• Nenhum resultado encontrado

Análises de dados

No documento Download/Open (páginas 115-200)

Capítulo III – “ALDEIA UNIDA MOSTRA A CARA” NO HIP HOP

8. Narrativas e contemporaneidade nas letras de rap

8.2. Análises de dados

Explica Brand (2004, p. 138) que entre os anos de 1915 e 1928, o Governo Federal demarcou oito extensões de terra em Mato Grosso do Sul, consideradas, por ele, “pequenas”, no total de 18.124 hectares. O Governo colocou os indígenas nesse espaço, por meio de uma estratégia orientada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Esse processo, importante para o governo, liberou as terras para a colonização e, logo, a ocorreu a submissão da população indígena aos projetos de ocupação e exploração, bem como foi ignorada as relações que os povos tinham com seus territórios e os padrões de organização social.

Daquele jeito, continuo a minha sina sabendo muito bem que gerou minha ruína 510 anos de abandono confinados em reservas que mal cabem nossos sonhos

[Música: A vida que eu levo]

O caminho seguido pelos Guarani não foi o dos rios, mas o do fundo das fazendas - enquanto serviam de mão-de-obra, até chegarem às reservas. A mudança na organização social também refletiu na vida religiosa que para eles exige um grupo familiar que dê sustentação. Vimos que o modo de ser Guarani Kaiowá tem o tekoha como o lugar em que vivem ou sobrevivem, além do fisicamente, também culturalmente. Não é apenas a terra, mas o território sagrado.

Terra sagrada pra nós é tekoha

Fazendeiro ocupa não tenho medo de falar

De lá pra cá, guerras conflitos chegou a hora de luta Pelo direitos dos índios

[Música: A vida que eu levo]

As lembranças doem nas histórias contadas pelos pajé de nossas terras roubadas

anos 70, dezena de família

extensa, cada vez mais exprimido

no fundo das fazendas foram separada em oito aldeia [Música: Terra Vermelha]

A perda territorial retratada nas letras limitou os indígenas economicamente, trazendo escassez de recursos naturais para subsistência, impondo-os ao trabalho assalariado. Os mais jovens não vivenciaram as experiências dos pais, como tirar da terra o sustento ou do fenômeno oguata (caminhar, peregrinar), mas são a maioria na reserva - 55% são jovens. Devido a essas consequências que Brand (2004, p. 145) considera fundamental a abordagem do tema não apenas na perspectiva tradicional, dos mais velhos, mas, também, do contexto vivenciado pelos jovens na construção de alternativas de desenvolvimento.

Das letras de rap selecionadas por esta pesquisa, todas fazem menção e marcam o espaço dos indígenas. Klein (2013, p. 33) acredita que toda potência das práticas midiáticas indígenas, ao produzir discursos coletivos sobre sua realidade ou conhecimentos, coloca não só a posição dos autores, mas as negociações diversas sobre o que de si farão aparecer, na reflexividade cultural. Para ela, isso está presente em filmes ou documentários, como para esta pesquisa está presente nas letras de rap.

No artigo “Representação midiática, identidade indígena e o jornalismo no Mato Grosso do Sul”, OTRE (2014, p. 3) afirma:

Para agravar a situação, na pauta principal dos embates está a briga por terras que para os indígenas significa seu tekoha e para os produtores significa capital, propriedade particular e local utilizado para a manutenção de suas famílias e seus costumes. Nesse contexto, os textos falados no dia a dia, assim como os que fazem parte da mídia, deixam claro de que lado estão, salvo poucas exceções: do lado dos que bancam a grande mídia no estado, do lado dos fazendeiros que geram emprego, dos políticos – muitas vezes também fazendeiros – que exercem poder em prol de seus interesses sobre a sociedade e assim por diante.

Apesar do recorte temporal de 2009 não ter apontado nenhuma notícia sobre território nos jornais estudados aqui, diferente das letras de rap, podemos lembrar um pouco dessa época. O ano era de “comemoração”, marcado pelos 20 anos de história do STF (Superior Tribunal de Justiça) nas questões relativas aos indígenas, por meio, de acordo com uma reportagem do próprio órgão, reportada pelo site Consultor Jurídico, Justiça do “homem branco” (JUSTIÇA..., 2009). Essa que, para eles, encontrou “um caminho de convivência entre a civilização moderna e essas culturas ancestrais do nosso país”, como o julgamento que diz respeito às ações que tenham uma pessoa como autor ou vítima, mas que não haja interesse indígena.

No mesmo ano, ainda, lembrando a história, o jornal Diário MS publicou uma matéria tratando dos cinco anos passados da demarcação da reserva Panambizinho, com relatos que indicavam que a terra não havia resolvido os problemas dos indígenas. A esse respeito, Cavalcante afirma que

A matéria objetivou difundir a ideia de que os índios não precisam de terras, mas sim de assistência estatal. Norteado por este equivocado argumento, o discurso jornalístico distorceu até mesmo as poucas falas indígenas que citou. “Os índios dizem que a vida ‘melhorou’, mas os índices de suicídios e alcoolismo não são diferentes de outras aldeias”. Ora, aqui o jornalista arrogou-se do direito etnocêntrico de avaliar o que representa e o que não representa melhoria das condições de vida para os indígenas. Ao longo do texto fez o que pôde para caracterizar que, embora os índios considerem que suas vidas melhoraram, continuam numa vida miserável. Não se pode ignorar que, mesmo as comunidades com terras indígenas já regularizadas enfrentam dificuldades de gestão territorial e que precisam de fato de mais apoio do Estado, todavia, não há legitimidade alguma no discurso jornalístico para distorcer a opinião dos indígenas, publicando-a de modo a levar a crer que melhor do que a demarcação de terras seria a ampliação de programas de assistência (CAVALCANTE, 2013, p. 238).

Na letra da música “Não julgue pela aparência”, os jovens dizem: “Nos debate do cenário / Nossa luta é muito pouco / Para o povo brasileiro / Entender que já morreu índio

demais nessa terra”. Tanto a matéria como a letra mostram a contradição da visão que os não-indígenas têm sobre a posse de terra para os indígenas. Para Cavalcante (2013, p. 239), o colonialista é representado pela imprensa local e parece temer sua hegemonia mais que a perda de suas terras e, liga, portanto, a questão à disputa patrimonial, mas que tem tudo a ver com os mecanismos de dominação. O autor lembra os trabalhos do Executivo (pelo menos o que deveria ser), da Funai e do MPF (Ministério Público Federal), porém constata que “os poderes constituídos no Estado brasileiro só desenvolvem alguma vontade política para a efetivação dos direitos indígenas sob pressão”.

FIGURA 13:

Imagem do Distrito de Panambi

À esquerda, e da Reserva Panambizinho, à direita, como exemplo de preconceito associado aos indígenas relacionado a terra improdutiva (como preguiçosos). Foto: Divulgação/ Veja.

É claro que há um erro. Um erro histórico da União que fez uma reforma com terras devolutas, antes ocupadas, como no caso que envolveu o distrito de Panambi. Um erro por não dar condições nessas terras para que os indígenas pudessem desenvolver suas práticas de cultivo (de acordo com sua cultura). Dentro da reserva, há problemas com possíveis arrendamentos investigados pelo próprio MPF, trocados por vezes por “valores irrisórios”. Não é dessa forma que funciona.

Para completar, o maior destaque e quase único, se não fosse uma notícia sobre o hip hop, foi o caderno policial no Diário MS, com seis notícias no período. O Progresso não apresentou material. Não é de se estranhar, portanto, que Mato Grosso do Sul, em 2009, em notícia divulgada pelo portal Consultor Jurídico (MS...., 2009), foi considerado

o estado com mais índios encarcerados. Os presídios, na época, abrigavam 148 indígenas, segundo levantamento da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen). A juíza da 1ª Vara Criminal de Dourados, Dileta Terezinha Souza Thomaz, nesse texto, declarou que os indígenas, devido à proximidade com a cidade, cometeriam todos os tipos de crime que “o branco comete”. Os índices de criminalidade, portanto se aproximavam ao da população não-índia e têm como uma das principais causas o alcoolismo e o consumo de drogas.

Sei que não é fácil viver assim

Criminalidade violência nesse mundo enfim [Música: A vida que eu levo]

Vai achando graça mais o papo aqui é sério você E sua cachaça mandou muitos pro cemitério [Música: A vida que eu levo]

Presídio vai lotar, vai fazer sua mãe chorar Sua mina lamentar

Pense bem, pense

[Música: Terra Vermelha]

Das seis notícias, cinco tratam de morte e uma de tortura a indígenas. A tentativa de homicídio de um homem contra um garoto foi relacionada à morte de um indígena, mas o título que envolve o indígena parece ter mais espetáculo: “Homem preso por morte de índio baleou garoto malcriado” (HOMEM..., 2009). O título parece apontar que o indígena baleado era um adolescente desaforado, quando não é. Outra notícia chama a atenção por dizer que a pauta da criminalidade na segunda cidade mais populosa do Estado, ou seja, Dourados, foi de mais um crime “na aldeia”. Pela proximidade, parece fazer parte de um mesmo território. Na música “A vida que eu levo”, os jovens dizem: “Ao lado da cidade / Reserva, favela, sequela que fica”. Como a reserva para eles diferenciasse, por exemplo, no uso de instrumentos, como do “fuzil para o facão”: “Dispense a cachaça e a maconha / Respeito não se ganha do facão / Quando acompanha” (Música: Mudanças). É o caso de duas notícias que envolvem instrumentos desse porte. Também relacionado à violência, outro caso que afeta a reserva é o suicídio. Uma das notícias revela a morte de dois indígenas, uma de 14 anos e um de 26 anos. Índios, estes, guarani-kaiowá, mas da região de Caarapó e Juti, na região sul de Mato Grosso do Sul, que se suicidaram por motivos desconhecidos. Os suicídios, de acordo com Pimentel (2007, p. 4), começaram a ser tratados como fenômenos em 1980. Era uma média de 5 a

8 ocorrências anuais e, a partir de então, não há registros de uma faixa inferior a 20. Esses casos ganham destaques grandiosos. O mais recente a esta pesquisa, ocorreu em 2015, quando o jornalista Charles Lyos, do The New York Times, chamou o fenômeno de “epidemia”, relembrando os dados do Relatório de Violência do Cimi (SUICIDES..., 2015). Em 2013, foram contabilizados 73 casos de suicídios entre os indígenas de Mato Grosso do Sul, 72 Guarani-Kaiowá, com maioria entre 15 e 30 anos de idade. Os casos quase triplicaram se comparados a períodos como de 1986 a 1997, com o registro de 244 mortes e de 2000 a 2013 com 684. Foram contabilizados 36 casos só em setembro de 2014. Enquanto isso, no Brasil dos não-indígenas, a média é seis vezes menor: 5,3 suicídios por 100.000 pessoas ao ano, segundo o Mapa da Violência elaborado com dados do Ministério da Saúde (2012), enquanto o dos indígenas chega a 30 por 100.000 pessoas. Entre os Guarani-kaiowá, há mais de 60 a cada 100.000 pessoas. Parece difícil apontar uma causa apenas que motive essas mortes, até mesmo no rap os jovens indígenas se questionam: “agora te pergunto, rapaz / por que nós matamos e morremos?” (Música: A vida que eu levo). Pimentel (2007, p. 7) diz que, em geral, o ethos guarani está classicamente associado a uma “melancolia” ou a um “pessimismo histórico”, entre outras variáveis discussões a respeito da criminalidade, território, família, econômica, etc.

Dizem que a gente só se mata, Poxa vida, que doidera Coisas boas também temos Tipo essa música

Muitos dons, lá na aldeia para mostrar [Música: Não julgue pela aparência]

No recorte das notícias de 2013, os principais assuntos são referentes ao território e ao caderno policial. O número 13, para uns pode significar sorte, para outros nem tanto. Se fôssemos pensar em numerologia, em 2013, havia 13 anos da tramitação da PEC 215, que voltou a chamar a atenção dos indigenistas após a criação, em abril do mesmo ano, de uma Comissão Especial Temporária para examinar a proposta, na véspera das comemorações ao Dia do Índio. Trata-se da mesma PEC que preocupa os indígenas ainda em 2015, como notamos na entrevista com uma liderança. O detalhe é que, dificilmente, essas visões diferentes de mundo poderão ser resolvidas dentro de um gabinete ou do Congresso.

A diferença com que setores da sociedade brasileira enxergam algumas iniciativas parlamentares em tramitação no Congresso, e as interpretações antagônicas de valores defendidos pela Carta Magna, mostram quão

irreconciliáveis são os interesses em pugna no campo brasileiro quando o assunto é demarcação de terras (VISÕES..., 2013).

Uma matéria do Diário MS tem como título: “Produtores questionam demarcação”, relatando a posição dos produtores rurais por meio da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) quanto ao processo de demarcação. A matéria leva em consideração a questão econômica, questionando: “Quem vai querer investir aqui?” (Diário MS, 23 de abril de 2013), na voz do, então, presidente do Sindicato Rural de Amambai, Diogo Peixoto. Segundo Cavalcante (2013, p. 330), essa é uma discussão antiga que revela uma tática do setor rural:

Quanto ao argumento do prejuízo econômico que o Estado poderá sofrer, revela-se outra face da estratégia ruralista de oposição às demarcações em Mato Grosso do Sul, que é a superestimativa da área que poderá ser reconhecida como terras indígenas. O documento fala em um terço do estado, o que corresponde a quase 12 milhões de hectares. Ainda que boa parte desse espaço de fato seja território de ocupação tradicional guarani e kaiowa, a perspectiva de efetivas demarcações são bem menores do que isso. Esse número é a simples soma de toda a área dos municípios envolvidos no estudo, que não serão inteiramente reconhecidos como terra indígena. Ademais, a instabilidade gerada pela indefinição dos resultados dos estudos é que afasta novos investimentos, sendo assim, parece evidente que a conclusão dos estudos com a definição mais clara de quais são as terras indígenas no estado irá possibilitar a atração de novos investimentos. O impacto econômico do reconhecimento dessas áreas, se existir, será apenas pontual e não desencadeará a falência do estado, como querem fazer crer os seus opositores.

Em outra matéria, também com a posição de um sindicato, relata-se um assassinato contra um produtor rural. No caso da fonte, ouve-se o presidente. O caso tem desdobramentos em outras matérias, como “Famasul cobra a Justiça e CNA pede suspensão de demarcações” (Diário MS, 14 de abril de 2013), “Acirramento dos conflitos fundiários inflama índios e produtores no Estado” (Diário MS, 17 de abril de 2013). É possível observarmos, nesse material, adjetivos usados na voz do outro durante a matéria, como “covarde”. No entanto, para pesquisadores, como Otre (2014), esses usos linguísticos mostram o lado de quem a mídia está, ao contrário também é motivo de questionamento, demonstrando justamente o espaço que essas organizações têm dentro dos jornais. Logo notamos, por exemplo, sem questionar até mesmo a qualidade do material, o espaço que ocupa na página. Na opinião do então presidente do Sindicato Rural de Dourados, Marisvaldo Zeuli:

Ao cobrar uma ação rápida e eficiente dos organismos de segurança pública na investigação desse caso saliente que “imagine se a situação fosse contrária, com um grupo de produtores fazendo um índio refém e espancando ele até a morte. Hoje, teríamos um gigantesco aparato da Polícia Federal atrás dos acusados e a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos estaria em Dourados, junto com as ONGs internacionais, clamando por Justiça”. “O produtor rural de 68 anos não merece direitos humanos e a morte dele não deve despertar nas autoridades o mesmo clamor de Justiça?”, questiona (Diário MS, 14 de abril de 2013).

Os outros ganchos desse material, que se remetem aos indígenas propriamente, estão nas páginas policiais, como “Ex-policial aposentado é espancado e morto por índios em Douradina” (Diário MS, 15 de abril de 2013); “Conflito entre produtor rural e índios era antigo, segundo BO’s” (Diário MS, 15 de abril de 2013), “Segundo delegado, versão de grupo contradiz índio preso e necropsia” (Diário MS, 16 de abril de 2013), e, enfim, uma versão dos indígenas, divulgada com base em uma nota da internet: “Versão de lideranças circula na internet” (Diário MS, 16 de abril de 2013). Podemos perceber que exclui-se, portanto, fontes indígenas e impera o interesse político.

Poucas são as publicações jornalísticas sobre as explicações dadas pelos próprios índios sobre o assunto, o que restringe as discussões imparciais ao seleto meio acadêmico, e ainda não é suficiente para uma conscientização ampla sobre a situação indígena e os elevados índices de suicídio registrados. Isto ocorre não apenas pela sutileza necessária para abordagem do tema, mas, especialmente, pelo desinteresse da mídia local em divulgar matérias parciais, as quais poderiam despertar constrangimento em seus leitores, demonstrando- os a corresponsabilidade na miséria indígena que os rodeia e que mesmo assim nos é tão indiferente (ZAHRA, 2013, p.31)

Nas letras de rap, prevalece a visão dos jovens sobre o território, contrapondo pouco espaço que tem na mídia. A terra é vermelha pelo sangue derramado dos guerreiros do passado, massacrados, colocando os “fazendeiros” no mesmo campo em que mercenários. Apesar de dizer que vivem na “aldeia” onde já existiu guerra, onde mataram e expulsaram os indígenas, dizem: “você é tão culpado como os que antes que aqui chegaram” e lançam o grito: “mas agora é guerra” [Música: Tupã].

A voz do indígena na imprensa de MS é tão tímida quanto as do Poder Público, que não parece ter influência na macropolítica nacional. Na teoria, segundo Cavalcante (2013, p. 349), o Estado brasileiro garante o direito aos indígenas, preocupado com a imagem internacional, enquanto na prática o discurso mantido é “da colonialidade do poder”. Mesmo no parecer desregrado das rimas do rap indígena, eles passam a

mensagem de que, por meio das letras, eles levam “até você informação” (Música: Mudanças).

Não obstante, no final de 2012 foi realizada a eleição no Brasil. Cavalcante (2013, p. 343) afirma que, em ano de eleição, “são muito comuns os discursos em defesa dos direitos sociais dos povos indígenas, afinal os índios são parte significativa do eleitorado regional, mas quando o assunto é a questão fundiária, as posturas se modificam”. Em Dourados, foi ano de mudança na história política dos indígenas, até então, para “dentro da reserva”. Foi eleito o primeiro vereador indígena na história da cidade, um Guarani, Aguilera de Souza, professor e pedagogo morador da Jaguapirú, também eleito como Presidente da Comissão de Indígena e Afrodescendentes da Câmara e da primeira associação de parlamentares indígenas do Brasil. Na Associação de Vereadores Indígenas de Mato Grosso do Sul, está inserido diretamente nas decisões do município, que, claramente, deveriam envolver a reserva, representados, até então na Aty Guassu.

Os conteúdos são carregados de discursos e interesses políticos, mas estamos tratando, neste momento, como seleção de cadernos propriamente. No Diário MS, três se referiram à política, duas não deixando de abordar o tema de territórios/demarcações e outra tratando do turismo da reserva, mas como fonte um vereador que tem ligação com a questão indígena em Dourados, Mauricio Lemes, pois ele é, então, vice-presidente da Comissão de Assuntos Indígenas e Afrodescendentes, além de membro da Comissão de Cultura e historiador. As outras duas notícias são relacionadas à deputada Mara Caseiro e reflete a voz dos produtores rurais. Ela pede a extinção da Funai, faz reuniões com prefeitos, mas diz que quer buscar uma solução para o conflito: “Funai e as ONG’s internacionais têm dado um enfoque distorcido à questão, na qual os produtores rurais, que têm a titulação das terras, aparecem sempre como bandidos” - matéria divulgada pelo Diário MS no Dia da Mentira, 1 de abril de 2013.

Ação repugnante, elite ignorante

Se esqueçam que também são seres humanos

Mas, mas parecem monstros tomados pelo dinheiro, pelo poder [Música: A vida que eu levo]

Sei que não é fácil, sei que nunca foi, corrói o coração

quem é o dono dos boi? [Música: Terra vermelha]

No rap indígena, os jovens falam em mostrar para “os brancos” que não há diferenças e que eles podem ser iguais. Para eles, devido a todas as situações que os

envolvem, dentro e fora da reserva, o aspecto físico e econômico é motivo de descaso. Shaden (1974, p. 183) revela que o Guarani não prestigia com referência os bens materiais e que, por vezes, a frustação no esforço de serem tratados como iguais favorece a atitudes antiaculturativas (anti branqueamento) ou a uma de reviver da religião dos antepassados.

Os brancos dando risada por isso estou aqui pra defender meu povo [Música: Eju Orendive]

O homem branco traz doença, dizimou nosso povo [Música: A vida que eu levo]

Os brancos que nos tira estão de vectra [Música: Não julgue pela aparência] Acompanhe nossa base

Estou no hip hop

Pois não deixo minha cultura [Música: Mudanças]

De junho de 2008 a março de 2009 foi realizada uma pesquisa intitulada “Povos indígenas e a mídia escrita sul-mato-grossense”, por meio de uma análise de 434 reportagens nos jornais Diário MS e O Progresso. Para as autoras (BARBOSA; LANDA, 2010, p.3) da pesquisa, as demarcações correspondiam a 51% dos assuntos mais

No documento Download/Open (páginas 115-200)