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O Ambiente técnico-organizacional nas faculdades

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 Faculdades

4.2.2 O Ambiente técnico-organizacional nas faculdades

As faculdades onde se inserem os sujeitos da pesquisa estão localizadas na cidade de São Paulo e possuem de 800 a 3000 alunos, sendo consideradas pequenas em relação às universidades apresentadas.

Essas instituições oferecem cursos de graduação e pós-graduação (lato sensu). Na tabela 4 são apresentados os sujeitos e respectivas faculdades com número aproximado de alunos:

Tabela 4 - Total de alunos das IES dos participantes- Faculdades

Participantes Total de alunos nas IES

C5fac 3.000 C6fac 800 C7fac 1.000 F A C U L D A D E S C8fac 2.000

Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas

Todos os respondentes apontam que o tamanho contribui para a melhoria dos processos, facilitando o contato com outros departamentos e, consequentemente, tornando mais rápido o retorno às solicitações que fazem a eles:

É um grupo pequeno e isso também colabora. Você trabalha muito mais unido, todo mundo conhece todo mundo. Assim, essa visão do sistema, sistêmica mesmo, eu preciso de você, você precisa de mim, quer dizer, a coisa anda assim. [...] E isso ajuda muito, porque se é um problema de secretaria, eu vou lá e começo a entender coisas como: “-Espera aí, isso aqui funciona assim, isso aqui é desse jeito.” O que realmente em uma instituição grande não dá. (C6fac)

Os entrevistados mencionaram a facilidade de acesso aos seus superiores. Segundo depoimento de C7fac:

Eu não tenho dificuldade. Eu posso falar que a direção é excelente porque a porta está sempre aberta, você vai, entra e acabou. Eu não tenho o que reclamar.

Todavia, um dos participantes menciona que, por ser uma instituição pequena, o acesso à direção também é facilitada aos professores e isso pode representar um problema, pois algumas decisões são tomadas sem que o coordenador saiba. Nas discussões sobre a aprendizagem do trabalho coletivo, esse tema será novamente apresentado.

A infraestrutura encontrada nas faculdades dos coordenadores é bem menor do que nas universidades verificadas e causa problemas, como mostra C6fac:

Espaço. Espaço físico é um dos problemas sérios que nós temos aqui. Então, cresceu e o espaço não acompanhou. Isso precisa melhorar.

Quando perguntados sobre os departamentos, todos apontaram a falta de delineamento, bem como a carência de regras e processos compartilhados com todos os

colaboradores. Os participantes interagem muito com os diversos setores da instituição e relatam que realizam tarefas ligadas a outros departamentos ou são procurados para resolverem problemas que não são relacionados à coordenação.

Os coordenadores mostram que, além das atribuições burocráticas, precisam atender uma grande demanda advinda de problemas relacionados aos alunos e professores. A tabela 5 mostra o número de alunos e professores pelos quais cada coordenador é responsável:

Tabela 5 - Número de professores e alunos que coordenam - Faculdades

Participantes professores Total de

do curso Total de alunos do curso

C5fac 70 1.500 C6fac 25 140 C7fac 15 300 F A C U L D A D E S C8fac 15 200

Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas

Nas faculdades, foi claramente observado um menor número de colaboradores que auxiliam esses coordenadores e normalmente são pessoas ligadas a outros setores, exceto C8fac que divide a coordenação com outro professor.

Tudo sou eu que faço, tem o pessoal do suporte, mas só atendem os alunos. A gente tem um conjunto de meninas que trabalha no administrativo, que prepara o material, mas, na verdade, tem dias e tem horas em que não adianta. Tem que ser você mesmo. Tem que dar conta, e aí é a coordenadora, não tem jeito. (C5fac)

Eu não tenho ninguém que me ajuda. [...] Por exemplo, às vezes, você tem que mandar o documento de estágio do aluno e sou eu que vou lá faço e mando. Não tem ninguém. Você faz tudo [...] Agora, a parte de secretaria não, tem a secretaria geral. Mas, o restante é você mesmo que senta e você faz. (C6fac)

Apenas C8fac ressalta que a instituição investe em infraestrutura, referindo-se aos seus setores, principalmente as áreas de marketing e recursos humanos, contudo vale ressaltar que essa instituição recebe alunos de classes A e B, com um valor de mensalidade maior que as demais faculdades:

Na verdade, a gente tem uma área de RH, também bacana. A instituição tem uma boa infraestrutura aqui; tem uma boa estrutura mesmo. Eu acho que tem uma característica muito empresarial. Então, essas áreas de apoio funcionam bem.

A característica familiar desses ambientes foi citada por três coordenadores e referenciada, por vezes, como um dificultador de seu trabalho:

Vamos dizer que ela é mais familiar mesmo. [...] porque o mantenedor fica aqui. [...] Então, [...] às vezes eu sinto que é muito família. De vez em quando tem que ter a coisa mais da instituição. [...] Porque vai direto. É a coisa do familiar [...]. por ela ser familiar, esta coisa fica muito evidenciada. [..] eu acho que precisaria, dessa coisa da gestão, profissionalizar um pouco nesse sentido. (C6fac)

A contratação desses coordenadores aconteceu por diversos motivos, como o fato de serem professores próximos da coordenação anterior, terem se destacado como professores, por atenderem a requisitos como titulação (mestrado) e até por indicação de professores da casa, ou seja, não há um processo institucionalizado de contratação de coordenadores nessas faculdades:

Na verdade, eu fui convidada para vir para cá. Eu tinha recém-saído de uma instituição, de uma universidade e por meio de... Foi uma indicação de amigos que, na verdade, me indicaram para diretoria daqui e eu vim para cá, fiz entrevista e fiquei. (C5fac)

Quando eu vim, já tínhamos dois coordenadores de outros cursos [...] o meu curso já existia. Houve um outro coordenador antes de mim e que era conhecido deles. Eu, foi porque pegou o currículo, achou, viu, e me entrevistou. Mandei para aula, porque como a faculdade estava abrindo, estava começando, precisava de professores. Então, eu mandei, eu tinha o mestrado. E eu recebi um telefonema à noite, porque como eu tenho toda aderência em administração, eu sou formada em ADM, a coordenação é em ADM, veio o convite. E comecei a trabalhar como coordenadora. (C6fac)

Eu era professor e acabei sendo empurrado para a coordenação. Não foi nada assim, que eu programei, que eu quis. Não. “-O antigo coordenador saiu, precisamos de

um coordenador de administração que tenha, no mínimo, o mestrado. Quem tem

mestrado?”, “-Só eu.”, “-Então, é você.” (C7fac)

Eu acho que eles já tentaram fazer alguns processos via head hunter, algumas coisas assim, mas não funciona muito bem. E tem um histórico, aí. [...], tinha rodado alguns coordenadores aqui que não eram da casa e não deu certo. [...]. Eu participava muito de algumas coisas do antigo coordenador. E aí, ele indicou a gente para ficar, mesmo interino. Na verdade, eu entrei como interino porque a instituição queria alguém que tivesse doutorado, completa a pontuação, é ordem do MEC. E, aí, eu fiquei, enquanto isso, enquanto estava tendo esse processo seletivo. Aí, fui ficando. E, aí, passa-se o ano e, agora não tem mais jeito. [...] Exatamente, não vou embora. (C8fac)

Diferentemente das universidades, nenhum participante demonstrou preocupação quanto ao fato de ocuparem cargos de confiança e poderem ser dispensados a qualquer momento pelos responsáveis.

Os espaços verificados para interações foram as reuniões que acontecem entre esses coordenadores juntamente com seus professores, outros coordenadores ou direção.

O excesso de burocracia e de atribuições, além da pouca flexibilidade encontrada nessas IES, foram muito destacados entre os sujeitos e serão discutidos adiante.

4.2.2.1 Pressão e Estresse

As faculdades dos participantes localizam-se na cidade de São Paulo que, conforme citado no capítulo 2.1, pertence à região de maior concentração de IES particulares do Brasil, sofrendo forte pressão dos concorrentes. Nessas instituições também foram verificadas diversas estratégias como campanhas de marketing e valores reduzidos das mensalidades, observadas pela entrevistadora nos depoimentos dos sujeitos e em dados disponíveis dessas faculdades.

A cobrança por resultados nesses ambientes pareceu acontecer sob maior pressão e em uma das faculdades esse fato ficou bastante evidenciado:

Mesmo assim existem alguns conflitos, que me preocupam. É uma faculdade comprometida com qualidade, sim. Ela exige, ela quer. Mas, ao mesmo tempo, ela precisa reter alunos. Então, um pouco essa tensão esteve presente e está presente. Pois é. Eu acho que, assim, a diferença entre uma instituição pública e uma instituição privada é clara. Lá [...] professor bom é aquele que reprova 20% da sala. E se você reprova menos de 10%, o coordenador te chama para conversar. [...] E aí, quando você vem para cá, as coisas são diferentes. Então, a faculdade não é assim. [...] tem que rolar uma identificação para estar aqui, senão você acaba não conseguindo. (C8fac)

As direções dessas faculdades explicitam a importância do aluno e mostram que seu atendimento é a principal atribuição de seus coordenadores:

(quais são as maiores exigências dos seus superiores?) Aluno, aluno, aluno. Eu acho que você deve sentir a mesma coisa. É essa a maior cobrança. (C5fac) A maior exigência como coordenador? Ah, é importante, primeiro, você ter bom relacionamento com o aluno. Isso é muito importante. Isso é pontuado. (C7fac)

No entanto, nas falas de coordenadores notou-se que há um grande desgaste ao lidarem com o perfil do aluno que recebem, e que seu atendimento se torna mais difícil quanto maior seu poder aquisitivo ou menor a sua faixa etária, discussão esta que acontecerá posteriormente, na aprendizagem do trabalho coletivo.

Não foi observada a reflexão sobre a captação ou a manutenção de alunos, apenas os coordenadores citam a preocupação da direção com essa questão.

Os coordenadores são procurados por alunos, professores, direção, corpo técnico administrativo e outros públicos, para que resolvam problemas de diversas naturezas e essa volumosa demanda foi citada como um fator gerador de estresse, desviando, por vezes, o foco do coordenador das questões pedagógicas:

Eu acho que o que dificulta não é nem o aprendizado, o que dificulta o andamento do trabalho é a carga excessiva de atribuições que você acaba tendo. E te desvia do seu foco que é a coordenação pedagógica. Eu sinto, às vezes, que a coordenação pedagógica, que seria o eixo principal da nossa função, fica em segundo plano até resolver todas as outras coisas. (C5fac)

Ficou evidenciado que esses coordenadores conseguem relacionar-se com maior proximidade com funcionários de outros setores e que isso facilita seu aprendizado:

Aqui tem uma facilidade que as pessoas, [...] são muito receptivas. Embora tenha tido esse momento inicial aí de: “-Não te conheço, não sei o quê você faz, não sei

quem você é.” No momento seguinte, teve uma situação em que as pessoas desse

ambiente foram muito receptivas. Eu acho que assim, o clima organizacional da instituição mudou. Então, tem uma coisa muito próxima. [...] as pessoas são muito afetuosas então, eu acho que faz muita diferença numa relação de trabalho. O acesso é Super fácil, muito fácil. [...] Na verdade, eu acho que aqui é difícil alguém que eu não conheça. [...] Desde [...] o pessoal da limpeza até a secretaria. A gente tem um bom trânsito, eu tenho um bom trânsito. (C5fac)

Os coordenadores nas faculdades sofrem grande pressão quanto à manutenção do aluno e às estratégias para atender a essa questão, no entanto, esse assunto pareceu menos internalizado nos coordenadores das faculdades, do que observado nos coordenadores das universidades.

A maior proximidade do aluno, que o procura por diversas situações, muitas delas não relacionadas ao seu setor, é outro fator de grande desgaste para o coordenador.

4.2.2.2 Oportunidades de Autonomia

São realizadas exigências mais simples para o funcionamento das faculdades do que para as universidades (capítulo 2.1). Porém, são muitas as regulamentações impostas pelo MEC e o coordenador precisa conhecê-las e atendê-las, o que limita algumas de suas ações:

Por ser faculdade, um problema que a gente tem é a autonomia limitada. Então, nem tudo que nós ouvimos, conseguimos resolver. (C5fac)

A primeira coisa é assim: você entra em um mundo que não era o meu mundo corporativo. [...] Então, o que eu senti é assim, você conhecia a legislação, mas não é do curso, é você trabalhar, [...] conseguir conciliar as suas atividades, até entender:

“-Como eu vou fazer isso? Por que isso é feito assim?” Porque é um mundo

diferente. Então, essa dificuldade você sente. Você faz projeto: “-Mas, esse projeto

aqui tem que estar embasado nessa lei, porque essa lei é assim.” Então, isto no

começo foi uma dificuldade realmente. Pediam um projeto. “-Vamos implantar isso

aqui.” Você vem e faz o projeto: “-Não, não vai dar certo com plano tal. Isso aqui

o MEC não permite.” Então, tem coisas que você sente, essa legislação toda, que

não era o meu dia a dia. (C6fac)

Outro problema verificado refere-se ao tipo de gestão encontrado em algumas faculdades:

Estamos acostumados com um ambiente democrático, onde existe um colegiado [...] aqui é muito centralizado [...] existe uma coisa muito taylorista de linha de produção. É uma coisa muito centralizada no mantenedor, top down. Mas acho que é um processo de amadurecimento da Instituição. Conforme ela cresce, se desenvolve, ela vai abrindo esses espaços. (C8fac)

O fácil acesso de alunos e professores à direção também aparece como um obstáculo à autonomia do coordenador, dificultando sua gestão:

Por exemplo, às vezes você tem um professor, como é muito aberto, de repente o diretor chama o professor e trata uma coisa que eu não sei e eu vou saber depois. (C6fac)

Nas faculdades onde C6fac, C7fac e C8fac trabalham, há maior contato do coordenador com o diretor. Apenas C5fac tem um coordenador geral, a quem todos os coordenadores de cursos respondem. Todavia, os coordenadores não relataram nenhum tipo de grupo constituído que trabalhe propostas de melhoria para as faculdades, percebendo-se menor espaço para participação dos coordenadores em questões relacionadas à instituição.

Como citado na discussão sobre as universidades, esses coordenadores eram ou são professores, profissionais autônomos ideológica e didaticamente e, ao assumir a coordenação, precisaram “abrir mão” de parte dessa autonomia.

Não foram relatados problemas em relação a negociações e possíveis arranjos com coordenadores dos outros cursos. O fato de não terem o curso em outras unidades, (exceto C5fac, porém, a mesma coordena ambas) pareceu facilitar o trabalho que desenvolvem, pois não há cobrança por parte da IES em padronizar os processos e, principalmente, buscar consensos entre outros coordenadores.

4.2.3 Dimensões da atuação do Coordenador e seu Processo de Aprendizagem nas Faculdades

Esta seção apresenta a discussão sobre a aprendizagem da dimensão do trabalho coletivo, dimensão política, dimensão técnica e dimensão crítico-reflexiva dos coordenadores inseridos nas faculdades.

Serão destacados as facilidades e os obstáculos encontrados para a aprendizagem de cada dimensão.