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Definição do corpus da pesquisa

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CAPÍTULO I O JORNALISMO VISUAL NAS NARRATIVAS JORNALÍSTICAS E NO

CAPÍTULO 3 REPORTAGENS VISUAIS A PROPOSTA DE TIPOLOGIA DE

3.1 Detalhamento do percurso metodológico

3.1.2 Definição do corpus da pesquisa

Para definirmos o corpus da pesquisa, que foi classificado de acordo com as suas características, em vez de eleger alguns portais noticiosos, blogs, entre outras mídias digitais, faremos uma investigação junto aos grupos de facilitadores gráficos em atividade no Brasil, que ainda são em número reduzido, para buscarmos indicações/exemplos do uso de Facilitação Gráfica aplicada no jornalismo. Usaremos três bases de contato na internet que nos ligam aos facilitadores gráficos em atividade no Brasil. Mais precisamente, três grupos no Facebook, onde são postadas inquietações, divulgações e dicas de como trabalhar nessa área:

- “Facilitação Gráfica” - “Facilitação Gráfica RJ”

- “Facilitação Gráfica e Colheita”

Questionamos esses profissionais, postando a seguinte mensagem nas comunidades: “Quais exemplos temos de que a Facilitação Gráfica é aplicada ao jornalismo ou por canais informativos?” Daremos dois exemplos dessa utilização, para orientar nossas fontes: a série 2 Minutos Para Entender, da Revista Superinteressante, e os vídeos do canal Minutos Psíquicos, no Youtube.

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Enquanto o primeiro é assumidamente um veículo de comunicação e optou pela Facilitação Gráfica para abordar de forma especial determinadas pautas e publicar em canais específicos da publicação, o segundo é um canal “nativo digital” que usa exclusivamente a Facilitação Gráfica para compartilhar conhecimento científico. Mas como dissemos anteriormente, estes são somente exemplos.

Após a indagação, esperamos receber o material dos colegas. Porém, não fomos bem-sucedidos. Em nossa base de contatos não havia facilitadores gráficos que tivessem produzido um material exclusivamente para a imprensa.

Por isso, paralelamente, usamos os sistemas de buscas no Instagram (uma rede social de compartilhamento de fotos e mensagens), por meio de hashtags. Hashtags são palavras-chave que fazem a indexação de conteúdo nas redes. Os profissionais de diversas áreas postam seu trabalho na rede e usam as hashtags para serem localizados conforme a técnica ou assunto abordado. Para essa pesquisa rastreamos as palavras-chave:

#facilitacaografica / #graphicfacilitation / #facilitaciongrafica #registrografico / #graphicrecording

#pensamentovisual / #visualthinking / #pensamientovisual

Estas palavras foram selecionadas - em português, inglês e espanhol - pois já acompanhamos o trabalho de profissionais da área no Brasil e no exterior por meio de seus perfis nas mídias sociais (twitter, facebook, instagram). Os facilitadores gráficos normalmente usam estas hashtags para divulgar os resultados de seus trabalhos na rede, e as escolhidas acima foram as que apresentaram maior diversidade e representatividade no momento da pesquisa.

Mesmo assim, não foi o suficiente para captar trabalhos que fossem feitos ‘pela’ ou ‘para’ a imprensa utilizando a técnica. Devido a poucas respostas nos grupos, cuja mensagem foi postada, e a grande quantidade de dados coletados via hashtags, mas sem o recorte de FGs produzidas para imprensa, partimos para a terceira alternativa: perguntar para os facilitadores/as gráficos/as que apresentaram maior atividade divulgada na rede se eles/as tinham realizado trabalhos para canais da imprensa.

Diante de mais uma sucessão de respostas negativas, voltamos ao princípio. Refletimos que a primeira amostra de Facilitação Gráfica na imprensa observada por nós foi no Youtube - repositório de vídeos na Internet - mais precisamente no canal

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da Revista Superinteressante. Voltamos então à plataforma e observamos os vídeos que o próprio Youtube sugeria assistir após o usuário acompanhar algum vídeo da série Dois Minutos para Entender.

Notamos que outros “vídeos desenhados” eram sugeridos, alguns da própria revista Superinteressante, outros eram de outros canais, como o Minutos Psíquicos, um canal de divulgação científica na área da saúde mental. Observamos que, além da técnica e dos temas, outras semelhanças aproximavam os vídeos, como a presença das palavras (ou expressões) “2 minutos” e “entender”.

Essa semelhança no título e palavras-chave dos vídeos nos lembrou que, em e-mails trocados com a editora da Revista Superinteressante para a realização do artigo “Facilitação Gráfica como gênero jornalístico: estudo de caso da série de vídeos ‘2 Minutos para entender’”14, o profissional responsável nos relatou que “sempre quis fazer um vídeo desenhado”. Reconhecemos, a partir dessa resposta, que os jornalistas praticam a Facilitação Gráfica, mas não a reconhecem com esse nome, nem contratam, necessariamente, facilitadores gráficos para realizá-la.

Essa constatação nos levou a usar a busca do Youtube para acessar outros conteúdos semelhantes, mas desta vez usando como termo de busca a expressão “quer que eu desenhe” e “vídeos desenhados”. A primeira opção foi muito mais eficaz gerando páginas e páginas de vídeos publicados por canais da imprensa no youtube e canais de outros grupos, organizações e mesmo pessoas físicas.

Assistimos e catalogamos todo o material coletado entre os dias 18, 19 e 20 de abril 2018. Importante salientar que tivemos acesso a muito material anterior a essas datas, e que, nos dias posteriores, alguns outros vídeos foram encontrados ao acessar os antigos, seja por aproximação temática, técnica ou de palavras-chave. Um vídeo sobre violência doméstica da Superinteressante foi o gancho para o Youtube sugerir outro vídeo sobre direitos Humanos do Portal UAI, de Minas Gerais, por exemplo; a série de vídeos da Super chama-se 2 Minutos para Entender, o que nos levou a vídeos com a palavra-chave #paraentender. E assim por diante.

A escolha pelo canal Youtube não é aleatória. O repositório de vídeos que nos últimos anos vem se transformando em rede social é bem democrático. Todos os conteúdos lhe cabem: músicas, filmes, análises, entrevistas, debates, resenhas,

14Apresentado no 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo na ECA/USP (São Paulo)

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manuais de instruções, receitas. No Youtube, vemos a reprodução do que a televisão transmite, indo além. A horizontalidade aparente na plataforma pode ser questionada quanto aos critérios para os vídeos poderem ou não ser remunerados (via sistema de anúncios do Google) e como vem funcionando o “feed” do Youtube. Assim como o Facebook, a plataforma “escolhe” o que mandar para cada usuário. Essa remessa varia de acordo com as inscrições que são feitas nos “canais” e naquilo que a plataforma entende que é mais assistido e, especialmente, assistido por mais tempo. Essa inteligência foi determinante para que nosso corpus fosse formulado, sem as sugestões do próprio Youtube, não chegaríamos a vídeos semelhantes aos da série “2 Minutos para Entender”, do canal da Revista Superinteressante.

Refletindo sobre a presença massiva de facilitações gráficas em vídeo no Youtube, observamos que Flusser previu que a comunicação escrita de humanos para humanos migraria para os esquemas humanos - máquina - humanos. A escrita, para fins de registro, começou ideográfica, depois os símbolos passaram a representar fonemas e não mais ideias. Escrevemos como falamos, pelo som e não pela ideia. (2011). Flusser discorre sobre o futuro da escrita, se ela, de fato, continuará a existir, o que vai ser desta prática? A observação da migração de conteúdos escritos para os vídeos representa a midiatização da forma como passamos o conhecimento adiante. Na oralidade, o conhecimento era passado por som de pessoa a pessoa, com a escrita, este som é codificado e registrado, ainda é passado de pessoa para pessoa mas ganha em escala e alcance (pessoas que sabiam ler, decodificar a mensagem oral, portanto, dominavam a escrita). Com os vídeos, o conteúdo volta a ser oral, porém, está registrado. Enquanto os servidores do Youtube (e outras plataformas) existirem e os donos e donas dos conteúdos quiserem manter, o vídeo existirá. Sem contar as possibilidades de participação dos receptores da mensagem, que aprovam ou desaprovam o que veem/ouvem, comentam sobre aquilo e compartilham em suas redes o conteúdo.

Ferramentas de produção, arquivamento e compartilhamento de vídeos, possibilitam a midiatização do conhecimento. Gomes (2016) discorreu sobre as origens e significados dos termos mídia e midiatização, em certo momento o autor afirma que:

não se trata mais de um questionamento sobre a utilidade dos meios para a transmissão das mensagens, trata-se, na sociedade contemporânea

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midiatizada, de uma reflexão sobre os próprios meios – os dispositivos tecnológicos - como mensagens e sobre a ambiência em que nos encontramos, permeada por estes dispositivos e suas intervenções (GOMES, 2016, p. 9).

Ao reproduzir nosso mecanismo de busca para outras redes, não fomos levados a tantos conteúdos analisáveis. Alguns exemplos entraram no corpus por seu caráter representativo dos outros formatos possíveis de FG, como por exemplo, algumas reportagens “em quadrinhos” das Revistas TRIP e TPM, mas que misturam desenhos com o texto corrido da reportagem. Veremos, mais adiante, os exemplos e as classificações.

Observamos que é no vídeo que a relação texto e imagem se manifesta de forma mais explicativa. A imagem, construída de forma gestual, com os elementos que caracterizam as FG, revela todo o potencial facilitador e explicativo do conteúdo, seja ele uma notícia, uma aula, uma coluna social ou um tutorial.

A midiatização do “explicar” nos levou a ler Giuseppe Mininni. Em sua obra, “Psicologia Cultural da Mídia”, o autor faz uma analogia com a mídia (meio difusor de informações) e o sistema nervoso de um corpo, no caso o corpo social, nossa sociedade. Esse sistema nervoso recolhe informações que se passam fora dele e reage a elas. Este seria um aspecto reflexivo da mídia, que apanha perguntas da sociedade, preocupada e esperançosa, reformula-as e tenta responder com base num saber específico. Mininni relata também o inverso, onde o saber científico mede seu prestígio pela visibilidade que tem na comunicação de massa (2008). A mesma prática de explicar fenômenos, no momento em que eles acontecem, em rede nacional, com endosso de um profissional também está na Internet. A motivação é a mesma, esclarecer e explicar algo de um especialista para um leigo, a forma de construir esse conteúdo e armazená-lo é que tem mudado. Apesar de encontrarmos no próprio Youtube vídeos com conteúdos que foram passados na TV, agora disponíveis na rede e sob demanda.

Contudo, o autor ressalta que apesar de estarmos na “sociedade da comunicação”, somente aqueles que possuem acesso à nova mídia, de fato, estão inseridos nela e podem acompanhar as decisões políticas, econômicas e sociais em tempo real (MININNI, 2008). É a legitimidade que o registro permite e concede. Flusser afirma que antes da escrita as coisas não “aconteciam”, nada aconteceu antes da escrita, somente ocorreu, pois “para que algo possa acontecer, tem que ser

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percebido e compreendido por alguma consciência como acontecimento (processo)” (FLUSSER, 2011, p. 22). Por isso, a pré-história recebe esse nome, ela é anterior à história, foi escrita posteriormente aos seus acontecimentos. Com a escrita registramos nosso tempo presente. Aqui, relembramos uma das alcunhas dos jornalistas: historiador do tempo presente. Flusser (2011, p.23), em 1987, escreveu que “a escrita já previa que a história poderia ser escrita pelas máquinas, que são muito mais rápidas que os humanos; estes, então, poderiam se dedicar a outras coisas, a questão é: o quê?”

Vídeos desenhados, gestuais, com narração e com a intencionalidade de explicar carregam um hibridismo de técnicas, áreas e motivações. Um/a repórter ou editor/a pode optar por usar um vídeo desenhado para sua matéria, ou parte dela por diversos motivos: explicar algo de forma rápida, não investir recursos para fazer uma animação “tradicional”, estar na moda. São possibilidades de intenção que não podem ser confirmadas sem maiores estudos com estes profissionais, mas algumas suspeitas podem ser sanadas ao observarmos os títulos desses materiais: quer que eu desenhe, minutos para entender, xyz explica, e etc. A intencionalidade, no título, é explicar. É facilitar.

O texto ainda existe, mas ele é narrado. Algumas palavras compõem a construção visual dos vídeos. Flusser previu isso também, ao dizer que são as imagens o código mais apropriado para a contemplação e que por isso deixamos de escrever por conta dos aparelhos e passamos a produzir e a contemplar imagens (2010, p. 41).

Vídeos explicativos na internet, atualmente, refletem uma demanda que a mídia cria e alimenta:

A mídia está preocupada em apanhar as perguntas repletas de preocupação e de esperança que provêm do corpo social, em formulá-las em sua linguagem e tentar respondê-las, valendo-se de um saber específico. No mundo contemporâneo, vale também o inverso: o saber científico mede a força de seu prestígio mediante o grau de visibilidade (MININNI, 2008, p.15).

Os processos cognitivos, que nos separam da escrita na argila e dos livros- trailers no Youtube, foram descritos por Gonçalves e Timponi (2012). Os pesquisadores voltaram no tempo, nas origens do livro, para discorrer sobre como o formato dos textos tem influência na cognição dos leitores, interferindo em

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procedimentos como a tomada de notas e a comparação entre os textos. Por exemplo, antes do códice (livro) ter o formato de “‘páginas” os conteúdos eram apresentados em forma de rolo, o que estimula a memória, uma vez que é complicado ir e voltar nas partes que se deseja reler. Outros aspectos da leitura relacionam-se com a cognição humana para o entendimento, são eles: a letra, a pontuação e o índice (referido pelos autores como “tábuas de concordância”, mas que eram na época medieval tabelas que relacionavam assuntos com a localização do conteúdo nos escritos).

A questão é que todas estas opções gráficas visavam o melhor entendimento do conteúdo escrito. Os autores falam em “aceleração e facilitação” como motivadores da criação das letras mais legíveis, da pontuação que exprimia melhor os pensamentos, e do índice, que relacionava assuntos e os localizava. Ainda nesse espírito de facilitar e acelerar, a leitura contemporânea em nosso século 21 ganhou uma versão: o livroclipe. Trata-se de uma espécie de trailer de livros, com o resumo do conteúdo, trechos da obra original “em diálogo com outras linguagens de fotografia, colagens e o uso da sonoplastia e trilha sonora” (GONÇALVES; TIMPONI, 2012, p. 70). O livroclipe é uma opção de tradução de um conteúdo para outro público, no caso os jovens, mas também uma forma de atrai-lo para o conteúdo original.

Apesar de a modalidade oferecer bons argumentos de cognição que subvertem a leitura e a escrita tradicional, não consideramos os livrosclipes facilitações gráficas dos livros. Os vídeos encontrados no Youtube com este nome não possuíam as outras características, como traços gestuais, a presença dos 8 Essenciais de Brandy Agerbeck e uma possibilidade de leitura não linear.

Esta pesquisa nasceu da necessidade e vontade de mapear quem faz, e como são feitas, as facilitações gráficas no jornalismo digital no Brasil. Por conta da surpresa em meio à coleta de exemplos, buscamos outras teorias que justificassem que o que encontramos em vídeos no Youtube pudesse ter algo de jornalístico - além de ser feito por equipes de veículos notadamente da imprensa como a já citada revista Superinteressante, a Agência Pública e o Portal UAI (do jornal Estados de Minas).

Encontramos em Otto Groth, e nos seus quatro pilares do jornalismo, a justificativa para nossa análise: atualidade, periodicidade, universalidade (variedade) e publicidade (popularidade ou promoção) (MEDITSH, SPONHOLZ, p.17 2011).

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De forma muito breve, vamos relacionar como estas quatro características de Groth, antes reservadas a jornais e revistas, podem ser estendidas para os vídeos que analisaremos.

(i) Periodicidade

Somos acostumados a lidar com a periodicidade da imprensa. Nos acostumamos com as edições diárias dos jornais, prendemos a respiração com as interrupções na programação da TV com os “plantões jornalísticos”, de algumas emissoras, sabemos que as notas de jornais on-line sofrem atualizações, o que é muitas vezes mencionado logo após o título das mesmas.

Groth afirma, em “O Poder Cultural Desconhecido”, que a periodicidade é fundamental ao jornalismo por diferenciar esse de qualquer outro produto cultural material, faz parte da essência do jornal ser periódico. A expectativa de ter um novo número no tempo determinado é o que diferencia o jornal dos livros, das peças, dos planetas.

A periodicidade do jornal já contém, portanto, na sua essência, uma relação com o sujeito, pode-se dizer que esta relação é definida por uma consciência ideal como periodicidade. [...] A medida da periodicidade, os espaços de tempo e as horas do dia nos quais os números do jornal são publicados são determinados pelos propósitos das pessoas (GROTH, 2011, p. 152).

Subjetiva, a periodicidade é construída tendo sentido para o sujeito, apesar de estar ligada a aspectos da natureza e do cotidiano que vão e retornam, como o nascer do sol, o cair da noite, as estações do ano e os dias de uma semana. São periodicidades baseadas na natureza e onde nos encaixamos e encaixamos nossos produtos culturais (GROTH, 2011).

No Youtube, na forma como ele está caracterizado hoje, os canais construíram de tal forma suas rotinas que eles produzem e publicam conteúdos de acordo com uma periodicidade própria de cada um. Diferente da televisão que possui noticiários no começo, no meio e no fim do dia. No Youtube, os produtores de conteúdo atrelam a periodicidade à sua rotina, se terão tempo de gravar, editar o vídeo nos dias certos, se eles possuem outros empregos ou vivem do Youtube, se terão colaborações, se os assinantes do canal enviaram perguntas ou temas. Existem canais que publicam conteúdo diariamente, semanalmente e

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eventualmente, mas aqueles que seguem uma periodicidade deixam isso bem claro em suas comunicações.

A prova maior de que tanto os seguidores quanto os produtores de conteúdo voltarão em breve é que, frequentemente, a despedida do vídeo é “até a próxima”.

A periodicidade está ligada à fidelização do público uma vez que:

o sucesso de muitas iniciativas midiáticas (colunas jornalísticas, programas de televisão, etc) pode ser medido segundo sua capacidade de fidelização. Foi notado que a substituição (por doença ou férias) de alguns apresentadores de telejornais, por exemplo, pode ocasionar uma queda no número de telespectadores sintonizados numa emissora (MININNI, 2008, p. 62).

(ii) Universalidade

As peças de comunicação são feitas para pessoas. Antes podíamos dizer que eram feitas de pessoas para pessoas, mas isso mudou graças à inovação de robôs que redigem notícias - especialmente aquelas que podem ser acessadas via bancos de dados, como desastres naturais, situação do trânsito, clima e etc. Atualmente, o produto cultural periódico, no caso, é feito para apreciação e informação de pessoas. Cada pessoa, apesar das semelhanças, tem suas particularidades e interesses. Tem seu mundo particular, sobre o qual ela sabe, e o “mundo diante de si”, o qual ela quer ou precisa saber.

Nessa variedade de interesses e necessidades está a Universalidade dos jornais e revistas, e atualmente, a internet, como segundo pilar. Dada a importância da Universalidade, Groth afirma que é ela, inclusive, que pressupõe a periodicidade. Para a sociedade, é importante saber o que acontece, e o que acontece neste momento.

Os jornais e revistas, com a massa desmedida de material acumulado por eles e a constância e frequência, a velocidade e a precisão da sua retransmissão, tornaram-se a ferramenta mais fantástica que a sociedade moderna tem à sua disposição para informar os indivíduos sobre os seus mundos, sobre o ser e o acontecer natural, social e cultural destes. Estas suas qualidades também foram as que possibilitaram, com a sua proliferação e aprimoramento progressivo, empurrar, limitar, engolir diversas formas mais antigas de informação e troca de ideias - diretas ou indiretas - como chamadas e cartazes, mensagens e cartas (GROTH, 2011, p. 171).

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Atribui-se aos periódicos a tarefa de mediar o conhecimento por entre as áreas e camadas da sociedade. Esse mediar se relaciona ao modo como chamamos: mídia.

Quando “O Poder Cultural Desconhecido” foi publicado, em 1960, o jornalismo na internet como conhecemos hoje não existia. Mas os tradutores de Groth afirmam que se trata de uma obra sobre a essência do jornalismo e que sua compreensão nos prepara para o Jornalismo 2.0. Nesse ambiente, Groth ressalta a necessidade de uma ferramenta:

para o homem civilizado moderno que o informe que lhe ofereça diretrizes para a formação de opinião, em cujos julgamentos e argumentos ele possa se orientar, aceitando-os ou jogando-os fora, e como seria incompleto, insuficiente e prejudicial se esta ferramenta tivesse ou quisesse falhar com este indivíduo exatamente no momento que este precisasse dela(GROTH, 2011, p. 173).

Groth rejeita que os jornais publiquem fatos mais diretamente e deixe as análises por conta das revistas semanais. Atualmente com os blogs, depois os microblogs e, mais adiante, com os canais no Youtube, a análise dos fatos ganha uma abrangência grande e diária. As possibilidades para os indivíduos divulgarem suas análises e opiniões aos fatos são enormes.

A Universalidade tão necessária ao jornalismo ganha forma com a diversidade de canais e temas que uma plataforma de vídeos como o Youtube possibilita. As diferenças entre as pessoas e sociedades, entre o que é “o mundo

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