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UM BREVE HISTÓRICO DO LUGAR DAS ARTES NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

A questão da formação de professores, conforme Araújo (2015), aparece pela primeira vez na Lei das Escolas de Primeiras Letras, promulgada em 15 de outubro de 1827, ainda no Império. Em 1834, o Ato Adicional colocou a instrução primária a cargo das províncias. Foi por esse Ato que as províncias adotaram o modelo das Escolas Normais, que já era difundido na Europa. Saviani (2009, p. 144) explicita, de forma objetiva, cada transformação pela qual a formação de professores passou:

1. Ensaios intermitentes de formação de professores (1827-1890). Esse período se inicia com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que obrigava os professores a se instruir no método do ensino mútuo, às próprias expensas; estende- se até 1890, quando prevalece o modelo das Escolas Normais.

2. Estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais (1890-1932), cujo marco inicial é a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola- modelo.

3. Organização dos Institutos de Educação (1932-1939), cujos marcos são as reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1933.

4. Organização e implantação dos Cursos de Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do modelo das Escolas Normais (1939-1971).

5. Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério (1971- 1996).

6. Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia (1996-2006).

É possível entender, de modo sucinto, como foi-se desenvolvendo o modelo de educação para formação de professores desde a Lei das Escolas de Primeiras Letras até os dias de hoje. Mas, é preciso ressaltar que a questão de formação de professores não começa somente no século XIX. De acordo com Saviani (2009, p. 148), é algo que se estabeleceu antes:

Se o problema da formação de professores se configurou a partir do século XIX, isso não significa que o fenômeno da formação de professores tenha surgido apenas nesse momento. Antes disso havia escolas, tipificadas pelas universidades instituídas desde o século XI e pelos colégios de humanidades que se expandiram a partir do século XVII. Ora, nessas instituições havia professores e estes deviam, por certo, receber algum tipo de formação. Ocorre que, até então, prevalecia o princípio do “aprender fazendo”, próprio das corporações de ofício.

O autor observa que é com a necessidade de universalizar o ensino que começam a aparecer, a partir do século XIX, os cursos para formação de professores. E, para conseguir realizar tal formação, foram criadas as Escolas Normais. Consoante Saviani (2009), os cursos normais foram orientados, nacionalmente, pelo Decreto-Lei no 8.530, de 2 de janeiro de 1946, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Normal (BRASIL, 1946). Tal curso se dividia em dois ciclos: primeiro, o ginasial do secundário, com quatro anos de duração, cuja função era formar regentes primários; o segundo era o ciclo colegial, tinha a duração de três anos e sua função era a de formar professores do primário. De acordo com Araújo (2015, p. 41), nas Escolas Normais:

O ensino de artes aplicadas, desenho, música e canto fazia parte do currículo complementar da escola básica brasileira. Assim, essa preparação docente estava prevista na estrutura curricular da escola normal, em forma de especialização. Professores das escolas de belas-artes, artes e ofícios e conservatórios musicais eram em geral os responsáveis por ministrar essas disciplinas nos cursos normais.

Com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) no 4.024/61, começam a se consolidar os cursos de licenciatura para a formação de professores. Os licenciados seriam formados para a docência, especialmente os cursos normais, enquanto os bacharéis eram preparados para ocupar cargos técnicos da educação (ARAÚJO, 2015). De acordo com a autora, por causa dessa diferenciação é que se acabou criando uma visão distorcida da licenciatura como inferior ao bacharelado.

De acordo com Saviani (2009, p. 147):

O golpe militar de 1964 exigiu adequações no campo educacional efetivadas mediante mudanças na legislação do ensino. Em decorrência, a lei n. 5.692/71 (Brasil, 1971) modificou os ensinos primário e médio, alterando sua denominação respectivamente para primeiro grau e segundo grau. Nessa nova estrutura, desapareceram as Escolas Normais. Em seu lugar foi instituída a habilitação específica de 2º grau para o exercício do magistério de 1º grau (HEM). [...] O antigo curso normal cedeu lugar a uma habilitação de 2º Grau. A formação de professores para o antigo ensino primário foi, pois, reduzida a uma habilitação dispersa em meio a tantas outras, configurando um quadro de precariedade bastante preocupante.

Em 1968, a reforma universitária passou a formação de professores para as Faculdades de Educação ao invés das Faculdades de Filosofia. E, em 1971, conceberam-se os cursos de Educação Artística que, a partir da Resolução no 23/73 juntamente com a Lei no 5.692/71, tiveram estabelecido como deveriam funcionar. A criação das licenciaturas em Artes impactou

de certa forma os cursos de Pedagogia, uma vez que seriam esses os responsáveis pela formação pedagógica dos futuros licenciados em Artes (ARAÚJO, 2015).

Com a LDB de 1996, o ensino de Artes passa a ser componente curricular obrigatório na educação básica com a alteração da nomenclatura de Educação Artística para Ensino de Arte. Também por meio da nova LDB se estabeleceu que a formação dos professores da educação básica se daria apenas através do curso de licenciatura plena. De acordo com Araújo (2015), isso se tornou um problema pela precarização da formação docente, uma vez que os cursos normais, até então de nível médio, foram transformados em cursos de nível superior dentro dos institutos superiores de educação.

Por meio desse breve panorama, foi possível perceber as transformações e, também, as escolhas que foram tomadas para cada uma das áreas. Foram essas escolhas que produziram a formação que temos hoje dentro dos cursos tanto de licenciatura em Pedagogia quanto em Artes. A base de fundação desses dois cursos, que acabam por entrecruzar seus caminhos, não foi pensada para constituir-se em comum. Ensinamos, em cada um desses cursos de professores em formação, de modo diferente sem uma ligação que seria de extrema importância para as duas áreas: a Arte e a Educação. A licenciatura em Pedagogia precisa das Artes e a licenciatura em Artes precisa da Pedagogia. Mas o que temos visto não é essa engendração, como escreve Barbosa (2017, p. 17):

Infelizmente até hoje perdura a dificuldade de definições do que é importante se aprender para ensinar Arte. Qual deve ser a preparação dos professores para realizar a complexa inter-relação entre Arte e Pedagogia? Na preparação dos professores para o Fundamental I feita nos cursos de Pedagogia falta Arte e na formação dos professores do Fundamental II e Ensino Médio, feita nas licenciaturas em Artes das universidades, falta Pedagogia, falta a compreensão de como pensa a criança e o adolescente e de como se dá a recepção da imagem em diferentes idades do desenvolvimento, em diferentes profissões e diferentes culturas.

A dificuldade está enraizada em preconceitos que não justificam não ter no curso de Artes mais espaço para a Educação e vice-versa. Contudo, tanto as Artes quanto a Pedagogia tiveram muitas batalhas que permanecem até hoje. A busca por uma educação de qualidade na formação de professores é um assunto que não se esgota, nem deveria, pois o professor necessita estar constantemente se atualizando para que sua prática esteja aliada à teoria empreendida por ele.