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Conceitos de Facilitação Gráfica e ambientes de aplicação

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CAPÍTULO I O JORNALISMO VISUAL NAS NARRATIVAS JORNALÍSTICAS E NO

CAPÍTULO 2 FACILITAÇÃO GRÁFICA COMUNICANDO COM IMAGENS E

2.2 Conceitos de Facilitação Gráfica e ambientes de aplicação

A linguagem visual é uma forma de comunicação constituída por imagens representadas por símbolos diversos. É um conjunto de signos e símbolos usados para se comunicar visualmente com harmonia e senso de estética (HALLAWELL, 2008 apud RIBEIRO, 2011, p. 53).

Para Dondis (2007), “a experiência visual humana é fundamental no aprendizado para que possamos compreender o meio ambiente e reagir a ele; a informação visual é o mais antigo registro da história humana” (DONDIS, 2007, p. 7). A autora também coloca que as pinturas das cavernas, por exemplo, representam o relato mais antigo que se preservou sobre o mundo como ele era percebido trinta mil anos atrás. Contudo, Ribeiro (2011), fazendo uso dos estudos de Hallawell, afirma que foram os gregos que primeiro buscaram representar a sua própria realidade, a partir de um contexto visual:

O povo grego buscou na matemática e na ciência o conhecimento necessário para criar imagens que fossem proporcionais, ou seja, com volume e movimento; assim descobriram princípios referentes à perspectiva, harmonia e estética, os quais vigoram até os dias de hoje. Isso significa, claramente, que “a linguagem visual não foi criada aleatoriamente, mas cientificamente” [...] O estudo da estética teve grande importância para o povo grego daquela época, pois por meio daqueles estudos eles descobriram as ligações entre a matemática e as artes, ‘o que era perfeito geometricamente e matematicamente também era percebido como belo artisticamente’ (HALLAWELL, 2008 apud RIBEIRO, 2011, p. 52).

A artista plástica e escritora Fayga Ostrower, defende que: “a objetivação da linguagem pela matéria constitui um referencial básico para a comunicação; […] a matéria objetivando a linguagem é uma condição indispensável para podermos avaliar as ordenações e compreender o seu sentido” (OSTROWER, 2013, p. 37).

Além de sentido, a linguagem visual também pode conferir identidade. O que a relaciona com a narrativa, que para Vila (1996) é a única maneira de compreender uma casualidade. As narrativas possuem esquemas cognitivos importantes para a compreensão do mundo, ações humanas e construção de metas e desejos. A música pode ser uma narrativa, assim como vídeos, livros, discursos e campanhas publicitárias. O resumo gráfico dessas produções culturais é uma nova linguagem que atua na forma de narrar.

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Sobre as relações de poder entre grupos, vale destacar os conhecimentos de Costa (1987) quanto à Educação Popular (EP):

EP é um lugar - entre muitos outros lugares - da vida das camadas populares, onde elas efetivamente exercem um outro tipo de poder. Qual poder? O poder de criar e desenvolver entre si relações não-dominadoras; o poder de agir na prática de EP de acordo com seus interesses e a partir de decisões tomadas por elas mesmas; o poder de fazer valer e desenvolver suas próprias formas de pensar, apreender, expressar e explicar a vida social: o trabalho, as relações patrão-empregado, a família, a religião, o governo, as relações entre os trabalhadores, a escola, o sindicato, o partido, outras formas de organização, o universo, a técnica, a história, a amizade, a arte, as suas próprias lutas e muitas outras coisas; enfim, o poder de questionar e aprofundar, em conjunto, as suas próprias teorias, e de criar e desenvolver um tipo de poder que reforça a sua capacidade de transformar o sistema. Nessa prática de poder, elas elaboram e incorporam um conhecimento que - então sim - passa a se constituir num elemento que aumenta o seu poder de resistência e de luta em todas as situações, lugares e momentos da sua vida - e não apenas naquele ‘lugar’ da EP (COSTA, 1987, p.22).

Também em Agerbeck (2012) podemos identificar esse sentimento de partilha e disponibilidade que encontramos na educação popular. Em seu livro “O Guia do Facilitador Gráfico: como usar sua audição, pensamento e desenho para criar significado”3, a autora lista muitas características, ferramentas e habilidades que a pessoa que aspira se tornar um facilitador gráfico precisa ter, ou desenvolver, entre elas está You help the group (Você ajuda o grupo), no que Agerbeck explica:

Você trabalha para criar um conhecimento compartilhado para o grupo. Eu tenho trabalhado com corporações, organizações sem fins lucrativos, start ups, órgãos governamentais, institutos de educação entre outros. Cada uma dessas indústrias - cada setor - é feito de pessoas que querem fazer um bom trabalho, pessoas que querem entender e ser entendidas. Nós todos queremos dar significado ao trabalho que fazemos. Nós queremos que nossas reuniões sejam significativas e produtivas. A Facilitação Gráfica é uma ferramenta poderosa para ajudar as pessoas a se sentirem ouvidas, para desenvolver um conhecimento compartilhado enquanto grupo e para serem capazes de ver e tocar seu trabalho de uma forma que elas não poderiam acessar antes (AGERBECK, 2012, p. 10).

Apesar de se caracterizar como atividade multidisciplinar, a Facilitação Gráfica possui uma aproximação com o design. Um dos pontos de contato pode ser na arquitetura da informação, termo cunhado por Richard Saul Wurman no final da

3The Graphic Facilitator’s Guide: how to use your listening, thinking and drawing to create meaning

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década de 1970. Wurman defende uma comunicação que tornasse clara a complexidade; em uma entrevista para compor o livro “Design em Diálogo” o arquiteto e designer gráfico afirmou que este equilíbrio é uma função do designer “As palavras adequadas e o relacionamento apropriado entre palavras e elementos visuais também fazem parte da arquitetura da informação” (WURMAN, 2013, p.293).

Agerbeck e Sibbet tem a mesma definição para a Facilitação Gráfica que Wurman tem para a arquitetura da informação:

Para Agerbeck (2012, p. 10), um profissional de Facilitação Gráfica torna as coisas mais simples e realiza seu trabalho ao vivo e em grandes painéis de papel. Ele ajuda um grupo a criar significado para o trabalho realizado. É um processo composto por partes iguais de ouvir, pensar e desenhar.

De acordo com Sibbet, trabalhar com imagens e metáforas visuais envolve a consciência e o pensamento das pessoas:

Em uma reunião, o registro visual mostra imediatamente que alguém foi ouvido e como ele foi ouvido, de uma forma que a comunicação verbal por conta própria não consegue fazer. Trabalhar de modo visual é profundamente integrador - combina a forma visual (lado direito do cérebro) e verbal (lado esquerdo do cérebro) de trabalho com a interação e o movimento físico. Exposições gráficas podem conter informações contraditórias na mesma folha, atenuando o pensamento do tipo “e/ou” que nossa linguagem falada tende a reforçar. Trabalhar com metáforas gráficas permite que as pessoas expliquem de forma direta como elas estão entendendo as coisas. Trabalhar com representações visuais estimula a imaginação das pessoas, tornando mais acessíveis esperanças, sonhos e visões. Ao organizar informações em diários ou murais, você atende não somente palavras e símbolos do indivíduo, mas também a interconexão e a organização geral. A tradução da palavra escrita para a representação visual força todos a se tornarem conscientes dos padrões de ambas (SIBBET, 2013, p. xvi).

Para os facilitadores, desenhar conversas significa também escutar, passar por um processo de aprendizagem e de inovação, utilizar metáforas em imagem, organizar em design a captação e a síntese das informações. Percebemos a Facilitação Gráfica como suporte para o alcance de um patamar mais amplo: o aprendizado, ou o desenvolvimento de um grupo. Esse apoio é, por um lado, palpável, pois é visto nos murais desenhados, mas por outro, também imaterial, pois o registro da facilitação conduz à conclusão sobre o tema a que o grupo chega.

A Facilitação Gráfica consiste na arte de usar palavras e imagens para criar o mapa conceitual de uma conversa (AGERBECK, 2012, p. 10). Geralmente, um

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facilitador gráfico é o parceiro silencioso do moderador de processos. Ou seja, enquanto um usa técnicas de condução de conversas, com foco em extrair o melhor daquele grupo, o outro desenha, em larga escala, uma imagem do que acontece naquela sala, sempre em tempo real.

Facilitação Gráfica funciona, ao mesmo tempo, como produto e processo, pois foca no grupo, o auxilia a se concentrar e, também, a captar e a organizar as ideias. Depois do evento, o mapa se torna um documento, uma prova do progresso da reunião e suas direções. Esse resultado conceitual é engajador e significativo, já que a plateia assistiu ao seu desenvolvimento, criando um relacionamento em torno dessa experiência. As imagens são emocionais e subjetivas e os participantes podem interpretar as imagens e se lembrar dos momentos que mais lhe chamaram a atenção (AGERBECK, 2012)

Sibbet lista três ferramentas poderosas para reuniões eficazes, a essência da Facilitação Gráfica:

- a habilidade natural para se comunicar visualmente; - os lembretes autoadesivos e outras mídias interativas; - o mapeamento de ideias.

O mapeamento de ideias, segundo o autor, consiste em utilizar metáforas visuais, inseridas em modelos gráficos e em planilhas de trabalho, de forma que o grupo consiga pensar visualmente. Sibbet lembra que inventores sempre lidaram com diagramas e desenhos em seus diários, assim como engenheiros e designers trabalham em quadros brancos e em mesas de desenho. Esta técnica não precisa ficar restrita a esses profissionais, pois constitui uma abordagem flexível, que contempla desde quem trabalha em uma folha de papel em branco, até gráficos mais elaborados e softwares que auxiliam o grupo a visualizar o que se está pensando e planejando.

Os pesquisadores em aprendizado e inteligência cognitiva sabem agora que os seres humanos processam a informação de formas diferentes e que o pensamento visual é uma parte grande do que fazemos. Parece que nossos cérebros são maciçamente desenvolvidos para processar informação visual, alguns sugerem que até 80% de nossas células estão envolvidas nisso (SIBBET, 2013, p. xvi).

O benefício do uso da Facilitação Gráfica é tamanho, que Alexander Osterwalder, conselheiro na área de inovação, e Yves Pigneur, professor de

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sistemas de gerenciamento de informações, incluíram, em seu livro “Business Model Generation - Inovação em Modelos de Negócios” (2011), informações significativas de como o pensamento visual e seu registro podem auxiliar no desenvolvimento de novas ideias para negócios. Segundo os autores “o pensamento visual aprimora os questionamentos estratégicos, tornando o abstrato concreto, iluminando as relações entre os elementos e simplificando o que era complexo” (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011, p.148).

A visualização remete a questões importantes. Entre os benefícios, ressalta- se que, em uma reunião (ao vivo), o registro da essência do que foi discutido mostra, imediatamente, que alguém foi ouvido e como foi, sob uma forma que a comunicação verbal não consegue, a não ser que o processo seja interrompido para que haja questionamentos aos participantes, como este: “O que você entendeu do exemplo que acabei de dar?”.

Ao olhar um resumo gráfico buscamos relações com o que está representado e o que está em nosso repertório, em nossas memórias. Isso é uma habilidade herdada de nosso consumo de arte:

A arte tem por finalidade reduzir a parte mecânica em nós: ela almeja destruir todo o acordo apriorístico sobre o percebido. Da mesma maneira, o sentido é o produto de uma interação entre o artista e o espectador, e não um fato autoritário. Ora, na arte atual, eu enquanto espectador, devo trabalhar para produzir sentido a partir de objetos cada vez mais leves, mais voláteis e intangíveis. Antes, o decoro do quadro fornecia formato e moldura; hoje muitas vezes temos de nos contentar com fragmentos. Não sentir nada é não ter trabalhado o suficiente (BOURRIAUD, 2009, p. 112).

Bourriaud no trecho citado fala sobre a arte enquanto cânone, obras de artes plásticas reconhecidas. Analogamente, a Facilitação Gráfica promove este efeito em seus consumidores e esta atividade em seus produtores. Ela oportuniza uma integração de compreensões. O resumo gráfico favorece uma combinação da forma visual (lado direito do cérebro) com a verbal (lado esquerdo), associados à interação e ao movimento físico. Exposições gráficas podem conter informações contraditórias na mesma folha, atenuando o pensamento do tipo ‘e/ou’ que nossa linguagem falada tende a reforçar. Metáforas gráficas permitem que as pessoas expliquem, diretamente, como estão entendendo as coisas. As representações visuais estimulam a imaginação das pessoas, tornando mais acessíveis as esperanças, os sonhos, as intenções e as visões. Por fim, a tradução da palavra escrita para a

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representação visual força todos a se tornarem conscientes dos padrões de ambas (SIBBET, 2013)

Sabemos que tanto a escrita quanto a imagem pertencem ao universo das visualidades. Contudo, a imagem exige tempo lento e a decifração (BAITELLO, 2014, p. 49).

A Facilitação Gráfica, nesse contexto, sugere que o ato de mapear e diagramar, seja, por si só, um tipo de raciocínio e que a qualidade dos recursos visuais nem seja tão importante quanto a vivência do processo de sua construção. Grupos ficam muito mais dispostos a aceitar e a implementar ideias que vêm de dentro do grupo, do que aquelas impostas por pessoas de fora mesmo que experts (SIBBET apud MEO, 2016).

Denomina-se diagrama a representação gráfica de uma estrutura, situação ou processo. Diagramas podem descrever a anatomia de uma criatura, a hierarquia de uma corporação, ou o fluxo de ideias (LUPTON, 2011). Pode-se dizer, então, que o resultado do trabalho dos facilitadores gráficos constitui um diagrama. Ellen Lupton escreve em “Os Novos Fundamentos do Design” (2011), que diagramas permitem enxergar relações que não viriam à tona numa lista convencional de números, nem numa descrição verbal. Na Facilitação Gráfica, David Sibbet estimula as pessoas a realizarem anotações visuais, enquanto outras falam, a fim de fixar o conteúdo. Também defende o uso de imagens fotográficas e de ilustrações evocativas como suporte ao diálogo de um grupo.

O ponto, a linha, o plano, a escala, a cor, a hierarquia e as camadas, isto é, os “fundamentos do design”, listados por Lupton, convergem no design de diagramas. Sibbet também atribui significado a esses elementos, para documentar, visualmente, reuniões: pontos (“olhe aqui”); linhas (conexão ou separação); ângulos (mudança ativa); quadrados e retângulos (organização formal); setas vazadas (organização ativa); espirais (unidades dinâmicas); círculos (unidade).

No exemplo a seguir, retirado do livro de Lupton, tem-se um gráfico que utiliza desenhos e cores para estudar o medo que o designer tem de insetos. Aqueles que causam mais medo são indicados em preto; os demais, em verde. Próximas aos animais, estão informações sobre sua ordem na classificação científica, seu nome popular e também o científico. No centro, há uma cabeça humana, que representa o designer. Uma classificação por círculos define o grau de medo de cada espécie: extremamente ansioso (EA), sobriamente ansioso (SA) e não ansioso (NA).

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Figura 2 - Entomofobia - Diagrama criado por Jacob Lockard, Design Gráfico Avançado

Fonte: Lupton, Phillips (2011)

Em seus treinamentos, Brandy Agerbeck faz um mix entre a teoria do design de diagramas e os significados que as formas podem assumir. Seus “8 essenciais” seguem a mesma linha da observação que Lupton faz dos elementos, quando diz que as marcas gráficas e as relações visuais adquirem significados específicos, codificados no diagrama para representar aumentos numéricos, tamanho relativo, mudança temporal, ligações estruturais e outras situações.

Gráficos de informação têm um papel efetivo a desempenhar no campo do design editorial. A linguagem dos diagramas produziu um repertório rico e evocativo dentro do design contemporâneo. Em contextos editoriais, os diagramas servem, com frequência, para iluminar e explicar ideias complexas (LUPTON, 2011, p. 199).

Retomando os autores, Dondis e Arnheim, refletimos sobre a organização de seus estudos sobre as imagens, conforme os elementos da comunicação visual que estes julgaram importantes. Na tabela a seguir, podemos comparar as semelhanças e diferenças entre eles:

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Nas colunas um a três comparamos os elementos da comunicação visual de Arnheim e Dondis com os novos fundamentos do design de Lupton e Phillips.

Podemos observar como os elementos se repetem e se encaixam. Começamos por Arnheim por ser o mais antigo, e fomos completando as tabelas com os elementos de Dondis, Lupton e Phillips. Enquanto o item “desenvolvimento” de Arnheim não encontra equivalente nas autoras, “cores” está presente em todas as definições. Outros precisaram ser adaptados, por exemplo, a “direção” de Dondis com “equilíbrio” de Lupton e Arnheim.

Tabela 1 - Comparação de Elementos de Linguagem Visual Arnheim4

(1980)

Dondis5 (1991) Lupton e Phillips (2011) Agerbeck (2012)

Equilíbrio Direção Equilíbrio

Configuração Ponto Linha Ponto Linha Plano Linha

Forma Forma Escala Textura Símbolos / Caixas

Desenvolvime nto

Espaço Dimensão/ Escala Enquadramento/ Modularidade

Luz Tom Camada / Transparência Sombreamento

Cor Cor Cor Cores

Movimento Movimento Ritmo / Tempo e Movimento Flechas

Dinâmica Figura /Fundo /Grid /Diagrama

Expressão Textura Padronagem Caligrafia /

Pessoas

Fonte: Autora (2017)

Por fim, na coluna quatro da tabela, inserimos os “8 essenciais”, elementos destacados por Brandy Agerbeck (2012, p. 171) para compor uma Facilitação Gráfica (graphic facilitation) e, dessa forma, proporcionar a comunicação visual: tipografia, cores, formas, linhas, símbolos ou itens, representação de pessoas e sombreamento. Agerbeck explica que estes elementos de desenho contextualizam a Facilitação Gráfica. A Facilitação Gráfica é uma atividade originalmente pensada

4Arnheim publicou tais informações em 1980, porém, a edição utilizada na pesquisa é de 2005. 5Dondis publica em 1991, porém, foi utilizada a edição de 2007.

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para esclarecer atividades ao vivo, posteriormente os trabalhos foram ganhando espaço como registros gráficos após o “evento facilitado” e brifados para serem realizados dessa forma, como são as notícias em forma de Facilitação Gráfica que esta pesquisa visa destacar.

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