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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Universidades

4.1.4 Aprendizagem da Dimensão do Trabalho Coletivo

Para Placco e Souza (2010, p.58), a aprendizagem do trabalho coletivo envolve relacionar-se, trabalhar com outros nas intenções e operacionalizações, desenvolver as relações profissionais como espaço para se trabalhar valores, diversidade e diferenças. Marsick e Watkins (2001) mostram que grande parte do que aprendemos acorre informalmente e de várias maneiras, como por exemplo, na interação interpessoal.

Foi observado nos dados das entrevistas que os coordenadores aprendem a trabalhar coletivamente nas interações realizadas em seu ambiente de trabalho, que envolve muitos e diferentes públicos cotidianamente.

Outra observação refere-se aos fatores que facilitam ou que oferecem obstáculos a essa aprendizagem; questões relacionadas ao ambiente de trabalho, como por exemplo a promoção de espaços para interações e o nível de pressão e estresse, ou questões relacionadas aos indivíduos, como o nível de qualificação e as diferenças individuais, são discutidas a seguir.

Para a discussão dos dados, optou-se por apresentar as relações que apareceram com maior frequência e intensidade. Dessa maneira, foram observadas as interações entre o coordenador e diretores, outros coordenadores, professores, alunos e o MEC.

A figura 15 apresenta o resumo dos resultados que emergiram da interpretação do conteúdo das entrevistas. Para demonstrar a aprendizagem do trabalho coletivo, serão discutidas essas interações, pontuando como podem facilitar ou dificultar esse processo:

Figura 15 - Processo de Aprendizagem Dimensão Trabalho Coletivo - Universidades Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas

INTERAÇÕES

Diretores

Alta qualificação e experiência Apoio dado às tarefas

Patrocinam espaços formais para interação Facilidades/Oportunidades Obstáculos Outros Coordenadores Periodicidades de encontros formais

Espaços informais para interação Troca de experiências com

coordenadores de outros cursos e de mesma área de conhecimento

Falta de feedback sistemático

Relacionar-se com diferentes perfis

Professores

Troca de experiência com professores altamente qualificados (experiência e titulação)

Boa resposta ao estímulo de desenvolverem-se

Espaços formais e informais para interação

Parte do grupo altamente comprometido

Atuação dos coordenadores como professores

Resistentes ao comando e a autoridade

Lidar com diferentes pontos de vista

Difícil aceitação inicial do coordenador por problemas de gênero, idade, mudança de papel

Alunos Diversas habilidades mobilizadas

para seu atendimento

Aprendizagem por variedade e complexidade de situações

Muito tempo do coordenador destinado ao seu atendimento Trazem diversos problemas

relacionados a outros setores Alunos que se consideram

clientes

Problemas relacionados ao perfil do aluno (poder aquisitivo)

MEC Muitas exigências

Mudanças constantes nos critérios de avaliação

Sobrecarga de trabalho durante as avaliações

AMBIENTE DE TRABALHO FAVORECE A APRENDIZAGEM

Patrocínio de espaços formais para interações

DIFICULTA A APRENDIZAGEM

Sobrecarga de trabalho dificulta as interações

Interação com outros setores Aumento de recursos / Maior

investimento no curso Coordenadores que são

avaliadores do MEC

TRABALHO COLETIVO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Interação com Diretores

Os coordenadores, ao se referirem aos seus diretores, mostraram que são profissionais altamente qualificados e com elevada experiência e titulação. A experiência dos diretores e a disposição em ajudar os coordenadores foram itens destacados pelos sujeitos. Os entrevistados sabem que, se procurarem seus diretores levando situações de difícil resolução, normalmente encontrarão subsídios para resolvê-las. Além disso, o fato de alguns diretores terem exercido a função de coordenador contribui para a relação entre eles:

Na coordenação [...] alguns diretores ajudaram bastante porque, na mesma época que eu entrei, três coordenadores foram promovidos para a direção. E esses coordenadores tinham, realmente, uma bagagem muito importante e fundamental ali na coordenação. Então, eles sempre nos ajudaram. [...] Eu consegui um apoio diretamente deles, no que era possível. (C1uni)

Alguns depoimentos referem-se ao apoio que recebem de seus diretores, como já transcrito anteriormente:

A comunicação com esse diretor é muito tranquila. Aliás, eu com ele e com todos os outros diretores. O que é ótimo é o acesso aos superiores. (C3uni)

Em todas as IES observadas existem reuniões semanais ou mensais entre coordenação e diretoria favorecendo essa interação.

Destaca-se a importância dos feedbacks que ocorrem de maneira informal entre direção e coordenação e, normalmente, após a realização de algum projeto ou de uma situação específica. O fato de não haver um processo sistemático de feedback é visto como um problema por C1uni:

Então, esse é um problema, porque a gente não tem, não recebe feedback. Não tem momento de avaliação direta para coordenador. Feedback pontual, sim. De alguma atuação. Parabenizando, alguma coisa. Pessoalmente, por e-mail. Mas não é constante [...] e quando você está errando você muitas vezes não percebe porque não vem o feedback diretamente.

Como observado nos relatos, a interação com os diretores contribuiu para o desenvolvimento dos participantes e, consequentemente, para a aprendizagem da dimensão do trabalho coletivo.

Interação com outros coordenadores

Nas universidades, a interação entre os participantes e outros coordenadores acontece em reuniões presenciais, promovidas pelas instituições e também em situações informais.

Esses espaços criados pelas IES para trocas e as características muito parecidas do trabalho entre os coordenadores favorecem a aprendizagem dos envolvidos.

Na visão dos entrevistados, a interação com outros coordenadores é importante e contribui para a reflexão sobre os processos e, consequentemente, a modificação de práticas:

A gente conversa, às vezes, sobre uma banca, sobre alguma particularidade que tinha no curso que a gente tentava trazer para o nosso. Trocando idéia, às vezes: “- Hum,

acho que isso aí é legal. Vou tentar no meu curso.” (C2uni)

Em duas universidades, as reuniões são realizadas por área de conhecimento, visto o grande número de cursos. Nas outras duas instituições, os coordenadores reúnem-se com outras áreas:

Por exemplo, dentro da área da saúde a gente conversava muito porque os cursos foram chegando. Os dois mais velhos eram Administração e Direito. Então, daí vão agregando outros. Então, a gente teve que conversar muito com todos. No primeiro momento a gente ficava agrupado a alguns coordenadores [...] Aí, depois, resolveram que iam colocar todos os coordenadores juntos. (C2uni)

Porém, em uma delas, o processo será alterado, o que foi considerado mais produtivo para o entrevistado:

A reunião é com a vice-reitora, praticamente todas as segundas-feiras. É uma reunião formal. Agora, ela falou que vai fazer por área porque, às vezes, essa reunião se estende [...] porque são todas as áreas: saúde, exatas e humanas. Então, ela pretende fazer por área. É mais produtivo. (C3uni)

Houve menção ao convívio, às conversas informais entre os coordenadores, que possibilitam a oportunidade de troca de experiências, levando à aprendizagem:

Dava tempo de trocas [...] quase todos os cursos estão à noite. Então, chega à noite, todo mundo estava junto [...] e quando sobrava um tempo você conversava, trocava ideia sobre os cursos, o que eles faziam e às vezes eram coisas que nós também poderíamos adotar. (C2uni)

Nessas interações, relatam que a necessidade de lidar com os diferentes perfis torna a relação com outros coordenadores mais difícil. Outra questão refere-se às diretrizes dadas por algumas IES, como a padronização entre diferentes campi, que foi abordado na seção anterior,

contextualização das IES e que leva C1uni a conviver com situações de maior nível de estresse:

Então, dificuldade [...] Nessa relação, assim... Talvez por ser uma instituição grande [...], o que pode dificultar [...] é que eles querem que tenha o mesmo padrão [...], só que envolve pessoas diferentes, realidades diferentes, momentos diferentes. E, nem sempre, você consegue. Essa articulação é um pouco dificultosa porque você tem que, primeiro, articular com os pares de campus diferentes para, depois, solicitar um aval, um parecer da diretoria [...] tem algumas resistências para fechar algum projeto. Nem todos concordam. Então, isso dificulta um pouco. (C1uni)

Foram observadas maiores facilidades na interação entre os coordenadores do que obstáculos. Todas as universidades observadas favorecem essa relação ao promoverem, sistematicamente, espaços para encontros formais.

Interação com professores

Dentre as diversas interações citadas, a relação com o professor foi a mais referenciada. Muitas situações foram apontadas, ressaltando a intensidade das experiências vividas entre coordenadores e professores.

A gestão da equipe de trabalho, com ênfase na habilidade em lidar com pessoas, motivando-as, foi destacada pelos coordenadores como um grande desafio e mencionam que aprendem a trabalhar com este público a todo o momento.

Tem que ter habilidade para lidar com pessoas [..]. Então, é bem difícil o gerenciamento de pessoas... E mantê-los motivados. A gente depende deles em sala de aula, fazendo o trabalho da forma como deve ser. (C1uni)

A minha habilidade é essa, é trazer o professor para perto de mim [...]. Eles não têm um chefe ou um líder. Eles têm um parceiro porque tudo aquilo que acontece de bom aqui é repartido, o mérito não é meu. O mérito é do curso. Eu sou apenas o regente. (C3uni)

Um dos entrevistados considerou que para exercer a função de coordenador foi necessário aprender a lidar com diferenças, conciliando visões distintas:

Porque as perspectivas de cada um são diferentes, a ótica de cada um é diferente. Tudo isso é uma dificuldade, mas é natural. Só que tem hora que você tem que bater o martelo. (C4uni)

C1uni mostra a necessidade de se colocar no lugar do professor, para trabalhar melhor o relacionamento com sua equipe:

Eu tenho muita facilidade nesse relacionamento com os professores. É bem tranquilo. Eu me coloco muito na posição deles, assim, o tempo todo. Temos essa empatia, porque eu acho que isso é importante para o coordenador. Se você perde isso, aí você não consegue trabalhar como deveria.

Outra preocupação dos coordenadores é com o incentivo ao desenvolvimento de seus professores. Para eles, um professor mais preparado desenvolverá seu trabalho com mais qualidade, trazendo reflexos positivos para o curso:

A gente incentiva muito os professores a se capacitarem. Não necessariamente nas capacitações que ocorrem aqui porque as reuniões também servem de capacitação. Quem, por exemplo, está fazendo a especialização, aconselhamos que faça o mestrado. Porque a gente considera que, na pior das hipóteses, quando você tem um corpo docente titulado, o nível das aulas melhora, o nível do conteúdo melhora, a inteligência do curso melhora. (C4uni)

Segundo os coordenadores, as interações ocorrem em situações formais, como por exemplo, nas capacitações oferecidas pela IES, nas convenções e em reuniões entre professores e coordenadores, mas também informalmente, como em conversas nos intervalos das aulas ou até durante um café:

A gente sempre estava conversando, não é só na reunião de colegiado. Porque se você deixar só para a reunião de colegiado é muita gente para pouco tempo, para a gente poder conversar. (C2uni)

Aqui do lado da minha sala é a sala dos professores. Eles vêm para cá, então eu não preciso nem fazer reunião. Eles estão aqui todo dia. (C3uni)

Faz-se necessário observar o perfil dos profissionais que os coordenadores lideram que são considerados como possuidores de saberes plurais, compostos e heterogêneos, bastante diversificados e provenientes de fontes variadas (TARDIF, 2000). Os pesquisados buscam seus professores mobilizando esses saberes para a melhoria do curso, evidenciado nas falas dos sujeitos:

Porque, às vezes, eu conversava com os professores. Os pedidos que fazia para eles eram, por exemplo: “-Bom, vamos dar uma revitalizada no curso. O que é que vocês

acham que a gente tem que colocar de assuntos?” (C2uni)

Eu tenho um professor que me ajuda na parte de pesquisa, [...] no fim ele acaba me ajudando nas atribuições de coordenador [...]. Os professores ajudam até no sentido de você levar uma ideia e eles não concordarem, porque a diversidade tem que existir. (C4uni)

Essa diversificação de saberes provoca maior incidência de conflitos nas relações interpessoais entre coordenadores de curso e professores. Para Mezey (2003), os professores universitários, como intelectuais que são, quase que instintivamente resistem em ser comandados e à autoridade hierárquica, pois sendo profissionais altamente qualificados, pensam por si mesmos e têm orgulho de sua autonomia de pensamento.

Alguns professores são a fogueira das vaidades. Um acha que é melhor que o outro ou porque fez mais curso que o outro ou porque sabe mais a matéria que o outro. (C3uni)

Os coordenadores estão constantemente aprendendo a lidar com essas tensões, percebidas em alguns depoimentos:

Tem que ter habilidade para lidar com pessoas, que é a questão da vaidade. É o que realmente me atrapalha nesse trabalho [...] Então, a gente tem que ter habilidade para lidar com essa questão. É bem difícil o gerenciamento de pessoas. (C1uni)

Outro problema apresentado refere-se à aceitação desses coordenadores por parte dos professores ao assumirem seus cargos, apontado por um dos coordenadores. Pelo fato de ser mulher, houve inicialmente a não aceitação de sua liderança por parte de alguns professores, o que foi solucionado após algum tempo de convivência com o grupo de trabalho:

No primeiro momento, foi muita resistência por ser mulher, porque só tinha coordenadores homens, daí tinha a primeira barreira. Mas aí, na hora que você começa a conversar, você vai mostrando seu trabalho [...] Um, dois anos depois, já não tinha mais problema. (C2uni)

Também foi observada a mudança no relacionamento quando o professor passa a assumir uma coordenação:

Uma dificuldade, assim, que eu consegui conviver bem, mas é, realmente, algo que desconforta: é a questão do relacionamento com o professor. Que era um, enquanto professora, e que, por mais que você queira manter quando você passa para a coordenação, não tem como. Então, você tem que se posicionar, muitas vezes, e os colegas não entendem. Acabam se afastando de você e você tem que lidar com isso. Eu digo que: “-Bom, vamos lá: a proposta é contribuir.”. (C1uni)

Apesar das adversidades, os entrevistados apresentam a preocupação em proporcionar condições de trabalho adequadas e justas. O apoio necessário em casos de conflitos com alunos, a entrega com antecedência do horário para que o professor possa se organizar e planejar suas aulas, entre outras situações, foram citadas:

Às vezes, começavam as aulas e não estava fechado o horário. Então, os professores não sabiam da atribuição. E isso sempre foi uma briga [...] anos brigando por causa disso, porque o professor quer sair de aula, de férias, sabendo a disciplina. Ele podia preparar, renovar, fazer alguma outra coisa e você já saber. E as pessoas não trabalham em uma instituição só, não é verdade? (C2uni)

Os coordenadores mostraram-se muito próximos de seus professores, exemplificado no depoimento abaixo:

Uma facilidade é que eu conheço muitos professores lá na casa. Assim, estamos sempre com as portas abertas. A gente nem tem porta na nossa sala. (C1uni)

Em todos os casos, os sujeitos contam com um grupo de professores altamente comprometido que os auxiliam em suas atribuições. Essa ajuda normalmente acontece sem remuneração, contando apenas com a “boa vontade” de alguns professores e mostrou-se essencial para que o coordenador consiga atingir os objetivos propostos pela IES:

Sempre tem um grupo que apoia [...]. A coordenação é como um time, o time tem 11 titulares e de vez em quando um vai para o banco e depois volta. Aqui é a mesma coisa. Então eu tenho os meus titulares, são pessoas com quem eu conto [...] E tem aquele que se um dia eu ganhar na Sena sozinho, eu vou indicar para ser o meu sombra, para eu só dar aula. (C4uni)

Quanto aos professores, a minha estratégia é a seguinte, primeiro: o curso não sou eu, nem é meu. O curso é um conjunto, eu, sozinho, não faço nada. (C3uni)

Uma das entrevistadas relata o desconforto desse tipo de situação:

A ajuda era informal. Nunca pagaram nada. Nunca. E por isso que, às vezes, a gente acaba não centralizando por ser centralizador; mas a gente acaba centralizando porque você não consegue alguém que ajude. Então, tem um limite que você pode pedir de boa vontade. [...] (C2uni)

Outra forma de aprendizagem refere-se ao fato desses coordenadores também serem professores. Para alguns, a experiência os auxilia a compreender as dificuldades dos docentes, já outros comentam que, na sala de aula, conseguem perceber problemas que, se estivessem apenas na coordenação, não perceberiam:

Eu acho importante você dar aula, porque muitas vezes tem reclamações que vêm e são pontuais. O problema não é o professor, muitas vezes é a turma. E você começa a descobrir o seguinte: você é professora, você vai muito bem com cinco turmas, de repente, começa a dar problema em uma determinada turma. Eu vou ver, o problema não é você. Muitas vezes é o professor, mas às vezes o problema é a turma. (C3uni)

Interação com alunos

Na análise da relação que se estabelece entre alunos e coordenador, destaca-se que uma grande parte do tempo dedicado à coordenação destina-se ao atendimento ao aluno. São demandas de diversas naturezas que absorvem parte considerável de seu dia.

Além dos assuntos inerentes à coordenação, os participantes precisam lidar com a resolução de problemas de alunos relacionados a outros setores:

Às vezes, você tem alunos bons, que têm problemas financeiros. Não é comigo, mas a gente encaminha, a gente manda e-mail para a diretora: “-Olha, esse aqui é um

Muito citado pelos sujeitos foi o perfil dos alunos que recebem. Alguns deles veem-se como clientes e passam a fazer exigências, que na visão de alguns entrevistados, não são pertinentes a esse ambiente. Outra observação refere-se à maneira como esses alunos se colocam quando buscam a resolução de seu problema:

Porque foi mudando o perfil do aluno. [...] o perfil do aluno, hoje, que eu também não sei se você está sentindo, é aquele aluno que está chegando, que não sabe ouvir. (C2uni)

Por outro lado, outra característica encontrada diz respeito à classe social desses alunos. Verificou-se nas instituições dos sujeitos desta pesquisa que recebem alunos de classes B até D e o quanto são diferentes, conforme depoimento:

A gente tem uma, eu não tenho um número exato, mas eu tenho muitos alunos de Escola da Família, Prouni. São perfis diferentes. Ou seja, a gente tem em cada campus características culturais diferentes que envolvem o aluno. (C4uni)

Os problemas que surgem não se caracterizam pela rotina, são variados e alguns envolvem um grau de complexidade elevado, o que pode ser confirmado em um dos relatos:

Por exemplo, teve um caso de uma aluna que tem câncer, mas ela é uma lutadora, está fazendo quimioterapia, ela entrou com processo de tratamento. A gente está acompanhando tudo, conversa com ela. E ela mandou um e-mail para mim, dizendo se ela podia vir fazer a prova no segundo horário, porque ela está em casa, está aguardando autorização médica para fazer a radioterapia: “-Mas, professor, eu estou

bem mesmo.” Eu cheguei e falei: “- [...] eu vou submeter, porque eu não vou

atravessar a comissão que organiza a prova.”

Mas, só que qual é a preocupação dela? Olha que legal, isso faz ela viver. Ela fala que ela quer fazer a prova, porque se ela deixar para fazer depois, ela vai perder conteúdo e ela quer voltar. E a gente bateu o martelo. (C4uni)

Os participantes citam que esses desafios fazem com que aprendam a lidar com esse público a todo o momento. Eles precisam sempre considerar as diferenças e usar de flexibilidade para atender as diversas demandas encontradas.

Interações com o MEC

Além da relação direta entre coordenador e MEC, a escolha por discutir essa interação também se deveu ao fato de que muitos públicos são mobilizados e interagem com o coordenador de curso durante o processo de autorização, reconhecimento ou renovação de reconhecimento de seu curso.

O MEC é o órgão responsável por autorizar, reconhecer e avaliar periodicamente os cursos em andamento e o coordenador do curso é o responsável por apresentar a maior parte das informações aos avaliadores. No entanto, além de coordenadores, os avaliadores interagem com professores, alunos, direção e, por vezes, funcionários administrativos.

Essa relação foi muito apresentada nas entrevistas. Todos os participantes já tiveram contato com comissões de avaliação de seus cursos e dois deles também são avaliadores de cursos pelo MEC. Ambos demonstraram que essa experiência foi extremamente relevante para a sua gestão, pois são capacitados pelo MEC a observarem os fatores imprescindíveis para um curso de qualidade, visão esta que acaba sendo repassada ao seu próprio curso. Um dos entrevistados ainda se referiu à importância de se conhecer outras práticas nas IES avaliadas e o quanto aprendeu ao participar desse processo.

O MEC solicita que seja avaliado, além do curso propriamente dito – que acontece por meio de seu projeto pedagógico e de seu corpo docente, a infraestrutura oferecida pela instituição, verificando se ela está adequada para o bom funcionamento do curso.

Para que isso aconteça, todos os departamentos precisam estar alinhados, conhecendo o que é solicitado e atendendo às exigências impostas pelo MEC.

Para C2uni, esse é o público mais difícil de trabalhar:

O MEC é muito difícil porque eles ficam mudando de ideia toda hora. Então, na