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5 A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CENÁRIO ONLINE

5.2 Avaliar do aprender online: um olhar teórico prático

A discussão acerca da avaliação da aprendizagem online não é de todo inovadora, e nas últimas décadas, principalmente com o aumento expressivo de tal modalidade no cenário brasileiro, tem se ampliado o debate sobre avaliar online. Contudo, ainda não se tem um consenso sobre o termo e principalmente, "ainda são raros os trabalhos de pesquisa que narram os processos avaliativos utilizados em seus cursos" (CRUZ; MORAES; PEREIRA, 2014, p. 471) e, portanto,

O tema da avaliação da aprendizagem se apresenta como um debate ainda em aberto. São muitas as questões sobre métodos e práticas da modalidade presencial, que são ampliadas quando se discute a modalidade online, na medida que traz novos elementos ao cenário já existente (CALDEIRA, 2014, p. 469).

Estamos imersos em um novo cenário sociotécnico, que a partir das tecnologias digitais da informação e comunicação é possível estabelecer interatividade, conceito que discutimos no capítulo 1 e que é base para o processo Educativo Online, onde os sujeitos do processo constroem conhecimento a partir da mediação destas tecnologias. Este cenário, no que compete ao processo avaliativo online no sentido de um avaliar contínuo, traz uma grande vantagem se compararmos com as possibilidades do presencial, por possibilitar o registro das interações, as quais podem ser gravadas e ser objeto de análise, tanto do docente como do discente (CALDEIRA, 2014, p. 468).

O olhar sobre a avaliação da aprendizagem no ambiente online não pode se dá de maneira análoga as práticas tradicionais de educação, visto que estamos em um cenário singular, o ciberespaço, sendo “a sala de aula como ambiente digital online, tem, portanto, uma especificidade muito própria, em nada semelhante à sala de aula baseada na pedagogia da transmissão" (SILVA; SANTOS 2014, p. 27), e onde as tecnologias e interfaces disponíveis nos ambientes virtuais de aprendizagens é que possibilitam a comunicação existente entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. Coadunando com este viés Caldeira (2014, p. 461) fala que muitas das práticas que existem em cursos presenciais não poderão ser referência para o trabalho com Educação Online, e acrescenta tais métodos tradicionais de avaliar do presencial são inadequados e objeto de críticas frequentes. Coloca também que, sendo assim, "o estudo da avaliação da aprendizagem em ambientes digitais é, portanto, desafiador para todos os

profissionais envolvidos com educação online: professores, planejadores e os próprios programadores dos ambientes digitais de aprendizagem" (Ibidem).

A práxis docente precisa se altera profundamente para dar conta deste contexto inovador, não apenas no que tange ao lócus de atuação, mas na forma como a mesma se concretiza, e especificamente na maneira como se avalia a aprendizagem, sendo a interatividade e a aprendizagem colaborativa conceitos primordiais de serem compreendidos pela docência online no desafio de fazer uma Educação Online significativa, que forme cidadãos críticos, reflexivos, atores de seu fazer histórico. Há portanto, a necessidade de repensar a teoria e a prática da avaliação da aprendizagem no contexto online, e de acordo com Silva (2014a, p. 23)

A avaliação da aprendizagem na sala de aula online requer rupturas com o modelo tradicional de avaliação historicamente cristalizado na sala de aula presencial. Se o professor não quiser subutilizar as potencialidades próprias do digital online, ou se não quiser repetir os mesmos equívocos da avaliação tradicional, terá que buscar novas posturas, novas estratégias de engajamento no contexto mesmo da docência e da aprendizagem e aí redimensionar suas práticas de avaliar a aprendizagem e a própria atuação.

A tendência avaliativa da maioria dos cursos na modalidade online tem sido centrada em "apresentação/disponibilização de conteúdos e na avaliação do desempenho acadêmico dos alunos" (GOMES, 2010, p. 318) o que mostra uma abordagem pedagógica instrucional, centrada em reprodução e classificação. Apesar de existirem algumas práticas que avançam para uma abordagem socioconstrutivista, que trazem possibilidades que consideram o contexto do online conforme Santos (2006, p. 246)

Não se verifica, pelo menos em larga escala, proposta de mudança nas formas de avaliar que considere o meio (a internet) é novo e que as habilidades e competências exigidas dos indivíduos estão mudando, como também estão mudando, ainda que lentamente, os papéis do professor e do aluno.

É fato que para além das práticas avaliativas tradicionais dos cursos online, onde há poucas exceções, no que tange ao aspecto teórico da avaliação da aprendizagem, os cursos de modo unânime, descrevem a avaliação da aprendizagem online como sendo um processo contínuo, formativo, utilizando-se das abordagens clássicas de se tratar a avaliação da aprendizagem, do ponto de vista diagnóstico, formativo e somativo, mas na prática o que se consolida é o foco apenas no aspecto somativo, classificando-se os alunos a partir das provas presenciais. A presente dualidade teórica-prática que se apresenta nos planos destes cursos de licenciatura à distância em todo o país e bem como nas práticas dos docentes, também se

encontra nos documentos oficiais que regem e norteiam a Educação Online no país. Os Referenciais de Qualidade para a EAD (BRASIL, 2007), sendo um destes documentos, preceitua que o modelo de avaliação da aprendizagem no online

[...] deve ajudar o estudante a desenvolver graus mais complexos de competências cognitivas, habilidades e atitudes, possibilitando-lhe alcançar os objetivos propostos. Para tanto, esta avaliação deve comportar um processo contínuo, para verificar constantemente o progresso dos estudantes e estimulá- los a serem ativos na construção do conhecimento. Desse modo, devem ser articulados mecanismos que promovam o permanente acompanhamento dos estudantes, no intuito de identificar eventuais dificuldades na aprendizagem e saná-las ainda durante o processo de ensino-aprendizagem. As avaliações da aprendizagem do estudante devem ser compostas de avaliações a distância e avaliações presenciais, sendo estas últimas cercadas das precauções de segurança e controle de freqüência, zelando pela confiabilidade e credibilidade dos resultados. Neste ponto, é importante destacar o disposto no Decreto 5.622, de 19/12/2005, que estabelece obrigatoriedade e prevalência das avaliações presenciais sobre outras formas de avaliação (BRASIL, 2007, p. 16).

Vislumbramos a partir de tal documento um conceito de avaliação em Educação Online no cenário brasileiro que se configura de maneira dúbia, colocando primariamente a necessidade de um viés formativo, que possibilite garantir o desenvolver de competências, a construção do conhecimento, mas em contrapartida se elenca o avaliar presencial como mais importante perante as possibilidades interativas que podem ser concretizadas nas interfaces síncronas (chats, webconferências etc.), e assíncronas (fóruns, portfólios, Wiki etc.) dos ambientes virtuais de ensino e aprendizagem. Tal constatação nos mostra o quanto precisamos refletir e modificar, não apenas os discursos teóricos progressistas de avaliar online, utópicos e inconclusos na prática, como também os posicionamentos imperativos da legislação, que parece não reconhecer a legitimidade de Educar Online, e por fim as práticas, de modo a contribuir com a efetivação teórica e prática de tal modalidade de ensino a partir de sua base, que é a interatividade.

Na análise que elaboramos de alguns planos de cursos de licenciatura à distância da rede pública federal a nível nacional, pudemos perceber que quando se trata de Avaliação a Distância a maioria das instituições coloca maior carga valorativa no presencial em detrimento do Online. Além disto, a maioria dos planos de cursos trata do tópico de avaliação da aprendizagem a distância de modo bastante sucinto e amparados por referenciais teóricos dos clássicos da

avaliação da aprendizagem presencial33. Não buscam descrever o contexto inovador e os desafios e possibilidades de avaliar o aprender do aluno em ambientes virtuais de aprendizagem.

É pertinente falar que outras instituições trazem no esboço de seu plano de curso possibilidades inovadoras, desde a discussão breve de se desenvolverem um processo avaliativo online contínuo e que considere a interatividade como importante para este processo, até com algumas soluções para incentivar a interatividade do aluno no AVA, como por exemplos podemos citar: as instituições buscam nivelar o peso do presencial e virtual de forma mais igualitária e outras colocam que para realizar a avaliação presencial é preciso ter um mínimo de participação online.

No entanto, permanece o quantitativo maior de instituições que adotam um transpor das práticas presenciais e que sobrevalorizam o peso das mesmas em detrimento das atividades desenvolvidas pelos alunos no decorrer do curso no ambiente online. Esta atitude de potencializar o presencial como forma de buscar a garantia da identidade do aluno é incoerente, pois temos diversos meios de garantir a legitimidade da avaliação online a partir da "tecnologia e os serviços que nos permitem realizar situações de avaliação face a face, mas realizadas a distância" (GOMES, 2010, p. 317).

Sendo a avaliação um ponto fundamental para a qualidade de uma experiência de aprendizagem no contexto online (GARRISON; ANDERSON, 2003), precisamos repensar a mesma, compreender de que modo podemos avaliar com qualidade, ética, compromisso com o desenvolver de competências dos alunos e principalmente em consonância com o novo contexto de aprendizagem que se constitui o ciberespaço e que dispõe de diversas interfaces que podem concretizar autoria, coautoria, cooperação e colaboração, e por conseguinte, desenvolver de aprendizagens significativas.

É inquestionável que o avaliar online traz novas possibilidades para o docente, pois o mesmo poderá criar diversos roteiros de aprendizagens a partir da interatividade e poder acompanhar o processo de desenvolvimento dos seus alunos de maneira mais qualitativa do que no presencial, a partir dos registros das interações nas interfaces do AVA. Entretanto, não podemos esquecer que eis aqui um trabalho árduo e que não é facilitado pelo ambiente virtual de aprendizagem no que tange ao aspecto qualitativo, apenas ao quantitativo, uma vez que ele

33 O fato de embasar as práticas avaliativas pelos autores clássicos da avaliação da aprendizagem não é algo que seja de todo crítico, pois caso se busque articular a partir do aporte teórico existente uma releitura do novo contexto educativo no ciberespaço, pois precisamos avançar no sentido de construir bases que fundamentem o avaliar no contexto online. Isto apenas denuncia que não se tem uma ampla literatura que possa nortear o avaliar no âmbito online.

possibilita ao professor obter relatório de acessos, participações nas atividades e interfaces existentes pelos alunos. A este respeito Caldeira (2014, p. 468-469) nos fala que

Considerando especificamente os ambientes digitais de aprendizagem distribuídos comercialmente, percebe-se que a tecnologia disponível ainda oferece poucos recursos diferenciados para realizar a avaliação contínua em cursos online. Os professores veem-se limitado pela falta de recursos de busca e classificação de toda a informação gerada nos cursos. Para realizar acompanhamento de seus alunos acaba com tarefas de seleção e organização das interações e atividades propostas através de ferramentas como editores de texto, ou com bancos de dados[...].Silva e Vieira (2001) apresentam alguns dados relativos à frequência com que ocorrem diferentes mecanismos de acompanhamento e avaliação nos ambientes digitais de aprendizagem. Dos dezoito ambientes estudados 94% possuem recursos para elaboração de testes via web, e 78% possuem recursos para rastreamento quantitativo de mensagens. Recursos alternativos de avaliação e acompanhamento são oferecidos por menos de 28% dos ambientes. Pode-se dizer portanto: a) que as características dos ambientes de aprendizagem ainda refletem as práticas presenciais, extremamente focadas no resultado final e na avaliação de conteúdos pontuais; b)que os recursos existentes refletem as práticas presenciais, extremamente focadas no resultado final e na avaliação de conteúdos pontuais.

Entendemos a partir da fala da autora que o processo de avaliar online é mais complexo, em virtude da grande quantidade de informações a ser analisada pelo docente e os ambientes virtuais não favorecem esta análise qualitativa das interações estabelecidas pelos alunos. Tal assertiva confirma que os AVAS se concretizam a partir da mesma perspectiva das práticas presenciais de avaliar, valorizam aspectos quantitativos e o resultado final do aluno, não sendo um auxiliar para se averiguar o percurso formativo do discente. Cabe ao docente, nesta situação, de efetivar um processo manual das análises em outros programas, como o word por exemplo, onde se busca compreender o caminhar cognitivo elaborado pelos alunos, suas lacunas, seus avanços e o docente poder a partir de tais dados reconfigurar o processo educativo em prol das aprendizagens.

Em uma perspectiva de Educar Online não se tem espaço para salas de aulas virtuais de massa, como tem acontecido na maioria dos cursos em tal modalidade. Para que o professor possa realmente concretizar um processo de interatividade, de aprender colaborativo, possa acompanhar o discente de modo a construir seu perfil, identificar suas necessidades e apoiar em todo o seu processo de construção do conhecimento, é preciso salas de aulas com um quantitativo mínimo de alunos, o que vai de encontro a lógica de educação de massa que tem se concretizado por muitas instituições.

O ambiente virtual de aprendizagem é um espaço potencial, pois favorece a partir de suas interfaces múltiplas o desenvolver de um trabalho educativo que considere a interatividade, que possibilite aos sujeitos serem atores do processo educativo, da construção do seu conhecimento, e assim o AVA

É interativo, cooperativo ou colaborativo dependendo das concepções de ensino, aprendizagem, conhecimento e pesquisa que os seus participantes têm e dos graus de intencionalidade, dialogicidade e autonomia que estes participantes desenvolvem (CORTELAZZO, 2014, p. 444).

Deste modo, a forma como o ambiente virtual está disposto, ou seja, o seu desenho didático, reflete as concepções epistemológicas do corpo docente e interfere diretamente na qualidade do processo de ensino e aprendizagem, e como não poderia ser diferente, da avaliação da aprendizagem online. No âmbito da educação online

[...] não basta apenas mexer com a forma e com o conteúdo dos materiais ou estratégias de ensino. É necessário modificar o processo de comunicação dos sujeitos envolvidos e articular os saberes multirreferenciais da equipe envolvida desde o projeto de desenho instrucional até a vivência e dinâmica do curso (SANTOS, 2006, p. 217).

Neste sentido Oliveira, Moreira e Arnold (2014) colocam que a avaliação do aprender online se concretiza de modo diferenciado em detrimento das concepções de sujeito e objeto do conhecimento, a qual são tidas por três primas: concepção empirista, concepção racionalista e a interacionista. Segundo os autores a primeira tem como característica a primazia do objeto a ser conhecido, sendo a ação determinante do docente no processo de ensino e aprendizagem, a partir de estímulos para a aquisição do conhecimento pelo aluno, e este é visto como tábula rasa, ou seja, um ser passivo, depósito de informações e reprodução do que recebe. A concepção racionalista coloca a razão como o meio pelo qual se atinge o conhecimento, e assim, o aluno é o centro do processo de ensino e aprendizagem e cabe atribuir significado ao objeto a ser conhecido, desenvolvendo a partir de sua subjetividade e condição intelectual um conhecimento sobre este objeto. Por fim, na concepção interacionista o aprender acontece a parte da superação dos dois polos, objeto (empirista) ou sujeito (racionalista), a aprendizagem acontece a partir da interação sujeito e objeto, das trocas que o indivíduo realiza com o meio.

A partir das concepções supracitadas, entendemos que a Educação Online ela se consolida a partir da concepção interacionista do processo de ensino e aprendizagem, a qual está amparada no olhar de Vigotski (2008, 2015).

Para além de visualizar a avaliação da aprendizagem online considerando a interatividade, as abordagens diagnóstica, formativa e somativa precisamos também da participação de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo, e como tal, temos que considerar o caráter formativo da avaliação através dos alunos integrados a partir de autoavaliação e coavaliação, tais conceitos são definidos por Santos ( 2014, p. 321) como

Autoavaliação: o avaliador é o autor da ação, da produção ou da performance avaliada. O autor é responsável e consciente pelo seu processo de aprendizagem. Coavaliação: o avaliador é um par da ação, da produção, ou da performance avaliada. Este “par” deve ser na verdade o grupo que de forma cooperativa e compartilhada vai intervir no processo de forma global, agregando valor às produções de todos os envolvidos.

A maioria dos cursos online e também presenciais, priorizam a heteroavaliação, que é o professor, o avaliador “experiente, geralmente professor da atividade, no tratamento do objeto de estudo a ser avaliado. É alguém que tem um repertório amplo e que interage com a pluralidade de todo o grupo de forma mais intencional e planejada” (SANTOS, 2014, p. 321). E na Educação Online, compreendendo a avaliação de maneira interativa, formativa, processual e que prioriza o aluno e sua aprendizagem e desenvolvimento de competências, precisamos fazer com que este seja partícipe do processo avaliativo como forma de desenvolver sua autonomia e compromisso com a construção do seu conhecimento e de seus pares.