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4.2 Pobreza multidimensional em Minas Gerais: considerações iniciais

4.2.2 Aplicações da metodologia de Alkire e Foster em Minas Gerais

No ano de 2008, foram selecionados municípios no estado de Minas Gerais para participarem do programa Travessia. O programa foi instituído pelo Decreto Estadual nº 44.705 do ano de 2008. Este programa visa promover o desenvolvimento social em localidades que estão em situação de pobreza e deve fornecer bases para o planejamento e a execução de políticas públicas (BRASIL, 2011).

Originalmente o Travessia enfoca os seguintes eixos: saneamento, intervenções urbanas, saúde, gestão social, educação e renda. Em 2008, o programa atuava em cinco municípios. No ano de 2009, este número foi expandido para 35 municípios; em 2010, alcançou 70 municípios; e em 2012, chegou a 132 municípios. Segundo o projeto de Repactuação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (BRASIL, 2012) a previsão é que

em 2015175 haja cobertura total do Porta a Porta nos municípios com menos de 20 mil

habitantes, selecionados pelo critério do IDHM176.

175 Até o final de 2014.

No ano de 2011, o governo de Minas Gerais assinou junto ao PNUD um memorando para a repactuação dos ODMs. Com isso, pretendia-se elaborar um conjunto de novas metas para o desenvolvimento humano e contribuir para o aperfeiçoamento do diagnóstico sobre a pobreza e os meios de combatê-la. Segundo Soares et alli (2013), por meio da Secretária do Planejamento de Minas Gerais, o governo do estado mantém com o PNUD um termo de cooperação internacional para o fortalecimento do IPM.

Por este motivo, o programa Travessia passou a incorporar o diagnóstico da pobreza com base no IPM do PNUD. Logo, o IPM passou a ser calculado para o estado de Minas Gerais, com base nos dados coletados pela pesquisa Porta a Porta, referenciada no final do Capítulo 3. O projeto Porta a Porta, tem o objetivo de diagnosticar a pobreza no estado nas três dimensões básicas do IPM global. O levantamento de informações é feito em parceria com as entidades locais e visitadores que aplicam questionários específicos para realizarem o levantamento das privações. Por meio da constituição de um retrato das privações de cada localidade, o Travessia articula as ações cabíveis.

De acordo com Soares et alli (2013, p. 26),

O perfil intersetorial do Programa Travessia busca responder à natureza complexa e multidimensional da pobreza. A articulação dos projetos existentes é um desafio proporcional ao de intervir simultaneamente nas diferentes privações sociais vivenciadas pelas pessoas. Nesse sentido, a introdução da etapa de diagnóstico com a metodologia do IPM no Travessia representou um salto substancial no potencial de o Programa localizar seu público, direcionar suas ações e mensurar os resultados alcançados. A partir daí, empreende-se um esforço na busca de uma engenharia institucional que integre as diferentes pastas do Governo e que faça tais políticas chegarem juntas ao encontro dos beneficiários.

Constata-se que o IPM adotado em Minas Gerais enfoca as mesmas dimensões do IPM global. Há que se considerar uma pequena diferença na dimensão de escolaridade. No IPM global estão privados os domicílios onde todos os membros não completaram cinco anos de escolaridade. No índice mineiro, a privação é detectada nos domicílios em que, pelo menos, um membro não tenha atingido cinco anos de escolaridade.

O governo do estado também lançou uma parceria com a OPHI da Universidade de Oxford e a Fundação João Pinheiro (FJP) para tentarem compor outras dimensões ao IPM mineiro. Estas dimensões são: empoderamento, bem-estar, segurança e qualidade do emprego. Isto é importante, pois, uma vez que a metodologia é flexível, é útil que seja adequada

à realidade regional. Se o governo do estado já está despendendo177 recursos para a realização

da pesquisa Porta a Porta, nada mais útil que sejam adicionadas (ou reformuladas) outras

177 Conforme foi ressaltado no capítulo anterior, até o início de 2013 foram gastos US$ 1,3 milhões em

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dimensões relevantes que a maioria dos estudos não incorpora em virtude da ausência de dados.

Para os primeiros municípios em que foi realizada a Porta a Porta (nove municípios), o IPM variou de 0,007 (no município de Capim Branco) a 0,075 (no município de Ninheira) (BRASIL, 2012). Enquanto isso, o Brasil, no cálculo do PNUD (2010), apresentou um IPM de 0,039 em 2010. Então, a pobreza no município de Ninheira mostrou-se 2,436 vezes maior que a do Brasil.

As dimensões que compõem o IPM forneceram dados relevantes para ações do programa Travessia, revelando dados sobre importantes privações. Por exemplo, a cidade de Presidente Kubitscheck com IPM de 0,038 possui mais de 70% dos domicílios sem acesso adequado à água potável (BRASIL, 2012).

Em uma análise do IPM estimado para estado de Minas Gerais, Souza Filho e Assis (2013), estudaram o índice em âmbito do projeto Porta a Porta para 44 municípios. Nos 44 municípios, os autores constataram que o IPM variou entre 0,007 (município localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte) e 0,152 (município norte mineiro). A média do IPM para o estado foi de 0,055, sendo a média da intensidade das privações de 38,5%; e a média da proporção de pobres de 14,3%. A dimensão educação apresentou-se como prioritária, pois, foi a que mais contribuiu para o IPM total. Na sequência, apareceram as dimensões padrão de vida e saúde, nesta ordem.

Costa e Costa (2014) também aplicaram a metodologia de Alkire e Foster para mensuração da pobreza em Minas Gerais e reproduziram o IPM global do PNUD para o

estado, utilizando dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD) 178 da FJP do ano de

2011. Os autores ressaltaram que 15,14% da população mineira residia em domicílios com privações multidimensionais. Ao estudar as regiões de planejamento, verificaram-se proporções de pobres mais elevadas no Norte de Minas (24,14%), no Vale do Jequitinhonha e Mucuri (25,29%) e no Noroeste de Minas (20,95%). A região do planejamento com menor proporção de pobres foi a Região Metropolitana de Belo Horizonte (8,50%). O índice A de intensidade da pobreza, calculado pelos autores, revelou privações em 36,82% para o estado.

A síntese dos índices calculados demonstrou um IPM para Minas Gerais de 0,0557. Os índices de pobreza multidimensional por região do planejamento foram determinados nesta ordem: Jequitinhonha/Mucuri (0,0975), Norte de Minas (0,0933), Noroeste de Minas (0,0809), Rio Doce (0,0654), Mata (0,0653), Central (0,06), Alto Paranaíba (0,0565), Sul

178 Pesquisa domiciliar bianual realizada em Minas Gerais pela Fundação João Pinheiro (FJP) em parceria com o

(0,0523), Centro-oeste (0,051), Triângulo (0,0417) e Região Metropolitana de Belo Horizonte (0,0303).

Assim como nos estudos anteriores, a escolaridade novamente foi apontada com a maior contribuição relativa para o índice (41,65%). Além da privação em termos de escolaridade, os autores apontaram para privações básicas em relação ao acesso à água, sanitário e condições adequadas de moradia, especialmente nas regiões Norte de Minas e Jequitinhonha/Mucuri.

Em virtude da flexibilidade da metodologia de Alkire e Foster, e uma vez reconhecida a necessidade de adaptá-la, haja vista que, conforme foi destacado na Seção 3.4 do Capítulo 3, o IPM global pode colocar os países da América Latina em uma situação vantajosa em termos de suas privações multidimensionais, é útil aproveitar as bases de dados disponíveis para realizar estimativas mais precisas da pobreza multidimensional. Este trabalho visa colaborar ao testar e agregar dimensões que ainda não foram incorporadas ao IPM.

Além disto, neste trabalho visa-se fornecer um retrato da pobreza multidimensional no estado de Minas Gerais em âmbito das dimensões que serão selecionadas para representá-la. Evidentemente, o diagnóstico da pobreza realizado por meio deste estudo pretende subsidiar políticas públicas. As próximas seções e subseções serão dedicadas à apresentação da base de dados e a escolha das dimensões.