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A aplicação dos princípios gerais do direito e a função social da propriedade para o afastamento do condômino antissocial

FORNECIMENTO DE AGUA CABIMENTO CULPA DA REOUERENTE IMPROCEDÊNCIA

3.8 Restrições ao condômino nocivo ou antissocial

3.8.4. A aplicação dos princípios gerais do direito e a função social da propriedade para o afastamento do condômino antissocial

Como se verifica, embora o legislador não tenha disciplinado expressamente a matéria em comento, a depender de cada situação, o condomínio poderá, em tese, pleitear a concessão da tutela inibitória específica, requerendo a remoção do condômino antissocial (art. 461 c/c art. 273 do Código de Processo Civil), afastando-o do universo condominial.

E isto porque, não se vislumbra impossibilidade jurídica do pedido381 na propositura de ação que objetive afastar determinado condômino do condomínio, retirando-lhe o atributo do direito de usar da propriedade, uma vez que tal medida judicial, baseada em fatos concretos, deverá ser solucionada pelo Poder Judiciário382, à luz dos princípios gerais do direito e da função social da propriedade, com fundamento no artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e no artigo 126 do Código de Processo Civil, abaixo transcritos:

Art. 4° - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais, não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito.

impossível - Restrição ao direito de propriedade, sem previsão legal - Não provimento do recurso.‖(TJ/SP. Apelação Sem Revisão 994040779411 (3400074700). Relator(a): Donegá Morandini. Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado. Data de registro: 15/02/2007)―Ementa: Condomínio. Especial, por plano horizontal. Pretendida extinção, com despejo de ocupante que atenta contra a moral e o destino residencial do edifício. Indeferimento liminar da inicial. Confirmação. Pedido juridicamente Impossível. Apelação não provida (TJ/SP. Apelação Sem Revisão 994990488166 (1125744500). Relator(a): José Roberto Bedran. Órgão julgador: 2ª Câmara de Direito Privado. Data de registro: 24/05/2000).

381 Vale salientar que a possibilidade jurídica do pedido passará a integrar o mérito da causa, no Código de

Processo Civil projetado e já aprovado no Senado Federal. Com o objetivo de se dar maior rendimento a cada processo, individualmente considerado, e, atendendo a críticas tradicionais da doutrina, deixou a possibilidade jurídica do pedido de ser condição da ação. A sentença que, à luz da lei revogada seria de carência da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia, consoante manifestação da Comissão de Juristas responsável pela reforma da Lei de Ritos.

382 Não se pode olvidar do princípio da indeclinabilidade do juízo, estabelecido no artigo 5º, inciso XXXV, da

Por outro lado, não se mostra também incabível determinar a alienação compulsória do imóvel pertencente ao condômino nocivo ou antissocial, o que ensejaria, por outro lado, a necessidade de realizar a alienação judicial do imóvel, em situações mais extremas.

Caberá ao Poder Judiciário aplicar em cada caso, a solução que melhor se ajuste aos princípios gerais do direito, em especial à função social da propriedade, valendo serem transcritas as lições de Caio Mário da Silva Pereira:

Sem deixar de ser um direito, com as características de facultas, a propriedade deve ser exercida em sentido social. É o exercício daquele direito que se subordina ao interesse público, e a função social é integrante menos da definição do direito do que ligada ao seu exercício. Toda vez que se esboça um conflito entre o individual e o social, entre o direito de um dono e a conveniência da coletividade, o legislador terá forçosamente de resolvê-lo neste último sentido, ainda que com sacrifício do direito subjetivo. A utilização dos bens apropriáveis estará, pois, na linha de equilíbrio entre a faculdade reconhecida e a conveniência de todos383.

Com base nas observações acima, é possível concluir que, observada a função social da propriedade e a vedação ao abuso do direito384, em situações excepcionais em que a aplicação das severas multas previstas nos artigos 1336 e 1337 do Código Civil não forem suficientes para evitar condutas nocivas e antissociais pelo condômino recalcitrante385, será cabível a propositura de ação judicial com a finalidade de afastamento do condômino do universo condominial, sendo, a priori, recomendável que a medida se limite a restringir o uso

383 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Condomínio e Incorporações, p. 33. 384 São oportunas as lições de Maria Regina Pagetti Moran:

―A exclusão do condômino nocivo, através de venda forçada de sua unidade autônoma, é perfeitamente admissível em nosso sistema jurídico, visto não ferir a garantia institucional prevista no artigo 5º, inciso XXII da Constituição Brasileira, de 5 de outubro de 1988.

A função social modifica, portanto, o esquema tradicional de livre atribuição do titular do direito de propriedade. Isto sucede a partir do momento em que o ordenamento prevê que o exercício dos poderes atribuídos ao proprietário não seja voltado unicamente à satisfação de interesses individuais, mas às exigências da coletividade.

A exclusão do condômino do grupo social formado pelo condomínio em edifícios do qual faz parte, legitima-se a partir do momento em que este deixa de satisfazer às exigências daquela coletividade, infringindo os deveres impostos pela Lei e pela Convenção de Condomínio.‖ (Exclusão do Condômino Nocivo nos Condomínios em Edifícios, p. 314)

385Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery entendem ser ―possível a perda da propriedade, se isso vier a ser

comprovado como a única maneira apta a impedir que o condômino nocivo obste o direito dos demais de convivência pacifica e harmoniosa no ambiente da vida condominial. Isto porque a CF 5º, XXIII e 170 III exigem que a propriedade cumpra seu fim social. De outra parte, o uso nocivo da propriedade caracteriza abuso de direito, que é ato ilícito (CC 187) e enseja, também, o dever de indenizar os danos decorrentes do mencionado abuso (responsabilidade objetiva). Para a deliberação da assembléia, o quorum se mantém em ¾, com o cálculo de e com os antecedentes de punição do CC 1337 caput‖. (Código Civil Anotado, p. 1063).

da propriedade, remanescendo ao condômino antissocial os atributos de fruir e dispor da propriedade.

Em situações mais extremas, as medidas judiciais poderão envolver também a alienação compulsória da propriedade, mediante o procedimento de alienação judicial, na forma do artigo 1.113 do Código de Processo Civil, com observância aos artigos 126 do mesmo Codex, e artigo 4º da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro.

3.8.5 Proposta legislativa para a exclusão do condômino nocivo ou antissocial,