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A redução é uma característica que é evidente desde o início do seu trabalho. Less is More, 42 menos é mais, de Mies Van der Rohe, serve bem

para caracterizar uma das suas principais preocupações. É curioso que tenha sido nas peças mais caras que produziram que mais claramente declaram a sua preocupação de redução de custos e de acesso generalisado ao design. O objectivo final da sua investigação tecnológica sempre foi proporcionar à produção industrial a realização viável com materiais mais baratos e menos material. Curiosamente, é num modelo tradicionalmente conotado com o luxo que afirmam essa preocupação de uma forma mais clara. A Lounge Chair and Ottoman (Fig. 37), de 1956, produzida por Herman Miller.

Essa optimização do preço de produção é sempre procurada mas,

especialmente neste caso, sem prejuízo do conforto, qualidade de fabrico e dos materiais. Mais leve na verdadeira acepção da palavra e, visualmente, mais moderna e ainda mais confortável que as tradicionais english club chairs, pretendia cumprir o objectivo de ter um design luxuoso sem ser pedante, 43

custos relativamente aos modelos tradicionais. Conforto máximo com o mínimo. Base em alumínio, resistente e relativamente leve, três blocos de conchas em contraplacado, três almofadas em pele, dois braços em alumínio na junção do encosto de cabeça e da concha de assento. De materiais mais caros apenas as duas junções entre blocos em aço, do encosto de costas ao assento, visto que se trata da zona sujeita a maior esforço, e nas quais são ainda colocados os descansos de braço. Unem estes pontos de contacto ente os materiais por ligações em borracha, para suavizar o contacto e dar mais elasticidade nos momentos de esforço, reduzindo qualquer possibilidade de deformação plástica e aumentando o conforto.

Este modelo em contraplacado moldado e estofado em pele, tanto cumpria todos os seus objectivos de produção industrial barata, como respondia à procura de conforto pela aproximação ao corpo protagonizada pelas formas orgânicas, curvas suaves e excelente qualidade de construção, não deixando por isso de ser uma obra de expressão individual e continuando a ser ainda hoje um dos modelos mais famosos da suacolecção.

Segundo Charles Eames tinha o “aspecto aconchegante de uma luva de baseball bem usada”. 44

Embora se tratasse de uma peça de luxo, demonstrava como eram activos no sector do mobiliário de baixo custo. Mais uma vez utilizam a tecnologia avançada aplicada aos seus fins: poupança e conforto.

Os modelos No.670 e No.671 podem ser todos montados e desmontados apenas com uma chave. Sendo a sua produção mais cara, devido à alta qualidade, e à visibilidade alcançada pelos seus autores, estes modelos rapidamente se tornaram num símbolo de status.

Dedicados especialmente ao design de mobiliário, a sua influência em todo o design do século XX é enorme, sendo particularmente importante o vasto leque de aspectos que regeram o seu trabalho. A escolha de materiais mais baratos, a redução de material pela boa estruturação, a investigação de sistemas

de produção optimizados para esses materiais e o estudo de processos de aplicação modular são apenas alguns dos aspectos em que o seu trabalho deixou marcas.

EUROPA PÓS GUERRA

Foi na Europa que o pós-guerra teve maiores consequências. Tratou-se inicialmente de um período de grandes dificuldades, no qual foram testados alguns dos princípios de compromisso social do design. As dificuldades do racionamento material da guerra mantiveram-se ainda durante alguns anos e, mesmo apesar do milagre económico, foi preciso reequilibrar as economias europeias à custa de muito esforço e do aumento da produção e exportação. Nesta fase tiveram um forte desenvolvimento alguns dos princípios socialmente comprometidos iniciados com a guerra. No Reino Unido manteve-se durante algum tempo a contenção, com especial redução material. Na Itália apenas um enorme sacrifício ao serviço da indústria aliado ao racionalismo na produção pode permitir o milagre económico. A Alemanha respondeu através da sua eficiência e afirmação de rigor funcionalista do good design. 45

O reerger deveu-se ao esforço de recuperação e reorganização pós-guerra, com o apoio americano a vir através do Plano Marshall. A recuperação é particularmente visível nos países mais industrializados envolvidos na guerra. Os vencedores e vencidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão, desenvolvem enormes planos de recuperação.

O design doméstico escandinavo e alemão, o milagre económico e improvisação no design italiano e o crescimento do design orgânico, impulsionado pelos Eames, são alguns dos pontos que esta época vai materializar.

A guerra tinha terminado, mas os princípios de produção massificada ficaram. A reorganização da economia e vida moderna na Europa eram uma realidade, e assim estavam criadas as condições ideais para o surgimento da produção e consumo massificados.

Um dos factores fundamentais dos primeiros anos do pós-guerra foi a escolha dos materiais. Os materiais que tinham sido experimentados em maior escala durante a guerra, emergiam agora com possibilidades de uma utilização mais diversificada, deixando de ser apenas utilizados para produção barata e invadindo os territórios do design de culto. A expressão individual do autor acabou por crescer, incentivada pela crescente identificação e criação de novas conotações de classe social ou intelectual com marcas e autores. A esses materiais juntavam-se também outros mais recentes, em muitos casos associados à busca de um maior conforto, e eclodiram outros menos explorados, assim como se assistiu à procura de combinações de diferentes materiais. Os plásticos, a fibra de vidro e os contraplacados foram nesta fase os novos materiais dominantes. Às técnicas estudadas durante a guerra associaram-se outras novas que surgem como consequência da necessidade de explorar esses novos materiais, mas cuja evolução ajuda também a impulsionar essa

mesma utilização.

Algumas dessas técnicas, como por exempo a polimerização do propileno ou a moldagem do alumínio, ainda hoje são das mais competitivas e baratas, e são por isso ainda usadas em grande escala. A polimerização foi conseguida no Reino Unido pela primeira vez em 1939, mas foi já depois da guerrra que estavam reunidas as condições para a sua exploração comercial, sendo um exemplo o Tupperware, criado por Earl Tupper nos Estados Unidos. Earl Tupper encontrou a forma de injectar o polietileno em 1942, e funda a companhia Tupper Plastics em 1945. Em 1947 lança o Tupperware, constituído por uma linha de pequenas embalagens em plástico flexível, resultante da exploração de novos materiais e novas técnicas, e que, fundamentalmente, respondiam às novas necessidades do quotidiano.

O design adaptava-se às necessidades de uma vida moderna, utilizando e contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas,

substituindo os materiais tradicionalmente utilizados por novos materiais muito mais moldáveis. Também as formas se adaptaram aos novos materiais e às novas técnicas, tornando-se muito mais usáveis. Nesta fase, tornou-se central o

compromisso de satisfação dos cânones de conforto, leveza, beleza e preço do produto, de acordo com as exigências do consumidor moderno.