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Capítulo 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3. Análise Empírica dos Itens

Neste passo da análise estatística um dos objetivos é identificar quais as situações que os árbitros percebem como mais ou menos estressantes. O instrumento foi construído adotando a escala de Likert de 0 a 4 pontos. O mesmo foi respondido pelos 109 árbitros da amostra. Para analisar o nível de percepção de estresse de um árbitro ou um grupo de árbitros, o valor considerado deve ser o somatório de pontos da escala onde o valor máximo cada teste é 276 pontos para o instrumento com 69 itens, ou seja, número de itens (69) multiplicado pela maior pontuação da escala (4).

Para tal, o árbitro deve assinalar o quanto percebe que cada item/ situação provoca de estresse variando entre a escala do nada estressante, 0%, e, o estressante demais, 100%. Os próprios valores da escala geram uma tabela para analisar e classificar o estresse de cada árbitro (TAB. 08). Esta classificação refere-se a uma relação com o percentual total dos pontos da escala, refletindo o nível de percepção do estresse por árbitro.

Os árbitros identificados por sua federação receberam um número, um código. A média do nível de percepção do estresse da amostra foi de M= 94,08, podendo estes árbitros serem classificados no nível 1 (um) da escala como baixo o nível de percepção do estresse, percebem as situações/ itens como pouco estressantes.

TABELA 8

Classificação do nível de percepção ao estresse Nível

(Escala) Para 69 itens Pontuação Percentual do teste % Percepção ao estresse

0 0 - 55 0 – 20 Nada - Baixíssimo

1 56 – 110 21 – 40 Pouquíssimo - Baixo

2 111 – 165 41 – 60 Pouco - Médio

3 166 – 220 61 – 80 Muito - Alto

4 221 – 276 81 – 100 Demasiado - Altíssimo

Dentre estes árbitros podemos identificar através pontuação total de cada teste quais árbitros que mais percebem o estresse (GRAFICO 01). Os árbitros são identificados pelos números e sua federação.

GRAFICO 01

Árbitros que percebem mais o estresse

169 166 213 184 166 204 0 50 100 150 200 250 1 Árbitros N ív el d e es tres se FMF 30 FMF 43 FMF 44 FES 83 FES 101 FES 104

Os maiores valores do somatório permite identificar os árbitros que percebem mais estresse. Estes valores estão entre 166 e 204. Então, os árbitros identificados pelos códigos 30, 43, 44, 83, 101, 104 serem classificados no nível 3 (três) da escala como alto o nível de percepção do estresse, pois percebem as situações/ itens como muito estressantes.

Da mesma forma identificou-se os árbitros que menos percebem estresse, os mesmos foram classificados no nível zero (0) onde a percepção é baixíssima ou nada de estresse é percebido (GRAFICO 02).

GRAFICO 02

Árbitros que percebem menos o estresse

16 17 12 25 26 31 28 0 5 10 15 20 25 30 35 1 Árbitros N ível de es tr es se FMF 02 FMF 05 FMF 11 FMF 13 FMF 24 FES 53 FES 73

Na comparação entre os grupos foi utilizado o teste Mann-Whitney (U) para duas amostras independentes. Encontrado o valor [z]= -1,215, analisado com a curva normal padronizada, verificou-se que os grupos não apresentam diferenças significativas entre eles na percepção ao estresse. O valor [z]= -1,215 corresponde a uma probabilidade de 0,2225, isto significa que num teste bicaudal, para um nível de significância de 0,05, não se rejeita a hipótese de igualdade entre as médias dos grupos (p= 0,214). Em outras palavras, pode-se

dizer que não há diferença estatisticamente significativa entre a percepção do estresse dos árbitros da Federação Mineira de Futebol (FMF) e os da Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo (FES).

A soma dos valores da escala em cada item permite identificar os itens mais ou menos estressantes para um conjunto de árbitros. Dentre os itens com menor somatório, isto é, itens menos estressantes, formam encontrados dois dos itens de baixa correlação itens fator (67 – jogos muito parados e 69 – jogos com baixo nível técnico/ tático das equipes) o que reforça a necessidade de analisar a permanência destes itens no instrumento.

Os valores do nível de percepção dos árbitros ao estresse foram correlacionados com o tempo de experiência dos mesmos. Para tal procedimento, foi utilizado o teste de correlação não paramétrica de Spearman. O coeficiente de correlação encontrado foi 0,092 (TAB. 09), ou seja, conforme esta análise, para esta amostra verificou-se que a percepção o estresse não está relacionada com o tempo de experiência do árbitro.

TABELA 9

Correlação entre temo de arbitragem e nível de estresse Correlations

tempo de arbitragem Média Spearman's rho tempo de arbitragem Coeficiente de correlação 1,000 0,092

Sig. (2-tailed) , 0,341

N 109 109

Percepção ao estresse

- MEDIACoeficiente de correlação ,092 1,000

Sig. (2-tailed) ,341 ,

N 109 109

Na análise dos itens, 09 (nove) foram percebidos como menos estressantes (GRÁFICO 03) com somatório dos mesmos inferior a 40 pontos. Dentre estes itens, quatro (65, 67, 68, 69) pertencem ao grupo dos classificados pelos Juízes como fator social (TAB. 01). Os outros

cinco itens (18, 19, 36, 63, 66) apresentam características identificadas pelos juízes como psicológicas (TAB. 01).

GRÁFICO 03 Itens menos estressantes

30 29 39 33 20 34 28 36 34 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Itens percebidos como menos causadores de estresse

18- não saber com quem vai apitar 19- saber que vai apitar com um colega de categoria mais alta (muita experiência) ou mais baixa (menos experiência)

36- fazer relatório

63- apitar jogos da mesma equipe seguidamente 65- presença do coordenador/ diretor de arbitragem

66- jogos com atletas de alto nível (estrelas) 67- jogos muito parados

68- jogos com ritmo lento no 1° tempo e rápido no 2° tempo.

69- jogos com baixo nível técnico/ tático das equipes

Pode ser percebido que a característica comum entre as situações/ itens é que o nível dos jogos que é determinado pelo nível técnico tático das equipes (itens: 63, 66, 67, 68, 69). Algumas das incumbências da função do árbitro (item 36), que também estão relacionadas com as pessoas que compõem o ambiente do jogo (18, 19, 65) são fatores percebidos como pouco estressantes para os árbitros.

Os itens com somatório superior a 100 (cem) pontos foram os itens que mais geram estresse nos árbitros desta amostra (GRÁFICO 04). Dos 11 (onze) itens mais estressantes somente três (33, 51, 52) foram classificados pelos juízes no fator psicológico (TAB. 01) e os outros (01, 05, 06, 23, 35, 43, 46, 47) no fator social.

GRÁFICO 04 Itens mais estressantes

113114118 101104111107 133 126 117112 0 20 40 60 80 100 120 140

Itens percebidos como mais causadores de estresse

01- locais com falta de segurança 05- falta de segurança para chegar e principalmente voltar para casa 06- competição desorganizada 23- transito/ engarrafamento 33- errar em situações claras 35- errar seguidamente

43- atraso do colega de arbitragem 46- chegar tarde ou atrasado no local do jogo

47- falta de responsabilidade do colega e outras pessoas

51- ter que esperar por alguém 52- não poder cumprir uma escala

Dentre os itens mais estressantes dois (33 e 35) estão relacionados com a tomada de decisão do árbitro diretamente no jogo, presentes no ambiente de jogo. Estes itens dizem respeito ao “errar seguidamente” e em “situações claras”. O erro do árbitro foi também identificado como fator estressante na arbitragem por Kaissidis-Rodafinos e colaboradores (1998) como uns dos itens mais estressantes entre os árbitros de basquetebol australianos e gregos. Samulski e colaboradores (1999) identificaram um subgrupo de itens nomeados de erros que apresentou o maior valor de média entre os árbitros de voleibol e futebol de campo. De Rose Junior (2002) com objetivo de identificar as situações causadoras de estresse em oficiais de basquetebol encontrou o erro da arbitragem com uma freqüência de 5% de citação nas situações mais críticas na carreira do árbitro.

A organização de uma competição que envolve a escolha o local o jogo, conseqüentemente a segurança dos árbitros e de todos que compõem o cenário do jogo,

também está caracterizada como estressantes para os árbitros. Os itens (01, 05, 06 e 52) apresentam relações com a organização e segurança. Estes mesmos conteúdos foram também retratados por De Rose Junior (2002) como fatores estressantes através de situações da saída do ginásio escoltado e agressão sofrida pelos árbitros de torcedores e dirigentes.

Dentre os itens mais percebidos como estressantes pelos árbitros o de maior pontuação, isto é, o mais estressante foi o “chegar tarde ou atrasado no local do jogo” (46). Mas os itens 23, 43, 47 e 51 apresentam um conteúdo que está relacionado com o atrasar do árbitro ou de seu colega de trabalho. Estes itens demonstram a preocupação dos árbitros com o compromisso de cumprir horário e a necessidade de um tempo de preparação antes de começarem sua atuação no jogo.