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4.3 Os Censos demográficos, a escolha das variáveis e as dimensões da pobreza

4.3.2 A escolha das variáveis, níveis de corte e construção das dimensões da pobreza

As variáveis selecionadas para representarem a pobreza multidimensional em Minas Gerais foram escolhidas de acordo com: 1) abordagens teóricas discutidas; 2) recomendações políticas de organismos ou acordos internacionais; 3) recomendações para adaptação do IPM às privações sofridas na América Latina, como as de Santos (2013); 4) experiências de estudos empíricos anteriores ressaltados neste capítulo e no Capítulo 3; e 5) disponibilidade de dados nos dois Censos utilizados.

Os indicadores escolhidos neste trabalho englobam as discussões teóricas apresentadas nos Capítulos 1 e 2 por incorporarem seus elementos. A abordagem das capacitações abre margem para que as dimensões da pobreza sejam escolhidas conforme as adequações específicas. O mesmo é feito pela abordagem das necessidades humanas, ainda que sejam listadas necessidades essenciais e universais.

Em termos dos requisitos listados para caracterizar privações, a análise realizada neste trabalho envolve necessidades e capacitações que, se não forem atendidas, causarão sérios prejuízos à saúde física e mental dos indivíduos em todos os contextos culturais. Podem ser citadas, por exemplo, a habitação adequada, o saneamento e a ausência de superlotação. Outras questões importantes como renda e proteção à criança (tendo como proxy o trabalho infantil) também precisam ser enfatizadas. Vale relembrar que, indicadores mais abrangentes não foram utilizados em virtude da disponibilidade dos dados.

Os indicadores foram classificados nos seguintes grupos: Vulnerabilidade econômica, Condições ocupacionais, Características educacionais, Condições de moradia, Condições sanitárias, Ausência de bens e Saúde. As variáveis para representá-los foram escolhidas a partir dos Censos, e em seguida, foram recodificadas e trabalhadas de maneira que, a partir das originais, fossem geradas outras variáveis para melhor expressarem dimensões básicas de

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pobreza. Foram utilizadas variáveis dicotômicas com base no seguinte critério: o indivíduo está privado ou não? Deste modo, atendendo à metodologia sugerida por Alkire e Foster (2007), todas as informações se relacionam às características de privação.

As variáveis utilizadas para refletirem privações domiciliares185 em Minas Gerais

foram: Pobreza monetária; Mãe com pelo menos um filho menor de 14 anos; Ausência de ocupação remunerada; Ausência de ocupado com rendimento de pelo menos um salário mínimo; Menos da metade dos membros do domicílio em idade ativa; Menos da metade dos membros em idade ativa ocupados; Ausência de trabalhador com carteira assinada, em Regime Jurídico dos Funcionários Púbicos (RJFP) civis ou militares; Ocupação inadequada; Ausência de participação da mulher no mercado de trabalho; Trabalho infantil; Existência de adulto analfabeto; Existência de adulto que não concluiu o ensino fundamental; Crianças fora da escola; Crianças em defasagem escolar; Existência de mais de três pessoas por dormitório; Domicílio não próprio; Ausência de água canalizada; Abastecimento de água inadequado; Ausência de energia elétrica; Ausência de sanitário; Ausência de rede de esgoto ou fossa séptica; Destino inadequado do lixo; Ausência de geladeira; Ausência de máquina de lavar; Ausência de automóvel; Ausência de rádio; Ausência de televisor; Ausência de computador; Dificuldade para enxergar; Dificuldade para ouvir; Dificuldade para andar; Deficiência mental permanente; e Óbito fetal. A seguir será apresentada a composição de cada variável.

Esses indicadores, na verdade, representam funcionamentos e necessidades intermediárias, concordantes com os termos adotados pelas abordagens teóricas mais abrangentes utilizadas neste trabalho. Entende-se, portanto, que serão requisitos para que se possam realizar as necessidades básicas e a obtenção de participação social e libertação, bem como, requisitos para uma vida plena. Além disso, vislumbram revelar as capacitações básicas dos indivíduos, no caso específico desta tese, das famílias mineiras.

No Quadro 1, é possível observar a classificação das variáveis em conformidade com as dimensões escolhidas. Assim como o IPM, foram atribuídos pesos iguais às dimensões de maneira que cada uma contribui igualmente para a pobreza total.

185 Nesta tese, optou-se pela análise da pobreza multidimensional domiciliar. Conforme Santos (2013), como os

programas de combate à pobreza são geralmente voltados para as famílias, isto pode gerar políticas públicas mais eficazes. Além disso, entende-se que a privação de um indivíduo da família afeta todos os demais.

Quadro 1 – Dimensões, indicadores, níveis de corte e pesos dos indicadores no cálculo do

índice de Alkire e Foster.

(Continua)

Dimensão Indicadores Nível de corte (z) Peso

Vulnerabilidade econômica Pobreza monetária Possuir renda menor que a linha de pobreza

1/4 Mãe com pelo menos um

filho menor de 14 anos Quando o domicílio é chefiado por mulher com tenha filho menor de 14 anos

1/4

Ausência de ocupação

remunerada Inexistência de ocupação remunerada no domicílio 1/4 Ausência de ocupado com

rendimento de pelo menos um salário mínimo

Inexistência de pessoa ocupada cujo rendimento seja pelo menos um salário mínimo

1/4

Condições ocupacionais Menos da metade dos membros do domicílio em idade ativa

Se menos da metade dos moradores do domicílio não se encontram em idade ativa

1/6

Menos da metade dos membros em idade ativa ocupados

Se menos da metade dos moradores do domicílio em idade ativa não se encontram ocupados

1/6

Ausência de trabalhador com carteira assinada, RJFP civil ou militar

Quando não há no domicílio trabalhador com carteira assinada ou funcionário público

1/6

Ocupação inadequada Presença de subemprego ou pessoa que trabalhe mais de 40 horas semanas e possui salário inferior ao salário mínimo 1/6 Ausência de participação da mulher no mercado de trabalho Ausência de mulher adulta que participe do mercado de trabalho

1/6

Trabalho infantil Quando há no domicílio

presença de criança que trabalha

1/6 Características educacionais Existência de adulto

analfabeto Se no domicílio há pelo menos um adulto analfabeto

1/4 Existência de adulto que

não concluiu o ensino fundamental

Se no domicílio há pelo menos um adulto que não concluiu o ensino fundamental

1/4

Crianças fora da escola Quando existe alguma criança que não frequente escola ou creche

1/4 Crianças em defasagem

escolar Se há alguma criança cuja idade não condiz com a série frequentada

1/4 Fonte: Elaboração da autora com base em dados dos Censos de 2000 e 2010.

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Quadro 1 – Dimensões, indicadores, níveis de corte e pesos dos indicadores no cálculo do

índice de Alkire e Foster.

(Continuação)

Dimensão Indicadores Nível de corte (z) Peso

Condições de moradia Existência de mais de três pessoas por dormitório

Domicílios superlotados em que há mais de três pessoas por dormitório

1/5 Domicílio não próprio Se o domicílio não

pertence a algum morador

1/5 Ausência de água

canalizada Quando não há água canalizada em pelo menos um cômodo no domicílio

1/5

Abastecimento de água

inadequado Quando a água não provém de rede geral no caso dos domicílios urbanos; ou ainda adicionando-se a possibilidade de ser proveniente de poço ou nascente localizado na propriedade para os domicílios rurais 1/5 Ausência de energia

elétrica Quando não há energia elétrica no domicílio 1/5

Condições sanitárias Ausência de sanitário Quando não há pelo

menos um sanitário no domicílio

1/3 Ausência de rede de esgoto

ou fossa séptica Se o escoadouro não se trata de rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica

1/3

Destino inadequado do lixo Se não há coleta direta ou indireta de lixo para os domicílios urbanos estendendo-se a possibilidade de ser enterrado ou queimado na propriedade para os domicílios rurais 1/3

Ausência de bens Ausência de geladeira Quando não há geladeira

no domicílio

1/6 Ausência de máquina de

lavar Inexistência de máquina de lavar no domicílio 1/6

Ausência de automóvel Inexistência de

automóvel no domicílio 1/6

Ausência de rádio Inexistência de rádio no domicílio

1/6 Ausência de televisor Inexistência de televisão

no domicílio 1/6

Ausência de computador Inexistência de

computador no domicílio 1/6

Quadro 1 – Dimensões, indicadores, níveis de corte e pesos dos indicadores no cálculo do

índice de Alkire e Foster.

(Conclusão)

Dimensão Indicadores Nível de corte (z) Peso

Saúde Dificuldade para enxergar Se algum morador possui

dificuldade para enxergar 1/5

Dificuldade para ouvir Quando há pelo menos um morador do domicílio com dificuldade para ouvir

1/5

Dificuldade para andar Se algum morador possui dificuldade para andar ou subir escadas

1/5 Deficiência mental

permanente Se há algum morador com deficiência mental permanente

1/5

Óbito fetal Existência de pelo menos

um filho ou filha de morador que tenha nascido morto

1/5

Fonte: Elaboração da autora com base em dados dos Censos de 2000 e 2010.

O peso das variáveis, ou indicadores representantes das dimensões, foi aplicado de acordo com a quantidade de variáveis em cada dimensão, apresentando-se um número mínimo de quatro variáveis, com peso 1/4 cada uma (dimensão de Vulnerabilidade econômica e dimensão de Características educacionais); e um número máximo de seis variáveis, com peso 1/6 cada uma (dimensão de Condições ocupacionais e dimensão de Ausência de bens). Além disso, no Quadro 1 está especificado o nível de corte em cada indicador, isto é, o nível z

critério utilizado para especificar a privação em cada um dos indicadores básicos que

comporão o índice de pobreza186.

O primeiro conjunto de variáveis selecionado refere-se à Vulnerabilidade econômica. Conforme já foi dito, esta dimensão é muito relevante na análise da pobreza. A situação de pobreza pelo critério da renda caracteriza estados de privação.

Sen (2000, p. 109) reconhece que “uma renda inadequada é, com efeito, uma forte condição predisponente de uma vida pobre” (SEN, 2000, p. 109). Sendo assim, a pobreza baseada na escassez de renda não é uma ideia vaga, já que a carência de renda é limitadora dos atos dos indivíduos e motiva a fome individual e coletiva. De fato, os níveis de renda são relevantes, pois, permitem que as pessoas adquiram bens e serviços e que usufruam de um

186 A privação em um único indicador não implica que a família seja pobre. Isso quer dizer apenas uma privação.

Para ser multidimensionalmente pobre é preciso pontuar um número mínimo de indicadores conforme o valor de K. Isso será especificado no próximo capítulo.

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determinado padrão de vida. Por este motivo, a dimensão monetária (renda) está presente na maioria dos estudos multidimensionais.

Especificamente no caso da variável Pobreza monetária, foram utilizadas linhas de pobreza sob o enfoque da renda familiar per capita. As linhas de pobreza utilizadas foram calculadas baseando-se em cestas alimentares nutricionalmente adequadas em determinado momento e lugar, acrescidas do valor necessário ao atendimento de certas necessidades básicas como higiene, vestuário, transporte, etc. De acordo com Rocha (2003b, p. 49-50),

[...] em função da disponibilidade de informações sobre a estrutura de consumo das famílias com diferentes níveis de rendimento, a determinação de linhas de pobreza e indigência no Brasil deve ser com base no consumo observado [...] a primeira etapa consiste em determinar, para a população em questão, quais são suas necessidades nutricionais. A etapa seguinte objetiva estabelecer, a partir das informações de pesquisa de orçamento familiares, a cesta alimentar de menor custo que atenda às necessidades nutricionais estimadas. O valor correspondente a essa cesta é a linha de indigência, parâmetro de valor associado ao consumo alimentar mínimo necessário. Como não se dispõe de normas que permitam estabelecer os consumos não- alimentares, o valor associado a eles é obtido de forma simplificada, geralmente correspondendo a despesa não-alimentar observada quando o consumo alimentar adequado é atingido.

Essas linhas de pobreza foram escolhidas, por possuírem valores diferenciados para as regiões do Brasil. Um país de dimensões continentais não pode possuir um único nível de corte para a pobreza e indigência monetária, haja vista que os padrões de consumo variam de forma correspondente com a região. No caso de Minas Gerais, é calculada uma linha especifica para a região Metropolitana de Belo Horizonte e duas outras distintas para áreas urbanas e rurais. Estas linhas estão apresentadas no Apêndice A, deste trabalho. Com base nos níveis de corte, os indivíduos foram classificados como pobres e não pobres unidimensionais se possuíssem renda menor que as linhas apresentadas (Apêndice B).

Para complementar a caracterização das situações de Vulnerabilidade econômica (Apêndice B), considerou-se adicionalmente o tipo de família visto como mais vulnerável

formado por Mãe com pelo menos um filho menor de 14 anos. Pela Constituição de 1988187,

no Cap. VII, Art. 226, parágrafo 4º, propõe-se que “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Segundo Goldani (1994), quando há menor de 14 anos na família há maior dependência com relação à renda do chefe. No caso das mães sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos, em geral, possuem maior dificuldade para geração de recursos monetários, o que justifica a inclusão desta variável para identificar uma situação de vulnerabilidade.

187 Com a Constituição Federal foram introduzidos elementos que são o passo inicial para o estudo da pobreza na

Entende-se que além da Pobreza monetária, e do tipo de família mais susceptível de enfrentar condições adversas, o indivíduo encontra-se em situação de Vulnerabilidade econômica, se não há ocupação remunerada no domicílio; e/ou se há, porém, com rendimento inferior a um salário mínimo.

Quando não há ocupação remunerada no domicílio, ocorre limitação da autonomia individual com relação à renda. Segundo Barros, Corseuil e Leite (2000, p. 177),

Um dos principais determinantes do nível de pobreza numa sociedadeé como os recursos humanos são usados e remunerados. Quanto maior a eficiência em alocar recursos humanos disponíveis para atividades econômicas e quanto melhor a remuneração recebida por aqueles que estão engajados em atividades econômicas, menor será o nível de pobreza predominante. Em outras palavras, quanto maior for a subutilização dos recursos humanos nas atividades econômicas, tanto maior será o nível de pobreza. Já que a alocação e a remuneração dos recursos humanos disponíveis dependem, em grande parte, do funcionamento do mercado de trabalho, deduz-se que o nível de pobreza pode ser bastante afetado pelo funcionamento desse mercado.

Por não haver a variável de Condição de ocupação no Censo de 2000, tal variável foi criada de maneira derivada para ser compatível com o Censo de 2010 (vide Apêndice B). Desta forma, foram definidos como trabalhadores ocupados, os indivíduos que se

encontrassem ocupados em algum tipo de trabalho, e como desocupados, caso contrário188.

No Capítulo II da Constituição de 1988, Art. 7º, inciso XXXIII, proíbe-se o trabalho noturno, insalubre e perigoso ao menor de 18 anos, e qualquer tipo de trabalho ao menor de

16 anos189. Por isso, acrescentou-se um recorte para a idade de 16 anos ou mais para referir-se

às condições de trabalho apenas entre adultos.

Mesmo que o indivíduo esteja engajado no mercado de trabalho, mas obtenha rendimento inferior a um salário mínimo, isto implica em uma situação de privação. O salário mínimo ainda exerce um importante papel no combate à pobreza monetária. Além disso, com

188De acordo com as notas metodológicas, no Censo de 2010, foram classificadas como trabalho em atividade

econômica, as ocupações remuneradas em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios (moradia, alimentação, roupas, treinamento, etc.) na produção de bens ou serviços. Além disso, considerou-se como trabalho: ocupações remuneradas em dinheiro ou benefícios no serviço doméstico; ocupações sem remuneração na produção de bens e serviços, desenvolvidas como auxílios, no setor privado, a morador do domicílio; ou ocupações realizadas na produção de bens, envolvendo atividades agrícolas, pecuária, caça, produção florestal, pesca e aquicultura, com a finalidade de apenas alimentar, ao menos, um morador do domicílio. É necessário acrescentar ainda que foram consideradas como ocupadas na semana de referência, aquelas pessoas que exerceram algum tipo de trabalho, de pelo menos uma hora, durante a semana ou que tinham trabalho remunerado, porém estavam em afastamento temporário na mesma semana. Por sua vez, foram classificadas como desocupadas as pessoas que não possuíam trabalho na semana de referência, todavia estavam aptas e disponíveis para assumir e realizar trabalho. Essas pessoas tomaram alguma providência para conseguir trabalho no período de 30 dias e não exerceram nenhum tipo de trabalho. Essas proposições foram utilizadas para a criação da variável Condição de ocupação em 2000.

189 A não ser, na condição de aprendiz, em que o trabalho é permitido àqueles com 14 anos ou mais. Contudo,

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base no Art. 7º da Constituição de 1988, está previsto como direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, e aos que visem à melhoria de sua condição social:

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; [...] (BRASIL, 1988, p.10).

Se no domicílio, não há ocupação remunerada com, pelo menos, um salário mínimo (Apêndice B), essa família pode não possuir condições para o atendimento das necessidades vitais. Isto também caracteriza uma violação de direitos fixados pela Constituição. Se o valor

do salário mínimo já é questionável190, pior ainda, se o trabalhador não for remunerado sequer

pelo valor nominal vigente.

Estritamente ligadas às características econômicas, estão as variáveis que representam as Condições ocupacionais das famílias. Os indicadores de Condições ocupacionais também refletem a Vulnerabilidade econômica, porém, eles visam medir adicionalmente a condição de autonomia e bem-estar dos trabalhadores, daí a importância do estudo separado desta dimensão. Nesse sentido, foi selecionado na sequência um grupo de variáveis para representarem estas condições.

Os riscos sociais que impedem o trabalhador de desempenhar sua atividade laboral implicam em riscos de pobreza multidimensional não só para ele, mas para todo o seu grupo familiar, o que justifica o uso desta dimensão neste tipo de estudo. De acordo com Sen (2000, p. 21) “[...] a rejeição da liberdade de participar do mercado de trabalho é uma das maneiras de manter a sujeição e o cativeiro da mão-de-obra [...]”. Dito isso, no Apêndice C, são apresentadas as classificações das variáveis ocupacionais que expressam privações em relação ao mercado de trabalho.

A primeira delas demonstra uma relação de dependência caso menos da metade dos membros do domicílio estejam em idade ativa, isto é, caso não estejam com idade apta ao trabalho. Além de refletir as características dos trabalhadores, esta variável reflete o quanto os indivíduos inativos dependem dos indivíduos ativos no domicílio. O recorte etário utilizado nesta variável foi de 16 a 65. A idade máxima de 65 anos é razoável, porque a partir desta idade a inatividade torna-se justificável.

190 Enquanto o salário mínimo nominal no Brasil era R$ 151,00 em 2000, segundo o Departamento Intersindical

de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o salário mínimo ideal calculado para dezembro do mesmo ano deveria ser de R$ 1.004,26. Em 2010, o salário mínimo nominal era de R$ 510,00 e o salário mínimo nominal calculado para mês de dezembro do mesmo ano deveria ser de R$ 2.227,53, o que ainda é muito distante da realidade brasileira.

A situação domiciliar é ainda mais preocupante, quando menos da metade dos membros em idade ativa estão ocupados. A criação deste indicador se deu em detrimento da População Economicamente Ativa (PEA). O recorte etário foi o mesmo da variável anterior. Como no Censo de 2000 não havia esta variável, ela foi criada incluindo-se os indivíduos que estavam ocupados e os que não estavam ocupados. Com isso, automaticamente considerou-se também aqueles que estavam na busca efetiva por empregos. No Censo de 2010, foi utilizada a variável Condição de atividade. A partir disso, foi computado o indicador Menos da metade dos membros em idade ativa ocupados, que na verdade, representa a taxa de desocupação do domicílio.

Segundo Sen (2000, p. 35-36), o desemprego:

[...] é também uma fonte de efeitos debilitadores muito abrangentes sobre a