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Eu vi quando eles botaram lá perto do mercado São José, eles fizeram a

4.3 Aspectos identitários dos usuários do projeto

4.3.3 A relação com as tecnologias

4.3.3.2 Primeira experiência com as tecnologias

A primeira experiência com as tecnologias exposta durante a conversação por alguns informantes revelou que eles puderam ter acesso a estas ferramentas desde a infância, mesmo que o uso e a finalidade destes equipamentos ainda não fossem claramente entendidos.

Foi um computador, era meu, eu ganhei dos meus avós. Eu ganhei e foi

logo na época que ele era bege, eu acho que era o Windows 97. E assim, era

uma coisa estranha e a princípio a gente não sabia a utilidade. Sabia que era só interessante ter. Aí, por exemplo, o que eu fazia no computador? Eu ficava desenhando no paint. Eu fazia casinha e apagava e achava isso o

máximo. Mas era muito mais a interação com aquela coisa nova que

você não sabia mexer e tudo mais, do que pela utilidade, porque naquela época não fazia nada. Não é como hoje que você se comunica, que você faz

milhões de coisas (Informante 1).

Muito nova, minha mãe era contadora e aí ela tinha, foi sei lá, eu peguei o Windows 95, eu tinha quatro anos, cinco anos, eu já jogava campo

foi muito nova. Eu sei mexer bem em computador, em todo office, em tudo básico, eu mexo bem, mas eu não sou muito apegada a isso. Eu sei e sempre tive contato, mas eu mexo em tudo (Informante 4).

O primeiro computador faz tempo. Eu lembro que chegou aquela máquina

lá em casa e eu lembro que eu queria usar muito. Ficava assim, desenhando no paint, um monte de coisas assim [risos], inventando o que fazer, não tinha muito o que fazer realmente né. Depois comecei a

jogar. Ah, foi normal pra mim ter um computador em casa. O primeiro

celular, ainda lembro dele até hoje, na verdade não foi uma referência muito boa pra mim, como eu falei, tipo, eu estudava num colégio que as

pessoas tinham o nível financeiro muito acima do meu e aí na época as

pessoas já tinham os celulares pequenos e eu tinha um tijolão literalmente, era assim, bem grande [faz o gesto do tamanho com as

mãos]. Eu não gostava muito de usar, tinha vergonha de usar (Se fosse hoje seria o contrário né?). É, hoje tá na moda [risos], mas minha mãe me deu

pra uma emergência, pra me comunicar, mas eu não gostava de usar, eu tinha vergonha (Informante 6).

Ah, meu primeiro computador, eu tive ele com, foi até na época que ele era um computador bem antigo, ele tinha 16 mega de memória RAM na época, era bem velhinho mesmo, mas na época custou em média de R$5.000,00. E como era novidade, não existia nem internet, foi por volta de 1992, 1993. Eu

usava mais pra jogos, lazer, pra brincar no paint. Depois eu fui vendo que dava pra fazer trabalho do colégio, entendeu (Tu tinha quantos anos

nesse tempo? Tu era muito pequeno né.). Eu era muito novo, eu tinha em torno de seis anos de idade (Informante 8).

É porque faz tempo já [risos], eu era pequeno, tipo eu comecei a mexer em computador, eu lembrei que minha mãe comprou um computador pra

casa e eu sempre estava mexendo com, tipo, rede social, na época com o Orkut e tudo mais e tinha msn. Tipo, era mais coisa assim básica mesmo, de conversa. Aí depois, que eu gosto muito de Harry Potter, aí

depois, tu gosta também (Sim.)? [risos] Pronto. Aí eu participava muito quando era mais novo de rpg, de escola de magia de tinha na internet. Aí foi quando eu comecei a puxar mais pra área tipo de programação e tudo mais.

Às vezes eu criava um sitezinho, bestinha com html, aí comecei a mexer. E tipo sempre fui, minha mãe sempre reclamava porque eu ficava muito no computador, tipo eu passava horas e horas, quando podia, porque era discada na época, nem sempre podia passar o tempo todo [risos].

Mas faz tempo, eu acho que eu comecei a mexer em computador, eu tinha

dez anos, nove, dez anos (Informante 16).

Boa pergunta. O computador, quando meu pai comprou um computador lá pra casa já foi com um certo delay também, meus coleguinhas de turma já

tinham. Eu acho que eu tinha uns 11 anos, 10, 11 anos, e eu gostava muito de um jogo, um tal de pinball. Nossa, aquilo era minha diversão [faz expressão de alegria, de êxtase] nas férias e depois de estudar, “só vai jogar

depois que estudar”. [...] celular, eu ainda cheguei a usar, pasme, o

tijolão. Eu fui roubado uma vez, o cara jogou meu tijolão na lama, eu chorei

tanto. Ele fez “que merda. Não tem nada melhor não?” “tenho não”. Aí ele jogou no chão. Aí eu voltei pra casa com ele, corri e peguei ele ainda, ele estava intacto por sinal, resistente, bom todo, saudades de coisas assim resistentes que não quebram quando são jogados, arremessados à distância. Aí eu cheguei em casa com ele chorando, aí minha mãe comprou outro,

menorzinho. Mas ainda assim, o meu sempre foi atrasado com as

tendências e isso no começo me incomodava um pouquinho, porque eu me sentia sempre o diferente, mas depois com uma análise mais crítica, parei de me importar. Aí sim eu tive, embora esse computador não tinha

internet, é bom até ressaltar isso. Aí às vezes eu escrevia e apagava porque não gostava muito do que estava escrevendo, mas era basicamente pra jogo. E assim, como eu era meu enxerido, eu comecei a aprender muita coisa do

funcionamento básico do computador nessas minhas, errava aí tinha que

ajeitar e aprendendo a mexer nas coisas do computador (Informante 18). Nossa, inesquecível. Tinha dez anos, aí ia fazer onze e minha mãe me deu

o computador e aí o primeiro programa que eu abri foi o paint. Aí

comecei a desenhar, não sabia salvar aquilo, fiquei em pânico, eu nunca mais esqueci. Inesquecível (Informante 22).

Os informantes 1, 6, 8 e 22 descreveram seus primeiros contatos com o computador como uma experiência de descoberta sobre aquele objeto novo. A finalidade da máquina não era a principal preocupação para eles; o que importava era a possibilidade de dizer que conhecia aquela ferramenta, mesmo que o uso estivesse ligado a uma atividade sem importância, como o desenho. Portanto, reconhece que usar o computador já bastava, não importando para que e de que forma ele seria utilizado.

Por meio destas atividades iniciais, geralmente voltadas para jogos, os informantes adquiriram conhecimento e aprenderam muitas coisas sobre o funcionamento básico do computador (entrevistados 4, 8 e 16). No caso do entrevistado 16, o primeiro contato despertou a curiosidade e o influenciaria na escolha profissional mais adiante (tal informante trabalha na área de Sistema de Informação).

Algumas experiências também foram frustrantes. Por adquirirem tecnologias já defasadas, os informantes 6 e 18 sentiam-se diferentes e a margem do grupo ao qual pertenciam. O consumo de bens semelhantes se mostra, portanto, um mecanismo de aceitação e sentimento de pertencimento ao grupo, estabelecendo barreiras entre grupos e pessoas (BARBOSA; CAMPBELL, 2006).

Os informantes em questão puderam estabelecer uma relação com as tecnologias ainda durante a infância, se familiarizando com elas e utilizando-as até hoje sem grandes problemas. O usuário 7, entretanto, vivenciou o acesso à primeira tecnologia uma pouco mais

tardiamente, sendo tal experiência ocorrida em um cyber e não mediante a propriedade destes bens.

Foi tardio. Foi tardio, porque eu cresci em zona rural, minha infância foi muito pobre e a gente não tinha condição de ter computador, [...] e

foi através de cyber. Aí eu sempre utilizei computador através de cyber ou na casa de amigos, mas foi só quando eu entrei na faculdade que eu

comprei um computador, mas aí eu já tinha ouvido de tecnologia e tudo

mais, smartphone também nesta época eu já tinha (Informante 7).

Por fim, os informantes 3 e 11 nas suas narrativas abaixo revelaram que houve dificuldades geradas a partir da primeira experiência. Para o primeiro, o computador era uma ferramenta desconhecida que despertava o desejo de uso, mas foi preciso o auxílio de outras pessoas e também de cursos para que houvesse a aprendizagem necessária. No caso do informante 11, a primeira experiência levou ao vício. O consumidor em questão passou a postar constantemente aspectos de sua vida pessoal, tornando-a pública. A partilha de tais informações possibilitou, portanto, a exibição e apresentação do self de maneiras muito mais simples do que na Era sem tecnologias digitais, desencadeando a perda do controle daquilo que é público e privado (BELK, 2013).

Foi uma comédia [risos]. Porque existe lá em Pesqueira um centro chamado

em Centro Rosa, que a gente chama de shopping Rosa e lá tinha um cyber. Na época eu acho que eu tinha [pausa – entrevistado reflete] 13 anos. Foi 13 anos que eu comecei. Eu sempre tive um desejo assim de computador, de ter um computador, no auge né, no início do computador, que o computador chegou no Brasil e foi aquele alvoroço, a internet. Aí existia um cyber e eu

sempre ia com minhas amigas pra lá e eu era louco pra mexer na internet, aí a gente e pagou um dia, eu lembro até nesse dia, a gente pagou pra entrar na internet e eu não sabia pra onde ia [risos]. Em vez

de rolar o botãozinho do mouse eu ficava clicando pra ver se entrava no site e o homem já estava estressado “você não sabe mexer não, é?”. “Sei não”.

“Eu vou lhe ensinar”. Aí aos poucos ele foi me ensinando. “Olhe, pegue no mouse aqui, é dessa forma, lado direito, lado esquerdo”. Me explicando e pronto. Aí foi desta forma assim que eu comecei. Eu fiz um

pequeno curso, mas foi dentro da minha formação do ensino médio, do magistério, que foi uma coisa bem básica, só informática básica mesmo, mas me ajudou muito assim (Informante 3).

Foi um desastre. Eu fiquei viciado e estava descobrindo tudo o que eu queria fazer e postava, por exemplo, nas redes sociais. Como a gente tem

muita gente hoje descontrolada, tudo que vez, tudo que faz, tudo que acontece, posta né. Assim, foi um desastre, mas foi importante, porque

e serviu muito de experiência pra o que eu sei hoje, pra aprender e pra me

controlar mais também, a ter um certo controle com o uso (Informante 11).

A partir destes discursos, é compreendido que as tecnologias desempenham um papel importante no self dos indivíduos, sendo tais ferramentas elementos de desejo durante a infância de muitos informantes, alguns deles podendo interagir com elas.

A existência das tecnologias e a familiarização no uso destas a partir da primeira experiência levam os usuários a visualizar as vantagens e desvantagens que a Internet e as redes sociais oferecem. Tais elementos são abordados no sub-tópico seguinte.