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3 TRILHAS METODOLÓGICAS

4.2 A RELAÇÃO ENTRE O MEIO E OS CONCEITOS GEOGRÁFICOS

4.2.2 Identificando os Lugares de Vivência de Cada Um

4.2.2.3 O Bairro e suas Estruturas Socioculturais

Em continuidade à abordagem da casa dos alunos, foi proposto a eles a confecção da casa de cada um a ser representada com o auxílio de uma pequena caixinha de papel. A possibilidade de representação, segundo Castrogiovanni, permite que a percepção do espaço e o modelo por ele elaborado configure um processo de integração, uma vez que “[...] as interações sociais do aluno no seu dia- a-dia são possíveis de serem percebidas quase que na totalidade” (2003, p. 74). O momento de apresentação das moradias dos alunos e suas reproduções envolveram indagações:

a) Como ficaram as casinhas? b) Quem ajudou a fazer? c) São todas iguais?

d) O que elas têm de diferente?

e) Esse tamanho é igual ao de verdade? Por que elas são menores?

Considerando inicialmente a identificação das representações dos alunos, a atividade pretendia inicialmente promover a identificação da casa de cada um deles como sendo um espaço ocupado por eles e pela sua família. Inúmeros são os lugares no espaço geográfico nos quais a criança circula e com os quais se identifica. Optamos inicialmente por enfocar o lugar da casa a fim de podermos desencadear outras propostas para o trabalho.

a) Essas casas ficam todas no mesmo lugar? b) Onde ficam então?

c) E essa rua fica onde?

d) Porque você mora nesse bairro? e) O que tem no bairro de cada um?

Outra vez a mediação das educadoras, valeu-se de indagações e teve como objetivo a intencionalidade. Nesse caso, o intuito no desencadeamento das questões foi de que os estímulos oferecidos se voltassem àquelas percepções sociais e espaciais que os alunos já possuíam em relação ao seu entorno sócio-espacial, mas

que, ao serem atingidos, tivessem reflexões diferenciadas sobre aquilo que vivenciam diretamente.

a) Se nós quiséssemos ver onde ficam essas casinhas, que mapa teríamos que usar?

b) Onde será que fica o bairro de vocês aqui no mapa? c) Onde fica o bairro da nossa escola?

A compreensão do espaço de vivência dos alunos buscou vincular o conceito à utilização do mapa como sendo uma ferramenta e um subsídio importante a ser explorado nas aulas de Geografia. As educadoras tiveram à sua disponibilidade um mapa20

de Caxias do Sul para desenvolver as atividades com as turmas.

Por ser uma linguagem gráfica, o mapa, por meio de seus traçados, cores, funções, formas e símbolos, apresenta um poder de síntese de informações contidas em um determinado território. Oferecer aos educandos a possibilidade de perceber o espaço geográfico por meio de uma figura favorece o aprendizado e a alfabetização cartográfica. Para Callai e Callai (2003, p. 70),

No trabalho com mapas, o aluno vai aprendendo a noção de espaço – o seu significado – e a sua possibilidade de representação. E da representação do espaço ele poderá extrair informações da realidade (ao ler e interpretar um mapa), ou colocar nele as informações (no caso de constituí-lo).

A exploração do mapa de Caxias do Sul proporcionou aos educandos a identificação do bairro e da rua onde viviam. Sobre os momentos de interação entre as crianças e a contribuição e participação individual nas atividades, Vygotsky reafirma que:

[...] em colaboração a criança sempre pode fazer mais do que sozinha. (...) Em colaboração, a criança se revela mais forte e mais e mais inteligente que trabalhando sozinha, projeta-se ao nível das dificuldades intelectuais que ela resolve, mas sempre existe uma distância rigorosamente       

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Cada professora teve à sua disposição um mapa de Caxias do Sul. Devido à escala deles, as professoras tiveram dificuldade em encontrar na escola um espaço físico ocioso para guardá-los. Como a representação das casas dos alunos e outras atividades foram dispostas sobre os mapas, não poderiam dobrá-los. Para resolver esse empecilho, resolveram trabalhar, com as duas turmas de alunos, a mesma representação do município.

determinada por lei, que condiciona a divergência entre a sua inteligência ocupada no trabalho que ela realiza sozinha e a sua inteligência no trabalho em colaboração (VYGOTSKY, 2000, p. 329).

O estabelecimento das identificações e dos limites existentes no espaço geográfico, determinado pela ordenação territorial do município, foi demarcado pelos alunos com barbantes coloridos. Após identificarem o bairro onde moravam, os alunos estabeleceram seus limites com barbantes e fitas coloridas. Num município, os bairros são definidos por seus limites, suas funções, usos e relações que a população e a prefeitura nele desempenham. Essas relações estabelecem, no espaço urbano elementos de explicação do espaço de vivência dos educandos e a de sua totalidade. Inicialmente, essa relação foi estabelecida com a fixação das maquetes de suas casinhas nos seus respectivos endereços, Foram, então, coletivamente, questionados:

a) As casinhas ficaram todas no mesmo bairro? b) Quem ficou mais próximo da escola?

c) Qual bairro tem mais casinhas? Quantas? d) Quem ficou mais longe da escola?

e) Quem mora perto de quem?

f) Pela distância, quem demoraria mais para chegar até a escola? g) Quem demoraria menos tempo?

Ilustração 15 – Foto da representação das casas dos alunos dispostas sobre o mapa de Caxias do Sul.

Foto: P2, junho de 2009.

A representação das casas dos alunos e os questionamentos realizados permitiram a identificação dos espaços vividos, possibilitando comparações entre eles. Além disso, permitiu a elaboração de um gráfico que representou a quantidade de bairros residenciais existentes nas turmas.

Ilustração 16 – Gráfico elaborado a partir da identificação dos bairros dos alunos. Aluno: Vinícius Corrêa

De acordo com Gebran (1996, p. 91), a ideia inicial de levar o aluno comparar as casas e os bairros ocupados constitui um passo importante para a percepção do espaço, como é organizado e transformado pelo homem por meio de relações sociais e produtivas.

Para conhecer o bairro dos alunos, foi proposta uma atividade de reconhecimento dos diferentes elementos que o compõem. A atividade deveria ser realizada pelos alunos com suas famílias:

a) Qual o nome do bairro onde você mora?

b) Como é a paisagem do seu bairro? Tem árvores? Jardins? Construções? c) Como é a infraestrutura (rede de esgoto, água encanada, pavimentação, iluminação)?

d) Ele é um bairro movimentado? Há mais movimento de pessoas ou de veículos?

e) O que você mais gosta no seu bairro?

f) O que você gostaria que tivesse no seu bairro?

Ilustração 17 – Mapa de Caxias do Sul com a identificação do bairro da aluna Gabriela em contorno vermelho.

Ilustração 18 – Pesquisa realizada pelos educandos com suas famílias sobre o seu bairro. Aluno Vinícius.

Podemos destacar que utilizar o bairro como elemento de conhecimento sobre o espaço de moradia e circulação revela o cotidiano em que os educandos vivem. Como habitantes, praticamos no bairro ações e exercemos transformações em sua paisagem, uma vez que nele residimos, nos deslocamos e usufruímos de sua estrutura. O bairro, por ser um espaço que abriga seus moradores, permite aos estudantes que se compreendam enquanto partícipes e, a partir disso, ampliem o conhecimento sobre outros espaços que como o bairro, podem ser representados em plantas ou em mapas. O estudo do bairro como lugar para os estudantes é apontado por Callai (2003d, p. 61-62):

Por isso é importante que se estude o lugar. Um lugar que é nosso, que tem a nossa casa, os nossos amigos. Fazer a leitura do espaço próximo, aquele que materialmente faz parte do dia a dia, permite que se exercite esta leitura, o conhecimento e a compreensão do que está acontecendo. Ao reconhecer e estudar o lugar que nos dá a identidade, e nos permite reconhecer o nosso pertencimento podemos dar conta de duas tarefas. Uma delas é fazer com que o aluno se reconheça como cidadão de um determinado lugar que faz parte de um mundo maior. A outra é a aprender a fazer a leitura e análise do espaço, é construir para si, para a sua aprendizagem, a metodologia capaz de estudar espaços mais amplos, mais distantes fisicamente.

A partir do estudo do bairro, compreendem-se relações sociais que nele se revelam existentes na cidade e que possuem características referentes à estrutura física e urbana da cidade. Além disso, o bairro apresenta traços peculiares dos seus moradores na forma como organizam partes desse espaço.

Na análise dos alunos sobre os bairros onde moram se encontram particularidades que revelam diferentes épocas da cidade, com antigas e modernas construções que se destacam nas ruas, no comércio. Ao mesmo tempo, o próximo interliga-se com outras realidades temporais e espaciais distantes.

Os questionamentos feitos pelos estudantes e suas famílias referentes ao bairro possibilita que haja interpretações das vivências daqueles lugares. Esta abordagem geográfica contribui para a formação de valores e atitudes frente ao bairro, e, portanto, ao espaço. Como afirma Castrogiovanni (2003, p. 80), “a percepção espacial de cada sujeito ou sociedade é resultado também de relações de afetividade e referência sociocultural”. O aluno ao conhecer seu bairro passa a amá-lo e respeitá-lo como espaço público, indicando um caminho para a cidadania.