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4.3 Os Censos demográficos, a escolha das variáveis e as dimensões da pobreza

4.3.1 Os Censos demográficos e a escolha da base de dados

Para a construção de uma representação ampla de pobreza, neste trabalho, recorreu-se aos Censos Demográficos realizados pelo IBGE, dos anos de 2000 e 2010. A escolha da base de dados deveu-se ao fato de possibilitar um nível de desagregação microrregional e municipal. As bases de dados alternativas que poderiam ser aproveitadas, como a PNAD e POF também do IBGE foram examinadas, porém, foram descartadas, por não possuírem informações desagregadas. Outra base de dados que poderia ser escolhida era a PAD da FJP, mas esta também foi descartada, porque embora possibilite análise ao nível microrregional e mesorregional, não permite a identificação de todos os municípios.

Sobre os Censos, conforme Gonçalves (1995), na data de referência de 1º de agosto de

1872, a Diretoria de Geral de Estatística179 realizou o primeiro recenseamento da população

do império. Esta foi a primeira contagem oficial da população. O segundo Censo foi realizado em 1890, já no Brasil República. Desde então, os Censos vêm sofrendo alterações e adaptações até tornarem-se decenais. Conforme o IBGE (2003), os demais Censos foram realizados em 1900, 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.

A Lei nº 8.184 de 10 de maio de 1991, regulamenta a periodicidade com que são realizados os Censos do IBGE. No artigo primeiro, está estabelecido que,

a periodicidade dos Censos Demográficos e dos Censos Econômicos, realizados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será fixada por ato do Poder Executivo, não podendo exceder a dez anos a dos Censos Demográficos e a cinco anos a dos Censos Econômicos.

Deste modo, os Censos Demográficos têm sido realizados em um intervalo de dez anos.

Os Censos abrangem pessoas residentes no território nacional nas datas de referência. As representações do Brasil no exterior fazem parte do território nacional, todavia, não são consideradas nas amostras. A data de referência do Censo de 2000 foi 1º de agosto de 2000. No Censo de 2010, foi utilizado como data de referência o dia 31 de julho de 2010.

Para a coleta de dados dos Censos demográficos de 2000 e de 2010 foram empregados dois tipos de questionários, um simplificado e um mais complexo, de maneira que, em cada domicílio foi aplicado apenas um tipo específico. O primeiro é também chamado de

Questionário Básico e foi aplicado aos domicílios não escolhidos para a amostra dos Censos. O segundo é mais extenso e refere-se ao Questionário da Amostra, aplicado em cada domicílio selecionado para a amostra. Tal questionário é composto pelo Questionário Básico, e inclui outras modalidades de informações como educação, religião, trabalho, migração, entre outras. Isto proporciona a obtenção de dados para 100% da população brasileira (BRASIL, 2005).

Quanto ao plano amostral, desde 1960 é adotada seleção sistemática de domicílios, realizada de forma independente em cada setor censitário. É nesse sentido que é empregado um plano amostral do tipo estratificado. Neste caso, os estratos são os setores e os domicílios são selecionados sistematicamente com equiprobabilidade em cada estrato com base na fração amostral definida, sendo esta constante para setores dentro de um mesmo município (ALBIERE; FREITAS, 2010).

Com base nas informações da documentação do Censo de 2000, foram definidas duas frações amostrais: 20% dos domicílios para municípios com população até 15.000 habitantes e 10% dos domicílios para os demais municípios. Ao todo foram selecionados 5.304.711 domicílios com fração amostral por volta de 11,7%. Nos domicílios selecionados foram coletadas informações sobre 20.274.412 pessoas.

Em 2010, foram utilizadas cinco frações amostrais em consistência com o tamanho populacional dos municípios em 1º de julho de 2009. As frações foram definidas considerando os 5.565 municípios existentes no Brasil em 2009. Segundo Albiere e Freitas (2010), em municípios com até 2.500 habitantes foi definida uma fração amostral de 50% dos domicílios. Nos municípios com população de mais de 2.500 até 8.000 habitantes, a fração amostral adotada foi de 33% dos domicílios. Foi empregada uma fração amostral de 20% dos domicílios para municípios com mais de 8.000 até 20.000 pessoas. Para aqueles com mais de 20.000 habitantes até 500.000, adotou-se uma fração de 11%. Por fim, para os municípios com mais de 500.000 pessoas, a fração foi de 5%.

Conforme as notas metodológicas do Censo de 2010 foram coletadas informações em 6.192.332 domicílios selecionados. Isto implicou em uma fração amostra em torno de 10,7% para o Brasil como um todo. Nos domicílios pesquisados, foram extraídas informações de 20.635.472 pessoas.

O processo de estimação dos dados coletados na amostra propicia que as informações possam ser generalizadas para o universo da população. Isto se dá por meio da expansão da

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amostra com estimadores apropriados de acordo com cada área de ponderação180. Para a

expansão dos dados, são definidos pesos181 para os domicílios pesquisados. Tais pesos são

obtidos através do método de calibração. Este método é realizado com base nas variáveis

auxiliares comuns ao Questionário Básico e ao Questionário da Amostra182.

Feitas estas considerações sobre os Censos, cabe discutir a escolha dos Censos selecionados para a análise empírica deste trabalho, isto é, os Censos de 2000 e 2010. Vale ressaltar que, os anos utilizados foram escolhidos pela própria periodicidade da base de dados. Não foram selecionados Censos anteriores ao de 2000, pois, ainda que entendida numa concepção multidimensional, a pobreza sofre grande influência da dimensão econômica.

Ao se referir ao tema, é importante enfatizar a relevância de não dissociar a pobreza do quadro socioeconômico em que se insere. Segundo Sen (2000), o crescimento das rendas individuais e do PIB, o progresso tecnológico, o avanço da industrialização e a modernização podem ser muito relevantes na expansão das liberdades das pessoas.

No Censo de 1991, há que se reconhecerem os efeitos do período hiperinflacionário. De fato, um cenário hiperinflacionário, de maneira ou de outra, afeta as dimensões da pobreza, o que pode comprometer a comparabilidade dos dados. Ao comparar dados, é importante manter certa coerência temporal na escolha dos anos, ainda que se trate de uma

análise transversal183. No período entre 2000 e 2010 houve oscilação na trajetória de

crescimento do PIB brasileiro especialmente com a crise econômica de 2008, mas em geral,

nas palavras de Oliveira (2012), o PIB prosseguiu dentro de uma trajetória ascendente184.

Por todos estes motivos, optou-se por iniciar a análise a partir do Censo de 2000. Como já explicitado, após o Censo de 2000, o próximo Censo realizado e divulgado mais recentemente foi o do ano de 2010. Consequentemente, o ano mais atual incorporado à pesquisa foi o de 2010.

180 As áreas de ponderação são unidades geográficas compostas por um conjunto de setores censitários, dentro

das quais são realizadas calibração das estimativas. Para o ano de 2000, foram definidas 9.336 áreas de ponderação para o Brasil. Em 2010, foram determinadas 10.184 áreas de ponderação.

181 Os pesos calibrados são obtidos com base no método de Mínimos Quadrados Generalizados (MQG). A

calibração ajusta os pesos iniciais, isto é, o inverso da fração amostral dos domicílios. Isto equivale a dizer que ao calibrar os pesos em determinada área de ponderação são obtidos os totais para todas as unidades populacionais.

182 Ver Albiere e Freitas (2010).

183 Situação em que as informações são obtidas em um único período de tempo e não há acompanhamento dos

mesmos indivíduos ao longo do tempo.

184 Vale recordar que neste período o PIB brasileiro aumentou de R$ 1.179,5 bilhões em 2000, para R$ 3.770

bilhões no ano de 2010 a preços de mercado correntes. O PIB de Minas Gerais a preços correntes era de R$ 100,6 bilhões em 2000. Em 2010, o PIB de Minas Gerais a preços correntes alcançou R$ 351,4 bilhões (FJP, 2010 a; FJP 2010 b).

Levando em conta o procedimento para a escolha das dimensões ressaltado no Capítulo 3, o processo de escolha de indicadores básicos para comporem este estudo não foi fácil, porque ocorreram mudanças em muitas variáveis de um Censo para o outro. Novas variáveis foram criadas, outras foram excluídas ou simplesmente modificadas. Por isso, foram realizadas adaptações nas variáveis selecionadas. Estas adaptadas Na próxima subseção, serão discutidos os indicadores básicos selecionados para fazerem parte do estudo da pobreza no estado de Minas Gerais.