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3 A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA, UMA DESCRIÇÃO

3.2 UMA NARRATIVA PARA OS PARQUES TECNOLÓGICOS BRASILEIROS

3.2.3 Os anos 2000 e a multiplicação de parques

A partir dos anos 2000, as iniciativas se multiplicaram e suas formas de ação também. No total, foram fundados 19 parques, que se tornaram operacionais117. Dos 19 Parques, 17

deles foram implementados nas regiões Sul e Sudeste. Com destaque para São Paulo, com seis; Rio Grande do Sul, três; e Paraná com outros três parques. Três padrões foram identificados nesse período, esses padrões não são, necessariamente, independentes entre si, mas são mais evidentes em uns do que em outros casos. Além disso, o período é marcado pela 116 Há vários trabalhos sobre o parque. Inclusive, o mesmo, possui um registro de Identidade Geográfica no INPI, o que gera uma discussão em si, pois se trata de uma iniciativa focada no desenvolvimento de softwares. De toda forma, serve como um indício da visibilidade e credibilidade conquistada.

117 De acordo com a relação da CGU (BRASIL, 2016b), seriam 20, mas foi identificado que o parque localizado na cidade de Guararapes (PR) não era operacional.

retomada das políticas industriais a nível federal. Essa nova fase da política industrial surge com um novo paradigma, focado em inovação e no desenvolvimento tecnológico. A partir dos anos 2000, houve um aumento contínuo dos dispêndios do Fundo Nacional para Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia (FNDCT) (GIESTEIRA, 2009). Fundo que é subdividido em outros 16 fundos setoriais. Desses, o Verde Amarelo (FVA) é um dos maiores e tem como foco o estímulo à integração Universidade-Empresa. Além disso, é na primeira década dos anos 2000 que são aprovadas a Lei da Inovação (BRASIL, 2004) e a Lei do Bem (BRASIL, 2005), além de atualizações na Lei de Informática. Apesar das críticas118, tais ações

concentradas revelam uma clara preocupação de colocar a inovação como protagonista da política industrial no período119.

Desta forma, um dos padrões encontrados é o surgimento de parques que foram estimulados pela disponibilidade de recursos federais, em sua maioria, recursos de editais do CNPq e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT). É o caso do Parque Tecnológico de Sergipe (SERGIPETEC), resultado de uma parceria com a Petrobras e de recursos do fundo verde amarelo, entre outras leis de incentivos na esfera estadual e municipal. Outro caso é o parque tecnológico da UFRJ, que contava com a tradição do Instituto de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (COPPE) e que passou a receber investimentos da Petrobras voltados ao setor de petróleo, potencializados pela descoberta do Pré-Sal120, que trouxe consigo exigências de conteúdo nacional para sua exploração.

Houve, também, experiências como a dos parques de Belo Horizonte (BH-TEC) e de Salvador (Parque Tecnológico da Bahia). O segundo, teria sido proposto em 2008 e sua inauguração se deu em 2012. De acordo com Alves e outros (2019), o Parque Tecnológico da Bahia contou com incentivos estaduais e municipais. Já o BH-TEC teria sido fundado em 2005 e contou com a articulação de cinco sócios fundadores: UFMG, SEBRAE-MG, Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIMG), prefeitura e governo local. O estímulo

118 Acerca da Lei da Inovação, Da Cruz e de Souza (2014) apontam as diferenças entre a Lei da Inovação brasileira e o Bayh-Dole Act nos EUA, ressaltando que não houve a preocupação de criar um arranjo institucional de governança, criando possíveis custos de transação entre os agentes. Sobre a Lei do Bem, Oderlene Oliveira e outros (2017) apontam que diversas empresas listadas na BM&FBovespa não teriam se aproveitado dos benefícios fiscais oferecidos, pois estavam ou com problemas fiscais, ou não haviam tido lucro naquele ano. Moreira e outros (2007) endossam essa crítica e adicionam que a declaração por lucro real (condição para subsídio) é utilizada apenas por grandes empresas. Em adição, pode-se mencionar que um complexo sistemas de isenções e subsídios só é acessível às empresas com grande capacidade de gestão contábil ou, no caso de uma empresa média, após um longo processo de aprendizagem dos seus mecanismos.

119 Em contra partida, as críticas levantadas na nota anterior, Araújo e outros (2012) rejeita a hipótese de

crowding-out por parte das firmas que se utilizaram de recursos dos Fundos Setoriais.

120 Grande reserva de petróleo descoberta no litoral brasileiro abaixo de espessa camada de sal. Ver Riccomini e outros (2012)

teria sido um estudo de 1992, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da UFMG (CEDEPLAR), que indicava os parques tecnológicos como uma solução para diversificação produtiva local (BH-TEC, 2020) 121.

O estímulo dado por instituições estaduais foi outro dos padrões identificados nesse período. Resultado de políticas de desenvolvimento/inovação regional, estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina criaram agências/instituições imbuídas de estudar as condições de viabilidade e da criação desses parques. São Paulo, parece ter sido o estado que investiu mais energias nesse esforço, como pode ser visto em Steiner e outros (2008). Entre alguns exemplos dessa experiência, estão o Parque Tecnológico de São José dos Campos, o Parqtec, em São Carlos, o Parque Tecnológico de Sorocaba e o Parque Tecnológico de Piracicaba; Minas Gerais teve, além do BH-TEC, o Parque Científico e Tecnológico de Itajubá; Santa Catarina inaugurou o Sapiens, em Florianópolis; e o Paraná o de Itaipu, na hidrelétrica binacional de Itaipu.

Um terceiro padrão foi o de iniciativas que podem ser chamadas “privadas”. Embora sempre contenham algum tipo de incentivo fiscal local, ou se enquadrem em alguma das leis de inovação de nível federal, estadual e municipal (quando não motivam a sua criação), esses parques estão vinculados a instituições de ensino privada.

Todas as iniciativas do Rio Grande do Sul, desse período, se enquadram nessa tipificação, resultando nos seguintes parques: o Tecnopuc, vinculado à PUC-RS, fundado em 2003 com recursos de Fundos Setoriais e da Lei de Informática, em Porto Alegre; o Ulbratech, vinculado a Universidade Luterana (ULBRA), em Canoas; e o Fevale TechPark, vinculado a universidade FEVALE, com sede em Novo Hamburgo e Campo Bom. Todas essas universidades e parques estão localizadas na região metropolitana de Porto Alegre e, de certa forma, constituem universidades que concorrem entre si. Uma intuição advinda disso é que, possivelmente, a difusão desses parques se deu como estratégia competitiva entre as universidades, uma vez que um parque tecnológico seria um diferencial de qualidade, portador de um aspecto “futurístico” às universidades privadas – com o detalhe de utilizar fundos públicos. Essas iniciativas também teriam sido motivadas pela, aparente, bem- sucedida experiência do Tecnosinos 122. Outras iniciativas semelhantes aconteceram na

UNIVAP, em São José dos Campos, e no Pólis Tecnologia (CPqD), em Campinas, ambos no estado de São Paulo.

121 Conforme indicava o site do parque. Disponível em: http://bhtec.org.br/linha-do-tempo/. Acesso em: 21 out. 2019.

Uma iniciativa, um tanto diferente desse período, foi a do Curitiba Tecnoparque. Ao que parece, esse parque tentou emular a experiência do Porto Digital em Recife, pois se trata de um parque urbano focado em tecnologia da informação. Diversos setores foram contemplados e as regiões de incentivo foram espalhadas pela cidade, no esforço de constituir uma “cidade tecnológica”. Entretanto, a iniciativa não parece diferir muito do que é feito por um zoneamento urbano e não foram encontrados estudos sobre ele.