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Capítulo 2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 ESTRESSE

2.4.2 Estresse e a Arbitragem

Os trabalhos sobre o estresse da arbitragem começaram a aparecer a partir de uma adaptação das pesquisas sobre o mesmo tema, sendo analisadas as condições dos atletas. A adaptação dos achados destas pesquisas se torna possível na análise de que o árbitro pode ser também considerado um esportista, como anteriormente citado. É louvável que as primeiras e mais fundamentadas pesquisas sobre este fenômeno interferente no rendimento, o estresse, contemplem os atletas, foco de atenção nos esportes.

Para podermos analisar o estresse de atletas ou mesmo dos árbitros, temos que entender sobre sua interferência no maior objetivo dos esportistas – o rendimento. Dentro das capacidades inerentes ao rendimento esportivo sempre encontramos as capacidades psíquicas relatadas, dentre outras. Independente do nível de rendimento o qual o esportista se encontra ele estará exposto a avaliações comparativas com suas próprias metas, ou com padrões previamente estabelecidos, ou mesmo com os padrões determinados no momento da própria exposição ação, a competição. Todos os fatores que compõem a ação dos esportistas acrescidos dos fatores em que todas as pessoas estão submetidas no dia a dia são suficientes para desencadear o processo de estresse influenciador no rendimento.

Smith (1986) citado por De Rose Jr. (2002) afirma que estresse é endêmico no meio esportivo competitivo, mas reconhece que níveis elevados de estresse podem trazer

conseqüências negativas ao desempenho, ao prazer de competir e ao bem-estar geral de atletas.

CHAGAS (1995) desenvolveu um instrumento (TEP – Teste de Estresse Psíquico) para a avaliação do estresse de jogadores de futebol que gerou inclusive, um estudo com a população de árbitros (SAMULKI; NOCE; COSTA, 1999).

A proposta do estudo, utilizando o instrumento, foi identificar e analisar condições e fatores que podem causar reações de estresse psíquico nos árbitros de futebol e voleibol. A amostra constou de 105 árbitros, sendo 64 de futebol e 41 de voleibol, do estado de Minas Gerais. O instrumento utilizado para análise foi o TEP (teste de estresse psíquico) adaptado para a arbitragem. O item mais estressante encontrado no estudo para os árbitros de futebol de campo foi a “preparação física inadequada” (p=0,01) e para os árbitros de voleibol foi “estar com problemas de saúde” (p=0,002). A conclusão deste estudo cita que o estresse na arbitragem está relacionado com o meio ambiente, com as relações inter-pessoais e com os fatores internos e externos de preparação (COSTA; SAMULKI; NOCE, 1999).

O mesmo instrumento foi adaptado para jogadores de voleibol de praia (POUÇAS, 2004). Neste estudo o instrumento apresentou o valor de Alfa de Cronbach α = 0,81.

Buscando outros instrumentos fidedignos para mensurar o estresse, Costa (2003) traduziu (back translation) e encontrou uma confiabilidade significativa em 16 das 19 escalas do questionário de estresse e recuperação (RESTQ-Sport) com α > 0,70.

De Rose Jr. et al (2002), com um instrumento que foi construído para atletas e adaptado para a arbitragem, o Formulário para Identificação de Situações “stress” em Basquetebol (FISSB), desenvolvido por De Rose Jr. et al (1999), com Alfa de Cronbach α = 0,98, analisou-se o estresse de 20 oficiais de arbitragem do basquetebol brasileiro (10 árbitros e 10 mesários), todos com experiência nacional e internacional. As situações de estresse mais críticas, identificas pelo autor na carreira destes oficiais, são aquelas envolvendo agressões ou

tentativas de agressões como as mais freqüentes, seguidas por situações envolvendo fatores de desempenho no jogo. Foram também citadas como mais críticas as situações que envolvem agressões, questões éticas e atuação no jogo.

Com o objetivo de suprir a não existência de instrumentos adequados à análise dos fatores de estresse pré-competitivo infanto-juvenil fez com que De Rose Jr. (1998) elaborasse uma lista de sintomas de estresse para determinar a freqüência de sua ocorrência em situação pré-competitiva. Neste estudo, a validade interna de 85 dos 90 sintomas originais apresentou um valor de 0,975 para o Alfa de Cronbach, e ainda o nível de significância p < 0,001.

Rainey e Winterich (1995) analisaram o estresse retratado pelos árbitros de basquetebol americanos, utilizando um questionário com 3 escalas de medidas de estresse que vai do baixo estresse para o estresse moderado criado por Rainey (1994). O instrumento foi elaborado num trabalho sobre a magnitude do estresse de árbitros assistentes (umpires) de basebol e softball e teve consistência interna (Cronbach Alpha) de α = 0,82 para esta escala. No estudo com os árbitros de basquetebol (RAINEY; WINTERICH, 1995), a consistência interna do instrumento de escala de 3 pontos foi de α = 0,87 e as correlações entre os três itens foram de 0,69. Os autores concluíram que as medidas dos escores para a escala de estresse entre a amostra foram de “muito pequeno” e “moderado estresse”, confirmando a hipótese e os indicativos das pesquisas anteriores de Rainey (1994), citado por Rainey e Winterich (1995). Os autores propõem novos estudos com outras modalidades, em outras localizações geográficas.

As fontes, a intensidade e as repostas ao estresse dos árbitros gregos e australianos foram retratadas (KAISSIDIS-RODAFINOS et al, 1998) através da análise de respostas dos árbitros a 15 situações de estresse agudo. A comparação foi feita entre as diferentes idades dos árbitros e entres dois grupos (australianos e gregos). As situações mais citadas como fortes estressores foram: tomar uma decisão errada, ameaça de abuso físico, abuso verbal dos

técnicos, abuso verbal dos jogadores e presença do supervisor de arbitragem. Uma análise de variância foi utilizada para detectar diferenças entre os dois grupos: abuso verbal dos técnicos (p<0,05); abuso verbal dos jogadores (p<0,05); tomar uma decisão controvertida (p<0,05); discutir com técnicos (p<0,05); discutir com jogadores (p<0,01), sendo essas situações percebidas como mais estressantes para o grupo de árbitros australianos. Foram encontradas situações significativamente mais estressantes para o grupo de árbitros gregos: a presença da mídia (p<0,05). Os instrumentos utilizados neste estudo foram o MBSS (Miller Behavioural Style Scale) (MILLER, 1987 citado por KAISSIDIS-RODAFINOS, 1998) de boa validade para testes de correlação com valores aproximadamente de 0,80, e, o BOSSS (Basketball Officials Sources of Stress Survey) desenvolvido por Kaissidis e Anshel (1993) na versão grega e na versão inglesa por Anshel e Weinberg (1995), ambos citados por Kaissidis-Rodafinos et al (1998), que apresentam validade interna de α = 0,81 e 0,83, respectivamente. Os valores do Alfa e Cronbach nos instrumentos retratados estudo foram de α = 0,79 e 0,84, respectivamente.

Com objetivo de conhecer os meios utilizados pelos árbitros na avaliação situacional e no controle do estresse, 133 árbitros australianos responderam ao CSI (Coping Style Inventory) (KAISSIDIS; ANSHEL, 1993). As situações mais estressantes foram: tomar uma decisão errada, reações agressivas de técnicos e jogadores, e a presença de pessoas importantes. Outros achados indicam que: árbitros considerados mais coerentes, inteligentes, demonstram evitar, e não aproximar-se do fator estressor como estilo de lidar com o estresse; em geral os árbitros mais experientes usam mais o evitar a situação do que o aproximar como suas estratégias; e a percepção deles ao estresse esta positivamente correlacionada com a aproximação e negativamente associada com o evitar o estresse, dentre as estratégias citadas pelos mesmos.

O estudo de Kaissidis e Anshel (1993) objetivava identificar as fontes de estresse agudo para os árbitros de basquetebol australianos e comparar o nível de percepção ao estresse entre árbitros adolescentes (14 – 18 anos) e árbitros adultos (19 – 46 anos). Um questionário foi administrado, contendo 15 fontes de estresse agudo de experiências citadas pelos mesmos árbitros. A MANOVA revelou que os árbitros jovens são significativamente mais estressados que seus colegas adultos.

A diferença da experiência entre os árbitros nas categorias da arbitragem pode ser percebida quando se compara árbitros novatos com árbitros experientes. Os árbitros experientes são significativamente melhores na quantidade de estímulos percebidos, gastam menos tempo para perceber uma situação, são capazes de executar tarefas duplas, declaram mais profundamente seus conhecimentos (STE-MARIE, 1999).

Teipel et al (1998) analisou as diferenças entre os árbitros mais experientes e menos experientes sobre as situações de estresse antes, durante e depois do jogo. Árbitros mais experientes sentem-se mais estressados e com dificuldades de preparo mental, quando necessitam viajar por longas horas para atuarem. Também sentem menor interferência dos dirigentes em suas atuações se comparados aos árbitros menos experientes. Não se sentem estressados tanto quanto os menos experientes nas situações em que têm a necessidade de sancionar ou marcar um pênalti, principalmente perante as reclamações dos jogadores em campo. Os árbitros mais experientes fazem considerações com maiores restrições e cuidados, se resguardando e se sentindo menos estressados em relação aos árbitros menos experientes nas situações que envolvem comentários do público, de jornalistas esportivos e a sociedade em geral. Na comparação entre árbitros experientes e menos experientes, antes do jogo, observou-se que os experientes aproveitam mais o aquecimento e as conversas com os colegas da equipe de arbitragem, do que os árbitros inexperientes como forma de controle do estresse.

Durante o jogo, os árbitros experientes utilizam-se mais dos comentários entre as decisões e a interferência nas situações como estratégia de superarem o estresse. Para superarem o estresse após o jogo, os árbitros experientes tomam cuidado nas entrevistas com os jornalistas esportivos, utilizando também de banhos mais prolongados como técnica de esperarem mais no vestiário para superarem o estresse.

E, segundo Samulski e Noce (2003), o estresse psíquico na arbitragem pode ser definido como uma situação vivenciada e avaliada pelo árbitro, com base em seu conhecimento do regulamento e suas experiências anteriores, tendo realizado uma avaliação subjetiva de acordo com meio ambiente sob caráter de ameaça. Há fatores diferentes de estresse entre os árbitros.

Para conseguirmos analisar os fatores de estresse da arbitragem retornamos aos objetivos deste estudo – construir e validar um instrumento para medir o estresse dos árbitros dos JEC, verificar a semântica, a consistência interna e externa do instrumento e analisar os itens, situações que levam os árbitros ao estresse.

Capítulo 3