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O trabalho de Johnathan Ive e da Apple, caracteriza-se pela pureza visual, pela simplificação do complexo mundo dos dados digitais, “embalado” de uma forma simples e atractiva, mesmo “sexy”. As questões fundamentais da estratégia da Apple passam pela imagem limpa do exterior e pela correspondente clareza de interface, analógico e digital. A solução passa pela simplificação não apenas do objecto, mas especialmente das suas funções. Em termos gerais, um pouco como a Plus Minus Zero. Reduzindo primeiro ao essencial, anulando o supérfluo nas funções, e posteriormente no interface e no “package”. Essa redução de funções é por vezes discutida, nomeadamente em casos em que é levada ao extremo, como no iPod shuflle.

O primeiro exemplo foi o Imac de 1998, sendo seguido pelo iPod (Fig. 113) de 2001 e pelo G5, todos modelos bastante mais clean do que os seus

concorrentes. O seu exterior transmite simplicidade e serenidade. Pretendem apenas resolver problemas, não havendo aqui argumentos para pensar em expressão pessoal.

Um trabalho, não da Apple mas de Marc Berthier, que de certa forma encaixa neste perfil é o rádio Tykho (Fig.114). Referido como uma forma actual que revive conceitos da Bauhaus, desenhado para a Lexon, é um modelo de simplicidade extrema. Feito de borracha resistente ao choque e à agua, recorre ao uso de materiais banais de forma inesperada. Lembra um pouco os racionalistas italianos, como Marco Zanuso ou Enzo Mari.

DROOG

Uma das razões da racionalidade na utilização dos materiais e da redução é a necessidade de encontrar respostas às questões suscitadas pela

sustentabilidade do planeta. Num contexto não puramente industrial surgem outras propostas. A Droog design, referência incontornável do panorama actual, é um caso particularmente interessante de observar pela sua abordagem radical à simplicidade e redução.

Droog é uma empresa com sede em Amsterdam nascida de uma declaração surgida pela mão de Renny Ramakers e Gijs Bakkers, no Salone del Mobile, de 1993 em Milão, e do salão de Colónia do mesmo ano. Rejeita a discussão do design baseada na produção industrial. Denuncia o desaparecimento da realidade controlável, por diluição na tecnologia, cada vez de menor escala e invadindo cada vez mais toda a nossa vida. Leva-nos à standartização, e funde-se nos nossos corpos e mentalidades num avanço cyber-modernista, criando uma realidade artificial.

Re-use

Droog procura a reposição do natural. Nasce da ideia de design baseado na re- utilização de uma forma abrangente. Re-utilização, não dos materiais, mas dos objectos. Não reciclagem, mas re-uso (Fig. 115). O design não precisa de criar mais objectos e recorrer a mais materiais, ou mesmo inventar novas soluções. Precisa, sim, de reinventar, de voltar a propor e encontrar novas possibilidades para os objectos existentes.

O conceito passa por dar uma segunda vida a produtos velhos que, por algum motivo, deixaram de ter lugar na nossa vida.

Numa sociedade absolutamente caracterizada pelo desperdício, procuram ter um comportamento de elevada responsabilidade social.

O conceito de reutilização dos objectos em novo contexto não é absolutamente novo.

Os ready-mades de Duchamp são um exemplo, o Consumer’s Rest (Fig. 116) de Stiletto, de 1983, é outro. Reinventa um objecto de todos os dias, como a cadeira de tractor dos irmãos Casteglioni, obedecendo à mesma construção a partir de objectos disponíveis, reinterpetando um carrinho de supermercado, atribuindo- lhe uma nova função.

Os conceitos não são exactamente iguais, mas têm semelhanças. O Consumer’s Rest apesar de ir buscar a linguagem, altera mais significativamente o objecto original. No entanto o conceito base é semelhante. Segundo Stiletto “Redesign aqui tem menos a ver com reciclagem e mais com renascimento. O design é sobre carácter, não “design de embalagem””. 42

A resposta Droog é uma espécie de evolução do Mezzadro (Fig. 45) de Achille Casteglioni, ou da declaração implícita à Rover chair do pós-industrialismo de Ron Arad. O re-uso pode ser considerado a mais extrema forma de redução. Esta abordagem é particularmente útil para produtos obsolescentes, e surge como uma saída viável.

O Chest of drawers (Fig. 117), de Tejo Remy em 1991 é um exemplo claro de re-uso, embora com finalidade semelhante, utilizando materiais prontamente disponíveis.

“Each drawer carries its own memories, and these are all jumbled up in your head. So the chest must chaotic”. 43

No que toca ao re-uso, a abordagem mais sistemática é a de Jurgen Bey, que reconhece um valor superior a um objecto fora de moda ou estragado, ao qual possa ser concedida uma nova vida (Fig. 118). Bey defende não ser necessário inventar novas formas, visto existir uma tal riqueza de objectos, formas e materiais disponíveis ao nosso redor. Com esta abordagem de redução radical pela ausência de recurso a materiais novos, Jurgen Bey assume o seu principal objectivo como sendo a relevância social do que faz. Afirma que “Como designer apenas tenho de descobri-los e reintegrá-los em novas histórias”. 44

O valor vem, em parte, das histórias e memórias que o mobiliário antigo traz consigo

A insinuação da presença de histórias por trás dos objectos é cativante para Bey, um valor acrescentado que as coisas novas não poderão nunca ter, permitindo- lhes ainda assim, afirmar também algo de novo. A familiaridade e recurso à memória são importantes, mas aplicados de uma forma nova. A longevidade e nostalgia são alcançadas emocionalmente pela utilização do objecto e não através da sua reciclagem (Fig. 119).

Bey começa por coleccionar coisas cheias de “Honest beauty of real life”. 45 Ao construir um banco a partir de um tronco deitado está a recorrer à

familiaridade. Naoto faz o mesmo, embora reconstruindo o gesto de uma forma industrial, mas recorrendo ao mesmo princípio base. Apenas a abordagem é diferente, mas o recurso à memória está presente nos dois casos, no de Naoto mais por síntese, no de Bey mais por redução. A utilização dos objectos recolhidos é facilmente conotada como artística, porém a funcionalidade não tem de ser considerada perdida por assumir esse carácter.

Segundo Jaako van ‘t Spijker, 46 a standartização produz e vende a

individualidade em massa. O novo produto permite que o tornemos único, que os actos a ele associados sejam únicos.

Droog é um grupo de pessoas, uma comunidade, uma espécie de uma tribo. Não existe uma linha de autoria corente, por isso não se põe a questão ou discussão de autoria e visibilidade, pois cada produto é um produto. Tem alguns princípos chave estabelecidos, mas diversidade de resposta. Contudo, Jurgen Bey destaca-se no conjunto da “tribo” pela vitalidade do seu trabalho.