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3.2 A metodologia de Alkire e Foster e a mensuração da pobreza multidimensional

3.2.3 O Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)

Baseando-se no método sugerido por Alkire e Foster (2007), foi criado pelo PNUD um índice de pobreza denominado “Multidimensional Poverty Index” (MPI) traduzido como Índice de Pobreza Multidimensional (IPM). Este índice se baseia na abordagem das capacitações, e também pode representar a abordagem das necessidades humanas.

Alkire e Santos (2010) destacam a criação de um IPM apropriado à realidade dos países em desenvolvimento. Este IPM reflete privações em serviços rudimentares e funcionamentos centrais para os indivíduos. O índice é calculado para 104 países e se baseia em três dimensões básicas semelhantes às do IDH: saúde, educação e padrão de vida. Porém, estas dimensões são medidas por meio de dez indicadores básicos que se referem a situações de privação e não de realizações como acontece no IDH.

A partir desses indicadores pode ser estimado um índice agregado que visa medir o número de pobres, bem como, as privações sofridas pelas famílias pobres. Então, conforme a metodologia de Alkire e Foster (2007), o IPM produz dois números: o head count ratio (H) ou proporção de pobres e a intensidade média de privações dos pobres (A). Assim, é estimado

o índice M0 discutido anteriormente, denominado IPM. A medida surgiu em substituição ao

IPH na tentativa de corrigir suas falhas117.

As dimensões do IPM são igualmente ponderadas. Como algumas dimensões possuem mais indicadores básicos que outras, as variáveis que compõem o índice possuem pesos relativos distintos, em concordância com a dimensão a que pertencem. Assim, dentro de cada dimensão os indicadores possuem o mesmo peso, justificado pelo número de indicadores que a compõe.

Os indicadores de saúde possuem pesos de 16,7%, cada um e são: possuir pelo menos um membro da família em situação de má nutrição e pelo menos uma criança que tenha falecido. Cada indicador de educação também possui peso de 16,7%. São eles: todos os membros da família possuírem menos de cincos anos de estudo concluídos e possuir pelo menos uma criança em idade escolar que não frequente a escola. Por sua vez, todos os indicadores de padrão de vida possuem peso de 5,6%. A dimensão padrão de vida é composta por: ausência de eletricidade; falta de acesso à água potável; situação inadequada de saneamento; utilização de combustível sujo para cozinhar (como estrume, madeira e carvão);

117Ao captar o número de pessoas que sofrem várias privações ao mesmo tempo, bem como, as privações que as

possuir domicílio com piso de terra; não possuir carro ou veículo motorizado e ter somente

um dos bens: bicicleta, motocicleta, rádio, televisão, frigorífico ou telefone (PNUD, 2010)118.

A determinação das famílias multidimensionalmente pobres se baseia na soma ponderada de suas privações (ALKIRE, 2010). Isto significa que ser privado em apenas uma dimensão não implica em pobreza multidimensional. Algumas privações podem ser determinadas até mesmo por imprecisão dos dados. É por isso que a abordagem de duplo corte é vantajosa.

A família é identificada como multidimensionalmente pobre se e somente se, estiver privada em um conjunto de indicadores das dimensões cuja soma ponderada é 30% ou mais (ALKIRE e SANTOS, 2010). As famílias são pontuadas em conformidade com as privações em cada um dos indicadores podendo atingir uma pontuação máxima de 10. A pontuação máxima de cada dimensão é 3,33. O nível de corte utilizado para a identificação dos pobres multidimensionais é 3, o que implica privação em 2/3 dos indicadores. Nesse sentido, se a pontuação da família for igual ou superior a 3, esta é vista como multidimensionalmente pobre. As famílias com nível de privação entre 2 e 3 estão no grupo de vulnerabilidade ou em risco de pobreza multidimensional (PNUD, 2010).

Os indicadores que compõem o IPM, em sua maioria, estão baseados nos ODMs e,

portanto, visam apoiar os ODMs119. A população-alvo do IPM é a unidade domiciliar. A

justificativa para isto é que o sofrimento de um dos membros do domicílio afeta os demais, assim como as habilidades de um membro podem auxiliar os outros indivíduos. Conforme Alkire e Santos (2010, p. 8),

[...] dentro destes parâmetros, na medida em que dados permitirem, o IPM demonstra as privações simultâneas das famílias. Isso nos permite identificar diferentes tipos de privações – aglomerados de privações que ocorrem regularmente em diferentes países ou grupos. Essa medida, portanto, pode contribuir para uma melhor compreensão da interligação entre privações, pode ajudar a identificar as armadilhas de pobreza[...] (tradução nossa)120.

Quanto à escolha das dimensões, Alkire e Santos (2010) ressaltam que as dimensões que uma medida de pobreza pode refletir são amplas e podem incluir saúde, educação,

118 Ravallion (2011) estabelece críticas ao IPM como a forma de escolha das dimensões que ficam atreladas à

disponibilidade dos dados. Para o autor, o índice não parece abranger dimensões relevantes que não esteja diretamente relacionadas à situação de insuficiência de renda.

119 A grande diferença entre o IPM e as estatísticas dos ODMs é que o primeiro se concentra em resultados sobre

pessoas (ou famílias). Por sua vez, as estatísticas dos ODMs produzem resultados em termos de nações.

120 “[…] within these parameters, insofar as data permit, the MPI illuminates the simultaneous deprivations of

households. This enables us to identify different ‘types’ of deprivations – clusters of deprivations that occur regularly in different countries or groups. Such a measure can thus contribute to a better understanding of the interconnectedness among deprivations, can help identify poverty traps […]”.

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trabalho, empoderamento, padrão de vida, meio ambiente, relacionamentos sociais, segurança, cultura, dentre outras.

Sen tem sugerido o foco nas dimensões que são a) de uma especial importância para a sociedade ou as pessoas em questão e b) influenciáveis sociais – que significa que eles são um foco adequado para políticas públicas, ao invés de um bem privado ou uma capacitação como a serenidade que não pode ser influenciada de fora (ALKIRE e SANTOS, 2010, p. 12) (tradução nossa)121.

Os autores afirmam ainda, que o IPM poderia incluir outras dimensões vitais adicionais. Contudo, o índice foi desenvolvido para comparação entre países e com isso, sofreu restrições no que diz respeito aos dados disponíveis.

Alkire (2011) afirma que se a renda é o indicador de pobreza mais utilizado, é necessário também um indicador que o complemente e que capture a multidimensionalidade da pobreza. Foi nesse sentido que o lançamento do IPM despertou o interesse da mídia global pela pobreza multidimensional.

Segundo Santos e Roche (2012), o IPM é um índice de pobreza multidimensional

aguda122. Os autores realizaram uma análise do IPM para os países em desenvolvimento.

Neste estudo, constataram quais as regiões que possuem maior incidência da pobreza multidimensional. Concluíram que estas regiões são o Sul da Ásia, que abriga 844 milhões de pessoas em situação de pobreza aguda e a África Subsaariana, que abriga 458 milhões de pessoas nesta situação.