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Antecedentes ao Estatuto da Carreira Docente de

E ENQUADRAMENTO NORMATIVO

2. A Avaliação do Desempenho Docente no caso Português

2.1. Antecedentes ao Estatuto da Carreira Docente de

Durante a Monarquia, a República e o Estado Novo, a avaliação do desempenho docente traduziu-se, essencialmente, no desenvolvimento de um processo de inspeção que, para além de unicamente externo, era totalmente imposto. Porém, na parte final desse período histórico passou a envolver também os órgãos diretivos das escolas onde os docentes prestavam serviço, nomeadamente os reitores do liceu, os diretores de escola (coadjuvados por outros órgãos, tais como delegados de grupo, designados pelo diretor, com autorização do diretor geral) e, em algumas escolas, pelos diretores de curso. Este processo, essencialmente burocrático, só viria a perder protagonismo com a instauração da democracia.

O início do regime democrático, proclamado pela Revolução de Abril, determinou a premência da reconstrução da sociedade portuguesa através de uma vasta e forte ação

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educativa a todos os níveis. O regime de ditadura, até então vigente, havia confinado o país a uma grave situação de atraso cultural5.

O aumento significativo da população escolar bem como a sua diversificação, a que se assistiu a partir desta altura, traduziram-se em importantes conquistas sociais e marcaram o início de uma transformação profunda no sistema educativo, impondo-lhe, entre outros, o sério desafio de criar condições para que todos os alunos tivessem iguais oportunidades de acesso a uma educação que lhes permitisse a sua completa integração na sociedade (Fernandes, 2008a).

A avaliação do desempenho docente era um tema que parecia estar, nesta altura, um pouco afastado da atenção dos governantes e a entidade da Inspeção, que tanto marcou momentos anteriores, algo omissa nos diplomas ora publicados relativos ao Ministério da Educação e Cultura. Outros aspetos relacionados com a carreira docente pareciam emergir e merecer uma maior atenção por parte dos governantes.

Considerou-se, então, imperioso definir uma nova política educacional que implicaria necessariamente a reestruturação do estatuto do pessoal docente, designadamente no que se refere “ao papel inovador que, na escola e fora dela, terá de vir a desempenhar, à sua formação profissional e às condições sociais e económicas, correspondentes à natureza e responsabilidade das funções que lhe incumbirão” (Preâmbulo do Decreto- Lei n.º 290/75, de 14 de junho).

Durante o mesmo ano de 1975, houve uma tentativa de definir novas regras para a progressão na carreira. Por conseguinte, o Decreto-Lei n.º 290/75, de 14 de junho, estabeleceu, a título transitório, a progressão na carreira dos docentes dos ensinos primário, preparatório, secundário, médio através de uma série de 4 fases6, tendo abolido o sistema de diuturnidades7. A implementação do regime de fases viria a ser suspensa pelo Decreto-Lei n.º 611/76, de 24 de julho, por não ter sido feita a sua regulamentação, tal como previa o diploma anterior.

A situação acima referida viria a ser colmatada pelo Decreto-Lei n.º 74/78, de 18 de abril, tendo sido decretado, no mesmo, que a carreira profissional seria expressa pelo

5 Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 290/75, de 14 de junho. 6 Artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 290/75, de 14 de junho. 7 Artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 290/75, de 14 de junho.

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acesso progressivo às fases, conforme previa o Decreto-Lei n.º 290/75, de 14 de junho. Os professores profissionalizados efetivos ingressavam automaticamente na 1.ª fase e progrediam através da 2.ª, 3.ª e 4.ª fases quando tivessem prestado, respetivamente, 5, 7 e 8 anos de “bom e efetivo serviço”8. O tempo de serviço prestado pelos docentes considerava-se como “Bom”, salvo disposição legal que determinasse o contrário, até que as regras de classificação do serviço fossem revistas9.

O Decreto-Lei n.º 513-M1/79, de 27 de dezembro, veio estabelecer que a concessão da 2.ª, 3.ª e 4.ª fases previstas no Decreto-Lei 74/78, de 18 de abril, com as retificações que lhe foram introduzidas pela Lei n.º 56/78, de 27 de julho, dependiam, respetivamente, da prestação de 5, 11 e 18 anos de “bom e efetivo serviço”. Este diploma previa, ainda, que, com a maior brevidade, o Governo estabeleceria as condições de ingresso às diversas fases da carreira docente que dependeriam, fundamentalmente, da valorização profissional e do tempo de serviço10.

Aguardava-se por esta altura a definição e estruturação da carreira docente em consonância com os modelos de formação de professores implementados, para que se pudesse então rever os aspetos referentes à classificação do serviço docente11. A estabilidade do corpo docente nas escolas através de contratos plurianuais, a profissionalização em exercício de docentes, a descentralização da formação de pessoal docente, a definição de bases para um sistema de formação contínua e a unificação e alargamento dos quadros de professores efetivos, eram os assuntos que preenchiam a agenda do então Ministério da Educação12.

Em 1980, o tema da avaliação volta a ser referido, mais uma vez em moldes pouco explícitos, no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 580/80, de 31 de dezembro, ao consagrar que os docentes ficariam impedidos de firmar contratos plurianuais se tivessem obtido, no ano letivo anterior, classificação inferior a “Bom” ou “Suficiente” de acordo com as disposições legais em vigor para o respetivo grau de ensino. Mais adiante, nas Disposições Finais e Transitórias deste diploma, pode ler-se que “até à publicação das

8 Artigos 3.º, 4.º, 5.º e 6.º do Decreto-Lei n.º 74/78, de 14 de abril. 9 Artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 74/78, de 14 de abril.

10 Artigos 6.º e 7.º do Decreto-Lei n.º 513-M1/79, de 27 de dezembro. 11 Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 513-M1/79, de 27 de dezembro. 12 Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 519-T1/79, de 29 de dezembro.

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normas a que deverá obedecer a classificação do serviço do pessoal docente, considera- se “Bom” ou “Suficiente”, conforme os casos, o tempo de serviço prestado pelos docentes, salvo disposição legal ou informação que determine o contrário” (Ponto 2 do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 580/80, de 31 de dezembro).

A alteração mais profunda, ainda que pouco expressiva, relacionada com a carreira dos professores, viria a acontecer em 1986, no limiar da publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de outubro). O Decreto-Lei n.º 100/86, de 17 de maio, introduziu alguns ajustamentos ao Decreto-Lei n.º 513-M1/79, de 27 de dezembro, dos quais se salienta o estabelecimento da carreira dos professores dos ensinos preparatório e secundário em 6 fases, cuja concessão estava dependente de “bom e efetivo serviço” docente no ensino oficial ou equiparado13, sem que se especificasse concretamente o que se entendia por “bom e efetivo serviço”, e a obrigatoriedade de formação complementar para aceder à última fase do ramo destes ciclos de ensino.

O desenvolvimento das regras da avaliação do desempenho de funções docentes e da formação inicial e contínua de professores, mais consentâneo com as exigências e especificidades da carreira docente, foi mais uma vez adiado até um momento subsequente à publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo na sequência da qual se viria a aprovar o Estatuto da Carreira Docente promulgado pelo Decreto-Lei n.º 139- A/90, de 28 de abril. Por conseguinte, até então, a progressão na carreira era automática tendo como critério único o tempo de serviço acumulado e a avaliação do desempenho de professores um processo meramente administrativo, “com base num sistema de “nada consta” no registo biográfico” (Formosinho, Machado & Oliveira-Formosinho, 2010, p. 99).

A publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo veio reacender o debate sobre a pertinência da avaliação do desempenho docente e os moldes em que esta devia ocorrer, a propósito de um modelo de avaliação ora implementado que se converteu num procedimento essencialmente burocrático e administrativo, como se desenvolverá no ponto seguinte (Formosinho et al., 2010).

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2.2. Evolução da Avaliação do Desempenho Docente no Estatuto da