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4.2 Pobreza multidimensional em Minas Gerais: considerações iniciais

4.2.1 Caracterização do estado de Minas Gerais

Segundo a Fundação João Pinheiro (FJP, 2013), Minas Gerais ocupa uma área de 587

mil km2. No ano de 2000, a população total do estado era 17.866.404 habitantes, sendo a

população urbana formada por 14.651.164 habitantes e a população rural composta por 3.215.238 habitantes. Em 2010, a população total do estado alcançou 19.597.300 habitantes, o que representou um aumento de 9,68%, em relação a 2000. Neste ano, a população urbana aumentou para 16.715.216 habitantes, enquanto a população rural diminuiu para 2.882.114

habitantes168. Isto significa que, em 2000, 82,0% da população residia na zona urbana e 18,0%

residia na zona rural. Em 2010, 85,3% da população vivia na zona urbana e 14,7% vivia na zona rural.

Tendo como capital Belo Horizonte, o estado é composto por dez regiões para fins de planejamento. São elas: Norte de Minas, Noroeste de Minas, Jequitinhonha/Mucuri, Rio Doce, Central, Mata, Sul de Minas, Centro-oeste, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro. Além disso, Minas Gerais possui 12 mesorregiões geográficas (Noroeste de Minas, Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Central Mineira, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce, Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Zona da Mata). O estado é composto ainda por 66 microrregiões e por 853 municípios.

167 Mesmo resultado de São Paulo em 2000. 168 Dados dos Censos de 2000 e 2010.

A distribuição das microrregiões e municípios por mesorregião está apresentada na Tabela 2. Por meio da tabela, fica evidente que o Sul/Sudoeste de Minas é a mesorregião que abriga um maior número de municípios (146) e microrregiões (dez). O segundo maior número de municípios está na Zona da Mata (142); e o terceiro está na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte (105). Estas mesorregiões também possuem respectivamente sete e oito

microrregiões169.

Por sua vez, o menor número de microrregiões é identificado no Noroeste de Minas e Vale do Mucuri, que abrigam apenas duas. Estas mesmas mesorregiões também possuem respectivamente, 19 e 23 municípios. Vale destacar também as mesorregiões Central Mineira e Campo das Vertentes que, com três microrregiões cada uma, possuem respectivamente, 30 e 36 municípios. Com base na Tabela 2, é possível evidenciar que a distribuição dos municípios por mesorregião é heterogênea.

Tabela 2 – Distribuição das microrregiões e municípios por mesorregiões de Minas Gerais no

ano de 2010*.

Mesorregião Número de Microrregiões Número de Municípios

Noroeste de Minas 2 19

Norte de Minas 7 89

Jequitinhonha 5 51

Vale do Mucuri 2 23

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 7 66

Central Mineira 3 30

Metropolitana de Belo Horizonte 8 105

Vale do Rio Doce 7 102

Oeste de Minas 5 44

Sul/Sudoeste de Minas 10 146

Campo das Vertentes 3 36

Zona da Mata 7 142

Total 66 853

*No ano de 2000 a distribuição era a mesma.

Fonte: Elaboração da autora com base no Censo de 2010.

169 Os critérios para essa divisão espacial das unidades da federação são: como determinante, o processo social;

como condicionante, o quadro natural; e como articulação espacial, a rede de lugares e comunicação. Essa divisão é relevante para a proposição de políticas públicas e para decisões em relação às atividades econômicas, sociais e tributárias.

140

Minas Gerais é o estado brasileiro com maior número de municípios. Dentre os 853 municípios, apenas 13 possuíam população acima de 200 mil habitantes no ano de 2010 (Tabela 3). É necessário chamar a atenção para o fato que haviam 173 municípios de 10 a 20 mil habitantes em 2000. Em 2010 este número aumentou para 184 (aumento de 5,98%). A maioria dos municípios (60,3% em 2000 e 57,6% em 2010) possuía menos de 10 mil habitantes. Assim, pode-se concluir que o estado possui um grande número de municípios com pequeno número de habitantes. Estes dados podem ser consultados na Tabela 3.

Tabela 3 – Número de municípios mineiros conforme a quantidade de habitantes (2000-

2010). 2000 2010 Absoluto % Absoluto % Número de municípios 853 100,0 853 100,0 Habitantes Mais de 200 mil 10 1,2 13 1,5 De 100 a 200 mil 13 1,5 16 1,9 De 50 a 100 mil 37 4,3 37 4,3 De 20 a 50 mil 106 12,4 112 13,1 De 10 a 20 mil 173 20,3 184 21,6 Menos de 10 mil 514 60,3 491 57,6

Fonte: Fundação João Pinheiro (2013).

Além de se destacar pelo grande número de municípios, o estado de Minas Gerais é marcado pela disparidade socioeconômica entre eles. Em termos de sua economia, Minas Gerais possuía, em 2000, um PIB de R$ 100.612.293 mil a preços de mercado correntes, enquanto o PIB brasileiro era de R$ 1.179.482.000 mil (participação de 8,5% no PIB nacional). Em 2010, o PIB estadual alcançou R$ 351.380.905 mil a preços de mercado correntes e o PIB nacional atingiu um valor de R$ 3.770.084.872 mil (participação de 9,3% no PIB nacional).

Com um valor adicionado total de R$ 88.219 milhões, em 2000, o PIB mineiro neste ano, foi fortemente influenciado pela indústria de transformação (valor adicionado de R$ 15.890 milhões). Em 2010, com um valor adicionado total de R$ 307.865 milhões, o PIB mineiro esteve fortemente associado ao desempenho da indústria extrativa mineral (valor adicionado de R$ 21.243 milhões), destacando-se a extração de ferro. A indústria de

transformação (valor adicionado de R$ 53.315 milhões) também apresentou bom desempenho vinculado à transformação dos metais (metalurgia e siderurgia). O valor adicionado da indústria como um todo totalizou R$ 27.798 milhões em 2000 e R$ 103.376 milhões em 2010 (FJP, 2010c).

Há que se destacar o valor adicionado do setor de serviços (R$ 51.136 milhões em 2000 e R$ 178.387 milhões em 2010) que esteve vinculado ao desempenho do transporte de carga rodoviária e ferroviária, em virtude da boa performance das indústrias extrativa e de transformação, principalmente em 2010. A agropecuária (valor adicionado de R$ 9.286 milhões em 2000 e R$ 26.102 milhões em 2010) também obteve um desempenho positivo que contribuiu para o resultado agregado. A cultura que mais se destacou foi a produção de café (FJP, 2010c).

Em decorrência da grande quantidade de municípios que compõem o estado de Minas Gerais, é interessante verificar a participação destes municípios no PIB. Por meio do Gráfico

1, nota-se que os cinco maiores municípios170 respondiam por 36,4% do PIB em 2000 e

35,6% do PIB em 2010. Este percentual contrasta fortemente com a participação dos municípios que ocupam posições quanto ao PIB entre 201º e 853º. Todos estes municípios juntos respondiam apenas por 13,0% do PIB em 2000 e 12,2% do PIB em 2010, o que aponta para a concentração da produção e, consequentemente da renda.

Gráfico 1 – Distribuição dos municípios de Minas Gerais quanto à participação no PIB

estadual (em %).

Fonte: Elaboração da autora com base em dados da Fundação João Pinheiro (2011).

170 Os cinco municípios com maiores PIBs em 2000 e em 2010 eram: Belo Horizonte, Betim, Contagem,

Uberlândia e Juiz de Fora. Isso demonstra concentração nas mesorregiões: Metropolitana de Belo Horizonte, em primeiro lugar; Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba; e Zona da Mata, em menor medida.

36,4 17,1 13,4 20,2 13 35,6 19 13,6 19,5 12,2 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 1º a 5º 6º a 20º 21º a 50º 51º a 200º 201º a 853º 2000 2010

142

Em termos de desenvolvimento humano, os IDHMs de alguns municípios mineiros estão apresentados nos Gráficos 2 e 3. Para o ano de 2000, os cinco primeiros municípios (da esquerda para a direita) apresentados no Gráfico 2, representavam os maiores IDHMs. Eram eles: Belo Horizonte (0,726), Poços de Caldas (0,716), Juiz de Fora (0,703), Uberlândia (0,702) e Varginha (0,702). Quanto à localização destes municípios, Belo Horizonte está situado na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte; Poços de Caldas e Varginha se situam na mesorregião Sul/Sudoeste de Minas; Juiz de Fora está localizado na Zona da Mata;

e Uberlândia se localiza na mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba171.

Por sua vez, os cinco municípios com os menores IDHMs, foram apresentados na sequência em ordem decrescente. Eram eles: Monte Formoso (0,365), São João das Missões (0,360), Verdelândia (0,358), Fruta de Leite (0,349) e Bonito de Minas (0,336). Estes municípios estão situados nas mesorregiões: Jequitinhonha, Norte de Minas e Vale do Mucuri172.

Gráfico 2 – Municípios mineiros quanto ao IDHM no ano de 2000.

Fonte: Elaboração da autora com base no Altas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2013).

Isto mostra que em 2000, Minas Gerais abrigava ao mesmo tempo municípios com alto IDHM (entre 0,700 e 0,799) e municípios com IDHM muito baixo (de 0 a 0,499). A dimensão que mais privava os municípios era a educação. O IDHM educação foi de apenas

171 Os IDHMs de Varginha, Poços de Caldas e Juiz de Fora em 2010 eram respectivamente: 0,778; 0,779; e

0,778.

172 Os respectivos IDHMs de Verdelândia e Fruta de Leite em 2010 eram: 0,584 e 0,544.

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

0,145 no município de Fruta de Leite, contrastando com o índice de 0,617 encontrado para Belo Horizonte.

Em 2010, os cinco maiores resultados do IDHM são apontados para Nova Lima (0,813) e Belo Horizonte (0,81), localizados na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte; Uberlândia (0,789), situado na mesorregião do Triângulo Mineiro; Itajubá (0,787) e Lavras (0,782), localizados no Sul/Sudoeste de Minas. No subíndice IDHM longevidade, Uberlândia (0,885) ocupou a mesma posição que Nova Lima (0,885). Em termos do IHDM

educação, Belo Horizonte (0,737) superou os todos os municípios listados (Gráfico 3) 173.

Gráfico 3 – Municípios mineiros quanto ao IDHM no ano de 2010.

Fonte: Elaboração da autora com base no Altas de Desenvolvimento Humano no Brasil (2013).

O menor IDHM de Minas Gerais em 2010 foi encontrado no município de São João das Missões (0,529), situado na mesorregião Norte de Minas. Há que se destacar também o baixo IDHM do município de Araponga (0,536), localizado na Zona da Mata; seguido dos municípios de Bonito de Minas (0,536) e Catuji (0,540), situados também na mesorregião Norte de Minas. A estes, soma-se o município de Monte Formoso (0,541), localizado na mesorregião do Jequitinhonha para comporem os cinco menores IDHMs do estado (Gráfico 3) 174.

173 Em 2000, os IDHMs de Lavras, Itajubá e Nova Lima eram respectivamente de: 0,678; 0,691; e 0,684. 174 Em 2000, os respectivos IDHMs de Catuji e Araponga eram: 0,405 e 0,393.

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

144

Novamente, entre os componentes do IDHM, as menores realizações nos municípios são apontadas em termos de educação. O menor IDHM educação foi o de Araponga (0,339). A heterogeneidade do estado de Minas Gerais também fica evidente em 2010. Pode-se perceber IDHMs muito altos (acima de 0,800) contrastando com baixos índices (entre 0,500 e 0,599).

A diversidade socioeconômica do estado de Minas Gerais está evidenciada previamente pelos dados do PIB, por conta da concentração econômica em um pequeno número de municípios; e do IDH, por abrigar altos e baixos índices. Se o processo histórico vivenciado ao longo da economia brasileira justifica o estudo da pobreza multidimensional no país, esses breves indicadores relatados para o estado de Minas Gerais, também fornecem uma boa justificativa para análise da pobreza neste estado. Como neste trabalho defende-se um conceito multidimensional para estudo do desenvolvimento e da pobreza, vale o esforço de mensurá-la em Minas Gerais.

Após esta breve caracterização, cabe ressaltar a experiência do estado em termos de pobreza multidimensional. Nesse sentido, é necessário reafirmar que Minas Gerais tem se destacado na América Latina por ter adotado oficialmente medidas de pobreza multidimensional nos termos recomendados pelo PNUD.