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CAPÍTULO 2: O OLHAR DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS SOBRE OS POVOS INDÍGENAS

2.6 Os casos: análise quantitativa

Por, frise-se, cumular competência judicial e consultiva a CIDH é produtora de i) sentenças237, quando casos contenciosos lhe chegam para apreciação; ii) medidas provisórias238, nas hipóteses de urgência ou em que exista risco irreparável às pessoas envolvidas; e iii) opiniões consultivas, nas vezes em que lhe são demandados pareceres ou que a Corte atua balizando a legislação doméstica dos países com as normas internacionais de proteção aos direitos humanos.

Conforme já dito, optou-se pela coleta de apenas um tipo de decisão da CIDH para constituir a amostragem dessa pesquisa: os casos contenciosos.239 Ademais, dentre os casos contenciosos só interessaram para essa pesquisa aqueles que disessem respeito aos povos indígenas considerados enquanto um grupo e não os em que as demandas versassem acerca de direitos individualizados, mesmo que envolvendo indígenas no pólo ativo.

Quatro parâmetros foram utilizados para organizar os dados: 1) Sujeitos ativos; 2) Sujeitos passivos (Estados); 3) Lapso temporal entre a petição inicial e a data da sentença; 4) Direitos violados.

Sem passar pela seleção de dizer respeito a um grupo indígena ou a uma demanda individual foram gerados 13 casos, conforme demonstra a tabela:

237 Essas sentenças podem ser de mérito, isto é, realmente decretar se houve ou não alguma violação por parte do

Estado, ou de outros tipos, como por exemplo, de reparação.

238 Sobre o assunto: “A Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, como órgãos internacionais de proteção de tais direitos em geral, possuem um sistema de medidas de urgência, denominas, respectivamente, medidas cautelares e medidas provisórias. As primeiras emanam dos amplos poderes da Comissão, que tem alcance além da esfera de seu sistema de caso; as segundas derivam expressamente da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. (...) Como mencionamos as medidas provisórias se encontram expressam previstas na Convenção Americana e apenas se aplicam aos Estados Partes de tal instrumento. De acordo com o disposto no artigo 63.2 desse tratado, tais medidas procedem “em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas.” Sua consagração no tratado não deixa nenhuma margem de dúvida sobre o caráter obrigatório das medidas provisórias.” In: GONZÁLEZ, Felipe. As medidas de urgência no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Sur Revista Internacional de Direitos Humanos.

Disponível em: <http://www.surjournal.org/conteudos/getArtigo13.php?artigo=13,artigo_03.htm>.Último acesso em agosto de 2013.

239 Embora analisadas uma a uma, já que bastante interessantes, ficaram de fora as opiniões consultivas devido

Tabela 1 - Casos gerados pelo termo de busca “indígena” na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos

Humanos (Fonte: Site da CIDH)

Nome do caso Estado

Pueblo Indígena Kichwa de Sarayaku Equador Comunidade Indígena Xákmok Kásek Paraguai Comunidade Indígena Sawhoyamaxa Paraguai Comunidade Indígena Yakye Axa Paraguai Pueblo Saramaka Suriname Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni Nicarágua Comunida Moiwana Suriname Yatama Nicarágua Massacre Plan de Sánchez Guatemala Tiu Tojín Guatemala Rosendo Cantú México Escué Zapata Colômbia Chitay Nech Guatemala

Desses, entendeu-se que 6 casos não enquadram-se no conceito de demandas dos povos indígenas enquanto coletividade ou grupo, quais sejam: i) Tiu Tojin Vs. Guatemala240; ii) Rosendo Cantú Vs. México241; iii) Escué Zapata Vs. Colômbia242; iv) Chitay Nech Vs. Guatemala243; v) Yatama Vs. Nicarágua244; vi) Masacre Plan de Sánchez Vs. Guatemala245.

240 Excluído porque se trata de caso de desaparecimento forçado de uma mulher e uma criança. O caso foi gerado

como resultado para a pesquisa “indígena” porque as vítimas enquadram-se dentro do que a Comissão chamou de “los abusos cometidos durante el conflicto [armado] interno por la fuerzas militares contra el pueblo indígena maya, los integrantes de las organizaciones dedicadas a la promoción de sus derechos y las comunidades de población en resistencia”. Sentença de 28 de novembro de 2008.

241 Trata-se de um caso de condenação por tortura e exploração sexual de uma mulher indígena. Por a vítima ser

uma índia, a palavra acabou sendo citada de forma a demonstrar como as mulheres indígenas, em especial dentro desses grupos, têm dificuldade em usufruir dos serviços de saúde e justiça. Sentença de 31 de agosto de 2010.

242 Este caso versa sobre a violenta morte de um senhor indígena pelo Exército colombiano. A palavra indígena é

bastante presente na sentença da Corte, como por exemplo nesse excerto que fala sobre o senhor Gérman Escué Zapata: “era un Cabildo Gobernador del Resguardo Indígena de Jambaló que se dedicaba a la agricultura, al igual que los demás miembros de su Comunidad, así como a la defensa del territorio indígena”. Según la

Assim, os casos a serem analisados quantitativamente (todos os 7), e qualitativamente (os 3 primeiros), se fazem listados na tabela abaixo:

Tabela 2 - Casos sobre povos indígenas na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Fonte: Site da CIDH) Nome dos casos

Pueblo Indígena Kichwa de Sarayaku Vs. Equador

Comunidade Indígena Xákmok Kásek Vs. Paraguai

Comunidade Indígena Sawhoyamaxa Vs. Paraguai

Comunidade Indígena Yakye Axa Vs. Paraguai

Pueblo Saramaka Vs.

Suriname Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni

Vs. Nicarágua Comunida Moiwana Vs. Suriname

2.6.1 Sujeitos ativos

Dois esclarecimentos prévios se fazem necessários: i) aqui, entende-se por sujeito ativo os responsáveis por ativar a jurisdição e tirá-la de seu estado natural de inércia; ii) o demanda, la ejecución del señor Escué Zapata se inscribió dentro de un patrón de violencia contra los pueblos indígenas asentados en esa zona del país, y sus líderes”. Sentença de 5 de maio de 2008.

243 Trata-se da condenação do Estado da Guatemala pelo desaparecimento forçado de Florencio Chitay Nech, um

indígena maia kaqchikel, que, além de agricultor também ocupava o cargo de defensor municipal da cidade de San Martin de Jilotepeque. .Sentença de 25 de maio de 2010.

244 Caso em que candidatos do partido político indígena Yatama foram impedidos de concorrer a diversos cargos

políticos. Apesar de partidos políticos representarem, em tese, uma coletividade de pessoas a sentença fala em vítimas individualizadas. Sentença de 23 de junho de 2005.

245 Neste caso houve a condenação do Estado da Guatemala por ter negado a justiça e outros atos de intimidação

e discriminação em prol dos sobreviventes e dos familiares das vítimas do Masacre Plan de Sanchez - ocasião em que foram executadas muitas pessoas, a maior parte delas membros da comunidade indígena maia. Embora possa ser considerado um coletivo de indígenas a CIDH não os tratou como tal, razão pela qual optou-se por não considerá-lo como componente da jurisprudência sobre povos indígenas da Corte. Sentença de 29 de abril de 2004.

conceito de vítima para o Sistema Interamericano é mais amplo do que normalmente considera-se vítima internamente. Assim, a vítima para os fins desse sistema internacional de proteção dos direitos humanos não é só aquela que tem capacidade processual para iniciar o curso de uma ação, já que esse conceito seria muito restrito. Muito mais que isso “a

legitimatio ad causam no Sistema Interamericano estende-se a todo e qualquer peticionário e pode prescindir até mesmo de manifestação por parte da própria vítima, caso de pessoas que se encontrem em situações de incomunicabilidade ou impossibilitadas de agir por conta própria.”246

Sendo assim, pode-se dizer que, percentualmente, os sujeitos ativos da jurisprudência sobre povos indígenas (coletivamente considerados) na CIDH estão assim distribuídos:

Tabela 3 - Sujeitos ativos perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos nos casos envolvendo povos indígenas

(Fonte: Site da CIDH)

Sujeitos ativos %

Particulares representando a si mesmos e/ou à

comunidade 28,6

Centro for Justice and International Law

(CEJIL) 28,6

Tierra Viva a los

Pueblos Indígenas del Chaco

28,6

Asociación del Pueblo Kichwa de Sarayaku 14,3 Asociación de Autoridades Saramaka 14,3

Centro de Derechos Economicos y Sociales 14.3

Moiwana '86 14,3

Não consta 14,3