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2.2.1 Objetivo Geral

O objetivo principal dessa pesquisa é evidenciar a importância da leitura de imagens na formação do professor pedagogo, propondo estratégias para leitura no âmbito dessa formação.

2.2.2 Objetivos Específicos

Como objetivos específicos da pesquisa podemos elencar:

✓ proporcionar uma discussão sobre leitura de imagens no currículo da educação infantil e anos iniciais e na formação de professores dessa área;

✓ dar subsídios aos pedagogos que atuam na educação infantil e básica para que possam propiciar a leitura de imagens no cotidiano escolar;

✓ refletir sobre os saberes que constituem o professor pedagogo.

2.3 PROBLEMA DE PESQUISA

As questões que motivaram esta pesquisa são:

a) Qual é o lugar das artes visuais na formação do pedagogo?

b) Qual é a importância da leitura de imagem na formação do pedagogo?

c) De que maneiras podemos utilizar a leitura de imagem dentro do currículo do curso de pedagogia?

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Nesse capítulo, apresentaremos os pressupostos teóricos que embasam esse estudo. Iniciaremos, abordando algo bastante presente em nossas vidas e que é objeto do ensino de artes visuais: a imagem. Explicitaremos o que estamos entendendo por imagem e como ela está presente em nosso cotidiano. Não se trata de um estudo teórico acerca da imagem, mas apenas de trabalho que envolve pontuar o que estamos considerando como imagem nessa pesquisa. No segundo e terceiro item trataremos sobre o Ensino de Artes Visuais e a leitura de imagem, mostrando como esses dois campos estão imbricados e como eles são importantes para a educação e formação do pedagogo. O quarto item diz respeito à Abordagem Triangular que, junto com a Semiótica Discursiva, nosso quinto item, nos dá o suporte teórico para a leitura de imagens, nosso sexto item.

3.1 IMAGEM

As imagens estão em todos os lugares e nos circundam, estamos imersos num mundo com uma visualidade crescente. A cada minuto mais imagens se mostram na nossa frente. Assistimos à TV, vamos ao cinema, visualizamos diversas imagens em outdoors, em placas, em roupas, em objetos, em smartphones, na internet, em livros, em museus e em muitos outros lugares. Todas as imagens com as quais nos deparamos em um dia são apenas olhadas, não temos tempo de tentar entendê-las, ou mesmo não nos damos tempo para apreciá-las. Estamos com pressa, e a imagem ainda é considerada como uma maneira fácil de leitura.

A primeira questão importante, quando falamos em imagem, está na dualidade entre ver e olhar. De acordo com Pillar (2008), ao falarmos da diferença entre olhar e ver, alguns teóricos da Arte e artistas observam que começamos olhando para depois chegarmos ao ato de ver. Em geral, olha-se sem ver. Isto faz parte do cotidiano. Esse ato de apenas olharmos, sem nos darmos conta do que está colocado na imagem, acaba por dar a falsa impressão de que a interpretação da imagem é mais fácil ou, mesmo, que temos facilidade em lidar com ela. A esse respeito Aumont (2002, p. 250) diz:

A imagem publicitária, concebida por definição para ser facilmente interpretada (sem o que ela é ineficaz), é também uma das mais sobrecarregadas de todo o tipo de códigos culturais, a ponto de obstar a essa necessária facilidade da interpretação. De fato, o trabalho dos criadores consiste em fabricar imagens que possam ser lidas com a aplicação de diferentes estratégias, segundo o número e a natureza dos códigos mobilizados em tornar essas estratégias compatíveis; assim, o espectador mais culto, ou mais “atualizado”, captará alusões, citações e metáforas que escaparão a uma

leitura mais rudimentar, mas em todos os casos um significado comum deve estar presente, sob pena de insucesso.

O que o autor traz é essa ideia que temos em relação às imagens que recebemos diariamente e que nos fazem sentir como se soubéssemos lê-las, sem a necessidade de um conhecimento prévio ou, mesmo, de um mediador. Sentimo-nos seguros com essa leitura, pois é para isso que ela foi criada: para se chegar a um entendimento; não a uma apreensão mais ampla da totalidade. Além da compreensão de muitos relativamente à facilidade de leitura da imagem, percebemos em outros a concepção de que a imagem é para ilustrar, deixar mais bonito, apenas enfeitar o que o verbal escrito diz. Caímos, por vezes, nas armadilhas pregadas pelas imagens, pois estamos a todo tempo lidando com elas e nos deixando ludibriar pelas suas artimanhas tão bem estruturadas e, constantemente, utilizadas de maneira a manipular nossas intenções.

Não percebemos, mas continuadamente fazemos a leitura do visual para encontrarmos aquilo que desejamos ou, talvez, aprendemos a decodificar algumas imagens de acordo com o que a mídia estabelece. Um exemplo bastante corriqueiro para quem vai ao supermercado é o reconhecimento de determinados produtos pela sua cor, sua logomarca, seu tamanho ou sua forma. E também é bastante comum nos enganarmos e pegarmos outro produto que não tínhamos por objetivo, porque ele apresenta as mesmas características da marca que queríamos comprar. Acaso (2009a, p. 22) descreve justamente essa ideia acerca do visual de um produto, dizendo: “Uma olhada e sabemos perfeitamente qual é a embalagem do leite, da manteiga e do

ketchup? Porque sabemos de forma tão rápida?”. A autora fala justamente dessa leitura quase

que imediata ao ver um produto na prateleira de um supermercado. Ela destaca o quanto cada embalagem foi pensada para transmitir determinado conceito, mesmo que muitas vezes não nos preocupemos com a imagem, o formato ou as cores desses produtos.

Assim, vivemos no que Acaso (2009b) nomeia como “hiperdesenvolvimento da linguagem visual”, apontando alguns fatos que provocaram esse grande desenvolvimento da linguagem visual. Em primeiro lugar, ela fala sobre o nascimento da fotografia, em 1827, quando começam a surgir representações visuais capturadas por um aparelho. Em 1900, o desenvolvimento da imprensa possibilita a reprodução e divulgação das imagens. Nos anos 1960, o nascimento da televisão propicia uma relação com imagens em movimento para um público mais amplo do que o cinema. Em 1970, temos a popularização dos computadores e o desenvolvimento do software de tratamento de imagens, o Photoshop. Nos anos de 1980 e 1990, o desenvolvimento e popularização de equipamentos de captura como scanner, câmera digital, tanto para filmar quanto para tirar fotos, e o celular. E, nos anos 2000, o desenvolvimento de

vários repositórios na internet que permitiam o compartilhamento de vídeos e imagens, como YouTube, MySpace etc. (ACASO, 2009b).

Assim, gostaríamos de evidenciar o modo como estamos concebendo a imagem nesse estudo. Acaso (2006, p. 15) contribui de forma significativa ao refletir que:

Uma imagem é um sistema de representação através da linguagem visual, isto é, uma construção de caráter fictício, entendendo por ficção aquilo que não é a realidade. Sem adentrarmos em uma complicada discussão filosófica para diferenciar o que é realidade e o que não é (o que passaria os limites deste livro) só nos interessa deixar claro que uma imagem não é a realidade; as imagens são, hoje mais do que nunca, distorções intencionadas da realidade, construções feitas por alguém para um fim, na maioria dos casos com intenções muito concretas3.

Antes da invenção da fotografia, as imagens artísticas buscavam representar a realidade, constituindo-se como um registro daquilo que estava sendo presenciado. Muitas histórias foram contadas através das imagens disponíveis. Elas serviram para a criação de uma representação visual daquilo que os viajantes contavam nas cartas, em que descreviam os lugares por onde passavam. As obras de arte cumpriram em parte esse papel, pois, ao registrar um momento da história, eram tidas como representações daquilo que havia acontecido. Esse é o caso das obras “Primeira Missa no Brasil” de Victor Meirelles (1860) e “Independência ou Morte” de Pedro Américo (1888), que habitam nosso imaginário como representações de momentos históricos no Brasil, principalmente porque ilustram livros de história. O que muitas pessoas pensavam ser uma representação fiel da realidade, eram representações visuais criadas a partir de cartas que davam o testemunho desses acontecimentos. Os pintores construíam uma cena histórica conforme os padrões da época. A imagem era uma criação do pintor segundo seu entendimento. Ao adentrarmos na história, é possível compreender que a imagem, como registro, vem sendo utilizada desde a pré-história e, com a chegada da fotografia, do cinema, do computador, sua disseminação foi crescendo cada dia mais. Com o advento das tecnologias de criação e modificação de imagens, sabemos que elas podem ser manipuladas, produzidas de acordo com o que queremos passar para aqueles que são nosso público-alvo. Desse modo, torna-se cada vez mais complexo perceber o que é realidade e o que é criação. O entendimento da imagem como criação foi melhor compreendido com a chegada de programas de manipulação de imagens, como o Photoshop. “A grande sofisticação hoje em dia é poder mudá-las [as imagens]4, poder transformá-las em mentiras visuais, poder colocar um edifício onde nunca esteve ou poder

3 Tradução nossa. 4 Grifo da pesquisadora.

fundamentar a invasão de um país manipulando fotos de armas de destruição massiva que nunca existiram” (ACASO, 2009b, p. 29).

Assim, há diversas maneiras de fazer alterações nas imagens e elas indicam, também, modos de ser. Acaso (2006, p. 14) descreve que “[...] um cidadão médio urbano consome cerca de 800 imagens diárias e que dedica quase três horas, por dia, para poder fazê-lo”. Tantas imagens e horas dedicadas a vermos sem que ao menos consigamos fazer uma reflexão, uma leitura crítica do que nos está sendo mostrado. Não refletir sobre esse consumo excessivo de imagens nos torna “analfabetos visuais” e nos coloca à mercê dessa hipervisualidade. Acaso (2006, p. 25) descreve como as imagens criam demandas em nossas vidas:

Todas essas imagens nos fazem desejar coisas que não temos, por isso vivemos em uma continua luta para consegui-las. O cidadão ocidental, mergulhado em crises de ansiedade ao longo das distintas etapas de sua vida, vê como diferentes tipos de medos se abrigam na sua mente: quando criança, o medo de estar sozinho; quando adolescente, o medo de não ter um corpo perfeito; quando adulto, o medo de não ter tudo o que seu vizinho tem. Se antigamente esses medos eram promovidos pelas Igrejas e transmitidos através dos sermões dominicais e as imagens que decoravam os templos, hoje em dia estão sendo criados pelas multinacionais e pelos Estados e são transmitidos também através da linguagem visual, mas com uma potência impensável até o desenvolvimento das novas tecnologias.

Assim, vivemos um apagamento das fronteiras entre o real e o virtual, nos deixamos

seduzir por imagens que vendem não só modos de ser, mas também de não ser, de não fazer, de não vestir e, principalmente o que julgamos mais poderoso, o que pensar ou mesmo sobre o que não pensar. Rossi (2003, p. 9) diz que, “[...] desde sempre, a imagem teve o poder de se impor a nós. Ela nos seduz por sua presença; já a palavra pressupõe uma linearidade na sua leitura. A palavra evoca algo que está ausente; a imagem é (já) presença, aqui e agora”.

Para a semiótica discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2008), a imagem é um texto visual, um todo de significação, capaz de ser submetido à análise. Este texto visual entrelaça as dimensões topológica, eidética, cromática e matérica5. E a análise vai enfocar as relações entre as diversas dimensões e os efeitos de sentido que produzem.

Podemos dizer, então, que a imagem tem grande importância nas relações contemporâneas. Ter a competência de leitura da imagem é algo que se torna emergente, no contexto em que vivemos, pois precisamos saber ler criticamente o que consumimos, o que vem sendo mostrado pelas imagens a partir dos meios que as veiculam.

5 Topológica, eidética, cromática e matérica são as quatro dimensões que constituem a imagem. A dimensão

cromática diz respeito a cor, tonalidades, graus de saturação, ritmo, gesto, espessura. A dimensão eidética engloba a forma, os diferentes tipos de simetria, a perspectiva. A dimensão topológica diz sobre a distribuição das formas no espaço da imagem, pensando em alturas, direção e formato. E a dimensão matérica sobre os materiais, técnicas e procedimentos que compõem a imagem.