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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Universidades

4.1.5 Aprendizagem da Dimensão Política

A Dimensão Política apresenta-se no indivíduo como uma valorização e percepção de seu papel social, buscando conhecer e analisar criticamente a realidade para contextualizar os conteúdos e as formas de trabalho que desenvolve (PLACCO; SOUZA, 2010; PLACCO, 1994).

Entretanto, durante as entrevistas, essa dimensão foi também mencionada com referencias à influência e ao poder, portanto também será objeto de análise nesta seção.

A figura 16 sintetiza os resultados encontrados na dimensão política relacionados ao papel social, e que serão discutidos na sequência:

Figura 16 - Processo de Aprendizagem Dimensão Política - Universidades Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas

Dimensão Política – Papel Social

Verificou-se que a formação desses profissionais em programas de mestrado ou doutorado favorece uma maior reflexão sobre seu papel e a contextualização de seu trabalho. Nenhum conflito foi observado em relação ao coordenador e seu grupo de professores nessa questão, provavelmente devido ao fato de grande parte dos professores terem alta titulação, há maior entendimento sobre a importância da reflexão sobre a contextualização do trabalho.

As interações que acontecem nesse ambiente, principalmente nas relações com os professores e alunos, favorecem o “pensar” sobre seu papel.

REFLEXÃO Consciência de seu papel

como coordenador

Profissional que reflete sobre seu papel

Alta titulação experiência acadêmica do coordenador Alta titulação da equipe de

trabalho

Facilidades/Oportunidades Obstáculos

Excesso de atribuições traz pouco tempo para reflexão Falta de recursos humanos

para mais investimentos em projetos de formação integral (pesquisa, ensino e extensão)

AMBIENTE TÉCNICO-OPERACIONAL FAVORECE A APRENDIZAGEM

Incentivos para que o coordenador desenvolva projetos de formação integral (pesquisa, ensino e extensão)

Maior contratação de mestres e doutores Diretrizes do curso favorecem a reflexão sobre a

contextualização de conhecimentos DIFICULTA A APRENDIZAGEM

Excesso de atribuições DIMENSÃO POLÍTICA - PAPEL SOCIAL

APRENDIZAGEM FORMAL PROCESSO DE APRENDIZAGEM Formação Acadêmica Experiência Acadêmica INTERAÇÕES

Outra constatação é de que as diretrizes impostas para o curso de Administração e para a universidade, como por exemplo, os estágios e as atividades complementares, e os projetos de pesquisa, ensino e extensão, favorecem a reflexão sobre como garantir a contextualização dos saberes propostos em seu curso.

A preocupação em fazer com que os alunos relacionem as questões acadêmicas com as sociais, alinhadas à realidade do cotidiano, esteve presente nas falas dos coordenadores, demonstrando a busca pela contextualização desses conhecimentos:

Esse semestre eles têm essa atividade, lerem dois livros. [...] quero incentivo às artes, eu quero que eles vão ao teatro, e façam a análise da peça que forem assistir, independente do que seja, do ponto de vista psicológico, sociológico e econômico. E ver como é que a gente tem que se portar. Muitas vezes, a gente tem que usar as nossas atividades, as nossas qualidades cênicas no tratamento de um cliente. Você tem que ser um artista, não só para vender. Às vezes, até para sair de uma saia justa. (C3uni)

C1uni fala de seu papel e da importância do professor em fomentar ações que possibilitem a formação integral do aluno, não se centrando apenas à sala de aula:

Nós temos incentivos para os projetos de iniciação científica. Então, a gente faz um trabalho muito forte com os professores para que eles busquem os alunos, incentivem os alunos a desenvolverem projetos. [...] tem os grupos de pesquisa, também, que são fomentados. E esse papel é do coordenador também: incentivar esses grupos a desenvolverem novas pesquisas [...] E sem perder o foco do ensino e da extensão. (C1uni)

A reflexão sobre a transformação do aluno, assim como sobre o papel da universidade, foram pontuados por C4uni:

Ah, aluno é uma coisa complicada [...] O aluno, você tem o aluno... Por exemplo, a universidade é um tipo de organização que tem a competência inicial e essencial de formar. O aluno, nesse momento, ele é aluno, é um objeto, objeto, é um ser que a gente está trabalhando e se forma. Quando ele entra, eu costumo dizer para ele: “-

Quando você percebe que a escola é boa? Quando você percebe que não é mais o

mesmo porque ele está há um ano estudando.”

Todos os coordenadores mencionaram a importância do desenvolvimento de projetos fora da sala de aula, porém, percebeu-se que o excesso de atribuições e o número reduzido de professores que os auxiliam dificultam o processo.

Segundo C3uni certas habilidades pessoais contribuem para a formação do seu aluno: Na verdade, eu sou justo. Eu sou rígido, mas sou justo. É o que eu digo: “-Eu estou

te preparando para te colocar no mercado. Se eu te colocar mal no mercado, lá na frente, você vai dizer que o culpado fui eu. E, por um certo lado, a culpa realmente

é minha.” É a mesma coisa como professor. Eu não deixo aluno colar. Por quê?

Política – Influência e Poder

No entanto, em todas as entrevistas, os coordenadores também se referiram à questão política, dando-lhe o sentido de poder.

Morgan (1996) recorre à ideia de Aristóteles na qual a política nasce de uma diversidade de interesses. Essa diversidade dá origem a manobras diversas, à negociação e a outros processos de coalizão, influenciando a vida organizacional.

Para o autor, a política de uma organização pode ser percebida mais explicitamente nos conflitos e jogos de poder ou nas intrigas interpessoais que promovem desvios no fluxo das atividades da organização. Todavia, fundamentalmente, a política ocorre em bases correntes, quase sempre de um modo invisível a todos, exceto aos diretamente envolvidos.

Ainda segundo Morgan (1996), o foco da política organizacional encontra-se nas relações de interesses, conflito e poder. Assim, a política organizacional surge quando as pessoas pensam e querem agir diferentemente, criando uma tensão que precisa ser resolvida por meios políticos. Cada escolha de ação baseia-se nas relações de poder dos envolvidos.

Na relação com os professores, a questão política como poder surgiu no depoimento de um dos entrevistados:

Há muitas questões políticas também: alguns professores que estão na casa há muito tempo, [...] se acham no direito de ter algumas vantagens que outros professores não têm. Então, a gente tem que ter habilidade para lidar com essas questões. (C1uni) Para C2uni, a questão política está sempre influenciando na decisão de manter um professor em seu curso:

A questão política permeia este ambiente o tempo todo. São pessoas totalmente diferenciadas, com formações diferenciadas, com momentos de vida diferentes, porque daí você tem professor em início de carreira, você tem professor que está terminando [...], não aguenta mais. Ele está ali, marcando, marcando, marcando. Ou porque ainda tínhamos um viés, ou porque era amigo do reitor.

O conflito vivenciado por C1uni, por não concordar com escolhas que não sejam baseadas na competência de um professor, é explicitado em seu depoimento:

E, aí, é assim, um dos problemas que eu vejo é que, muitas vezes, alguns professores são beneficiados, são protegidos por alguns coordenadores que: “-Ah, a amizade, já

está há muito tempo na casa e tal.” E, aí, preferem outros que não têm porquê.

Então, eu não protejo ninguém. Não é porque é amigo, porque é colega que eu vou ter uma coisa. Para mim, o que prevalece é competência. Então, eu levo isso sempre comigo. E isso causa alguns desconfortos, porque parece que você está contra e a favor de professor. Então, tem que lidar com isso. Eu acho que lidar com isso é bem complicado.

C4uni relata que a política na instituição acontece e que pode ser utilizada para beneficiar o curso, porém ressalta a necessidade de aprender a lidar com aspectos políticos:

Sempre tem aspectos políticos envolvidos, porque você tem, por exemplo, áreas de conhecimento heterogêneas. Se bem que os [...] coordenadores se entendem. Eu conheço a maioria deles e talvez, a maioria deles me conheça também. Agora, é evidente que se tiver algo do interesse mais do meu curso, eu vou trazer para o meu curso, assim como os outros também. Isso é natural. Então, é questão de saber lidar com os aspectos políticos.

Apesar de apenas esse coordenador ter mencionado, percebeu-se em todas as entrevistas, inclusive nas realizadas para teste antes da qualificação, que há uma grande preocupação em como “movimentar-se” da melhor maneira nesse ambiente. Cuidados como a forma de solucionar conflitos ou a maneira de abordar esses públicos, foram mencionados.

Para C1uni, a questão política pode ser um dificultador em sua atuação como coordenador, entretanto, faz a observação de que isso é inerente a qualquer profissional:

O que dificulta, eu acho que são as questões políticas, mesmo. O cuidado que a gente tem que ter o tempo todo com o que você fala, com o que você escreve, o normal de qualquer profissional.

Como discutido na dimensão trabalho coletivo, as relações encontradas nessas universidades, apesar de apresentarem muitos pontos positivos, mostram diversas tensões e, muitas vezes, os coordenadores são levados a utilizar a questão política, segundo Morgan (1996), para resolvê-las. Em algumas vezes, os participantes presenciam situações de conflito e percebem o uso indevido da influência, não obstante, admitem ser uma situação inerente ao ambiente.