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Análise do manual do aluno do curso de licenciatura em Letras-Francês da Universidade

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 101-114)

PROFESSORES DE FLE NO BRASIL

Universidade 1 Licenciatura dupla

3.4 Análise do manual do aluno do curso de licenciatura em Letras-Francês da Universidade

Antes de partirmos para a análise do documento, gostaríamos de expor aqui algumas explanações prévias. Em 2010, o curso de Letras da Universidade 2 sofreu remodelações na estrutura curricular. Anteriormente, o currículo era duplo, isto é, o aluno da licenciatura em Letras tinha a opção de se formar exclusivamente em vernáculo ou se graduar em língua portuguesa e optar também por uma língua estrangeira. As opções de LE eram: espanhol, francês e inglês. Não havia a possibilidade de se graduar apenas na língua estrangeira. Ou seja, em alguns casos, a língua estrangeira aparecia como um adicional à formação na língua materna, como se fosse um apêndice da formação em português.

A reformulação curricular, implantada em 2010, extinguiu o currículo duplo. Desde então, o aluno deve escolher, no momento de sua inscrição na prova de ingresso à universidade, qual é a formação que deseja seguir. Se for licenciatura, o aluno pode escolher entre: Língua Portuguesa, Língua Francesa, Língua Espanhola, Língua Inglesa ou Libras. Caso opte pelo bacharelado, há o de Literatura ou o de Linguística. Essa universidade também oferta os cursos de licenciatura em Letras em Língua Portuguesa e em Língua Espanhola na modalidade a distância.

A partir da mudança no currículo, cada licenciatura ganhou uma coordenação específica, como se fossem cursos de graduação diferentes e independentes. Ficou a cargo de cada coordenação criar o seu próprio projeto político-pedagógico. No entanto, ao procurarmos o projeto do curso de Letras- Francês, não o encontramos. Localizamos apenas o manual do aluno do curso. No segundo semestre de 2015, após contato com o Setor de Estudos e Assessoria Pedagógica ― responsável, entre outras coisas, por dar suporte às coordenações na elaboração dos projetos ― e com a coordenação de Letras- Francês, tivemos a informação de que o projeto oficial ainda não se encontra disponível para o público geral.

Diante da impossibilidade de análise do projeto, decidimos, após diálogos com a coordenação do curso aqui estudado, analisar o manual do aluno, por se tratar de um documento com pontos em comum com o de um futuro projeto, como veremos na investigação abaixo.

Assim como fizemos na análise dos dois documentos anteriores, primeiramente faremos a análise baseada nos procedimentos de Bronckart e Machado (2004) e, em seguida, partiremos para uma análise mais crítica, averiguando, também, a grade curricular e algumas ementas do curso.

CONTEXTO SOCIOINTERACIONAL DE PRODUÇÃO DO TEXTO

Quando o texto foi produzido?

No documento, não há referências sobre a data de produção do texto. Sabemos apenas que ele foi escrito antes de 2010, pois foi quando a mudança curricular entrou em vigor.

Qual é o contexto sócio-histórico em que o texto se insere?

Não há, no documento, nenhuma seção que faça alusão ao contexto sócio- histórico de produção do texto. No entanto, podemos supor que, devido à reformulação da estrutura do curso, houve a necessidade de criação de um novo manual do aluno. Embora não possamos precisar quando ele foi escrito, supomos seja anterior ao ano de 2010. Antes do primeiro semestre de 2010, o currículo era diferente, como explanamos anteriormente.

Quem escreveu o texto?

No texto não há nenhuma informação sobre a sua autoria. No entanto, a coordenação nos informou que o texto foi elaborado pela própria coordenação do curso, composta por professores das áreas de língua e literatura francesas e metodologia.

Qual o destinatário do texto?

O manual, como podemos deduzir pelo próprio título, se destina aos alunos do curso de licenciatura em Letras-Francês da referida instituição.

Onde o texto circula?

Podemos acessar o documento facilmente através do site da Universidade 2.

Qual a finalidade prevista para o texto pelos redatores?

Pensamos ser razoável inferir que a sua finalidade apresentar o curso de licenciatura em Letras-Francês da Universidade 2 para os alunos e futuros alunos,

informando sobre os objetivos do curso e do perfil profissional esperado para o egresso e fornecendo breve orientação sobre possíveis locais de trabalho, etc.

Qual o uso efetivo do texto?

O texto é um dos documentos prescritivos que rege o curso. No entanto, seria preciso uma avaliação mais profunda das ementas e das práticas dos professores universitários para descobrir se aquilo que está proposto no papel acontece de fato. Sabemos que o fluxograma e a carga horária são cumpridos. Ou seja, de forma global, a estruturação curricular está coerente com o manual. Contudo, não há como avaliar se os discentes saem da universidade com o perfil proposto no documento. Para ter uma ideia disso, precisaríamos fazer uma análise das práticas dos formados, o que não é a nossa proposta para este trabalho.

CARACTERÍSTICAS GLOBAIS DO TEXTO

Qual o suporte em que o texto circula?

O texto se encontra no site da Universidade 2. De forma geral, como o texto é organizado?

O texto é dividido em Identificação do Curso; Objetivos do Curso; Perfil Profissional do Egresso; Campo de Atuação Profissional; Estrutura Curricular do Curso; Atividades Complementares do Curso (Atividades Relacionadas ao Ensino; Atividades Relacionadas à Pesquisa; Atividades Relacionas à Extensão); Projetos Institucionais; Publicações; Pós-Graduação; Estágio Supervisionado; Trabalho de Conclusão de Curso; Corpo Docente.

INFRAESTRUTURA TEXTUAL

Qual o plano global do texto (suas partes constitutivas e articulações)? Identificação do Curso: Aqui é informado que o curso de Letras-Francês é de modalidade presencial, turno vespertino, com duração mínima de 8 semestres e máxima de 14, devendo o aluno cumprir uma carga horária mínima de 3.150 horas. O curso oferta um total de 15 vagas por ano, havendo apenas uma entrada de alunos no primeiro semestre do ano.

Objetivos do Curso: Como objetivo geral, é apresentada a preocupação em se formar profissionais participativos, críticos, interculturalmente competentes,

capazes de tratar com as diversas manifestações da linguagem. O profissional formado também deve ter consciência de sua inclusão na sociedade e de sua relação com os outros. Mais à frente, iremos analisar todos os objetivos, mas, por ora, os que mais nos chamaram a atenção foram: o que defende uma estrutura curricular flexível, interdisciplinar e interdepartamental; o que afirma a adoção de uma estrutura curricular que articule a teoria com a prática; e o que se preocupa em ampliar o que se entende por currículo, incluindo nessa concepção outras atividades acadêmicas e comunitárias que extrapolem a sala de aula.

Perfil Profissional do Egresso: Nesta seção, afirma-se que, de acordo com as DCNCL, o perfil do egresso deve coincidir com o objetivo do curso. É reiterado, então, o objetivo geral do curso, reforçando-se que, para atingi-lo, o aluno deve dominar a estrutura e o funcionamento da língua francesa, bem como suas manifestações culturais. Por fim, afirma-se que o curso visa formar professores de língua e de literatura que possam atuar na educação básica e também propor projetos escolares e integrar um perfil de professor-pesquisador de FLE.

Campo de Atuação Profissional: Além de formar professores, o curso prevê a formação de profissionais capazes de atuar de forma dinâmica em situações nem sempre previstas do mercado de trabalho. Apesar de não ter ficado muito claro quais seriam tais situações, o documento traz como exemplo de atuação profissional a modalidade de ensino do Français sur Objectifs Spécifiques (FOS)36.

Não nos pareceu muito coerente essa parte do documento, pois no início somos levados a entender que serão sugeridos outros campos profissionais que não a sala de aula, mas o exemplo dado é justamente no campo docente.

Estrutura Curricular do Curso: Aqui há a grade curricular do curso, com as informações sobre qual disciplina o aluno deve cumprir em qual período, além de informações sobre suas cargas horárias e seus pré-requisitos. Há também uma lista das disciplinas eletivas. Deixaremos para analisar tais grades de forma mais detalhada mais à frente.

36 Resumidamente, de acordo com Cuq (2003), o FOS é uma abordagem funcional de ensino e

aprendizagem que prevê a adaptação específica dos conteúdos a serem ensinados, a partir das necessidades de aprendizagem de cada aluno. Assim, o professor deve conduzir o ensino de língua francesa com base nas necessidades profissionais ou educacionais/formativas de cada aluno, da forma mais congruente possível com aquela demanda.

Atividades Complementares do Curso: Nesta seção, afirma-se que atividades complementares podem ser realizadas ao longo de toda a graduação. O aluno é livre para escolher quando e o que fazer para consolidar sua formação profissional. As atividades sugeridas se enquadram no âmbito do ensino (monitoria), da pesquisa (participação em eventos, Pibic37, pesquisa, etc.) e de

extensão (participação em cursos ou em projetos de extensão).

Projetos Institucionais: Aqui há informações para os licenciandos sobre os projetos aos quais eles podem se vincular, tais como o Pibic, o Pibid38 e o PET39.

Publicações: Esta parte é também informativa, com indicações de revistas nas quais os discentes podem publicar trabalhos. Além de haver um breve resumo sobre as revistas, há explicações sobre como acessá-las.

Pós-Graduação: Mais uma parte em que os licenciandos podem se informar sobre o programa de pós-graduação da referida universidade. Aqui há a descrição das linhas de pesquisa do programa.

Estágio Supervisionado: Ao fim de cada etapa de estágio, cada licenciando deve apresentar um relatório contendo as atividades que foram executadas em cada semestre. As turmas de estágio não devem ultrapassar 30 alunos, e cada licenciando terá a oportunidade de ser orientado diretamente por um professor para que haja o melhor acompanhamento das atividades previstas para o estágio.

Trabalho de Conclusão de Curso: Nos últimos dois semestres de curso, o aluno deverá cumprir 60 horas referentes às disciplinas de monografia. O trabalho deve ser escrito na língua em que o licenciando estiver se formando e deve possuir caráter científico, além de exigir a orientação de um professor. A banca para avaliação do trabalho deverá ser composta por três professores, incluindo o orientador, e o aluno será aprovado apenas se obtiver média 7,0 (a nota máxima sendo 10,0).

Corpo Docente: De acordo com o manual do aluno aqui descrito, o corpo docente é composto por 58 professores efetivos, distribuídos entre as áreas de literatura, línguas e linguística.

(Figura 11: Quadro de análise do manual do aluno da Universidade 2.)

37 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. 38 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. 39 Programa de Educação Tutorial.

Apesar de o projeto da licenciatura em Francês ainda não estar pronto – por isso estamos analisando aqui o manual do aluno –, vimos que o projeto político-pedagógico da licenciatura em Espanhol se encontra disponível para o público, de modo que a partir dele podemos traçar o contexto sociointeracional de produção, já que essas informações estão ausentes no manual do aluno. Visto que o contexto da mudança curricular se deu da mesma maneira para ambas as línguas, acreditamos que podemos trazer aqui alguns dados sobre as circunstâncias de tal reformulação.

O curso de Letras dessa universidade foi criado em 1950. De acordo com o projeto de Espanhol, embora o currículo do curso seja discutido por discentes e docentes desde 1993, apenas em 1997 foi que aconteceu um seminário para se discutir a sua reformulação. Os pontos mais criticados eram a baixa carga horária prática, a grande evasão dos alunos e a vasta gama de perfis curriculares possíveis para o mesmo curso.

Apesar de tal discussão ser antiga, vide que faz mais de vinte anos que ela teve início, apenas em 2005 é que foi retomada e somente em 2010 é que houve, de fato, a implementação da nova reforma curricular. Entre as principais mudanças estão o aumento da carga horária prática, a diminuição dos perfis curriculares e a possibilidade de o aluno escolher qual perfil irá cursar já no ato da inscrição no vestibular.

No projeto da licenciatura em Espanhol no qual estamos nos baseando, afirma-se que os responsáveis pela reformulação curricular foram os próprios docentes da instituição. Além das razões que já foram expostas aqui, também foi apresentada a seguinte justificativa para a mudança: necessidade de adequação do currículo às novas exigências legais, como as DCNCL, e também às mudanças do contexto socioeducacional do Brasil.

Agora, após termos feito uma análise do contexto sociointeracional da reformulação curricular, nos debruçaremos sobre a análise crítica da infraestrutura textual do manual do aluno de Letras-Francês, visto que até então apenas a descrevemos.

Logo no início do documento, o baixo número de vagas ofertadas nos fez pensar que possivelmente a procura pelo curso seria também baixa, hipótese confirmada ao termos acesso, no site da instituição, à concorrência de vestibulares anteriores. Em 2014, por exemplo, havia 1,8 alunos para uma vaga,

enquanto a concorrência do curso de Letras-Inglês era de 5,0 alunos para uma vaga. Podemos supor, assim, que apesar de serem oferecidas poucas vagas para o curso de Letras-Francês ― apenas 15 por ano ―, é provável que não se justificasse uma maior oferta, visto que a procura parece ser também reduzida.

Uma das possíveis razões para a baixa procura pelo curso em questão é o fato de o aluno ter de fazer a escolha do perfil curricular na inscrição para o vestibular. Podemos questionar quais são os alunos que têm contato com a língua francesa a ponto de saberem que querem fazer um curso superior em Letras-Francês, dado que são poucas as escolas de ensino básico que oferecem tal língua estrangeira naquela cidade. No antigo currículo, o aluno só precisava escolher a língua estrangeira que iria estudar após já ter começado a cursar Letras. Acreditamos que, quando o curso tinha tais moldes, havia uma maior chance de o aluno optar pelo francês, até mesmo porque ele podia se formar em mais de uma língua estrangeira simultaneamente. O que acontece no currículo que está em vigor hoje é que o licenciando se forma exclusivamente em uma língua, não havendo possibilidade de mudança pós-vestibular.

Lembramos que não pretendemos aqui julgar qual perfil curricular é melhor ou pior do que outro. Objetivamos apenas problematizar os prós e contras da mudança, para tentarmos compreender a atual conjuntura.

Ao analisar os objetivos do curso, percebemos que o objetivo geral é quase idêntico ao objetivo principal das DCNCL, o que é um sinal de que o manual do aluno de fato se baseou nas diretrizes. Nos objetivos específicos, observamos a preocupação com uma formação mais livre e holística dos alunos, através da defesa da flexibilidade curricular. Ao analisarmos a grade curricular do curso, observamos que, de fato, há um espaço considerável reservado para as disciplinas eletivas. Um pouco mais à frente, apresentaremos uma análise da grade curricular, quando poderemos ampliar a discussão sobre as disciplinas e ementas do curso.

Em relação à defesa de um currículo interdisciplinar e interdepartamental, não observamos essas características nem na grade, nem nas ementas, tampouco nas falas dos discentes. Esse objetivo previsto para o curso acaba não saindo do papel. Na visão de Vygotsky (REGO, 2013), tal interdisciplinaridade seria essencial para a atuação profissional do futuro professor, visto que o ser humano é naturalmente interdisciplinar. Seria muito

positivo, pois, se esse projeto fosse concretizado na prática, para que os futuros professores pudessem sair da faculdade com uma melhor noção de como integrar os conhecimentos aprendidos de maneira isolada. Quando chegar o momento da prática, o discente necessitará integrar todos os conhecimentos de forma holística, e é provável que tenha dificuldades. Vimos, aliás, a partir dos questionários, a dificuldade dos licenciandos de inserirem a literatura numa aula de língua. Os conteúdos ensinados ao longo do curso são muito segmentados, como se não se comunicassem entre si, o que, possivelmente, comprometerá a cobiçada formação integral do aluno.

A preocupação em se articular teoria e prática nos estudos didáticos é antiga, mas ainda persiste a dificuldade em saber como essa junção de fato acontece. No currículo da Universidade 2, vemos que há uma tentativa mais enfática de se acabar com essa dualidade. Nas ementas das disciplinas de língua francesa, por exemplo, há a articulação entre a prática e a teoria, vide quadro seguinte.

Disciplina: Francês I – Fonética e Fonologia

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da fonética e da fonologia francesa

Disciplina: Francês II – Lexicologia

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da lexicologia francesa

Disciplina: Francês III – Morfologia

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da morfologia francesa.

Disciplina: Francês IV – Sintaxe I

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da sintaxe francesa I

Disciplina: Francês V – Sintaxe II

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da sintaxe francesa II.

Disciplina: Francês VI – Semântica

Ementa: Estudo prático da língua oral e escrita com trabalho sistemático da semântica francesa.

Disciplina: Francês VII – Produção de texto

Ementa: Registro de língua e gêneros textuais. Prática sistemática da dissertação em língua francesa a partir de estudos de dossiê.

Disciplina: Francês VIII – Dissertação

Ementa: Prática sistemática da dissertação em língua francesa a partir de estudos de dossiê. (Figura 12: Quadro das ementas das disciplinas de língua francesa do curso de licenciatura em Letras-Francês da Universidade 2.)

De acordo com o quadro acima, vemos que 100% dos aprimoramentos previstos pelas ementas são de cunho teórico-prático. Apesar de não fazer parte

dos nossos objetivos verificar se os docentes universitários conseguem ou não fazer essa articulação entre teoria e prática ao longo das disciplinas ofertadas, o documento aqui analisado nos permite entender que a capacitação prática juntamente com a teórica é uma preocupação constante dessa universidade. No entanto, na seção do manual do aluno que traz a relação do corpo docente, não há referência a nenhum professor de disciplinas pedagógicas. Uma justifica plausível para isso é que nessa universidade tais disciplinas são de responsabilidade do Centro de Educação, ficando separadas as disciplinas de Letras e as de Educação, assim como observamos na Universidade 1.

Ao olharmos para essas ementas, vemos também que não há nenhuma ligação das disciplinas de língua francesa com as de literatura francesa. O que nos faz, novamente, questionar: como o licenciando poderá colocar em prática algo que ele não viu acontecendo ao longo de seu curso? É provável que seja, pois, um desafio a utilização de textos literários nas aulas que o licenciando ministra/ministrará. Apesar de não haver a previsão do uso de textos literários nas aulas de língua francesa, ao questionarmos os professores se eles o faziam nas aulas que ministravam na universidade, todas as três respostas que obtivemos foram positivas. Todos os professores colaboraram com falas que defendem a importância do texto literário. Eis alguns trechos das justificativas dadas: “a literatura de um povo é fundadora de sua língua” (Docente D); “é um documento autêntico muito rico” (Docente E); “acredito que textos literários sejam muito importantes para o desenvolvimento de gêneros textuais como a dissertação francesa e o comentário literário” (Docente F).

Ao olharmos para a grade curricular da Universidade 2, contamos 480 horas de disciplinas de língua francesa e 240 horas de literatura francesa. Assim sendo, parece compreensível que a maioria professores e dos discentes- monitores concordem que há um desequilíbrio e julguem tal desequilíbrio negativo.

Quando questionamos os docentes universitários se eles acreditam que os licenciandos são capacitados pela universidade para fazer uso da literatura nas aulas de FLE, dois responderam que acreditam que o quadro docente está trabalhando para isso. Por se tratar de um tema bastante complexo e subjetivo, o Docente D afirma que é necessário bastante tempo e estudos aprofundados para aprimorar tal reflexão. A fala da Docente F nos pareceu bastante relevante

quando ela afirmou que “talvez o que falte nas ementas acadêmicas seja justamente um enfoque maior na ’didática da literatura francesa para o ensino de FLE’, ou seja, não apenas se aprender a literatura, mas aprender a ensiná- la, a adaptar os conteúdos, as obras ao público-alvo e seus objetivos”. Essa fala se encontra em plena sintonia com a fala de todos os discentes, que afirmaram não se sentir preparados para fazer uso de textos literários nas aulas que ministram, além de alegarem que o curso universitário não os capacita para isso. Como possível consequência dessa carência, todos os discentes afirmaram não fazer uso da literatura nas aulas de francês que ministram no

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 101-114)