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Capítulo 1: Oito anos de funcionamento do Plano de Desenvolvimento Regional

2. Resultados do PDRSX

2.2 Análise dos projetos paralisados

2.2.1 Ano de 2017

A tabela 4 do anexo V da tese mostra o número e os percentuais de projetos paralisados por câmara técnica (CT), em setembro de 2017. Naquela época a CT03 - Fomento às atividades produtivas sustentáveis era a CT que apresentava mais projetos paralisados, onze. Esse dado aponta para as dificuldades que os proponentes dessa CT enfrentam para executar integralmente seus projetos e prestar contas das atividades realizadas e dos recursos investidos.

Em um desses projetos, a construção da infraestrutura produtiva foi mal planejada e construída, o que acarretou em problemas de viabilidade (fábrica de ração de peixes da Central Regional de Apoio à Aquicultura e Pesca (CAPESC)). Em outros projetos, os problemas estão relacionados ao abandono da infraestrutura produtiva pela entidade beneficiária (unidade de beneficiamento de hortaliças, construída pelo Instituto Humaniza) e ao fato de que algumas das prefeituras da região não aceitaram a ideia de implantar uma estrutura para aplicar o Selo de Inspeção Municipal (SIM) em atividades produtivas simplificadas, o que gerou a paralisação de um dos projetos (o proponente também era o Instituto Humaniza). Por fim, diversos projetos dessa câmara técnica (CT) tiveram problemas com a prestação de contas dos recursos utilizados e com a apresentação do relatório de atividades.

Nesses casos não se pode dizer oficialmente que houve desvio de finalidade no uso dos recursos até que o processo seja concluído. Entretanto, o que se sabe é que o Instituto Avaliação no seu relatório de maio e junho de 2018 sugeriu a judicialização dos proponentes de seis projetos dessa CT. O quadro 5 do anexo V da tese apresenta os projetos de todas as CTs que foram indicados para judicialização pelo Instituto Avaliação em junho de 2018.

Em relação aos setores com as maiores quantidades de projetos paralisados, em setembro de 2017, a situação analisada pelo Instituto Avaliação apresentava as organizações da sociedade civil (ONGs e Cooperativas) como responsáveis por vinte e um desses projetos. Naquela época dezoito projetos paralisados haviam sido propostos por instituições do poder público e cinco haviam sido apresentados por entidades de classe. A tabela 5 do anexo V da tese especifica os setores e as quantidades de projetos paralisados, em setembro de 2017.

Em setembro de 2017 a entidade com maior número de projetos paralisados era o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Anapú, com quatro projetos paralisados. Entre as ONGs, o Instituto Humaniza era a organização com mais projetos paralisados, com três, seguido da Associação de Moradores da Resex do Riozinho do Anfrísio (AMORA) e da Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), com dois projetos cada uma. Entre os governos municipais, a prefeitura de Uruará era a que possuía o maior número de projetos paralisados, com três, seguida das prefeituras de Brasil Novo, Senador José Porfírio e Altamira, com dois projetos paralisados cada uma. Além dessas entidades citadas acima, outras vinte e quatro entidades tinham um projeto paralisado cada uma em setembro de 2017.

Chama a atenção o elevado número de projetos paralisados do STTR de Anapú. Esses projetos foram apresentados nas CTs de Infraestrutura, Inclusão Social, Povos e Comunidades Tradicionais e Educação. Dois deles apresentaram problemas na prestação de contas, um deles teve problemas na execução do projeto e um deles teve problemas tanto para prestar contas quanto para apresentar o relatório de atividades.

Se considerarmos que o setor de sindicatos aprovou apenas dezesseis projetos em todo o PDRSX, isso significa que 25% dos projetos dos sindicatos dentro do PDRSX estão paralisados – a segunda maior porcentagem entre todos os setores, como pode ser observado na tabela 6 do anexo V da tese. O setor com a maior porcentagem de projetos paralisados é o das Colônias de Pesca, com 33% dos projetos paralisados – as colônias aprovaram apenas três projetos e um deles está paralisado: o projeto da Colônia de Pesca Z-12 (Vitória do Xingu) no âmbito da CT05 - Monitoramento das condicionantes socioambientais da usina hidrelétrica Belo Monte (UHEBM) foi paralisado devido a inconsistências encontradas no relatório de prestação de contas, ou seja, em setembro de 2017 faltava o proponente apresentar o resultado do diagnóstico realizado para que pudesse ser feita uma repactuação do projeto e a liberação do recurso que ainda deveria ser executado.

Os dados expostos acima indicam, assim, que as entidades de classe (sindicatos e colônias de pesca) são as categorias de atores sociais que enfrentaram maior dificuldade na execução e prestação de contas de seus projetos dentro do PDRSX. Uma possível explicação para isso pode ser a falta de experiência prévia desse tipo de entidade com gestão de projetos, uma vez que de maneira geral essas atividades não fazem parte do seu escopo de atuação.

Os percentuais de projetos do Governo do Pará e das ONGs que foram paralisados também chamam a atenção. Os quatro projetos do Governo do Pará que foram paralisados estão distribuídos em quatro CTs diferentes: Infraestrutura, Atividades Produtivas, Inclusão Social e Saúde. Os proponentes são, respectivamente, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Estado do Pará (SEDAP), Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-BIO), Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (PRODEPA) e Secretaria de Estado de Saúde Pública do Estado do Pará (SESPA). Em resumo, os motivos dessas paralisações foram: dois deles tiveram problemas de execução (IDEFLOR-BIO e PRODEPA), um deles teve problemas na apresentação do relatório de atividades (SEDAP) e um deles teve problema tanto na prestação de contas quanto na apresentação do relatório de atividades (SESPA).

Dentre os projetos executados pelas ONGs vinte foram paralisados. Se dividirmos esse setor em subsetores temos a distribuição de projetos paralisados por cada subsetor, apresentada na tabela 7 do anexo V da tese.

Vemos, assim, que dois subsetores, Associações, Fundações e Institutos de pesquisa e promoção social e Associações de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, foram responsáveis por 60% dos projetos de ONGs paralisados no PDRSX.

As entidades responsáveis pelos seis projetos paralisados do subsetor de Associações, Fundações e Institutos de pesquisa e promoção social são: Fundação Viver Produzir e Preservar (dois), Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (um) e Instituto Humaniza (três). Isso demonstra que essas entidades, embora sejam formadas com o objetivo de captar recursos e executar projetos para atender as demandas de seus públicos-alvo, ainda apresentam dificuldades na gestão desses projetos. Uma possível explicação para isso pode ser o fato de alguma dessas organizações (FVPP, por exemplo) terem captado um número elevado de projetos em relação as suas capacidades institucionais.

As entidades responsáveis pelos seis projetos paralisados dentro do subsetor de Associações de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais são: Associação de Moradores da Resex do Riozinho do Anfrísio (dois), Associação dos Índios Moradores na Cidade de Altamira (um), Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri (um), Associação Folclórica Artística Cultural Arara Vermelha (um) e Associação Indígena Nativa Curuaia de Altamira (um). Muitas dessas associações no início do PDRSX não apresentavam capacidade institucional para gerir os projetos aprovados, principalmente se considerarmos o atual nível de rigor da Norte Energia S. A. em relação à forma de prestar contas dos recursos utilizados e das atividades realizadas. O processo de aprendizagem desses processos por populações socialmente vulneráveis foi muito problemático e muitas das pendências que ocasionaram as paralisações desses projetos tem origem no período que vai de 2012 a 2014, quando os projetos foram aprovados.