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Star-system, mercado global e elitismo

Porém, alguns dos nomes do pós-modernismo tinham atingido uma notoriedade que lhes permitia manterem-se numa espécie de Star-system, como autores- artistas, deliberadamente afastados das preocupações com a simplificação ou a racionalidade. Phillipe Starck, Marc Newson, Ron Arad e Jasper Morrison tinham essa dimensão, e apenas Morrison se tinha distanciado do excesso ainda antes das alterações dos anos 90.

No caso de Starck e de Arad, tal como em muitos outros, o design manteve- se longe dos constrangimentos e acabou destinado a um consumo mais

sofisticado, mais preparado esteticamente para aceitar as formas mais insólitas e sociologicamente elástico para aceitar o comentário, a ironia e mesmo a auto- ironia. A consciência e culto do elitismo tornou-se evidente com o aparecimento de galerias e lojas especiais, sofisticadas, direccionadas a este tipo de produtos, ao contrário dos restantes, comercializados no mass market.

Simplificação

No campo oposto, no design mainstream, mais acessível à generalidade dos consumidores, a maioria da produção cultivava outro tipo de questões. Custos de produção, margens de lucro das empresas, o preço final do produto, constituíam o fulcro do briefing. A ironia ou a extravagância ficavam de fora

se também pela indefinição dos limites entre escritório e habitação e pela necessidade de maior flexibilidade dos espaços e produtos. Caracterizou-se pela aceleração dos ritmos de vida, pela influência crescente dos media e alteração das relações pessoais e da maior procura, por compensação, das actividades de lazer. Esta estabilização e amadurecimento do mercado reflectiu-se também nalguma saturação do design-moda, pela crescente recusa do pretensiosismo, e pela procura de bens mais duráveis. Num contexto de pesquisa para evitar a rejeição de produtos por via da frustração ou saturação, surge espaço para o crescimento de abordagens de maior clareza visual, simplificação formal e de interface. Jasper Morrison, Johnathan Ive, Naoto Fukasawa, Sam Hecht são os nomes mais significativos desta procura mais directa da simplificação.

O crescimento do sector da electrónica e a sua miniaturização contribuem para acentuar essa necessidade, resolvendo por um lado os desejos de portabilidade dos produtos, mas tornando-os assim em novas necessidades, originando, deste modo, mais consumo. Nokia, Ericsson, Sony, Apple têm, neste contexto, território aberto para o crescimento. Surge a necessidade de standartização de funções, e essa necessidade tende para a minimalização e simplificação de forma a evitar a permanente necessidade de adaptação por parte de um utilizador cada vez mais impaciente. A simplificação gerou, regra geral, produtos de aspecto mais uniforme, por vezes de enorme complexidade mas de aparente simplicidade. Nesta fase, grande parte das regras foram ditadas pelas exigências e características da nanotecnologia. Contudo, essa aparente simplicidade dos produtos escondia as possibilidades proporcionadas pelos softwares de interface que permitiam alterar as funcionalidades do equipamento sem intervenção nos materiais reais, ou seja, no hardware. Redução é uma palavra de ordem com cada vez mais força.

Toda esta evolução foi potenciada pelos computadores, que pelas diferenças no processo de trabalho que provocam, acabam por originar também novos resultados ou por possibilitar novas abordagens. Surgem associados a um design de raiz mais digital nomes como Ross Lovegrove e Karim Rashid. As novas formas do processo.

Com a recuperação económica dos anos seguintes, verifica-se um aumento de consumo também nos patamares mais baixos do mercado, aumento de consumo esse acompanhado por cada vez maiores expectativas e exigências de qualidade no design.

A IKEA, por exemplo, cresce na franja mais baixa do mercado, aproveitando o entusiasmo consumista, e direcciona-se a um público jovem com poder económico suficiente e crescente.

O acesso aos produtos pela evidência de qualidade e preços aceitáveis passaram a ser tomados em conta de uma forma mais sistemática, e incorporados no processo de projecção.

O desenvolvimento das tecnologias associadas aos plásticos surgidos nos anos 30 e democratizados nos anos 60 foi muito rápido, tendo surgido novos polímeros muito mais evoluídos, resistentes e versáteis. Pela pressão do consumo e pelas exigências dos novos estilos de vida urbanos, aumentam a quantidade e diversidade de produção. Com a proliferação do design, começam a surgir, na Europa, pequenos gabinetes de produção alternativa, produzindo por vezes com meios próprios, em pequena escala. Este fenómeno veio alimentar a lógica de colecção, diversidade, de produção de pequenas séries, que a outra escala se estendeu também às grandes marcas. A criação ficou mais delimitada em termos de autoria, quase como se de artesanato de luxo se tratasse. Para isso foi essencial o novo papel dos computadores e das tecnologias 3D. Os escritórios ficaram menores, os ensaios e protótipos mais baratos. A margem de erro diminuiu e a produção tornou-se mais eficaz. Nos vários patamares do mercado passamos a ver diferentes posições, estilísticas, de posicionamento, de segmentação, mas uma situação comum: a estabilização.

Do pós-modernismo ficou a liberdade individual.

Outra, e talvez a mais influente preocupação de todas, foi a questão da

sustentabilidade do planeta. O Green-design, o Eco-design são os seus maiores embaixadores em termos simbólicos, mas o que mais importa, neste estudo, acaba por ser o efeito que têm sobre a produção industrial, global e massificada. O Green-design procura promover a utilização de materiais recicláveis com vista à preservação dos recursos naturais, de forma a evitar, nomeadamente, o aquecimento global.

As novas preocupações vieram acentuar a necessidade de racionalidade, de redução, de simplificação e eliminação do supérfluo. A nível industrial não se coloca tanto a questão de deixar de produzir (ou, pelo menos, de reduzir a produção), mas sem dúvida que se coloca a urgência de produzir melhor. A racionalidade na utilização dos materiais e preocupações ambientais tomaram muitas formas. Da abordagem mais pragmática do aumento gradual da reciclagem dos desperdícios, à abordagem mais radical de re-utilização dos produtos para novos fins, existem novos e promissores territórios para explorar. Em alguns casos a proposta não só propõe novas atitudes para o design, como o discute e o coloca perto de territórios de não design. Na Droog, a ideia de re-utilização entra no território da memória e da ironia, discute a redução e a simplicidade, gerando discussões que não se encerram em si próprias, como empresa ou movimento, acabando por transbordar para o exterior, impregnando o pensamento e as preocupações de académicos, num primeiro tempo, e depois da sociedade em geral. Uma escolha mais cuidada, criteriosa e consciente dos materiais passa a ser um aspecto fundamental transversal a todo o design. O universo material passa a ser muito mais completo e complexo. Dos novos materiais sintéticos “Ultra light, super strong”, aos velhos reinventados, o número de referências parece ser ilimitado, o que obriga a um muito maior conhecimento e a uma constante procura e actualização da informação disponível. É um território perigoso porque técnico, pois as ilusões de

sustentabilidade associadas aos materiais são inúmeras, o que exige ao designer

tendem a ter um estilo mais futurista, formas curvilíneas e um regresso de linguagens orgânicas.