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reformulação da teoria do eu estendido

3 Metodologia do estudo

3.4 Método de pesquisa

3.4.2 Análise e interpretação dos dados

A etapa de análise de dados é entendida por Flick (2013) como o cerne da pesquisa qualitativa, devendo existir cuidado e dedicação a fim de organizar e interpretar as informações de modo que seja possível responder ao problema de pesquisa proposto.

Partindo-se desta orientação, foram realizadas as análise e interpretação de dados por meio da Análise de Discurso (AD), definida também como Análise do Uso da Linguagem ou Análise Conversacional (GODOI, 2010). No campo do Comportamento do Consumidor, a Análise de Discurso, juntamente com outras formas de análises como a hermenêutica (THOMPSON; LOCANDER; POLLIO, 1990), a semiótica (ARNOLD; KOZINETS; HANDELMAN, 2001) e a análise da narrativa (STERN, 1998), tem sido utilizada em pesquisas para a compreensão do consumo. Diferente dos outros métodos citados, a Análise de Discurso, principalmente aquela de tradição pragmática, apresenta um interesse maior na interação entre texto e contexto, observando a relação entre signos e os usuários dos signos (SITZ, 2008).

Existem diversas Análises de Discurso, sendo necessário o esclarecimento daquela que foi adotada na presente pesquisa. Identificando esta diversidade de perspectivas, Alonso (1998 apud GODOI, 2010) categorizou as Análise de Discurso em três perspectivas básicas; são elas: a perspectiva informacional-quantitativa (análise de conteúdo); a estrutural-textual (análise semiótica) e a social-hermenêutica (interpretação social dos discursos). As duas primeiras perspectivas preocupam-se respectivamente pela quantificação e pela significação, já a perspectiva social-hermenêutica se volta para relações de produção de sentido, o estudo dos discursos e suas determinações e motivações (GODOI, 2010). Esta última será utilizada como método de análise de dados.

A Análise de Discurso na perspectiva Social-Hermenêutica, também chamada de Análise Sociológica do Discurso, é uma análise contextual, na qual os argumentos tomam sentido na relação com os autores que os enunciam, onde aspecto pragmático é considerado, ou seja, aquilo que extrapola a fala (contexto) são fontes de compreensão do discurso (GODOI, 2010). A própria definição de discurso já orienta essa postura holística. Eles são formas de conhecimento a respeito da realidade construídas e localizadas socialmente sendo, portanto, desenvolvidos em contextos sociais particulares, únicos (GODOI, 2010).

Partindo-se da compreensão da Análise de Discurso na perspectiva Social- Hermenêutica, Mattos (2005) desenvolveu a Análise Semântica-Pragmática da conversação. Esse tipo de AD consiste na interpretação do significado temático da conversação e no significado da ação durante a entrevista, explorando todo o contexto no qual a mesma se desenvolve, extrapolando o que foi dito pelo entrevistado, levando em consideração o efeito da presença e das situações criadas pelo entrevistador sobre a expressão do entrevistado. Mattos (2005, p. 826) justifica esta proposta, indagando: “Ora, é falso interpretar o que alguém ‘disse’ sem se perguntar também, o que, na ocasião, ‘deu a entender’, o que sinalizava para além do que dizia, enfim, o que também fazia ao responder tais e tais perguntas”.

Entre as diversas possibilidades, a Análise Semântica-Pragmática foi escolhida porque Mattos (2005) traz as etapas a serem seguidas, demonstrando todo o detalhamento de uma pesquisa bem feira e comprometida em demonstrar o que foi feito para se chegar aos resultados. Apresentando como base metodológica para esta pesquisa a Análise de Discurso Social-Hermenêutica, atentando para a compreensão pragmática proposta por Mattos, as fases que foram adotadas pelo presente trabalho, a partir do detalhamento das etapas reveladas na Análise Semântico-Pragmática (MATTOS, 2005), são descritas abaixo.

• Fase 1 – Recuperação: nesta etapa foram recuperados, em sentido amplo, os momentos das entrevistas, transcrevendo-as após ouvir as gravações de forma atenta, fazendo anotações preliminares a respeito dos significados que surgem em alguns momentos das mesmas, como sugere Mattos (2005). A transcrição foi realizada pela própria pesquisadora em paralelo à fase da coleta de dados, de modo que não fosse perdido nenhum detalhe.

• Fase 2 – Análise do significado pragmático da conversação: esta fase dividiu-se em três, duas voltadas à análise básica do texto e uma revisão desta análise. A primeira delas correspondeu à observação do desenrolar do diálogo, a partir da leitura atenta da transcrição, já realizando anotações ao lado do texto, buscando responder as seguintes perguntas: o que aconteceu ali entre o entrevistador e o entrevistado; ou o que foi acontecendo ao longo da entrevista? Como foi se desenvolvendo o assunto? Quais foram os pontos altos e momentos de ausência do entrevistado? Após essas anotações, foi realizada uma segunda leitura observando pergunta-resposta à pergunta-resposta, a fim de surgir os três significados semânticos-pragmáticos de cada fragmento de texto, sendo eles: o significado nuclear da resposta (ou seja, o que foi realmente dito); os significados incidentes (algo mais que pode ser extraído da resposta); e os significados de contexto (suposições implícitas a respeito do contexto relevantes ao tópico) (MATTOS, 2005;

MATTOS, 2006). A última fase correspondeu à revisão do que nas etapas anteriores foram colhidas, com o intuito de melhorar a qualidade do material;

• Fase 3 – Validação: essa fase validou as informações centrais (significado nuclear) das respostas dos entrevistados por meio da afirmação realizada pelo próprio informante em seu aspecto semântico.

• Fase 4 – Montagem da consolidação das falas: esta etapa visou instrumentar a fase seguinte. Transferiu-se para uma planilha digital as respostas separadas da entrevista, o significado nuclear, o significado incidente e de contexto Como não existiram perguntas pré-estabelecidas, as informações de cada participante foram alocadas de acordo com as temáticas propostas nos tópicos, sub-tópicos e pela proximidade das perguntas que surgiram durante cada conversação.

• Fase 5 – Análise de conjuntos: nessa fase foi possível a visualização dos fatos e evidências relativos a cada entrevistado, a cada pergunta e a cada entrevista, como sugere Mattos (2005). A partir disto, refletiu-se sobre todo o conjunto das entrevistas, destacando as diferenciações e semelhanças obtidas nas falas dos informantes e em seus significados.

A partir desta reflexão sobre os conjuntos e subconjuntos de respostas, iniciou-se a redação do texto da análise buscando contextualizar os argumentos com o referencial teórico revisado. Dessa maneira, optou-se por organizar o capítulo da análise dos dados de acordo com cada pergunta norteadora de pesquisa, sendo esta respondida individualmente até culminar na análise final que responde à pergunta central da dissertação.