• Nenhum resultado encontrado

4 APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ONLINE

4.2 Aprendizagem na Sociedade em Rede

A aprendizagem não se concretiza mais de forma linear e sequencial; ao contrário, os indivíduos passam a perfazerem seus caminhos em busca dos saberes, construindo fluxos diversos, onde cada um constrói seus nós a partir do emaranhado de informações do ciberespaço, o qual “se faz da construção de coletivos pensantes e dançantes em labirintos partilhados” (SILVA, 2002, p. 155).

Os processos de construção do conhecimento passam a se concretizar de modo multimídico, o qual se dá de forma generalista “mais livre, menos rígida, com conexões mais abertas, que passam pelo sensorial, pelo emocional e pela organização racional” (MORAN, 2009, p. 19). Portanto, aprender se torna uma busca incessante, contínua, ao longo da vida, onde os indivíduos passam a ser atores do processo de construção do seu conhecimento e, por meio das redes e suas múltiplas potencialidades, linguagens, interfaces, desenvolvem novas formas de aprender, produzir conhecimento e se comunicar.

De acordo com Bravo e Coslado (2012, p. 125), “os membros da Geração Net processam a informação e aprendizagem de maneira diferente”, e ainda segundo o autor é a partir da interatividade possibilitada pelos novos medias digitais que podemos abordar sobre aprendizagem compartilhada e social, colaborativa, aprendizagem que é mais motivadora e coerente com o novo momento social não mais passivo, mas ativo, interativo.

A interatividade permitida pelas redes pode ampliar as condições de aprendizagem on- line e do processo de avaliação desta, quando ela está estruturada em uma base sólida de trocas, construção, cooperação, colaboração, afetividade, autonomia, inovação, criatividade etc. (SOUSA, 2010 p. 49). Ainda de acordo com o autor, a interatividade surge como um recurso eficiente para ampliar o processo de ensino aprendizagem e permitir ao aluno o desenvolvimento de competências e autonomias que favorecerão sua aprendizagem.

Um dos grandes desafios no processo educativo na sociedade digital é conseguir dar conta da fluidez, da velocidade com que as informações se transformam, e significar este emaranho de informações em conhecimento significativo. Sendo assim, na atualidade o poder maior da sociedade é o conhecimento.

Dentro deste contexto, o aprender é ressignificado, uma vez que não mais se consolida de maneira linear, individual e interna, mas, por meio do hipertextual, do multimídico, da inteligência coletiva (LÉVY, 2015), que emergem atualmente a partir das redes, da interatividade. Além disto, lidar com estas mudanças constantes de informações e a "vida média

do conhecimento32", em que o que aprendemos agora já pode se tornar obsoleto em pouco tempo, faz-nos perceber que a Cibercultura altera também a forma como aprendemos, bem como a necessidade da aprendizagem se dá ao longo da vida. Assim sendo, de acordo com Moran (2000, p. 58),

Muitas formas de ensinar e aprender hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. Podemos modificar a forma de ensinar e aprender. Um ensinar compartilhado. [...] Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação.

Podemos perceber a necessidade que se coloca na compreensão de como se consolida o processo de ensino aprendizagem na sociedade do conhecimento, e corroborando com isto "muitos autores são unânimes em ressaltar que a forma de aprender dos membros da Geração Net difere notavelmente da forma das gerações anteriores" (BRASVO; COSLADO, 2012, p. 132). Contudo, segundo Siemens (2012, p. 96) "a área de educação tem sido lenta em reconhecer o impacto de novas ferramentas de aprendizagem e as mudanças ambientais na própria concepção do que significa aprender".

Como forma de buscar responder de que modo podemos compreender o processo de ensino aprendizagem na sociedade digital, uma vez que as teorias clássicas da aprendizagem, como o Behaviorismo, Cognitivismo e Construtivismo não dão conta da singularidade deste novo momento que vivenciamos, com a aprendizagem impactada pela tecnologia, o Conectivismo (SIEMENS, 2006) se coloca como um novo olhar para o aprender no online.

O Conectivismo é definido por Siemens (2012, p. 92) como sendo

Integração de princípios explorados pelas teorias do caos, das redes, da complexidade e da auto-organização. Aprendizagem é um processo que ocorre dentro de ambientes difusos em que elementos centrais estão em mudança- que não estão totalmente sob o controle do indivíduo. A aprendizagem (definida como conhecimento aplicável) pode residir fora de nós (dentro de uma organização ou banco de dados) e está focada em conectar conjuntos de informações especializada. As conexões que nos permitem uma maior aprendizagem têm maior importância que nosso estado atual de conhecimento.

32 Segundo González (1994 apud SIEMENS, 2012, p. 84) a vida média do conhecimento é o lapso de tempo que transcorre entre o momento que o conhecimento é adquirido e o momento em que se torna obsoleto. A metade do que se conhece hoje não era conhecida a 10 anos. A quantidade de conhecimento no mundo dobrou nos últimos 10 anos e se duplica a cada 18 meses, de acordo com a Sociedade Americana de Entretenimento e Documentação.

A partir da fala do autor podemos perceber que o Conectivismo considera esta mutabilidade de informações e altera o olhar sobre o aprender, que não mais se restringe a um processo individual e interno do indivíduo, mas pode até mesmo estar fora dele. O mais importante são as conexões que estabelecemos em rede pois estas potencializam nossa aprendizagem, assim a habilidade de reconhecer e se ajustar às mudanças nos padrões é uma tarefa central da aprendizagem (SIEMENS, 2012). Conectivismo é aprender um com outro em rede, e para tal requer o envolver de todos os sujeitos do processo educativo, requer interatividade, pois esta é a base do aprender online.

Sendo um construto teórico que considera a aprendizagem na era digital, o Conectivismo apresenta os seguintes princípios, de acordo com Siemens (2012, p. 92-93):

A aprendizagem e o conhecimento dependem da diversidade de opiniões; A aprendizagem é um processo de conectar nós ou fontes de informação especializadas; A aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos; A capacidade de saber mais é ainda mais importante do que o que se sabe num dado momento; A alimentação e a manutenção das conexões são necessárias para facilitar a aprendizagem contínua; A habilidade de ver conexões entre áreas, ideias e conceitos é uma habilidade-chave; A atualização (conhecimento preciso e atual) é a intenção de todas as atividades conectivistas de aprendizagem; A tomada de decisão é, em si, um processo de aprendizagem.

Em um momento onde o que se sabe pode mudar a qualquer instante, onde as informações são rápidas e em grande quantidade, não mais podemos saber tudo, e assim, a capacidade de ir em busca, selecionar e sintetizar o que é pertinente do que não é, e capacidade de formar laços, redes de conhecimento, reconhecer conexões e padrões torna-se mais importante do que o que sabemos.

Segundo Galasso (2013), "o conectivismo é uma teoria da aprendizagem que, se aplicada adequadamente, tem potencial para melhorar significativamente a educação online, por meio da revisão das perspectivas de ensino". O autor ainda coloca que a teoria permite aos professores reduzir o controle de conteúdo do curso, saindo do olhar de uma aula instrucional e abrindo espaço para que o aluno se torne o centro do processo de ensino aprendizagem. Assim, o mesmo tem a abertura para localizar, apresentar e entender o sentido do conhecimento relevante, além de considerar o estudante como central no papel de aprender.

O Conectivismo abre a possibilidade do discente ser um ator do seu processo de ensino aprendizagem, a partir da interatividade com o outro, com o movimento de idas e vindas de pensamentos compartilhados, construídos coletivamente por meio dos fóruns, chats, atividades

colaborativas, constituem-se como de grande riqueza, pois faz com que a aprendizagem seja mais que um processo dialético, mas principalmente significativo para cada ator do saber. O ambiente virtual de aprendizagem deve se tornar um espaço de aprendizagem colaborativa, na qual, segundo Fuks et al. (2014, p. 369),

O aprendiz é o responsável pela sua própria aprendizagem e pela aprendizagem dos outros membros do grupo. Os aprendizes constroem conhecimento através da reflexão a partir da discussão do grupo. A troca ativa de informações instiga o interesse e o pensamento crítico, possibilitando os aprendizes alcançarem melhores resultados do que quando estudam individualmente.

O ambiente virtual de aprendizagem precisa ser espaço de criação coletiva, tornar-se uma comunidade ativa e efetiva de aprendizagem, para que a aprendizagem se consolide. Neste sentido, de acordo com Bravo e Coslado (2012, p. 125),

A partir da interatividade proporcionada pelos novos meios digitais, poderíamos falar em uma aprendizagem compartilhada e social, uma aprendizagem construída colaborativamente, que é muito mais significativa e motivadora para uma geração que cresceu na cultura da interatividade e não na cultura da transmissão.

Deste modo, entendemos que a interatividade possibilita um novo olhar para as possibilidades educativas e para o olhar para como o aluno aprende, como ele busca o conhecimento. Segundo Harasim (2000, p. 47 apud GALASSO, 2013) o trabalho em rede e a convergência do campo de comunicação com a informática transformaram-se nos motores de uma nova forma de educação, que conduzirá a uma nova estrutura, denominada de aprendizagem em rede.

O construto teórico de aprendizagem em rede, Conectivismo, coloca como centro do aprender o indivíduo, mas não como ser isolado, mas como ser interativo, dialógico, autônomo, que aprende na diversidade da rede ou redes que estabelece com os outros sociais, objetos ou conteúdos, sujeito que é capaz de aprender a aprender tornar-se pesquisador, selecionar as informações e transformá-la em conhecimento, ser sujeito ativo, metacognitivo, ou seja, pensar sobre seu próprio conhecimento. O conhecimento pessoal do indivíduo vai alimentar as organizações e instituições, e estas por sua vez irá alimentar a rede, e este ciclo, da pessoa a rede e desta à instituição permitem a atualização constante, mediante as conexões, os nós formados. O sujeito no Conectivismo precisa ser um nó ativo na rede, e neste sentido, de acordo com Siemens (2012, p. 94),

A premissa central é de que as conexões criadas através de nós não usuais suportam e intensificam atividades existentes que exigem um grande esforço...Esta amplificação da aprendizagem, conhecimento e compreensão através da extensão de uma rede pessoal é a síntese do conectivismo.

É uma teoria que mostra a aprendizagem como um processo contínuo, bidirecional, mutável, que se constrói a partir dos nós que estabelecemos em rede, na formação das comunidades de aprendizagem, da troca de experiências significativas, que considera a complexidade atual do aprender online e desconstrói a relação hierárquica docente e discente, tornando ambos atores e construtores do conhecimento.

Enfim, esta teoria "proporciona uma visão das competências de aprendizagem e das tarefas necessárias para que os alunos floresçam numa era digital" (SIEMENS, 2012, p. 96), e assim, entendemos que é mais importante tais competências, habilidades, de buscar as fontes, de selecionar, de formar conexões e reconhecer padrões, de construir o conhecimento, de transformar informações desconexas em conhecimento, do que o que sabemos em um dado momento.

Percebemos que o Conectivismo leva em consideração o dialogar, debater, o estar conectado em rede, e além disto, o feedback também se coloca como fundamental para a aprendizagem, pois segundo Siemens (2006) é elemento central em todos os sistemas saudáveis, devido a permitir o instrutor medir o conhecimento do educando, e uma vez aplicado ao conhecimento, tem como resultante um progressivo desenvolvimento em espiral como criação e cocriação.

Assim, o feedback se coloca como importante no processo de aprendizagem, onde o docente será o alimentador das inteligências coletivas (LÉVY, 2015), a partir do acompanhamento do debate e diálogos estabelecidos pelos discentes em rede.

Diante da realidade atual e do Conectivismo como possibilidade de entender a aprendizagem na era digital, a educação precisa ser repensada no contexto de uma sociedade que requer cidadãos críticos, reflexivos, conscientes de sua realidade e atores da transformação da mesma. Aprender colaborativamente em rede, por meio da interação com outras pessoas de tempos e lugares diversos, são fatores fundamentais para um processo de educação humanizador, significativo e coerente com o novo momento social que vivenciamos. E sendo assim, compreendemos a importância de repensar o Educar Online a partir de um novo olhar para o processo de aprendizagem, a partir do Conectivismo, compreendendo de que modo ele se consolida e modifica o aprender na era digital.

Isto não significa dizer que o Conectivismo é um construto teórico que pode embasar completamente a nossa compreensão sobre aprender na Sociedade em Rede, mas que é uma possibilidade de conceito que considera as peculiaridades e complexidade do online, e assim sendo, pode nos ajudar no trilhar o caminho de construção teórica acerca da aprendizagem na era digital.