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1. O “ESPAÇO MUNDO” NA EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA

1.1 O LUGAR DE ENCONTRO DO INDIVÍDUO E SUA APRENDIZAGEM

1.1.4 Uma mediação: a linguagem

Por meio do conhecimento, a escola deve ser um espaço que promova realizações, deve ser uma esfera de vivências, deve apresentar realidades a serem compreendidas e transformadas por intermédio de reflexões. A educação é o encontro do sujeito com o mundo e com as leituras dele, efetivadas por meio da linguagem. Para Freire (1987, p. 44):

A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.

Os atos educativos manifestados e recebidos do mundo são operados pela linguagem, que é imersa em inúmeros códigos e signos (banners, propagandas, gestos, cadernos, mapas, livros, signos digitais e tecnológicos). Nesse sentido, “[...] o homem forma o mundo, cria a humanidade. E, neste ato formativo de construção do mundo que se manifesta como linguagem, revela-se a dimensão comunicacional inerente às ações pelas quais o homem estabelece sua relação com aquilo que ele próprio constrói” (BOMBASSARO, 1992, p. 13). Tal construção é imbuída de historicidade. São as ações que o homem realiza no tempo a fim de criar enunciados produzidos para a sua sobrevivência enquanto conhecimento e para a sua comunicação. Tanto a língua falada ou escrita como fatores de comunicação se fazem presentes em todos os povos no decorrer da história.

Dentre as formas de comunicação, a língua tanto escrita quanto falada, segundo Lyons (1981), é o modo de comunicar mais flexível e versátil que o homem conheceu desde a antiguidade. Pois, através deste canal de comunicação podemos estabelecer diferentes usos, funções e expressões necessárias à manutenção das relações sociais.

A língua pertence a uma relação espaço/temporal das necessidades biológicas de grupos sociais. Ela se realiza por meio de gestos e expressões vocais. A língua está em permanente evolução. Prova disso são as constantes inovações

gramaticais e lexicais, que se refletem no acréscimo de novas palavras aos dicionários, principalmente aquelas relacionadas ao contexto informacional7.

Segundo Marcuschi (2001), o ensino das línguas com o uso da oralidade e do letramento se faz necessário para que as práticas comunicativas e os gêneros textuais sejam encaminhados em um mesmo processo. Ainda que tal movimento (fala e escrita) esteja inserido nos diferentes usos da vida cotidiana. O autor compreende essa visão, que vê a escrita como contínua à fala, de perspectiva socio- interacionista. A vantagem dessa perspectiva é perceber a língua como fenômeno interativo e dinâmico. A fala dá-se pela manifestação da prática social e é adquirida naturalmente em contextos informais, nas relações sociais e nos diálogos, e é utilizada, posteriormente, durante o letramento de crianças. Assim, o indivíduo adquire a fala e o letramento, que são necessários para a sua relação com as outras pessoas.

Essa manifestação da linguagem é descrita igualmente por Bronckart (1999). Ou seja, as manifestações linguísticas são o produto da socialização herdada pelos seres humanos em contextos históricos e sociais. Assim, as representações semióticas, tanto escritas quanto faladas, são o resultado da interação social e organizam-se, definindo o contexto das atividades humanas e transformando-se permanentemente. A intervenção didática deve pressupor a articulação espaço- temporal, ao qual, os conteúdos estão vinculados. Segundo o autor, é no quadro de disciplinas escolares que, em conjunto, o trabalho com os educandos deve despertar o domínio de técnicas linguísticas dos grupos sociais do qual fazem parte e, assim, [...], “os instrumentos teóricos podem ser utilizados localmente e somente quando se revelarem pertinentes e eficazes.” (BRONCKART, 1999, p. 89).

A linguagem tem definido o objeto de explicação de conceitos e categorias de diferentes áreas e até mesmo operado como um importante elo de interdisciplinaridade.

Y también se podría decir, por ejemplo, como un hecho social o cultural en este caso, que nuestro tiempo es el tiempo de los lenguajes, el tiempo de la       

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Para Gadotti (2000, p. 5), a sociedade atual, além de operar com a linguagem escrita, se vale da linguagem da informática, que impregna o contexto social. Como exemplos, podemos citar as palavras mouse, scanner, chat, link, up-grade, drive thru, entre outras, utilizadas em nosso cotidiano, que não possuem tradução. Muitas destas palavras estão sendo incorporadas aos dicionários de vários países, principalmente dos subdesenvolvidos.

información y de la comunicación, el tiempo de la explosión de los sistemas de signos y de la proliferación de los medios de su circulación. Además, nuestro tiempo sería también el tiempo de la conciencia de la ubicuidad del lenguaje (LARROSA, 2001, p. 70).

A manifestação do mundo ocorre por meio da linguagem e a relação entre as pessoas para os debates, entendimentos e conflitos, igualmente manifesta-se por esse poderoso objeto de comunicação. O mundo, em diferentes circunstâncias, é operado por inúmeros códigos que tomam sentido, ao passo que se efetivam por meio das manifestações dos grupos que o emanam. Ao valorizar esse processo, Vygotsky (2005, p. 6) afirma: “uma palavra sem significado é um som vazio [...]”.

Para Larrosa (2001), a linguagem é a matéria-prima das nossas ações. A expressão do nosso pensamento, utilizando as palavras e o modo como as organizamos e as unimos, reflete a forma como encaramos o mundo e agimos nele. Essa posição e a compreensão dos movimentos por que passam o mundo e a nossa inserção nesse mundo passa sempre por uma interpretação. Para Larrosa (2001, p. 79), essa posição,

[...] implica también una responsabilidad con los nuevos, es decir con esos seres humanos que, en el lenguaje de todos, tienen que tomar la palabra, su propia palabra, esa palabra que es palabra futura e inaudita, palabra aún no dicha, palabra del por-venir. Introducir a los nuevos en el lenguaje es, por tanto, hablar y hacer hablar, hablar y dejar hablar.

O uso e a tomada da linguagem para a expressão da palavra possibilitam o emprego em diferentes contextualizações da vida cotidiana, em ambientes de trabalho, convívio e lazer. Para Maturana (2001, p. 27), o homem se constitui pela linguagem, pois ao receber as palavras dos outros passa a ser uma atividade de compreensão e de aceitação/confronto de posicionamentos diferentes. Enfim, os indivíduos tomam as palavras para se compreenderem no mundo e também nele sobreviverem. O ser humano participa ativamente desses processos por meio do trabalho, das ações e de suas ideologias. Mas Freire (2002, p. 23) alerta:

o fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História. Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre

barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.