• Nenhum resultado encontrado

SIOMARA APARECIDA DA SILVA CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO PARA MEDIR O NÍVEL DE ESTRESSE DOS ÁRBITROS DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "SIOMARA APARECIDA DA SILVA CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO PARA MEDIR O NÍVEL DE ESTRESSE DOS ÁRBITROS DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS"

Copied!
131
0
0

Texto

(1)

SIOMARA APARECIDA DA SILVA

CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO PARA

MEDIR O NÍVEL DE ESTRESSE DOS ÁRBITROS

DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 2004

(2)

Siomara Aparecida da Silva

CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO PARA

MEDIR O NÍVEL DE ESTRESSE DOS ÁRBITROS

DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação Física.

Área de Concentração: Treinamento Esportivo Orientador: Prof. Dr. Dietmar Martin Samulki

Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 2004

(3)

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Programa de Pós-Graduação em Educação Física: Treinamento Esportivo

Dissertação intitulada “Construção e validação de um instrumento para medir o nível de estresse dos árbitros dos jogos esportivos” de autoria da mestranda Siomara Aparecida da Silva, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

___________________________________________

Prof. Dr. Dietmar Martin Samulski – EEFFTO/UFMG – Orientador

____________________________________ Profª. Drª. Elizabeth do Nascimento - FAFICH /UFMG

____________________________________ Prof. Dr. Rodolfo Novellino Benda – EEFFTO/UFMG

____________________________________ Prof. Dr. Hans Joachim Menzel

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Física EEFFTO/ UFMG

(4)

DEDICATÓRIA

À Deus.

À minha família, plataforma de segurança nos meus processos de tomada de decisão. Aos meus pais que me patrocinaram e incentivaram a ingressar na arbitragem e na vida acadêmica.

À minha avó, Efigênia (em memória), mulher simples, mas vencedora e que desta forma, mesmo sem saber, me ensinou a superar as barreiras do preconceito contra a mulher.

Ao meu amigo e companheiro Pablo Juan Greco pela orientação de vida, apoio e incentivo.

(5)

AGRADECIMENTOS

À minha mãe porque teve que se transformar em duas: uma dentro de quadra para ser xingada, principalmente no início da minha carreira de árbitro e outra, em casa, no cumprimento exemplar de seu papel de mãe.

Aos meus professores de Educação Física do ensino fundamental: Yarinha, Dora, Iara, Raquel, Múcio, Marcelo, Ronaldo, por terem feito da escola centro de treinamento de cidadãos esportistas.

Ao professor Ronaldo Diniz Medina, o primeiro a me colocar em contato com um livro de regras de handebol.

Ao Marco Aurélio Pacheco Moraes, meu professor de arbitragem de handebol, meu modelo inicial de atuação em quadra.

Aos árbitros que contribuíram com a realização deste trabalho e, em especial, aos que comigo atuaram dentro e fora de quadra.

Minhas duplas e colegas de arbitragem do Handebol e Futsal, pelo crescimento junto. Em especial a Valeria Márcia Oliveira.

Ao André Luiz de Souza Oliveira, pelo incentivo que me ajudou a não desistir diante das dificuldades iniciais deste processo.

A Patrícia Campos, minha dupla de arbitragem que, em muitas situações de estresse, criou, comigo, estratégias de copping que se transformaram nos pilares de nossa amizade.

Aos Professores da EEFFTO da UFMG que, desde a graduação, me instruíram e me ensinaram o legado de ser professor. Em especial, ao Prof. Dr. Dietmar M. Samulski, meu orientador, pela confiança e incentivo. A eles, agradeço, pois o fim depende do início.

Aos Funcionários da EEFFTO da UFMG, principalmente os que conviveram comigo desde a graduação. Em especial Wandinha, Toninha, Rose, Maria de Fátima e, da Biblioteca a Elisabete.

(6)

A Inês, ex-secretária da Pós-graduação da EEFFTO, que sempre muita força me deu e até lágrimas secou nas batalhas perdidas.

Aos Cequianos, membros dos CECA (Centro de Estudos da Cognição e Ação) da UFMG, em especial a Carmélia.

Aos membros do GEPA (Grupo de Estudos da Psicologia do Árbitro) que acreditam, assim como eu na psicologia do esporte para melhoria da capacidade de rendimento do árbitro.

Aos membros do GEPE (Grupo de Estudos da Psicologia do Esporte), em especial a Iana e Erick, Casal 19, pelo apoio e créditos depositados.

Aos membros do LAPES, juntos na luta pela psicologia do esporte. Aos colegas do Mestrado que, juntos, vivemos esta etapa de vida.

À minha amiga Fifa, sempre percebendo quando uma amiga precisa de um ombro. A Guta, Maria Augusta de Siqueira Meinberg, com N.

Ao “brother” Guilherme que, juntos, vivemos o mestrado já no campo de trabalho. Às federações e confederações que contribuíram neste trabalho, em especial à Federação Mineira de Futebol e à Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo.

Aos Professores e Árbitros, peritos (Juízes) que contribuíram neste estudo.

Ao Professor Pablo Juan Greco, sempre com pouco tempo, mas sempre disponível para me ajudar nas correções e orientações.

Ao Professor Rodolfo Novellino Benda pelos cafés da manhã acadêmicos.

A Paula Arantes Barros, estatística, que, junto comigo, quase nem acreditou nos resultados deste estudo. A professora Neli (FUNORTE) pelo apoio na Língua Portuguesa.

Aos Professores membros da banca que aceitaram contribuir com este trabalho com suas experiências e conhecimento.

(7)

E, especialmente à minha mãe pela oportunidade de escolher, sob pressão, entre lavar roupa ou estudar. E à minha irmã, Sirlaine, pelo apoio, força, e oportunidade de compreender as leis e as leis das personalidades acadêmicas.

Enfim, a todos os familiares, amigos, colegas de trabalho, alunos e amigos que deixei de cultivar, e que, eventualmente, não foram citados aqui, mas que contribuíram e, principalmente, souberam respeitar meus momentos de clausura para a conclusão da etapa de um sonho.

(8)

“A regra é clara!” Arnaldo César Coelho

(9)

RESUMO

Os determinantes subjetivos e objetivos de uma situação juntamente com os processos cognitivos da percepção configuram a ação dos árbitros dos jogos esportivos coletivos. A tarefa de arbitrar consiste basicamente em tomar decisões em situações onde o estresse sempre está presente. A pressão das torcidas, a cobrança dos jogadores e a diferença da avaliação subjetiva de uma situação munida dos interesses e emoções da situação são fatores que contribuem para a difícil função dos árbitros. O estresse percebido situacionalmente pelos árbitros das diferentes modalidades que compõem os jogos esportivos coletivos é o construto deste estudo. O Handebol, Basquetebol, Futsal e o Futebol de Campo têm, além das semelhanças do ambiente físico e social, as tarefas técnicas e táticas dos jogadores. Essas modalidades que têm o contato físico entre os jogadores como mais um parâmetro comum entre si, sendo que caracteriza a função do árbitro destas modalidades. Construir e validar um teste para os árbitros dos jogos esportivos coletivos que analise a percepção subjetiva do estresse é o objetivo deste estudo. A crescente busca por instrumentos psicométricos validos que mensurem as capacidades psicológicas dos esportistas, o carente número de pesquisas com a população de árbitros são uns dos principais motivos que justificam este trabalho. Os itens citados pelos árbitros nas entrevistas como estressantes antes, durante e depois o jogo foram analisados semanticamente e avaliados por um conjunto de peritos para definir os fatores os quais os itens poderiam ser divididos. Um instrumento piloto foi aplicado para 109 árbitros de Futebol de Campo objetivando medir o quanto esta população percebe o estresse. Para medir o quanto de estresse foi utilizado no teste uma escala de Likert de 0 (zero) a 4 (quatro) pontos. A análise fatorial exploratória definiu o um único fator – estresse situacional com o KMO de 0,518. O nível de confiabilidade do teste foi dado através do valor de Alfa de Cronbach α = 0,9628, valor > 0,90 é considerado pela literatura como valor desejável para validar um instrumento. A análise fatorial, que corrobora com a validade interna do teste, definiu o mesmo como unidimensional, somente um fator - Estresse Situacional. As análises do instrumento foram feitas com 75 itens e na versão final do teste indicando validação foram descartados 6 itens, ficando o TEPA -Teste de Estresse Para Árbitros- com 69 itens para medir a percepção subjetiva dos árbitros dos jogos esportivos coletivos.

(10)

ABSTRACT

The subjective and objective determinants of a situation together with the cognitive processes of perception configure the action of the referee in the collective sports. The task of referee consists basically in making decisions in situations which the stress always has been presented. The pressure of fans and of players, and the differences of evaluation of a situation in which the interests and emotions are factors that contributes to the difficult referee’s function. The perceived stress situation by the referees of the different modalities that consist the collective sports is the construct of the current study. Handball, basketball, futsal and soccer have the similarities of physical and social environment, the technical and tactical tasks of the players. These modalities that have the contact between players as one more common parameter, that characterize the referee function of these modalities. Construt and validate a test for the referees of collective sports that analyze the subjective perception of stress is the aim/ objetive of this study. The crescent search for fidedignin psychometrics instruments that measure the psychological abilities, the few number of research with the referees population are one of the reasons that justify this study. The items quoted by the referees in the interviews as stressing before, during, and after the games were analyzed semantically e valued by a expert to define the factors which this conjunct of items could be divided. A pilot instrument was applied for 109 referees of soccer objecting measure how many this population perceive the stress. The factorial analyzes defined situational stress with only factor and your KMO went 0,518. To measure how many of stress was used in the test a scale of likert from 0 (zero) to 4 (four) points. The level of confiability was applied through Cronbach Alpha value α = 0.9628, value > 0.90 is considered by the literature as the desirable value to valid an instrument. The factorial analysis, that corroborate with the internal validity of the test, defined it as one-dimensional, only a factor- situational stress. The analyses of instrument realized with 75 items, and in the final version of the test indicating validation were rule out, therefore the TEPA – stress test for the referees – was finished with 69 items to measure the subjective perception of referees of collective sports.

(11)

LISTAS DE FIGURAS

FIGURA 01 - Situação – Teoria da Ação ...23

FIGURA 02 - Modelo do processo da Percepção...31

FIGURA 03 - Conflito como conseqüência da tomada de decisão...40

FIGURA 04 - Da decisão do árbitro ao conflito...41

FIGURA 05 - Decisão do árbitro em situações dos JEC...42

FIGURA 6 - Classificação dos esportes de cooperação / oposição...53

FIGURA 07 - Arbitragem dos JEC: Tomada de decisão e Situação ...55

FIGURA 08 - Estresse como produto tridimensional ...64

(12)

LISTAS TABELAS e QUADROS

QUADRO 1Parâmetros comuns da arbitragem dos JEC ...51

TABELA 1Análise dos Juízes – Concordância nos Fatores...85

TABELA 02Variância Total Explicada ...90

TABELA 03Matriz da Análise Fatorial de 3 Fatores...92

TABELA 04Itens com carga fatorial < 0,30. ...94

TABELA 05Itens com carga fatorial < 0,40. ...95

TABELA 06Correlação da matriz com o fator (KMO) ...96

TABELA 07Correlação itens com o fator...96

TABELA 08Classificação do nível de percepção ao estresse ...99

GRAFICO 01Árbitros que percebem mais o estresse ...99

GRAFICO 02Árbitros que percebem menos o estresse...100

TABELA 09Correlação entre temo de arbitragem e nível de estresse...101

GRAFICO 03Itens menos estressantes...102

(13)

SUMÁRIO

Capítulo 1INTRODUÇÃO...16

1.1 Objetivos...18

1.2 Justificativa...18

1.3 Delimitação do Estudo ...21

Capítulo 2REVISÃO DE LITERATURA...22

2.1 Teoria da Ação ...22

2.1.1 Conceitos Básicos...22

2.1.2 Regulação da ação esportiva ...25

2.2. PROCESSOS COGNITIVOS ...29

2.2.1. Processos Cognitivos da Arbitragem ...29

2.2.2 Decisão do Árbitro ...38

2.3 A ARBITRAGEM DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS...43

2.3.1 Os Árbitros ...43

2.3.2. Os Jogos Esportivos Coletivos ...50

2.4 ESTRESSE ...61 2.4.1 Estresse...61 2.4.2 Estresse e a Arbitragem...71 Capítulo 3METODOLOGIA...77 3.1. Caracterização do estudo...77 3.2. População...77

(14)

3.3. Amostra...77

3.4. Instrumentos ...78

3.5. Procedimentos ...79

3.6. Delineamento do Estudo (Piloto) ...84

3.7. Análises Estatística dos Dados...87

3.8. Cuidados Éticos...88

Capítulo 4RESULTADOS E DISCUSSÃO ...89

4.1. Amostra 03...89

4.2. Análise Fatorial - Dimensionalidade ...89

4.3. Análise Empírica dos Itens...98

4.4. Precisão da Escala ...104

Capítulo 5CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...107

REFERÊNCIAS ...109

APÊNDICE A - Identificação da amostra 02 -juízes ...116

APÊNDICE B - Estrutura da entrevista com os árbitros...117

APÊNDICE C - Instrumento piloto ...118

APÊNDICE D - Carta convite federações ...120

APÊNDICE E - Carta convite ...121

APÊNDICE F - Consentimento pós-informado ...122

APÊNDICE G - Análise dos juízes...123

(15)

APENDICE I - Reability Test – Cronbach Alpha...127

APÊNDICE J - Instrumento final ...129 ANEXO A - Comitê de ética ...131

(16)

Capítulo 1 INTRODUÇÃO

No cenário esportivo são muitas as manifestações do rendimento, podendo iniciar-se na escola como primeiro momento da educação esportiva, passando pelas escolinhas de esportes ao lazer e chegando até o clube, que dá seqüência ao rendimento esportivo e o profissionalismo, bem como o alto nível de rendimento. Nestas diversas formas de expressão do rendimento esportivo, existe um sistema de formação e treinamento esportivo que acontece em várias fases de aplicação do esporte. Os atletas, treinadores, árbitros e outros são resultantes deste sistema que tem como estrutura substantiva as capacidades físicas, técnicas, táticas, sócio-ambientais, biotipológicas e as psíquicas inerentes ao rendimento esportivo (GRECO; BENDA, 1998).

Em toda esta magnitude esportiva, os Jogos Esportivos Coletivos ocupam um lugar destacado na cultura contemporânea, constituindo um campo específico de manifestação da ação motora (GARGANTA, 1998).

Segundo Bayer (1986), os jogos esportivos coletivos (JEC) apresentam um conjunto de elementos comuns entre si, por exemplo: a bola, o espaço (terreno de jogo com as zonas fixas e variáveis), os objetivos (gols, cestas), as regras, os companheiros e os adversários. Neste conjunto de elementos comuns, permeia a ação dos árbitros dos diferentes Jogos Esportivos Coletivos que também podem ser compreendidas como comuns.

Os árbitros dos Jogos Esportivos Coletivos são representados como um agente que influencia e é influenciado pelo contexto situacional de grande complexidade. Este agente é parte inerente do contexto esportivo e seu rendimento pode ser analisado de forma similar à dos atletas (SILVA, 2004).

(17)

A complexidade situacional presente nos Jogos Esportivos Coletivos constitui um dos obstáculos e dificuldades que se apresentam para o árbitro na condução de uma partida. A velocidade de jogo, a utilização dos mesmos espaços, a busca de pontos ou gols em pressão de tempo, em espaços reduzidos, a luta pela posse da bola, os contatos corporais na amplitude permitida pelas regras do jogo específico dentre outros, são parâmetros que compõem e caracterizam a decisão do árbitro nos JEC (SILVA; GRECO, 2004).

A tomada de decisão (TD), dentre as várias funções do árbitro dos JEC, é a mais predominante. O processo de TD é composto de multifacetas operacionalizadas de forma rápida, suave, e eficientemente numa habilidade cognitiva, uma vez que a tomada de decisão é otimizada através da prática extensiva e das experiências competitivas (Tenenbaum e Bar-Eli, 1993 e Tenenbaum, 2003). É através da tomada de decisão que o árbitro manifesta seus conhecimentos, suas vontades e motivações e principalmente o controle de suas emoções. Dentre estes fatores (volitivos, motivacionais/ emocionais e cognitivos) que interferem no processo de tomada de decisão (TD), o estresse está presente no controle das emoções.

O estresse, dado como estado emocional negativo, se manifesta como uma reação inespecífica do organismo frente a qualquer exigência (SELYE, 1981), que pode ser compreendida como um produto da tridimensionalidade entre os sistemas social, biológico e psíquico do ser. Passar por situações estressantes depende de avaliações subjetivas e também das objetivas que compõem uma ação e que são definidas pelos processos que definem a pessoa, a tarefa e o ambiente (SAMULSKI, 2002).

A reação inespecífica pode ser provocada tanto por meio de ações prejudiciais, desagradáveis, como por meio de ações, experiências agradáveis, “distress” e “eustress”.

(18)

O presente estudo pretende discorrer sobre os assuntos do estresse inserido na função do árbitro dos Jogos Esportivos Coletivos. Para tanto, proceder-se-á à construção e validação de um teste para medir o quanto as situações realmente levam os árbitros dos JEC ao estresse.

1.1 Objetivos

O presente estudo tem com objetivo:

• Construção de um instrumento - TEPA - Teste de Estresse Para Árbitros dos Jogos Esportivos Coletivos - para a análise da percepção subjetiva dos fatores estressantes para os árbitros dos JEC.

• Analisar a semântica dos itens do instrumento. • Validar teoricamente e empiricamente o instrumento. • Verificar a consistência do instrumento.

1.2 Justificativa

Nos últimos anos, parâmetros interferentes no rendimento da arbitragem vêm-se mostrando presentes nas pesquisas das ciências dos esportes, principalmente na Psicologia do Esporte. No genuíno campo de aplicação da Psicologia, temas inerentes à arbitragem esportiva já se apresentam presentes em publicações específicas na década de 90 (DE ROSE JR, 1996, 2002; GARCÍA, 2003; GIMENO et al, 1998; GONZÁLEZ SUÁREZ, 1999; KAISSIDIS; ANSHEL, 1993; KAISSIDIS; ANSHEL, PORTER, 1997; KAISSIDIS-RODAFINOS; ANSHEL; SIDERIDIS, 1998; SAMULSKI et al; 1999, SAMULSKI; NOCE, 2003; SILVA, 2004; SILVA; GRECO, 2004; SILVA; RODRIGUES-AÑEZ, 2001, 2003, 2004; STE-MARIE, 1996, 1996, 1999; TEIPEL et al, 1998; dentre outras). No entanto, Cruz (1997) verificou que menos de três por cento (3%) dos artigos publicados nas revistas International Journal of Sport Psychology, Journal of Psychology e Journal of Sport Behaviour datadas de 1983-1995, tratam

(19)

do tema. García (2003) também indica a precariedade de publicações de livros sobre o tema, pois até sua edição havia outros dois publicados (POPELKA, 1992; WEINBERG; RICHARDSON, 1990). Este ponto destaca a necessidade de se ampliar o espectro de estudo na área, de forma a contribuir na otimização do rendimento do árbitro, o que conseqüentemente contribuirá com mais qualidade para o espetáculo da performance esportiva.

A presente busca de pesquisas enfocando parâmetros da Psicologia e os avanços do conhecimento psicológico nos conduzem à necessidade de instrumentos que estabeleçam uma avaliação e medidas dos aspectos subjetivos (situacionais: pessoa, ambiente e tarefa) de qualidade científica. Para isso, é necessário seguir o rigor metodológico da elaboração de instrumentos preocupando-se com a aferição da qualidade dos mesmos e aplicabilidade para o nosso contexto sócio cultural.

Para tal, através de análise empírica, percebe-se que a função do árbitro se estabelece em um processo contínuo de tomada de decisões em situações com muita pressão. O árbitro, na maioria das vezes, se encontra em estado de estresse, de ameaça, no sentido de ter que dar uma resposta, apitar ou dar uma vantagem, interferir no jogo, desencadeando em seu corpo uma série de reações físicas internas chamadas de respostas de lutar ou fugir (fight-or-flight response) (CANNON, 1932). As situações que os árbitros vivenciam nos jogos podem ser conhecidas e muitas vezes veiculadas como situações de estresse.

Segundo Silva e Greco (2004), as decisões dos árbitros são feitas através de seus processos subjetivos de avaliação (prospectivos e retrospectivos) em situação ameaçadora – situação de estresse. Identificar as situações reais que mais levam os árbitros ao estresse é o primeiro passo para quebrar, romper e controlar cargas emocionais percebidas como negativas e que diminuem o rendimento do árbitro.

Assim, a compreensão e a vivência do processo de construção e validação de instrumentos psicométricos, para análise do estresse do árbitro, tornam-se relevantes.

(20)

A escolha pelos JEC se faz pertinente pela complexidade estabelecida entre as modalidades que comungam este conceito, e pela variabilidade de ações e situações imprevistas no contexto do jogo interferentes na ação do árbitro.

A atenção não direcionada aos árbitros nos processos de treinamento descritos somente para atletas/jogadores e falta de pesquisas em que os resultados contribuam com a melhoria das capacidades de rendimento dos árbitros fazem parte dos motivos que conduzem a este estudo.

Por fim, há o interesse pessoal e profissional de contribuir no processo de formação, desenvolvimento e aprimoramento da carreira de um árbitro. Seria possível, após o término desta etapa do estudo dos parâmetros interferentes na arbitragem, estabelecer um conjunto de itens que mais estressam os árbitros dos Jogos Esportivos Coletivos, e assim também estabelecer, além da seqüência de validação analítico-experimental (ver mais no capítulo do Processo de Validação de Instrumento Psicológico), rotinas de treinamentos psicológicos compostos de conteúdos com formas controlar e lidar (coping) com o estresse situacional, em outros estudos.

Contudo, com o instrumento construído com normas psicométricas, assegurando a fidedignidade do construto, validando-o primeiramente na etapa “teoricas” e futuramente pela etapa empírica (e continuamente em processo de validação), estudos comparativos entre as diferenças de percepção dos árbitros dos diferentes jogos esportivos coletivos e entre as diferentes categorias de árbitros (mais experientes e menos experientes) poderiam ser realizados.

(21)

1.3 Delimitação do Estudo

O estudo delimitou-se a validar teoricamente um teste para avaliar a percepção subjetiva do estresse de árbitros dos Jogos Esportivos Coletivos com Contato que têm participação simultânea e espaço comum, segundo Moreno (1994) e decidem de forma singular ou amparada em situações técnicas regulamentadas e/ ou situações técnicas/ táticas. As modalidades escolhidas que se enquadram nesta classificação foram o handebol, o futsal, o basquetebol e o futebol de campo, até também, por serem algumas das mais praticadas na cultura brasileira.

A dificuldade de estabelecer definições dos fatores subjetivos de forma clara e que levassem à compreensão dos itens citados pelos árbitros conduziu à utilização de teorias básicas do estresse e das estruturas de regulação psicológica da ação esportiva baseadas na teoria da ação (NITSCH, 1986).

Por último, considerando a abrangência e amplitude de todo processo de validação, aliados ao tempo utilizado para sua realização, este estudo destinou-se à validação teórica e parte da validação empírica do instrumento, sendo que as etapas seguintes da validação poderão ser desenvolvidas posteriormente.

(22)

Capítulo 2

REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Teoria da Ação

2.1.1 Conceitos Básicos

Uma simples ação humana pode ser interpretada e analisada sob várias áreas da Ciência. A Antropologia, a Sociologia, a Biomecânica, a Fisiologia, dentre outras, são algumas áreas que podem ter visões particulares da ação, do movimento humano. Quando se analisa uma ação humana no ponto ou no espaço de interseção de duas grandes ciências, Ciências dos esportes e Psicologia – há a visão de que a ação humana é um meio de manifestação sócio-cultural complexa e com aspectos integrados e regulados do ser humano – regulação psicológica da ação, em especial, esportiva.

Assim, a ação humana pode ser definida “como um processo consciente, intencional, dinâmico, motivado, dirigido a uma meta, direcionado e regulado psiquicamente sendo realizado por meio de diferentes formas de comportamento dentro de um contexto social” (SAMULSKI, 2002).

Para analisarmos a ação humana no âmbito do esporte, devemos respeitar uma triangulação como base: pessoa – ambiente – tarefa (FIG. 01). A ação esportiva é executada por uma pessoa, num ambiente determinado por suas configurações físicas e sociais, com componentes técnicos que compõem a tarefa. Na interação, as inter-relações dos processos geram uma situação que deve ser compreendida como única na dimensão do tempo.

(23)

S I T U A Ç Ã O FIGURA 01

Situação – Teoria da Ação (adaptado de NITSCH, 1986).

Ação esportiva geradora de uma situação única deve ser desmembrada para ser mais bem compreendida. A ação esportiva é determinada por condições subjetivas e objetivas. Condições objetivas são aquelas que podem ser quantificadas, medidas, mensuradas e cujas análise e interpretação não são modificadas de pessoa para pessoa, sendo percebidas igualmente por um conjunto de pessoas. Já as condições subjetivas, suas interpretações e análises dependem das condições internas de cada pessoa, sendo percebida diferentemente num mesmo grupo de pessoas.

Os determinantes subjetivos da ação surgem da inter-relação dos componentes da situação. Uma pessoa composta de processos psíquicos e somáticos terá má interpretação em uma dada situação perante seus conhecimentos, interesses e motivação representados na sua ação - tarefa. A tarefa executada ou a ser executada por uma pessoa é definida pelo seu grau de organização, seu nível de complexidade. O meio ambiente em que a pessoa executa ou executará a tarefa é configurado por sua estrutura física – ambiente físico, e as relações e manifestações configuram o ambiente social completando uma situação que apresenta

Tarefa

Ambiente Pessoa

(24)

oportunidades e incentivos. Todas estas inter-relações são analisadas na teoria da ação (NITSCH; HACKFORT, 1981; NITSCH, 1986).

Baseando nesta teoria, a ação do árbitro dos Jogos Esportivos Coletivos (JEC), precursor deste estudo, pode ser analisada e interpretada pelos determinantes da ação esportiva, como um dos componentes / agentes deste cenário das ciências dos esportes.

As ações dos árbitros, em especial neste aporte dos Jogos Esportivos Coletivos (JEC), são visíveis simultaneamente em pelo menos três funções individuais que se diferem pelo nível de importância. A função de exploração da ação é interpretada pela realidade da própria ação que é experimentada, vivida, construída e reconstruída através das informações e experiências que compõem os processos aprendizagem das técnicas e táticas da especificidade da modalidade, contribuindo com o desenvolvimento do comportamento criativo de enfrentar situações de risco. Para um árbitro enfrentar sua primeira partida, por exemplo, em um estádio lotado onde todos os torcedores têm suas preferências e ele está ali para mediar interesses, pode configurar-se em uma situação em que sua função estaria sofrendo uma exploração da ação.

O árbitro que vive uma situação em que deve tomar a decisão de punir um atleta por uma atitude antidesportiva logo no início de uma partida cuja conseqüência fará a equipe desse atleta ficar com menos um jogador até o final do jogo, cria e transforma a realidade dos momentos, buscando soluções específicas com recursos da função construtiva da ação. A melhor decisão a tomar vai sendo construída pela vivência das situações. Neste exemplo, sua “melhor” ou “mais adequada” decisão poderia ser a de punir, sim, o atleta, mas, não o retirando do jogo com a punição mais alta e sim com uma advertência ou uma sanção similar perante a especificidade da modalidade.

Na função de apresentação determinante da ação humana, o esportista exprime suas emoções, pensamentos, sentimentos e atitudes intencionais por meio da ação. Neste sentido, a ação passa a ser o meio de expressão de uma auto-apresentação reflexa dos valores internos,

(25)

das normas e regras sociais que cada pessoa traz consigo. Na função do árbitro, a forma com que o mesmo controla e regula suas emoções interfere diretamente na utilização dos seus conhecimentos gerais e específicos, podendo ser percebida através das situações em que não se deixa envolver pelas emoções de uma partida decisiva ou conturbada, por exemplo, e consegue tomar decisões claras e corretas.

2.1.2 Regulação da ação esportiva

A regulação da ação esportiva considera as inter-relações, as relações (psicossocial, psicossomática, intrapsíquica e temporal), os sistemas e níveis (cognitivo, emocional e automático) e as fases da regulação da ação humana (antecipação, realização e interpretação) definidas na teoria da ação.

As inter-relações existentes na teoria da ação, pessoa - meio ambiente, e pessoa - tarefa geram interações dos processos que regulam a própria ação. Primeiramente, a regulação da ação acontece entre os processos básicos de realização e de orientação da pessoa ao excetuar uma ação com as dependências diretas das condições ambientais. Para que uma ação seja realizada os processos que regulam o comportamento humano como os processos de percepção, tomada de decisão, memória, processamento de informações compõem a fase de orientação da ação. Estes processos podem ser divididos em determinação da estrutura de execução da ação (orientação instrumental) e determinantes da estrutura volitiva, das intenções, motivos e metas (orientação intencional). Quando uma ação que sofre interações na fase de orientação é alterada, formada e transformada em execução concreta, é denominada como processo de realização.

As configurações do meio ambiente e as condições objetivas e subjetivas influenciam reciprocamente a orientação e realização da ação esportiva. Por exemplo, um árbitro se prepara para a apresentação de suas funções com um uniforme com mangas longas ou curtas

(26)

dependendo das condições objetivas do clima. Com este mesmo uniforme ou com outro, as expectativas e emoções que ele sente ao atuar em jogo de final de campeonato escolar serão diferentes, dependendo do nível de envolvimento do árbitro com a partida e perante seu nível de experiência. Mas estes parâmetros se alteram também, se for a final de um campeonato brasileiro com ginásio lotado.

A regulação psíquica da ação humana acontece dentro da inter-relação entre a pessoa (processos psíquicos e somáticos) e o meio ambiente (ambiente físico e social) que interferem entre si com relações fundamentais (NITSCH, 1986; SAMULSKI, 2002).

A relação psicossocial que é gerada por um confronto permanente da pessoa com o meio ambiente social e físico, leva a pessoa a analisar e criar soluções para os problemas e conflitos que podem acontecer por diferenças na percepção, divergências de opiniões.

As emoções de cada fase e nível de competição como o medo, o nervosismo, a ansiedade sentidos antes de uma partida geram reações fisiológicas e alterações do nível ótimo de ativação psicológica, que podem ser regulados através da relação psicossomática da ação, pois os processos psíquicos e somáticos atuam simultaneamente na realização da ação, o que contribui com a vivência, a experiência em saber lidar com as situações.

A relação intrapsíquica apresenta-se na regulação como um sistema integrado. Os processos cognitivos como a percepção, o pensamento, a memória, as motivações e as emoções participam simultaneamente em cada ação com diferentes manifestações. O árbitro que entra em atuação, confiante de estar bem preparado e que o jogo, com todas suas configurações (nível, fase, etapa, importância, equipes), o anima, incentiva-se a atuar, a apitar. Este árbitro poderá perceber o que realmente é relevante e pode decidir nos momentos importantes com um bom nível de concentração e saber controlar suas emoções de forma a convergirem para integrar todas as funções psicológicas em prol de um rendimento desejado.

(27)

A experiência aprendida ou adquirida no passado faz a relação temporal na regulação da ação humana. O como antecipar uma ação ou como decidir em uma situação de conflito é baseado nas experiências passadas. Um exemplo é um árbitro que chega para atuar em uma quadra em que a torcida fica próxima a mesa de controle (secretário /cronometrista), e dos bancos de reservas. Depois de vivida uma situação em que um torcedor da equipe adversária, atrás de um banco de reservas, xinga o árbitro, que interpreta ser um dos componentes do banco e o pune indevidamente; o árbitro antecipa e evita que a mesma situação possa acontecer novamente, solicitando uma corda de isolamento que distancia a torcida das pessoas cujo comportamento precisa observar.

Os níveis e sistemas (Sistema cognitivo, Sistema emocional e Sistema automático) de regulação da ação que atuam na execução do movimento exercem funções específicas. O sistema automático de regulação está diretamente ligado à análise do comportamento filogênico. O comportamento instintivo é regulado por este sistema, caracterizado também pela relação estímulos → resposta. O nível da regulação acontece no subconsciente com o estado de vigília e controle permanente do sistema cognitivo. Poderíamos relacionar ações de uma cultura, de um povo ou nação, como características de comportamento passado de pai para filho, de mestre para aluno como reguladas por este sistema. Dessa forma poderíamos começar o processo de compreensão das diferentes decisões ou reações de pessoas de culturas diferentes a uma mesma situação.

O sistema emocional de regulação tem neste trabalho uma importância maior. Uma das justificativas que nos conduzem a este estudo foi a vivência na arbitragem, onde o mais importante não era o conhecimento das regras ou a capacidade física e nem mesmo o controle das emoções que as situações causam e as que os mesmos árbitros geram em uma situação, mas, sim, o equilíbrio como produto de interseção dessas capacidades.

(28)

Nesse sistema, as influências, necessidades, as emoções e os motivos são de valor pessoal e decisivo para o comportamento emocional. Assim, as emoções exercem a função de organizadora e ativadora do comportamento que determina valores, interesses e percepções das formas mais variadas e flexíveis de uma situação.

Comportamento planejado, organizado e voluntário são as principais características do sistema cognitivo de regulação. Esse sistema direciona para uma das variáveis características do ser humano: a adaptação. A capacidade de se adaptar ao meio ambiente possibilita uma pessoa organizar e controlar seu comportamento em situações de incertezas e inseguranças, em situações complexas, novas e variadas. Uma capacidade básica no exercício de sua função de árbitro é saber se adaptar a situações novas e variadas. As situações palas quais os árbitros dos JEC passam não são definidas por eles e, sim, pelos atletas com base em suas capacidades técnicas e táticas, e é o nível de suas experiências que compõe o nível das situações em que os árbitros decidiram. As características dos JEC como imprevisibilidade e permanentes mudanças do contexto, riqueza e aleatoriedade, variabilidade técnica e tática, e exigências situacionais levam os árbitros a passarem situações muitas vezes inesperadas.

Por fim, analisamos a fase de regulação da ação humana que é caracterizada pela seqüência de três fases: antecipação, realização e interpretação, ou seja, têm uma estrutura básica trifásica. (NITSCH, 1986). As três fases sofrem e cedem influências das condições subjetivas e objetivas da ação.

A fase antecipação é caracterizada pela avaliação das condições pessoais e ambientais iniciais da situação e do cálculo das conseqüências possíveis da e na execução de uma ação. O planejamento num plano de ação para solucionar futuros problemas e tarefas através da análise inicial da situação também faz parte da antecipação.

Na fase de realização, quando uma ação é realizada, passa pela regulação básica (nível ótimo das funções psicofísicas) e pela regulação do processo de execução da ação

(29)

(execução e realização de planos com regulação sensoriomotora que possibilitam a alteração/ correção de erros técnicos) onde concretizam as intenções da ação na execução da ação, realizada, feita, concluída.

A fase de interpretação, análise e avaliação subjetiva da execução e das conseqüências da ação, baseadas na intenção e nos planos que foram antecipados fazem parte da fase de interpretação e são distinguidos entre os processos de controle (comparação entre o desejado e o realizado) e de avaliação (interpretação subjetiva). É nessa fase que os esportistas analisam e avaliam os resultados alcançados como positivos ou negativos, de sucesso ou fracasso e planejam as futuras ações.

E mesmo com toda a complexidade de análise da triangulação da teoria da ação, a mesma triangulação é proposta para ser usada em pesquisas com grandes e pequenas amostras estudadas, e em simples análise de casos complementando cada uma fase com as outras (HACKFORT; BIRKNER, 2003).

2.2. PROCESSOS COGNITIVOS

2.2.1. Processos Cognitivos da Arbitragem

No processo de formação do árbitro, o desenvolvimento das capacidades psíquicas deve estar sempre presente na articulação dos conteúdos de ensino de forma variada e flexível. A importância dos processos cognitivos tais como a percepção, a atenção/ concentração, o conhecimento, a memória, o pensamento, na tomada de decisão inclui a necessidade de se descrever os processos de percepção e sua relação com a experiência do árbitro. Para o desenvolvimento das capacidades psíquicas, diferentes autores (EYSENCK; KEANE, 1994; NITSCH, 1986; SAMULSKI, 2002; STE-MARIE, 2003; TENENBAUM,

(30)

2003) consideram os processos cognitivos como de fundamental importância para a ação humana e em especial a esportiva.

Eysenck e Keane (1994) destacam o reconhecimento de padrões como um ponto chave dentro do processo de percepção, e incorporam questões teóricas amplas como percepção inconsciente, subliminar, percepção de defesa e a visão cega no contexto do processo perceptivo.

No entanto, esses tipos de percepções, em princípio, não se constituem como parte do processo que leva à tomada de decisão do árbitro.

Dentro da corrente da psicologia cognitiva, marco referencial da proposta aqui apresentada, as teorias existentes procuram explicar que a percepção relaciona-se com as informações que podem ser utilizadas para perceber o mundo externo de forma acurada. O input sensorial é considerado como sendo o influenciador do processamento impelido pelo estímulo, pelo denominado processo de bottom-up. Atualmente, a forma mais comum de definir o processo perceptivo se dá no contexto dos processos bottom-up e o top-down (NEISSER, 1967; GREGORY, 1972, 1980; GIBSON, 1966, 1979; citado por EYSENCK; KEANE, 1994).

A elaboração cognitiva das amostras de estímulos que se processam nos órgãos dos sentidos é transmitida pelos centros nervosos e caracterizada pelos processos de seleção e codificação dos sinais (SONNENSCHEIN, 1987). A escolha e a interpretação das condições dos estímulos dependem da estrutura cognitiva da pessoa e da relação situacional (pessoa – meio ambiente – tarefa) em que ela se encontra, sendo assim, parte relevante de um processo psicológico ativo denominado percepção.

Para Roth (1986) a percepção se constitui um dos meios pelos quais a informação adquirida do ambiente através dos órgãos sensoriais é transformada em experiências de objetos, eventos, sons, gostos, imagens, etc.

(31)

A percepção é dependente, de forma complexa, das expectativas e do conhecimento prévio de quem percebe, assim como das informações disponíveis no próprio estímulo, da sua intensidade e qualidade.

O processo de percepção decorre da interação entre a pessoa e o meio ambiente (FIG. 02). A representação da pessoa no modelo cibernético desenvolvido por Sonnenschein (1987) é constituída pela inter-relação do conhecimento básico e aplicado, interagindo e relacionando informações dentro da estrutura do conhecimento, juntamente com a capacidade de percepção e o seu estado emocional atual.

FIGURA 02

Modelo do processo da Percepção (SONNENSCHEIN, 1987:46).

Estado Emocional Estrutura de Conhecimentos

Conhecimentos Básicos Aplicação dos Conhecimentos

Capacidade de Percepção

Capacidade de Seleção Capacidade de Codificação

PESSOA

MEIO AMBIENTE

CONDIÇÕES

AMBIENTAIS

RELACIONADAS

À PERCEPÇÃO

O Modelo do Processo da Percepção

(32)

Outro processo cognitivo que se apresenta como importante na formação de um árbitro e com o qual este entra em contato na sua primeira etapa de formação e, talvez, o que mais o acompanha em toda sua carreira é o conhecimento. Esta é uma das estruturas que relaciona o processo de percepção à tomada de decisão. Uma pessoa só consegue perceber algo do qual ela tem conhecimento. Um árbitro só consegue perceber que foi ou não pênalti, por exemplo, se ele já traz consigo o conceito, o conhecimento, os padrões pré-estabelecidos pelas regras do que é ou pode ser considerado pênalti. Por isso, o conhecimento faz parte (deve fazer), desde os primeiros momentos, da formação de um bom árbitro e deve sustentar toda sua carreira.

Bergius (1985) define conhecimento como “uma representação de informações, que abrange aspectos específicos e gerais de uma determinada realidade ou fenômeno, que está armazenado nas estruturas da memória”. Quando o conhecimento corresponde ao saber fazer, isto é, ações motoras que estão ligadas diretamente com a formação de esquemas de comportamento, se designa conhecimento processual. A pessoa, muitas vezes, consegue fazer, porém não consegue explicar, verbalizar como realiza as ações. Assim, apresenta dificuldades no processamento da informação, geralmente não pode descrever este tipo de conhecimento, que está detido de forma unilateral na memória. Um goleiro sabe como defender aquela bola no ângulo superior direito com a mão contrária, mas nem sempre consegue, ou pelo menos é muito difícil explicar com os mínimos detalhes como ele faz a defesa, ele simplesmente consegue fazer!

O outro tipo de conhecimento é o conhecimento declarativo. É o que permite declarar, explicar, narrar como uma situação ou uma ação se constitui. O conhecimento declarativo corresponde ao saber como fazer, isto é, são informações codificadas, processadas, incorporadas na memória. Este tipo de conhecimento é de grande importância para os jogos esportivos coletivos principalmente nas configurações dos esquemas táticos. Na formação do árbitro, o conhecimento declarativo é adquirido na aprendizagem das regras do

(33)

jogo no curso específico, devendo ser transformado em conhecimento processual através da prática, ou seja, o árbitro começa a atuar, colocando em prática tudo aquilo que foi lido e ouvido. As pessoas, o árbitro, que detêm ambos os tipos de conhecimentos têm uma base sólida para sua ação, e para a interpretação objetiva das regras nas ações dos jogadores. No centro da experiência, os tipos de conhecimento interagem entre si, completando-se a todo o momento na atividade do árbitro.

O trabalho para a quantificação do conhecimento declarativo (PAULA, 2000; SOUZA, 2002) torna-se importante também no processo de seleção, detecção e acompanhamento de um talento esportivo, podendo contribuir para diminuir o tempo de formação do “expert”. Por exemplo, através das declarações de “expert referee” pode-se reconhecer e estabelecer padrões ou “sinais relevantes” daquilo que é importante perceber para tomar as decisões. Entendendo “expert referee” como alto nível de excelência esportiva. Assim, ao se ensinar a um novato o estímulo diferente significativo pode-se prever que este mesmo novato, então, conseguiria passar a perceber as mesmas informações, ou o conhecimento, sem ter que “gastar” o mesmo tempo para aprender e adquirir pelos mais experientes. Aprendendo com os experientes, os novatos poderão ater sua atenção a observar e perceber sinais e/ou padrões que sejam relevantes à tomada de decisão na situação. Nesta troca de experiência, os novatos aprendem com os mais experientes a reconhecerem padrões quase sempre explícitos, claros nas regras, mas que são percebidos com conhecimento.

A avaliação que o árbitro faz da situação está relacionada com suas vivências e conhecimentos (experiências), através dos processos subjetivos de avaliação (prospectivos e retrospectivos).

Intimamente relacionado com o conhecimento, encontramos a memória e o pensamento que formam a estrutura de processamento de informações. A memória se caracteriza por ser responsável pelo processo de armazenar informação em localizações e

(34)

setores específicos do córtex. Esta capacidade permite o indivíduo alterar, variar seu comportamento em função das experiências anteriores. A memória foi primeiramente postulada por alguns psicólogos como um sistema de múltiplos armazenadores (EYSENCK; KEANE, 1994). O modelo aceito universalmente é o de Atkinson e Shifrin (1971) composto de três armazenadores: os sensoriais, que são específicos à modalidade e sentido, e retêm a informação por um curto período de tempo; os de médio prazo, que têm a capacidade bastante limitada; os de longo prazo, com capacidade essencialmente ilimitada, que podem reter informação durante períodos de tempo extremamente prolongados.

Entre os processos cognitivos conscientes, a memória é a responsável pela transcrição dos fatos e situações que já transcorreram e os que estão acontecendo. Dois diferentes processos (EYSENCK; KEANE, 1994; GARDNER; COSTA, 1994; SCHMIDT, 1993) se inter-relacionam para proceder à recuperação da informação: a recordação e o reconhecimento. A recordação envolve os processos de busca ou recuperação que são sucedidos por um processo de tomada de decisão. Trata-se de produzir uma informação que deve ser lembrada, por exemplo, quem aprende a nadar, a andar de bicicleta, não se esquece dos mecanismos, da técnica de execução. Já no reconhecimento, o indivíduo deve decidir entre as relações das informações que se lhe apresentam, deve comparar, recordar se já as viu, à quais se assemelham etc. (GARDNER; COSTA, 1994). A memória de reconhecimento passa a ser importante nos esportes coletivos, pois estabelece as relações para a antecipação, a percepção e a procura de sinais relevantes. Desta mesma forma, na arbitragem, por exemplo, a memória trabalha no momento de reconhecer uma situação, uma jogada, uma ação esportiva que pode ser executada ou não pelos jogadores no jogo. E, juntamente com a memória de recordação, o árbitro pode tomar uma decisão mais rápida e eficientemente.

O pensamento, segundo Dorsch (1985), é a forma de elaboração e interpretação ordenada de informações. Através do pensamento os conceitos são formados. São operações

(35)

que tendem a solucionar problemas. Esta estrutura de processamento completa os processos subjacentes à TD e se apresenta de forma convergente e divergente. Para Guilford (1966) o pensamento convergente é exigido para resolver um problema que tem uma resposta definida ou uma hierarquia de alternativas de solução. Este tipo de pensamento é o que mais se assemelha ao pensamento que um árbitro deve ter. Mas, o árbitro deve estar sempre preparado para as criações ou inovações nas ações esportivas, principalmente as novas ações técnicas dos atletas. Para isto, o árbitro deve ter também um pensamento divergente que é caracterizado pelo tipo de pensamento menos analítico, o necessário para enfrentar um problema que pode ter várias respostas, mais ou menos certas, ou não ter uma única resposta correta. Como exemplo, a regra de handebol diz que o atleta só pode progredir com a bola na mão por no máximo três segundos e/ ou três passos. Sendo a maioria dos jogadores destros, o processo de progressão das passadas, normalmente se faz três em passos sendo: esquerda, direita e esquerda respectivamente. Se um atleta inova, foge de um padrão pré-estabelecido, faz uma seqüência diferente, como esquerda, direita e direita de novo, e o árbitro está pensando convergentemente não conseguirá perceber que o atleta não infringiu as regras e sim inovou, criou, uma técnica nova, então o árbitro marcará uma infração que na verdade não aconteceu.

Os fatores motivacionais de um árbitro para atuar em uma determinada partida interferem no seu nível de ativação. Quando uma partida é empolgante, motivante para um árbitro, ele consegue otimizar seu nível de ativação, conseguindo dirigir sua atenção, mantendo-se concentrado no jogo.

A atenção é entendida por Samulski (2002) como um estado seletivo, intensivo e dirigido da percepção. Para Greco (1999), a atenção faz parte da estrutura perceptiva que se encontra nos três processos cognitivos (atenção-concentração e distribuição; antecipação-imaginação e previsão; percepção-seleção e codificação) que interagem entre si, se

(36)

influenciam e condicionam-se, dependendo da forma ou momento em que direcionamos o foco da nossa atenção. Para Konzag e Konzag (1981), atenção pode ser entendida como um processo seletivo e regulado da consciência humana e que se diferencia em três tipos de concentração em relação à ação esportiva: atenção concentrativa – focalização da atenção em um determinado objeto ou ação, a capacidade de dirigir a atenção a um ponto específico (ex: atenção dos árbitros no momento da execução dos pênaltis ou sete metros); atenção distributiva – distribuição da concentração em vários objetos ou ações, sendo sua intensidade menor em comparação com a atenção concentrativa, pois são observados vários pontos ao mesmo tempo; alternância da atenção - a capacidade de orientar-se de forma rápida e adequada a situações complexas, por meio de uma boa adaptação da direção, da intensidade e do volume da atenção em virtude das exigências do meio ambiente.

Para um árbitro, a atenção ideal está muito relacionada com o nível do jogo que determina a exigência do meio ambiente, não podendo ser somente a atenção distributiva ou concentrativa, deve ser alternada em relação à situação. Se a focalização da atenção do árbitro estiver somente em um determinado ponto ou objeto (local da quadra ou atleta), sua capacidade de dirigir sua atenção estaria somente em um momento específico deixando de lado, fora do limite de sua percepção a continuidade da situação. A atenção de um árbitro também não deve ser dividida ou muita distributiva, ampliando sua concentração sobre vários pontos seqüenciais. O ideal da atenção do árbitro se faz entre a distributiva, que seria o jogo como um todo e a concentrada, que seria num momento de atenção restrita a um jogador sozinho com a bola, vindo em um ataque próximo da área, até o momento de concentração restrita, a bola no gol para conseguir perceber, por exemplo, se ela entrou ou não no gol.

A análise dos processos cognitivos da percepção do árbitro na prática exige um alto nível de reconhecimento de padrões estabelecidos pelas regras e pelas situações de jogo. A função do árbitro iniciante torna-se-ia menos árdua se possuísse os padrões para serem

(37)

reconhecidos já descritos como um “gabarito”, o que tornaria a avaliação dos árbitros, nas diversas categorias, mais objetiva.

Para a Psicologia Cognitiva, o reconhecimento de padrões envolve a identificação ou reconhecimento de estímulos bidimensionais e tridimensionais no meio ambiente (EYSENCK; KEANE, 1994). Mas, a falta de um “gabarito” para os árbitros é reconhecida como um dos maiores problemas para os pesquisadores interessados em reconhecer padrões, pois é difícil dar conta da impressionante flexibilidade do sistema de percepção do ser humano que enfrenta uma multidão de estímulos diferentes.

Mesmo com esta dificuldade de detalhar, gabaritar um padrão a ser reconhecido, um nível de padrões a ser reconhecido deve ser estabelecido de forma geral, mas, claramente, pois reconhecer padrões envolve a equiparação da situação/ ação extraída do ambiente comparada a informações armazenadas na memória. Este processo de interação, extração – equiparação, é dinâmico, contínuo e a relação do estímulo da situação com a memória, no momento da comparação, processa a decisão sobre qual a informação da memória de longo prazo se equipara melhor ao estímulo reconhecido.

É possível dividir o reconhecimento de padrões em reconhecimento de rostos, palavras, objetos, e assim por diante dentro das abordagens teóricas tradicionais de gabarito, protótipo, atributos e da gestalt (EYSENCK; KEANE, 1994).

Assim, o árbitro dos JEC deve ter especial atenção /concentração nas situações, pois existem muitos pontos relevantes, padrões de reconhecimentos que compõem uma situação de jogo. Em se tratando especialmente de que a situação/cena em que o observador-árbitro entrará também em movimento, o árbitro deve ter muita concentração para não decidir em uma situação/cena como se estivesse vendo uma foto. A cena/ situação é contínua, tem uma seqüência de acontecimentos que na foto não são revelados. Esta seqüência, ordem de acontecimentos/ ações define a qualidade da TD do árbitro no que se refere à seleção dos

(38)

acontecimentos dentro da própria seqüência. O árbitro deve ter muito controle de suas emoções (ansiedade/ estresse) para não tomar uma decisão sob parâmetros percebidos estaticamente como em uma foto.

2.2.2 Decisão do Árbitro

A interação entre a ação (tarefa) do árbitro (pessoa) no jogo (ambiente) tem a particularidade de ser única, pois cada momento é situacional. Em toda situação de jogo apresentam-se fatores característicos próprios que estarão sempre sendo modificados a cada novo momento/ situação, constituindo o marco referencial da tríade que sustenta a regulação do comportamento.

Segundo Nitsch (1986), toda decisão na ação esportiva é determinada pelas condições subjetivas e objetivas da ação. A comparação entre o que é real (objetivo) da ação esportiva na situação de jogo e o que é subjetivo, é o que o árbitro/ pessoa percebe (vê) da situação. Nesses dois pólos se instala o primeiro passo de grande dificuldade para a arbitragem desenvolver seu papel – a diferença entre o que todos vêem e o que o árbitro vê.

No contexto ambiental do jogo, o árbitro interage no espaço e no decurso temporal do jogo para realizar sua tarefa. Assim, na sua essência, está permanentemente realizando tomada de decisões (TD). Este é um fator diferencial, pois cada uma de suas ações significa um momento de intervenção que se faz necessária para concretizar sua função, dirimindo e diferenciando o “deve ser” com o “foi”.

Imagine-se a situação: ginásio lotado, partida com placar empatado, poucos minutos para o final da grande decisão do campeonato mundial de handebol. O árbitro de gol posicionado corretamente em cima da linha de fundo da quadra, com sua atenção voltada para o gol. Um atleta lança a bola ao gol, a bola bate no travessão do gol quica no chão e sai. Os atletas e os torcedores da equipe que lançou ao gol, envolvidos pelas emoções que definem a

(39)

avaliação subjetiva da situação, gritam/ vibram o gol. Os componentes da outra equipe, também envolvidos emocionalmente com seus interesses correm em direção ao árbitro dizendo que não foi gol. Já o árbitro, munido do conhecimento das regras do jogo (a bola tem que entrar totalmente nas balizas para ser considerado gol) já tomou sua decisão, com base na visão também subjetiva, mas próxima, igual à situação real. O árbitro não dá o gol.

Como neste exemplo, a dificuldade do árbitro em decidir nesta situação e em outras situações decresce com sua experiência, dividindo e, sendo a mesma experiência, modifica na relação entre a aquisição de conhecimento através do tempo de prática, o nível da prática e a qualidade de orientação da prática. Desta forma, a qualidade da TD depende do grau de interação destes três elementos (tempo, orientação à prática e qualidade da prática) para que o árbitro consiga desenvolver durante sua carreira - nível de experiência do árbitro.

Gimeno et al (1998), num estudo com objetivo de adaptar um instrumento que facilitasse a investigação sobre as diferenças individuais da tomada de decisão, utilizou as respostas de 131 árbitros de handebol de diferentes categorias através do questionário sobre Decision Making Questionnaire II (DMQ II). A consistência interna do questionário, utilizando o Coeficiente de Alfa de Cronbach, alcançou um valor de 0,80. A estrutura fatorial dos dados, assim como a consistência interna do instrumento, confirmam a existência de distintos padrões de conduta perante a situação de decisão no contexto da arbitragem do handebol, relacionados com: estresse na tomada de decisão, dentre outros.

Uma parte importante da TD do árbitro em uma situação de jogo consiste em avaliar e determinar qual é a alternativa correta. Para isso, é necessário entender previamente que toda situação é relativa, solicitando do árbitro o conhecimento das prováveis conseqüências, para ele saber como reagir nas diferentes situações (FIG. 03).

Vendo assim, a TD é também compreendida como conseqüência da interação de diferentes processos psíquicos divididos em cognitivos da percepção (atenção/ concentração,

(40)

memória, pensamento, conhecimento), emocionais/ motivacionais (como me sinto neste jogo, com este placar, com essas equipes) e volitivos (importância do jogo), todos dependentes dos fatores situacionais. Isso, por si, justifica a importância do desenvolvimento e treinamento das capacidades psíquicas dos árbitros.

FIGURA 03

Conflito como conseqüência da tomada de decisão (SILVA, 2004:21).

Em toda ação esportiva, o árbitro pode interferir ou não na situação de um jogo ao tomar uma decisão, que pode ser: de apitar marcando uma falta (tiro livre) ou não apitar, concedendo, por exemplo, uma vantagem na jogada (FIG. 03). Sua tomada de decisão pode, também, vir ou não a provocar um conflito, se não for aceita por uma das partes. Assim, a decisão pode trazer conseqüências pela carga de pressão psicológica da situação e de interesse que possam ter para cada grupo. A decisão pode gerar um protesto no caso de um grupo ou parte dele não concordar com a decisão tomada pelo árbitro. Conflitos são elementos constitutivos que podem ser desencadeados pela TD do árbitro presente nos jogos. O árbitro deve saber controlar todas as situações nas quais suas decisões possam provocar conseqüências que venham a ser incontroláveis, chegando a provocar um escândalo. Para isso,

Tomada de Decisão EXPERIÊNCIA INTERFERIR (apitar) Ou NÃO INTERFERIR (deixar seguir) Tempo Conseqüências • Carga Psíquica • Enfrentamento • Divergência na Percepção (subjetividade) Aceitação + CONFLITO Protesto

-ESCÂNDALO

Prática

(41)

o árbitro deve ter consciência das conseqüências que suas ações podem provocar e basear suas decisões em observações claras, as quais não somente ele, detentor do conhecimento das regras, escolhido muitas vezes pelo seu nível de experiência para aquele jogo, possa perceber.

Assim, os árbitros devem ser treinados em observação de jogo, diminuindo a subjetividade, minimizando as emoções para assegurar maior clareza e decisão mais segura e clara.

Ainda assim, deve saber também compreender as reações dos atletas perante as decisões tomadas em cada situação de jogo para que tenha como avaliar as conseqüências, evitando chegar a um novo conflito e conseqüentemente a um escândalo (FIG. 04).

FIGURA 04

Da decisão do árbitro ao conflito.

A ação/ TD do árbitro se apóia na interação de um processo de comparação entre os dois pólos: “pode ser” e “não pode ser”. O gabarito de avaliação para estabelecer a comparação está contido nas regras do jogo. O trabalho do árbitro consiste, em toda situação de jogo, em tomar decisões comparando o que acontece no jogo (situação objetiva – real) com

DECISÃO DO ÁRBITRO

Árbitro Compreensivo Árbitro Inflexível

Nova Decisão Não Há Conflito

Sanção

Jogador Aceita Jogador Não Aceita

Conflito

Jogador Não Aceita Jogador Aceita

Não Há Conflito

(42)

o que ele carrega consigo de experiência, fazendo de sua avaliação subjetiva o mais próximo possível do “real”. Diferentes fatores (localização, condição física, nível de conhecimentos, motivação, grau de excitação na observação, estado psíquico, experiência) podem contribuir e interferir nas diferentes decisões que o árbitro pode tomar para definir o que deve ser (FIG. 05).

Assim, concluímos uma análise dos processos cognitivos básicos inerentes à TD do árbitro: a percepção, o conhecimento, a memória, a atenção e o pensamento, as emoções, todos os processos de interferência à TD possíveis de sofrerem alterações otimizadas e planejadas através de treinamento psicológico para melhoria e obtenção de rendimento.

Contudo, não se tem conhecimento de quantificações destes processos direcionados aos árbitros. Mas, muitas, também, são as dificuldades metodológicas para medir tais processos cognitivos no ambiente ecológico do árbitro que influenciem na sua capacidade de TD e se existem diferenças objetivas, reais entre a qualidade de percepção dos árbitros dos Jogos Esportivos Coletivos com Contato (SILVA; GRECO; SAMULSKI, 2004).

FIGURA 05

Decisão do árbitro em situações dos JEC.

SITUAÇÃO DE JOGO COMPARAÇÃO “Real e subjetivo”

Pode ser Regras Não pode

Deve Ser

Decisão do

Árbitro

Localização Ângulo de Visão Conhecimentos Teóricos Nível de Excitação na Observação Condição Física Atitude Motivacional Estado Psíquico Humor/ Personalidade *Estresse

(43)

Silva et al (2004a, 2004b) apresentam algumas características da quantidade de estímulos percebidos e a qualidade das respostas corretas a estes estímulos múltiplos em pesquisa laboratorial. Mas, muitas críticas são feitas a testes realizados com aparelhos em ambiente não ecológico, medindo as capacidades psíquicas.

Mesmo assim, testes laboratoriais que meçam as capacidades dos árbitros devem acontecer para contribuir na configuração das características, principalmente as psíquicas, destes agentes tão importantes do cenário esportivo. Todavia, até hoje, pouco foi efetivamente realizado pelos cientistas do esporte neste campo de constante busca da melhoria do rendimento esportivo.

2.3 A ARBITRAGEM DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

2.3.1 Os Árbitros

Para se conseguir entender o que significa ser árbitro seria necessário primeiro entender o que é arbitragem. O dicionário brasileiro da língua portuguesa O Globo (1993) define arbitragem como um substantivo feminino que significa arbitramento; julgamento feito por um ou mais árbitros; ato de dirigir qualquer jogo esportivo. Arbitragem é mediação imparcial para resolução de um litígio; jurisdição exercida por juízes não profissionais; tarefa exercida por aquele que faz cumprir as regras de um encontro desportivo.

Becker Júnior (2000) cita arbitragem como um corpo teórico composto por um conjunto de regras e normas impressas em um código. Por sua vez, De Rose Jr (2002) comenta que a arbitragem é, sem dúvida, um dos aspectos mais polêmicos de uma competição esportiva, sendo citada por atletas e dirigentes como responsáveis por seus insucessos e fonte de estresse.

(44)

Nas federações e confederações, entidades responsáveis pelo gerenciamento de cada modalidade nos estados e respectivamente no país, a arbitragem é normalmente um departamento composto por oficiais de arbitragem que são coordenados por uma pessoa que já exerceu ou que ainda exerce a função de árbitro, e/ ou que tem conhecimento das atribuições do mesmo.

Na organização de uma partida, dentre os membros da equipe de arbitragem, existem funções específicas que os diferem em determinados “cargos”. Os responsáveis pelo registro teórico dos gols, faltas e punições em um jogo são denominados secretários ou anotadores. Os que controlam a duração da partida (com exceção do futebol de campo) com suas paradas de tempo (time out), entrada e saída de jogadores de uma suspensão temporária do jogo ou substituições e principalmente o término da partida são os cronometristas. Os responsáveis por estas funções atuam fora de campo/ quadra de jogo, mas junto a linha lateral e dentre estas e outras funções auxiliam os então chamados árbitros.

No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2001), árbitro é definido como “a pessoa que resolve uma questão ou litígio, por consenso das partes litigantes; juiz. Autoridade suprema; senhor absoluto; o que serve de modelo ou exemplo; aquele que dirige um prelo esportivo”. O mesmo dicionário diz que o árbitro dirime questões por acordo das partes litigantes ou por designação oficial, o que na prática normalmente acontece. O árbitro é aquele que as partes litigantes nomeiam de comum acordo para resolver o pleito; aquele que pode resolver discricionariamente; senhor absoluto; indivíduo que, em competições desportivas, fiscaliza a observância das respectivas regras, intervindo sempre que estas sejam violadas; avaliador; louvado.

Considera-se árbitro aquele que dirige questões por acordo das partes designadas (SAMULSKI; NOCE, 2003). É o árbitro a pessoa no cenário esportivo que controla e executa na prática o regulamento, como elemento inerente da prática do esporte (GARCÍA, 2003).

(45)

O processo de formação do árbitro dos JEC é muito diferente daquele que um atleta deve percorrer, além de ter que ser um esportista tanto quanto o atleta. Para uma pessoa ser árbitro, a capacidade biotipológica (genótipo e fenótipo) que é determinante na escolha de uma modalidade. Não é determinante, por exemplo, para que um árbitro de basquetebol ou voleibol seja necessariamente alto. Muito tampouco ter capacidade técnica e domínio dos elementos e fundamentos do jogo, fatores que são determinantes do rendimento. Por exemplo, um treinamento da coordenação motora para uma técnica eficiente não precisa ser um aspecto relevante na sua sessão de treinamento.

Rodrigues; Ascanio (2002) estudaram as razões que levam árbitros de futebol decidir, começar, manter e mudar a prática da arbitragem. Os autores utilizaram um questionário MIMCA (Mantenimiento, Cambio y Abandono) administrado para 121 árbitros de diferentes categorias. As principais razões declaradas pelos árbitros para iniciarem a prática da arbitragem foram: “conseguir certas metas”, “divertir-se”. Entre os motivos para continuar na arbitragem, foram citados os relacionados com o desfrute da atividade, o relacionamento com o grupo e com o conhecimento técnico da arbitragem. As razões que poderiam levar a parar ou mudar para outra atividade são as relacionadas à falta de apoio dos dirigentes de arbitragem, as interferências com estudo e trabalho e as lesões.

Os pré-requisitos para uma pessoa comum se tornar um árbitro são basicamente, ter, no mínimo 18 anos de idade, o ensino médio como grau de escolaridade e efetuar o pagamento e freqüentar o curso de formação. Geralmente esse curso é composto, em sua essência, pelo conteúdo das regras oficiais de cada modalidade, e pelo regimento interno do quadro de oficiais onde se tratam as normas, os direitos e deveres de um árbitro. Após o término do curso, é feita uma prova teórica e o candidato a árbitro já se integra ao quadro de oficiais de arbitragem da federação estadual na respectiva modalidade. Em algumas federações, os árbitros devem cumprir um tempo de estágio na(s) função(ões) escolhida(s),

Referências

Documentos relacionados

A regulação da assistência, voltada para a disponibilização da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do cidadão, de forma equânime, ordenada, oportuna e

A prevalência global de enteroparasitoses foi de 36,6% (34 crianças com resultado positivo para um ou mais parasitos), ocorrendo quatro casos de biparasitismo, sendo que ,em

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Com base nos dados levantados por esta pesquisa, demonstra-se que as usinas A, B, C e D, possuem os requisitos necessários para a competitividade sustentável e, que

Centro de Ensino Superior de São Gotardo Jan-jun 2018 Número XVII Páginas 166-191 Trabalho 08 http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/gestaoeengenharia periodicoscesg@gmail.com

No capítulo 1 são clarificados conceitos-chave essenciais à contextualização do estudo efectuado, destacando autores como Conceição Lopes, John Thompson, Mcluhan, Sara Pereira e