poderiam se passar por charges.

Os vídeos do Canal Criativos da Escola, do Instituto Alana, integram áudio- narração e foto-montagem. Os vídeos foram feitos por uma equipe de facilitadores gráficos em parceria com uma equipe especializada em captação de imagens e edição das mesmas. Cada vídeo conta uma história diferente com elementos e personagens distintos. Alguns desenhos são feitos previamente e inseridos durante a captação de imagens (como um teatro de sombras, só que sem esconder as mãos), e outros traços ou imagens que simbolizam sequências e fluxos de pensamento são acrescentadas “ao vivo” no papel que serve de cenário. Ao final de cada vídeo, são mostradas fotos das pessoas reais que fizeram aquele projeto narrado acontecer.

Finalmente, a série de vídeos “2 Minutos para Entender”, da Revista Superinteressante, no Youtube, integra todos os elementos: texto escrito, áudio- narração, fotografia-montagem e áudio-montagem.

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Nesta playlist, os temas são variados: Zika Vírus, Congresso Nacional, Cultura do Estupro, Olimpíadas do Rio, Política em 2016, O que faz um vereador, Desigualdade Racial no Brasil, Ano de 2016, Violência Doméstica, Como é viver no Espaço, Por que nossa política é tão burra, Como a tecnologia descobriu o que faz uma música ter sucesso. A Revista aventurou-se pela primeira vez no formato em 2013, porém a série consagrou-se mesmo em 2016, com vídeos mensais por 1 ano.

Observe a tabela 3:

Tabela 3 - Comparativa dos elementos de multimidialidade por FG

Multimidialidade absoluto %

e. texto escrito e áudio-narração 18 55

b. áudio-narração 6 18

f. texto escrito, áudio-narração e foto-montagem 5 15 h. texto escrito e áudio-montagem 1 3 i. áudio-narração e foto-montagem 1 3 j. texto escrito, áudio-narração, foto-montagem e áudio-montagem 1 3 k. texto escrito, áudio-narração, áudio-montagem 1 3

a. texto escrito 0 0

c. fotografia montagem 0 0

d. áudio-montagem 0 0

g. texto escrito e foto-montagem 0 0

Total 33 100

Fonte: A autora (2018)

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