• Nenhum resultado encontrado

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 Faculdades

4.2.4 Aprendizagem da Dimensão Trabalho Coletivo

A aprendizagem do trabalho coletivo dos coordenadores das faculdades acontece fortemente nas interações realizadas em seu ambiente de trabalho.

Para a discussão dos dados, serão apresentadas as relações que apareceram com maior frequência e intensidade. Assim, serão discutidas as interações entre o coordenador e diretores, outros coordenadores, corpo técnico-administrativo, professores, alunos e o MEC.

A figura 19 apresenta o resumo dos resultados encontrados:

Figura 19 - Processo de Aprendizagem Dimensão Trabalho Coletivo - Faculdades Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas

INTERAÇÕES

Diretores Alta qualificação e experiência

Apoio dado às tarefas Facilidade de acesso

Facilidades/Oportunidades Obstáculos

Outros Coordenadores

Troca de experiências com coordenadores de outros cursos Espaços informais para interações

Falta de feedback sistemático Patrocínio de poucos espaços

formais para interação Fácil acesso de professores e

alunos à direção resulta em decisões sem a ciência do coordenador

Fomento ao tratamento do aluno como cliente

Poucos espaços formais para trocas de experiências

Pouco ou nenhum contato com coordenadores da mesma área de conhecimento para trocas

Professores

Trocas de experiências com profissionais qualificados Espaços informais para interação Parte do grupo altamente

comprometido Trazem experiência de

“mercado” para a sala de aula

Atividade de docência do coordenador permitiu melhor aceitação dos professores

Pouco investimento em encontros formais para interação

Baixa titulação e experiência acadêmica

Parcialmente resistentes ao comando e a autoridade Difícil aceitação inicial do

coordenador por problemas de gênero, idade, mudança de papel

Alunos

Diversas habilidades mobilizadas para seu atendimento

Aprendizagem por variedade e complexidade de situações Maior proximidade do aluno

facilita a antecipação de problemas

Muito tempo do coordenador destinado ao seu atendimento Trazem diversos problemas

relacionados a outros setores Alunos que se consideram clientes Problemas relacionados ao perfil

do aluno (idade, poder aquisitivo) Fácil acesso à direção para

resolução de problemas

MEC Muitas exigências

Mudanças constantes nos critérios de avaliação

AMBIENTE DE TRABALHO DIFICULTA A APRENDIZAGEM

Pouco patrocínio a espaços formais para interações Sobrecarga de trabalho dificulta as interações

Interação com outros setores

TRABALHO COLETIVO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Contato com profissionais que possuem sólida experiência e conhecem os processos da IES IES menores facilitam o contato Rápido retorno de solicitações

Excesso de atribuições pode dificultar a troca de experiências Sobrecarga de trabalho durante as

avaliações

Corpo Técnico- Administrativo

Interação com Diretores

As relações com os diretores foram relatadas por todos os coordenadores entrevistados. Como mencionado anteriormente, pelo menor porte da instituição o acesso à direção é mais facilitado:

Eu não tenho dificuldade. Eu posso falar que a direção é excelente. Porque a porta está sempre aberta, você vê, entra e acabou. Eu não tenho o que reclamar. (C5fac)

Para C6fac seu diretor foi primordial para que pudesse aprender suas atividades: Quem mais me ajudou foi o diretor [...]. A gente sentava. Como é só ele, a gente tem uma relação muito direta. Então eu dizia: “-Professor, vamos sentar, eu não estou

entendendo.”

C7fac também destaca que o diretor o ajudou quando assumiu a coordenação:

Eu tive muito apoio [...] do diretor geral que já estava, conhecia, sabia das minhas dificuldades. Ele deu muito apoio.

Em uma das instituições, a coordenadora recebe a ajuda do diretor para revisar o projeto pedagógico de seu curso:

O projeto de ADM já estava pronto. Então, fui responsável por passar pelo MEC para o reconhecimento. [...] Mas nós temos a responsabilidade. Nós trabalhamos em grupo para isso, em equipe, juntamente com o diretor porque aqui você tem estrutura: o mantenedor, o diretor e a coordenação. Então, você trabalha direto com o diretor para você fazer essa revisão. (C6fac)

C6fac detalha o tipo de relação que mantém com seu diretor e ressalta a experiência e qualificação desse profissional, que também é avaliador do MEC:

Também uma relação muito aberta, se ele não gosta, ele fala. Se eu não gosto de algumas coisas, eu falo. Essa relação ajuda se eu estou em dúvidas. Ele também é avaliador do MEC. A gente discute, tem um olhar diferente. Então, a gente senta, discute: “-Olha, eu estou com isso aqui, estou com dúvida. Vamos analisar. Olha,

como é isto?” E ele tem uma experiência de direção enorme. Foi nomeado diretor.

Trouxeram porque ele foi diretor muito tempo de uma outra instituição, onde o dono dessa faculdade era um dos donos e era uma grande. Então, ele veio junto por causa mesmo de conhecer.

Em alguns casos, essa interação gera tensões, geralmente ocasionadas por diferentes maneiras de tratar os diversos públicos com os quais interagem. A abertura que a direção dá, recebendo alunos e professores e tomando decisões juntamente com eles, sem o conhecimento do coordenador, foi mencionado por dois participantes:

E acontece dos alunos virem direto ao diretor [...] Eles têm acesso. [...] Esse é até um problema que a gente vive relatando: “- Olha, tem que existir uma hierarquia.” E a gente fala: “- Não receba assim. Não era para conversar com a gente? [...] se eles

querem vir para cá, manda para lá, aí não tem mais como recorrer. Fica uma

situação difícil”. (C8fac)

Por exemplo, às vezes você tem um professor, como é muito aberto, de repente o diretor chama o professor e trata uma coisa que eu não sei e eu vou saber depois. [...] porque o professor chega para mim e fala assim: “-Ah, professora, eu estou fazendo

isso aqui.” Mas, eu não estou sabendo. Eu chego pro diretor e falo: “-Professor,o

que é isso? Eu não estou sabendo.”, “-Desculpa, deveria ter te avisado.” Porque

vai direto. (C6fac)

Como abordado na discussão sobre o ambiente, as orientações quanto ao tratamento dispensado ao aluno são explicitadas pela direção e questionadas por C8fac, referindo-se ao clientelismo que subjaz nesse ambiente.

Ao questionado sobre o público mais difícil de trabalhar, C8fac aponta que é com seus superiores:

Com os superiores. É aonde eu tenho mais conflito porque, com aluno, eu acho que eu consigo lidar bem, assim. Mesmo com os professores.

C8fac disse que, ao assumir o cargo, tinha várias ideias e que, com o passar do tempo, compreendeu que não adiantava tentar implementá-las, que muita coisa não conseguiu realizar naquele ambiente.

C5fac responde ao coordenador geral e menciona que procura o diretor apenas quando estritamente necessário. Ainda ressalta que o contato mais próximo com este acontece de maneira diferente, dependendo do coordenador.

Nas faculdades as reuniões formais com a direção acontecem com menor frequência. Em uma delas, apenas quando são convocados.

Os feedbacks ocorrem de maneira informal e não sistemática entre direção e coordenação e, normalmente, após a realização de algum projeto ou de uma situação específica:

Feedback? Sim, se alguma coisa não está saindo bem, projetos. Se está bom, se não

está bom. E não é que você tem um feedback: Se ficou bom, ele fala. Isso acontece. Então, em algum momento: “-Olha, gostei disso, não gostei disso. Vamos ver isso

aqui, verifica aqui. Você fez?” Então, isso é uma coisa normal. E ajuda. Acho que

Por serem ambientes menores, os coordenadores nas faculdades vivenciam mais as experiências com seus diretores e, provavelmente por isso, apontaram mais fragilidades do que as observadas nas universidades.

Interação com outros coordenadores

Nas faculdades, a interação entre os participantes e outros coordenadores acontece em reuniões presenciais promovidas pelas instituições e em situações informais.

Tenho contato com os outros coordenadores de corredor e nessas reuniões que a gente faz com o diretor, também os outros coordenadores estão presentes. Mas não existe um momento aqui dos coordenadores, formalizado. (C8fac)

As reuniões formais entre eles são realizadas com menos frequência do que nas universidades, chegando em uma delas a se reunirem duas vezes por semestre. Porém, por terem menos cursos, delas participam os coordenadores de todas as áreas.

Nós nos relacionamos bem, ficamos juntos, um respeita muito o outro. Eu não tenho muito contato com eles porque eles são de Letras e Pedagogia, cada um na sua área. Mas, nós nos damos super bem, quando tem que resolver um problema geral, que é da instituição, nós sentamos e conversamos. Por exemplo, os projetos, não o projeto de cada curso, mas o projeto, o PPI, que é da instituição, sentamos todos e debatemos. Juntos. Os macros, juntos. (C6fac)

As interações que acontecem informalmente destacaram-se nesses ambientes e foram percebidas como importante meio para troca de experiências:

(E dá tempo de troca de experiências entre os coordenadores?) Sempre dá, porque os coordenadores se dão muito bem, então a gente sempre consegue. A gente sai para um café. Sabe aquela coisa informal que se insere? (C5fac)

Algumas características do trabalho que realizam são comuns aos coordenadores de outros cursos, e a troca entre eles favorece a aprendizagem. Para C7fac, a ajuda de outros coordenadores foi fundamental para seu aprendizado:

Quem me deu apoio foram os outros coordenadores de outras áreas que são bem mais antigos do que eu, também recorro neles.

Não foram relatadas tensões na interação entre os participantes e outros coordenadores, provavelmente pelo pouco patrocínio de encontros formais.

Interação com professores

A relação entre o coordenador e os professores foi muito destacada. Segundo dados das entrevistas, as interações entre os coordenadores e professores em situações formais ocorrem nas reuniões realizadas uma vez por semestre. Em duas faculdades, há flexibilidade para a convocação dos professores para reuniões, conforme a necessidade.

Já os encontros informais acontecem com grande frequência:

As reuniões acontecem duas vezes por semestre. Normalmente, no início e no final do semestre. O que não impede de conversarmos. Todo dia eu tenho contato com o grupo de professores daquele dia. Então, eu já converso com eles, vejo alguma dificuldade com aquele grupo. (C7fac)

É muito de partilhar, somos muito de um falar aquilo que pensa. E assim, eu dou muita abertura, eu não gosto, eles não gostam, a gente senta, a gente conversa. Esse acesso tem que ter sempre. (C6fac)

C5fac destaca os contatos realizados por e-mail, ressaltando a importância dessa ferramenta para a comunicação com seu grupo:

É uma das partes mais difíceis, essa coisa de você passar as informações. Para mim, quem entra na minha responsabilidade é corpo docente. Corpo docente, normalmente, depois que são admitidos, que foi tudo aprovado, eu chamo e tenho aquela conversa aqui tentando pontuar o máximo possível, mas eu costumo trabalhar muito por e-mail. Então, eu tenho umas infinidades de e-mails aqui de todos os professores, dependendo das necessidades. Até porque, como eu transito nos dois campi, não é exatamente o mesmo corpo docente. Como varia, então, eu trabalho muito por email. Daí, eu sinalizo eles o tempo todo, eu falo: “- Estou incomodando

você.” Eles falam: “-Não, é até bom.” Mas, lógico, por mais que você faça, sempre

tem alguma coisa que escapa, alguma coisa que você lembra depois, ou que acontece depois, então eu sempre estou trocando emails com eles. Eu acho que é uma coisa que funciona bem. Lógico que sempre tem aquele que nunca vai ler. Mas você pode dar no papel que também nem todo mundo vai ler.

Os participantes também atribuem grande parte da responsabilidade pelo sucesso de seu curso aos professores, exemplificado no depoimento de um dos sujeitos:

Na realidade, não é o coordenador que leva o curso: são os professores que levam o curso. Não adianta fazer um belíssimo projeto e os professores não abraçarem esse projeto. Quem está dentro da sala de aula é que comanda o curso, não adianta. (C7fac)

A gestão da equipe de trabalho, com ênfase na habilidade em lidar com pessoas, foi destacada pelos coordenadores como um grande desafio. C7fac mostra como trabalha com esse público e aprende com eles:

O processo de liderança é uma habilidade que você tem que trabalhar muito bem. Eu acho que, assim, o coordenador é bom naquele momento que ele consegue se relacionar bem com os professores. Eu procuro fazer a chamada política da boa

vizinhança. Assim, eu procuro ser amigo de todo mundo, procuro compreender as limitações, peço para que eles compreendam as minhas. Aprendo com eles. Sou uma pessoa, assim, aberta à mudança, aberta a conselhos, a opiniões. Eu levo mais dessa forma.

A aceitação do coordenador ao assumir o cargo e, em um dos casos, também durante a sua gestão, envolve conflitos como a aceitação pela equipe de professores de um coordenador que era professor da instituição, pelo fato de serem muito novos e até problemas relacionados a gênero:

Uma das grandes dificuldades que eu tive na coordenação é que quando eu comecei, eu era muito nova. Então, a questão da idade, acho que pesa nessa situação, tanto para os professores quanto para os alunos. Como professor é uma das poucas profissões que não tem idade, e quando você é muito nova, eu acho que é um problema. Eu tinha uns 30 e poucos. Então, foi uma situação que eu acho que foi meio difícil, de aceitação difícil. Eu acho que mais até por parte do corpo docente do que dos alunos praticamente dito. Porque, os alunos, acho que até pelo contrário, aproximava porque ter um professor mais jovem aproxima, não afasta. Mas essa foi uma barreira grande com os professores, foi grande mesmo, uma dificuldade grande. (C5fac)

Eu acho que um dos problemas que eu encontro às vezes com alguns docentes é que alguns não aceitam que você diga que algo não está bom. Então, o que eu sinto com alguns é levar muito para o lado pessoal. [...] E tem uma coisa, com alguns eu sinto isso por eu ser mulher e a maioria é homem. Eu tenho pouquíssimas professoras mulheres, se eu tiver umas quatro é muito. A maioria é tudo homem. (C6fac) Ah, no começo é bastante difícil. Principalmente porque você saiu do professorado e você passa a ser visto de uma outra forma pelos seus próprios colegas. Então, a própria aceitação por parte dos colegas é difícil. [...] Não quero dizer uma palavra forte, mas a própria submissão... Não é bem isso. A questão hierárquica. [...] as pessoas acabam misturando um pouco. (C7fac)

C8fac, ao assumir o cargo, não enfrentou dificuldades: segundo o entrevistado, essa facilidade refere-se ao fato de que já era professor da casa e o grupo o conhecia:

E, aí, a questão dos professores foi assim: “-Olha, que bom que você é da casa.

Então, não vai ter grandes mudanças.” Porque o receio dos professores era que

viesse um novo coordenador, trazer o grupo, a panela. Eles gostaram. Na verdade, foi engraçado mesmo. Porque eu sou um professor que atrasa, sempre, as entregas.

“-Eu não vou mentir para o senhor, que esquece, que atrasa.” Eu tinha me

arrependido de aceitar. Por isso que quando acabou virando a dobradinha com o outro coordenador, eu achei sensacional. (C8fac)

Outra questão identificada em algumas faculdades refere-se ao professor com maior vivência no mercado de trabalho. Para C8fac, essa experiência é fundamental e fortemente considerada na contratação de seus professores:

O professor precisa, ao mesmo tempo, ter essa formação e ser um cara de mercado. Esse é o nosso perfil.

Porém, C6fac encontra dificuldades em trabalhar com professores que tenham apenas experiências em empresas. Como não possuem mestrado ou doutorado, não trazem conhecimentos acadêmicos que são importantes para o curso:

E você tenta trabalhar. Por exemplo, às vezes tem trabalhos de conclusão de curso, que por não ter o mestrado, tem alguma dificuldade na parte metodológica do trabalho. [...] Um pouco também essa parte mais acadêmica de alguns docentes, que falta. [...] a gente pede: “-Olha, precisa de mestres.[...] Então, eu sinto assim, que essa visão às vezes acadêmica falta. Visão de mercado ele tem muita, mas você tem que ter uma visão acadêmica.

Também o fato de ocuparem altas posições em empresas contribui para a resistência de alguns professores ao comando, observada em uma das instituições:

Você tem aqueles docentes que... Eu acho que um dos problemas que eu encontro às vezes com alguns docentes é que alguns não aceitam que você diga que algo não está bom. Então, o que eu sinto com alguns é levar muito para o lado pessoal. Até porque como são muitos de mercado. Assim, eu sinto às vezes em alguns, a vaidade profissional, porque têm um certo cargo na empresa. Mas, são poucos, são muito pontuais. E você tenta trabalhar. (C6fac)

Pode-se perceber que o perfil dos professores identificado por Tardif (2000), com saberes plurais e altamente diversificados, bem como a resistência ao comando pela alta qualificação e autonomia de pensamento proposta por Mezey (2003) aparecem parcialmente nas faculdades, talvez pelo fato de terem pouca experiência e formação acadêmica.

Os coordenadores relatam a existência de professores nucleadores, profissionais com maior titulação e experiência que os auxiliam com o projeto do curso. Mesmo assim, ainda contam com alguns professores que se comprometem com o trabalho, auxiliando-os normalmente sem remuneração, assim como visto nas universidades:

Os professores que fazem parte do núcleo docente são pessoas muito, muito, muito, muito, muito disponíveis e dispostas. Embora tenham outras atividades fora ter que dar aula, são pessoas que estão sempre querendo participar, querendo melhorar. Então, eu acho que tem muito mais a ver com a personalidade da pessoa do que qualquer outra coisa. [...] Esses professores que são participativos [...], tudo que você imagina, propõe, o cara vem e te dá um retorno ou tem outra ideia em cima da tua ideia, ou uma coisa diferente. São pessoas diferenciadas. Que sempre estão ao teu lado. Soldados (C5fac)

Sempre tem um grupo que você divide mais. Não que eles sejam mais próximos, mas você sente mais facilidade. (C6fac)

Mesmo assim, alguns ainda encontram dificuldades com a falta de envolvimento de uma parte do grupo:

Têm professores que são omissos o tempo todo. Então, assim, há dificuldade. (C5fac)

Na análise das entrevistas apenas um participante trouxe comentários relacionados à sua experiência como docente e sua contribuição para a gestão dos professores, além disso, a reflexão sobre incentivos ao desenvolvimento de sua equipe não foi observada nesses ambientes.

Interação com alunos

Nesses ambientes, segundo a análise dos dados, também foi destacada a intensa demanda advinda dos alunos, representando boa parte do tempo que os coordenadores dedicam à coordenação.

Por isso, você trabalha muito fora do horário daqui, você trabalha fora do horário. [...] tem dias que você entra na sala de coordenação e o aluno te segue. Como eu te disse, o aluno tem uma certa carência, o nosso público. Então, ele precisa, ele quer falar com você, ele quer ser atendido na hora e reivindica demais as coisas. Então, qualquer coisa é motivo de reclamação, porque eles são muito exigentes, é um público extremamente exigente. É muito interessante, é muito exigente. Então, você tem que estar assim, toda hora verificando o que acontece. Se eles não gostam, tem um professor que eles acham que não é bom. Eles não estão gostando do tipo de aula, eles vêm e te falam: “-Não estou gostando por causa disso.” Então, eles te solicitam muito. (C6fac)

Os alunos os procuram levando problemas que nem sempre são de responsabilidade dos coordenadores, demandando ainda mais de seu tempo:

Me procuram, sim. Se tem um problema, que a sala é pequena: “- a sala é

pequena.”, [...] Então, eles procuram. E até problema, às vezes pessoais, alguns

procuram. No financeiro eu já falo: “-Olha, gente, não tem jeito.” Mas, assim, faltas: “-Eu faltei porque a minha mãe ficou doente.” Eu também não tenho como, isso você não tem autonomia, porque falta é falta. Então, eles às vezes procuram por esses problemas. (C6fac)

O problema é assim: aluno é sempre aluno. Então, ele acha que coordenador é Deus e ele vai ter que resolver porque ele manda na faculdade. É mais ou menos por aí. Ah, desde: “-Olha, posso usar a quadra?” Que eu não tenho nada a ver com a quadra de futebol, sou professor de administração, não de educação física. Até o lanche da lanchonete que não presta: “-O senhor tem que mandar trocar.” Não é brincadeira, não. Eu falo: “-Olha, eu não tenho nada a ver com isso. Eu vou levar

isso para a direção. Quem alugou o espaço foi a direção. Nem a direção tem a

culpa disso, você entendeu? Mas eu vou levar o seu pedido.” Você não pode deixar

sem resposta. E, aí, às vezes, você acaba incorporando algumas coisas que não são suas. (C7fac)

O perfil atual dos alunos que recebem também foi bastante enfatizado. Foram apontadas grandes diferenças dependendo de sua faixa etária e de seu poder aquisitivo.

Está mudando bastante o perfil. Antes, a gente tinha um perfil de aluno que era um pessoal mais velho que trabalhava. Só que a gente tem visto, nos últimos anos, uma