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3 A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA, UMA DESCRIÇÃO

3.2 UMA NARRATIVA PARA OS PARQUES TECNOLÓGICOS BRASILEIROS

3.2.2 Os anos 1990 e o esforço regional

Os anos 1990 contaram com a fundação de outros sete parques operacionais. Oito, se contarmos o Porto Digital em Recife, que tem fundação dada como o ano 2000. Estas iniciativas surgiram sem o incentivo explícito do governo federal, embora três delas tenham acontecido nas cidades mencionadas pelo III PBCDT: Florianópolis, Curitiba e Fortaleza. Os parques que se tornaram operacionais nos anos 1990 foram o Parq Tec Alfa, de Florianópolis (SC), o Parque Tecnológico de Uberaba (MG); o Parque Tecnológico Agroindustrial do Oeste, em Cascavel (PR); o Parque de Software de Curitiba (APS) (PR); o Tecnosinos, em São Leopoldo (RS); o Partec, em Fortaleza (CE),); e o Porto Digital de Recife (PE).

O Parq Tec Alfa, de Florianópolis, surgiu como consequência dos resultados obtidos pela incubadora CELTA. Segundo relatos de Kanitz (1999), o esforço do desenvolvimento de empresas de tecnologia, em especial de informática, teria sido a motivação inicial. As

iniciativas de discussões para a criação de um tecnopólis112 surgiu de professores e empresários locais. A incubadora CELTA era gerida pelo Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI)113, responsável pela gestação do Parq Tec Alfa. Esse esforço era resultado de iniciativas para a consolidação de complexos industriais de informática e, “em 1991, o governador eleito Vilson Kleinubing, conhecedor das experiências do Vale do Silício, assumiu o compromisso de não evitar esforços para a consolidação desta política” (KANITZ, 1999, p. 29). Isso porque, a constituição do parque foi cercada de problemas burocráticos, em especial, relacionados ao zoneamento ambiental. O parque, que tem como ano de fundação 1995, recebeu incentivos por parte da prefeitura de Florianópolis e do estado de Santa Catarina, mas, atualmente, encontra-se estagnado pelas suas dimensões e localização em meio a uma área residencial (TEIXEIRA; SANTOS; TEIXEIRA, 2016).

Teixeira (2016) destacam que existem outros seis parques no estado, todos operacionais. Apesar disso, só o Sapiens (que será apresentado mais a frente) aparece na relação da CGU (BRASIL, 2016b). Na discussão, Kanitz (1999) coloca a FAPESC 114 como gestora do parque e destaca a não existência de um site e a pouca quantidade de trabalhos sobre ele como obstáculo para entendê-lo – elementos que permanecem escassos. Uma observação possível de ser inferida, a partir da discussão de Kanitz (1999), é que a criação de parques tecnológicos em Santa Catarina e em Florianópolis, mais especificadamente, foi pautada por uma vontade política/institucional. Além dos tradicionais incentivos fiscais ofertados, a ilha de Florianópolis possui diversas áreas de preservação ambiental, tornando as licenças ambientais elemento constante de conflito.

É diferente do que ocorreu com o Parque Tecnológico de Uberaba, que teve a sua gênese na Fazenda Experimental Getúlio Vargas (FEGV), em 1940, um dos 50 campos experimentais criados na época (RESENDE, 2016). Em 1970, a Embrapa e a Epamig assumiram a fazenda e, em 1993, foi assinado o termo de compromisso para a criação do parque, após o 1º Colóquio Franco-Brasileiro de Tecnopóles, em 1992, de onde surgiu a ideia de utilizar a FEGV como um parque tecnológico. A inauguração do parque se deu em 1996, com a utilização de 766 hectares da fazenda. Dos quais, 160 foram adquiridos pela prefeitura de Uberaba. Em 1997, foram instaladas as duas primeiras empresas, a CEMIG e a CONSIST Informática. Apesar do potencial apresentado por suas origens, o parque – que tem como

112 Outra nomenclatura, de inspiração francesa, para determinar polos tecnológicos.

113 Fundação que conta como membros: instituições de governo de diferentes níveis e empresas de capital privado. Disponível em: https://www.certi.org.br/ . Acesso em: 31 jul. 2020.

áreas prioritárias Biotecnologia, Agronegócio, Química, Saúde e Tecnologia e Tecnologia da Informação – não teve continuidade, ressurgindo em uma segunda leva de investimentos, em 2005, desta vez de origem Federal.

Com características semelhantes, o Parque Tecnológico Agroindustrial do Oeste (PTAO) teria sido uma consequência da criação da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNDETEC), fundação pública do município de Cascavel (PR), iniciada em 1993, que criou o PTAO, em 1996. Como relata Noce (2002), o parque recebeu investimento direto do governo do Paraná e o terreno foi adquirido pela Prefeitura.

Tais incentivos também ocorreram na criação do Parque de Software de Curitiba e no Tecnosinos, ambos os parques têm como objeto de interesse as empresas de base tecnológica, com ênfase no setor de Tecnologia da Informação. Esse setor foi uma das concessões feitas no processo de abertura comercial dos anos 1990, pois contou com a Lei de Informática (nº 8.248

de 1991)115. Ambos os parques contaram com apoio dos governos locais, com isenções de

impostos e doações de terrenos característicos da prática. O Tecnosinos tem a particularidade de ser vinculado a uma universidade privada, estratégia que se reproduziu nas outras iniciativas de parques no Rio Grande do Sul. Outra particularidade interessante é que este foco na indústria do software esteve presente nas três capitais da região sul, refletindo demandas da trajetória tecnológica em vigência (TI), o aproveitamento das capacidades locais e os benefícios da legislação específica.

Uma experiência diferente é encontrada em Fortaleza. De acordo com o relatório da CGU (BRASIL, 2016b), o Parque Tecnológico do Ceará (PARTEC) seria o único parque do município e teria sido fundado em 1998. Pesquisando sobre o parque, não foram encontradas muitas informações a seu respeito. O contrário acontece com o Parque de Desenvolvimento Tecnológico Universidade Federal do Ceará (PADETEC), que “foi criado em 1990 e inaugurado em 5 de Junho de 1991, na administração do Magnífico Reitor Dr. Hélio Leite, com o propósito de ser uma incubadora de empresas e um centro de P&D para geração de empresas de base tecnológica” (PADETEC, 2020). Esse parque não é mencionado na relação da CGU. Isso foi esclarecido em contato telefônico, em que se descobriu que o PADETEC foi incorporado pelo PARTEC, junto com outras iniciativas, embora essa informação não foi identificada no site. Em adição, apesar do parque ser vinculado à Universidade Federal do Ceará, não foram identificados estudos que o discutem, sugerindo pouco interesse ou percepção a seu respeito.

Isso é o oposto do encontrado sobre o Porto Digital, em Recife, que é entendido e divulgado como uma experiência bem-sucedida de parque tecnológico no Brasil 116. O Porto Digital tem seu marco inicial em 2000, com a fundação do Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), que foi formada como uma organização social sem fins lucrativos. O parque, como ressaltam Marques e Leite (2005), e Calheiros (2009), foi resultado de uma série de outros esforços desempenhados por acadêmicos locais, empresas e políticas públicas. Calheiros (2009), descreve que havia, nos anos 1980, o crescimento de empreendimentos locais de comércio que possuíam como diferencial a utilização de serviços de informação. O crescimento desses empreendimentos criou mercado para o surgimento de diversas pequenas empresas focadas em TI. Na década de 1990, com a venda desses empreendimentos para grandes redes internacionais, os pequenos empreendimentos tecnológicos perderam dinâmica, tornando excedente essa oferta de serviços. Foi nesse vácuo que atuaram as políticas do governo do estado de Pernambuco. Foram criados, em 1994, o Núcleo Recife da Sociedade Brasileira para a Promoção da Exportação de Software (SOFTEX), e, em 1995, o Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife (CESAR). Segundo Hasenclever e outros (2012), essas associações teriam sido de fundamental importância para intensificar as articulações entre universidade e empresas da região. Dessas articulações que teriam surgido as demandas pela criação do parque, que também pode ser visto como um arranjo produtivo, pólo tecnológico, entre outras definições. Cabe ressaltar que, diferente das experiências citadas até agora, o Porto Digital é um parque urbano, localizado no Recife antigo, compondo uma política de revitalização dessa região.