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Importa, então, abordar em linhas gerais como o ensino da arte participa do currículo escolar para que possamos compreender, também, quando surge a necessidade de um professor especialista e do pedagogo. Deter-nos-emos a explicitar, brevemente, um pouco do percurso empreendido dos anos de 1970 para cá a fim de que esse ensino pudesse ser garantido por lei.

Em agosto de 1971 foi aprovada a Lei no 5.692/71, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que, em seu parágrafo sétimo, instituía o ensino de Educação Artística como atividade educativa. A Educação Artística consistia em um professor ensinar as quatro linguagens: música, artes visuais, dança e teatro. Era um ensino polivalente para o qual o professor não precisava ter formação específica nas áreas.

Após muitas lutas dos arte/educadores, em dezembro de 1996 o ensino de arte passa a ser denominado Arte e definido como componente curricular obrigatório pela LDBEN 9.394/96. O Artigo 26 da LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) expressa que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base curricular comum e, nos demais parágrafos, do mesmo artigo, vai sendo desdobrado o que os currículos devem possuir. O segundo parágrafo refere que a Arte se constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. E, para tal, o professor deve ter formação específica na área artística, no entanto ainda não está garantido o ensino das quatro linguagens. Em 2008, a Lei no 11.769 inclui o ensino de música como conteúdo obrigatório nas escolas, e a Lei no 13.278, sancionada no dia 2 de maio de 2016, altera o Artigo 26 da LDB 9394/96, especificando a obrigatoriedade das artes visuais, da dança, da música e do teatro na educação básica (PONTES; LEDUR & EVALTE, 2016).

Mais recentemente, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o componente curricular Arte foi foco de muitas discussões. Lucia Pimentel e Ana Del Tabor (2018, p. 220) consideram que, “[...] em relação ao componente curricular Arte, as ameaças à sua obrigatoriedade na Educação Básica são destaques polêmicos após a aprovação da Base [Nacional] Comum Curricular - BNCC para Educação Infantil e Ensino Fundamental em 2017, e a proposta para a BNCC do Ensino Médio”.

Importa, então, abordar o ensino das artes visuais que, tendo a imagem como matéria- prima, torna possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos (BARBOSA, 1998). É nesse sentido que compreendemos o quanto o ensino de artes visuais pode contribuir na formação de pedagogos, que normalmente têm em seu currículo pouco tempo e espaço para disciplinas ligadas às artes. Ana Del Tabor Vasconcelos Magalhães, em

seu texto Ensinar/aprender Arte no curso de Pedagogia: desafios e perspectivas na formação

docente, aborda esse pouco tempo para as artes que temos no curso de pedagogia, em especial

na Universidade Federal do Pará, em que há 68h/a na disciplina Arte e Educação:

É obvio que carga horária destinada à disciplina Arte e Educação dificulta a construção de uma abordagem pedagógica que possibilite aprofundar cada modalidade artística para uma atuação comprometida e eficaz na formação do pedagogo. Consequentemente, a articulação entre os conhecimentos artísticos é comprometida no desenvolvimento dos conteúdos abordados. (MAGALHÃES, 2017, p. 154).

Para ampliarmos a discussão sobre o tempo das artes nos cursos de pedagogia, Andreia Weiss e Ana Luiza Ruschel Nunes, no artigo As artes visuais e a formação do pedagogo - anos

iniciais: uma investigação no curso de pedagogia - CE/UFSM, trazem informações sobre o

curso na UFSM:

Denota-se que o tempo destinado ao ensino da disciplina na formação inicial no Ensino Superior (Curso de Pedagogia – UFSM) é restrito (60 horas/aula) para aprender o saber disciplinar e ter a compreensão dos saberes pedagógicos para o ensino de Artes Visuais, bem como para vivenciar teórica e metodologicamente os saberes da Arte, em sala de aula. Mesmo assim, infere-se que adotar a disciplina de artes visuais no currículo é algo essencialmente positivo, embora apontando lacunas que podem ser diminuídas. (WEISS; NUNES, 2006, p. 308).

É esse comprometimento da formação do pedagogo que está em jogo quando tratamos do pouco espaço que a arte ocupa nos currículos dos cursos de pedagogia no Brasil. Ainda sobre o ensino de artes visuais na escola, Barbosa (1998, p. 17) aborda o que viu desse ensino no ano de 1998:

Em minha experiência, tenho visto as artes visuais sendo ensinadas principalmente como desenho geométrico, ainda seguindo a tradição positivista, ou a arte nas escolas sendo utilizada na comemoração de festas, na produção de presentes estereotipados para o dia das mães ou dos pais e, na melhor das hipóteses, apenas como livre expressão. A falta de preparação do pessoal para ensinar artes é um problema crucial, levando-nos a confundir improvisação com criatividade. A anemia teórica domina a arte-educação, que está fracassando na sua missão de favorecer o conhecimento nas e sobre artes visuais, organizado de forma a relacionar produção artística com apreciação estética e informação histórica.

Sobre o mesmo assunto, após 17 anos, Barbosa (2015) diz que, no ensino de artes visuais, ainda vemos a prática de alguns professores pouco alicerçada na contemporaneidade e na criticidade de que hoje precisamos para lidar com as imagens que nos cercam. O ensino das artes visuais colabora com o desenvolvimento de diversas habilidades. Como demonstra Barbosa (1998), através das artes é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada.

Em geral, professores, sem um aporte a respeito das artes visuais, direcionam atividades nas salas de aula. Muitos pedagogos, com poucas noções acerca do ensino da arte, repetem aquilo que viram seus professores fazerem.

Assim, precisamos de uma formação de qualidade nos cursos de formação de pedagogos, em relação ao ensino de artes visuais, para que desse possa derivar a possibilidade de entender as linguagens artísticas e o que precisa ser ensinado às crianças.