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10. CONSIDERAÇÕES PARA O FIM? OU PARA O COMEÇO?

10.2 APONTAMENTOS

Vivemos em um mundo em que a imagem é um, senão o maior, meio de compartilhar aquilo que vivemos, sentimos, acreditamos... Isso nos mostra quão significativa é a existência da imagem em nossas vidas. Mas, se elas são tão importantes e ocupam grande parte do nosso dia, que atenção estamos dando a elas e como estamos recebendo essas imagens? A partir desse entendimento propomos nesse estudo uma problemática, um objetivo a ser seguido – evidenciar a importância da leitura de imagem na formação do pedagogo, desenvolvendo estratégias para propor a leitura no âmbito dessa formação. Ao refletir sobre o quanto nos deixamos envolver pelas imagens, nos interessa investir em uma educação que se preocupe com a leitura de produções visuais e audiovisuais. Ao nos propormos esse desafio, qual seja, o de criar estratégias para que o pedagogo possibilite a leitura de imagem, também estamos colaborando para um ensino que promova a preocupação com o visual.

Na introdução, buscamos fazer uma justificativa para nosso tema de pesquisa. Abordamos brevemente as mudanças nos nossos modos de interagir e como a imagem tem feito parte de nossas vidas, além de mencionar a importância de sabermos ler as imagens.

Produzimos uma breve contextualização de pesquisas na área para situar nosso estudo em meio às pesquisas já realizadas. Por meio desse levantamento, constatamos que, pelos nossos achados, temos poucas pesquisas na área. Também não encontramos nenhuma análoga ao nosso estudo.

Nos pressupostos teóricos, abordamos os itens sobre a Imagem, o Ensino de Artes Visuais, a Leitura de Imagens, a Abordagem Triangular, a Semiótica Discursiva e a Alfabetização Visual.

No item Imagem, observamos que vivemos um apagamento das fronteiras entre o real e o virtual, nos deixamos seduzir por imagens que vendem não só modos de ser, mas também de não ser, de não fazer, de não vestir e, principalmente o que julgamos mais poderoso, o que pensar ou mesmo sobre o que não pensar. Podemos dizer, então, que a imagem tem grande importância nas relações contemporâneas. Ter a competência de leitura da imagem é algo que se torna emergente, no contexto em que vivemos, pois precisamos saber ler criticamente o que consumimos, o que vem sendo mostrado pelas imagens a partir dos meios que a veiculam.

No Ensino de Artes Visuais vimos que, em geral, professores, sem um aporte a respeito das Artes Visuais, direcionam atividades nas salas de aula. Muitos pedagogos, com poucas noções acerca do ensino da Arte, repetem aquilo que viram seus professores fazerem. Assim, precisamos de uma formação de qualidade nos cursos de formação de pedagogos, em relação ao ensino de Artes Visuais, para que esse possa entender as linguagens artísticas e o que precisa ser ensinado às crianças.

Ao abordarmos a Leitura de Imagens, compreendemos o quanto necessitamos dela em nossa vida e a importância de inseri-la no cotidiano escolar. No entanto, para que isso ocorra é preciso que a leitura de imagens esteja presente na formação do professor. O que pretendemos com a leitura de imagens é que tanto o professor como os seus alunos possam construir suas próprias relações e apropriações do mundo em que vivem, visando àquilo que poderíamos chamar de uma alfabetização visual.

A Abordagem Triangular busca possibilitar uma visão crítica e reflexiva acerca daquilo que as pessoas estão vivenciando, para que possam significar as imagens que veem todos os dias. Importou observar que, quando falamos em leitura de imagens na Abordagem Triangular, não há uma teoria específica para que essa leitura seja realizada. Barbosa (1991) deixa claro que a teoria para essa tarefa é de escolha do professor. Ainda, a autora destaca que o importante é que as imagens sejam analisadas, que a contextualização contribua para a leitura e que essas duas instâncias enriqueçam o fazer artístico.

Buscamos através da Semiótica Discursiva nos valer de alguns de seus mecanismos, para que nossas leituras evidenciem essa tarefa do semioticista de re-pintar a obra e chegar aos possíveis efeitos de sentido que podem emergir dos objetos a serem analisados. Ao pensar na análise dos quatro objetos compreendidos nessa pesquisa, observamos que cada um possuía especificidades que precisaram ser levadas em conta no momento da análise, como o texto sincrético e o audiovisual.

Constatamos que a alfabetização visual na escola precisa ser pensada com urgência, pois as imagens têm feito cada vez mais parte do nosso cotidiano e é preciso entender o que elas significam, seus efeitos de sentido. Muitos autores apontam para uma educação que se preocupe com a visualidade que nos cerca. Dessa maneira, cabe a nós, como educadores, pensar em meios de proporcionar o acesso a esse conhecimento na escola e, também, nos currículos de formação de pedagogos.

Ao selecionarmos nosso corpus de pesquisa – o livro de literatura infantojuvenil A

quatro mãos, de Marilda Castanha; a produção audiovisual da mídia – a propaganda Astronauta, do Itaú; o desenho animado Gravity Falls: Dipper e Mabel contra o futuro; e a

obra de arte O Triângulo do Atlântico entre tempos distópicos, do artista Arjan Martins – entendemos que cada uma dessas produções está presente na vida tanto dos professores em formação quanto das crianças. Fazer uma leitura semiótica de cada uma dessas produções nos proporcionou conhecer os diferentes elementos presentes e suas relações na produção de efeitos de sentido

Ao construirmos o questionário que serviria de roteiro para a atividade de leitura, foi imprescindível rever os conceitos desenvolvidos pelas teorias que embasam nosso estudo e, também, as pesquisas que dialogavam com a nossa. Pudemos não só aprender com elas como também propiciar a leitura de imagens em grupo. O questionário/roteiro possibilitou a mediação para a leitura de imagens. No entanto, a leitura não se resume ao roteiro, pois é preciso que o mediador tenha conhecimento dos objetos, do grupo e de estratégias para a leitura de imagens. As leituras dos objetos de análise nos trouxeram surpresas e também muitos conhecimentos. No livro A quatro mãos, foi possível vislumbrar as qualidades sensíveis na materialidade, cores, formas e organização espacial, bem como o tema envolvendo os sentimentos na relação pai/filha. Percebemos, no modo de apresentar as cenas, o ponto de vista da criança que enxerga tudo maior do que realmente é e também as relações apreendidas na infância que nos acompanham até o fim da nossa vida.

A propaganda Astronauta, do Itaú, nos possibilitou adentrar na análise do audiovisual, por meio da montagem e da identificação das categorias determinantes do ritmo no vídeo e no

áudio (FECHINE, 2009). Ao evidenciar a história narrada, a leitura trouxe alguns assuntos muito presentes na cotidianidade como o papel da mulher na sociedade, a mulher negra como protagonista no audiovisual e a importância do incentivo da família na construção dos sonhos das crianças. Importantes também foram os efeitos de sentido produzidos a partir das linguagens que compuseram esse audiovisual.

Na obra de Arjan Martins fizemos uma viagem histórica ao rever o que sabemos sobre o tráfico de escravos na história do Brasil. Foi uma experiência de conhecimento e reconhecimento de um período que muitas vezes é dissimulado e contado sob o olhar do colonizador, do europeu. Ao analisarmos os símbolos presentes na obra, como a Cruz de Portugal, as linhas, os mapas antigos chamados de portulano, dentre outros, fomos construindo sentido acerca da obra.

Na leitura do desenho animado encontramos um verdadeiro arcabouço de mistérios, segredos e cifras. Percebemos como esses discursos têm circulado na sociedade e de que modo os espectadores têm entendido.

As falas das alunas nos possibilitaram compreender como, a partir do questionário/roteiro, se deu a leitura de imagens. Observamos que a cada nova leitura a percepção das alunas ficava mais aguçada e elas percebiam mais detalhes nos objetos lidos.

Vimos que algumas questões não funcionaram como esperávamos. Talvez por não serem compreendidas ou por não se mostrarem tão efetivas no momento da leitura. Elencamos as questões que no momento de nossa prática não colaboraram tanto quanto tínhamos pensado:

O que você pode falar desse objeto? Esse objeto é bom ou ruim? É possível perceber no objeto algum tipo de oposição (ideias contrárias/ contraditórias)? / As imagens são simétricas ou assimétricas? / Que tipos de formas encontramos nesse objeto?

Ademais, sobre a possibilidade de realizar leitura de imagens dessas produções com as crianças, identificamos que as alunas expressaram receio quanto a propiciar esse exercício com seus alunos, entendendo que se trata de uma atividade complexa e, por isso, não seria acessível para as crianças. Esse entendimento por parte das alunas se deve ao fato de a leitura de imagens ser pouco problematizada em sua formação acadêmica. Ao proporcionarmos a leitura de imagens, esclarecendo que cada um fará a sua leitura de acordo com suas vivências e sua bagagem cultural, houve maior aceitação da mesma. Ao abordarmos uma educação que vise à leitura de imagens, estamos buscando a formação crítica de educandos que, enquanto cidadãos, consigam se posicionar frente às imagens a que estão expostos todos os dias.

Ao enfocar a importância das Artes na Pedagogia, nossa intenção foi mostrar o quanto esses dois campos de conhecimento podem dialogar e contribuir para uma educação de qualidade, que permita aos seus educandos um conhecimento sensível, ampliando suas percepções de mundo. Os pedagogos, por terem uma formação generalista, exigida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCNP) e pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), possuem em sua formação pouco espaço para o ensino de Artes Visuais em seu currículo. Além de rever esses tempos e espaços nos currículos de formação, precisamos, cada vez mais, de referenciais que possibilitem esse aprendizado aos estudantes de Pedagogia para que possam propiciar leitura de imagens a seus futuros alunos.

Ao término desse estudo, esperamos ter proporcionado alguns subsídios, tanto para os professores que atuam na formação de licenciandos em Pedagogia, quantos aos que atuam na educação infantil e básica, para que possam propiciar a leitura de imagens no cotidiano de seus alunos.