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APREENSÃO SOCIOESPACIAL: O MUNICÍPIO COMO REALIDADE

3 TRILHAS METODOLÓGICAS

4.1 APREENSÃO SOCIOESPACIAL: O MUNICÍPIO COMO REALIDADE

O estudo e a representação do espaço geográfico podem ser realizados de diversas maneiras. Para os anos iniciais, faz-se necessário partir dos espaços mais próximos da criança, de sua realidade local, permitindo que elas estudem, conheçam e compreendam o espaço vivenciado por cada um. O estudo do município permite a aproximação dessas crianças com o espaço mais próximo no qual estão inseridas. Dessa forma,

Estudar o município é importante e necessário para o aluno, na medida em que ele está desenvolvendo o processo de conhecimento e de crítica da realidade em que está vivendo. Ali estão o espaço e o tempo delimitados, permitindo que se faça a análise de todos os aspectos da complexidade do lugar (CALLAI; ZARTH, 1988, p. 11).

Os direcionamentos oferecidos para o estudo do município auxiliarão o estudante na atribuição de sentidos e significados durante a construção do reconhecimento de seu mundo vivido e para o conhecimento do novo. Por meio disso, adquire-se a consciência do espaço, interligando as novas informações com as diversas espacialidades da realidade. Assim, à medida que essas relações são ampliadas, abre-se para a criança, no seu interior e no seu espaço, um mundo cada vez mais vasto. Mundo que não inicia prioritariamente no seu município (local) e se encerra quando atinge o mundo (global), pois, como afirma Callai (2003b, p. 124), nenhum lugar pode ser explicado e conhecido de forma isolada. É necessário teorizar sobre ele e estabelecer ligações em nível regional, nacional e internacional.

Ao estudar o município, o estudante passa a perceber que o espaço geográfico se amplia na medida que o seu espaço de vivência se integra a uma dinâmica espacial. Nesse processo, o aluno passa a encontrar elementos novos sobre os bairros, suas composições, o campo, os produtos que circulam pela cidade, as construções, as modificações dos lugares. Isso tudo ocorre, sobretudo, à vinculação estabelecida com o mundo.

Cavalcanti (2002) enfatiza que a vivência na sociedade atual exige o exercício da cidadania. Essa ação se promove por meio da experiência, do desenvolvimento de comportamentos e pelo envolvimento em diversas atividades que se efetivam, em grande parte, no espaço, entendido, nesse caso, como vivência da cidade. Os cidadãos circulam por ela, seja para se dirigir a suas moradias ou a lugares de lazer, trabalho, estudo e consumo. Para a autora,

A vida nas cidades é cada vez mais um fato mundial, pois, a partir do século XIX, toda a sociedade passa a ser organizada em função do espaço urbano. Sendo assim, a cidade torna-se tema importante a ser trabalhado na escola fundamental, num projeto de formação da cidadania (CAVALCANTI, 2002, p. 47).

Para as crianças perceberem a cidade, o professor deve estimular que eles percebam a diversidade de lugares. Também deve levá-los a notar os diferentes modos de determinar o uso do espaço em que convivem os grupos sociais, reconhecendo, por meio de inúmeras atividades e diálogos, o espaço público e o seu espaço, levando em conta as experiências que ele tem do mundo. Nesse sentido,

A cidade, enquanto conteúdo escolar, não é concebida apenas como forma física, mas como materialização de modos de vida, como um espaço simbólico, e seu estudo volta-se para desenvolver no aluno a compreensão do modo de vida da sociedade contemporânea e de seu cotidiano em particular (CAVALCANTI, 2005, p. 203).

Assim, a referência para vincular os espaços mais próximos dos educandos liga-se ao espaço da cidade, que é onde as pessoas estabelecem suas relações. É um lugar onde há diversos outros lugares. A relação existente entre os homens e os lugares se dá em um espaço político, regido por leis e regras estabelecidas. Abrange ainda aspectos econômicos, sociais e culturais, por meio dos quais o homem estabelece suas relações com a natureza e constitui o espaço geográfico. Esse conjunto que constitui o espaço geográfico torna-se perceptível através da paisagem urbana que se transforma pela ação humana. A relação estabelecida entre as pessoas e os lugares que são construídos e circundam o seu cotidiano pode passar a ser ativa e interativa. Levar em conta o estudo da cidade favorece o desenvolvimento de conceitos, atitudes, tomada de consciência de informações importantes para a formação de um pensamento espacial (CAVALCANTI, 2002).

Callai assinala ainda que,

O estudo do município é o conteúdo que de forma especial serve para ser trabalhado como instrumento de uma base necessária ao aluno, sistematizando as aprendizagens realizadas até então e construindo uma base referencial para as aprendizagens futuras. É um processo que envolve dois movimentos e um conteúdo que, por ser o meio em que vive o aluno, permite que se realizem, ao mesmo tempo, a sistematização e as bases para trabalhar com outras realidades mais distantes, com fenômenos que exigem maiores generalizações e um maior nível de abstração (2003c, p. 81).

Além disso, o estudo do meio permite aos educandos identificarem seus próprios conceitos em relação ao espaço onde vivem e, quando despertados para a sua compreensão, podem se tornar capazes de identificar os processos de transformação do espaço, tanto o explorando, como o construindo por meio de suas ações.

Diante dos objetivos traçados para esta pesquisa, buscamos desenvolver juntamente com as educadoras o estudo do município de Caxias do Sul. Tomou-se cuidado para que os conceitos geográficos estivessem imbricados nos diversos temas elencados. Eles não foram isolados, mas articulados entre si, considerando aspectos físicos, econômicos, humanos, culturais, entre outros. Foram organizados em atividades que serão explicitadas a seguir.