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6 METODOLOGIA

6.2 O Método: Estudo de caso

O estudo de caso é uma metodologia de pesquisa de acordo com Yin (2010), pois para o autor o seu objetivo se retrata em esclarecer questões de estudo, podendo envolver casos único, múltiplo, holístico ou integrado, não devendo ser confundido com etnografias ou observação participante, nem mesmo como estágio para explorar algum outro método. Neste sentido, conceitua que

O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quanto os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes (YIN, 2010, p. 34).

Podemos significar que a necessidade de analisar um caso, um fenômeno real em profundidade, faz-se necessário desbravar as condições contextuais, uma vez que as mesmas têm pertinência ao que se está estudando. Além deste fato, o autor ainda nos diz que

A investigação do estudo de caso enfrenta a situação tecnicamente diferenciada em que existirão muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, conta com múltiplas fontes de evidência, com dados precisando convergir de maneira triangular, e como outro resultado beneficiar-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para orientar a coleta e análise de dados (YIN, 2010, p. 40).

Esta passagem de fala do autor nos mostra que um estudo de caso para ser válido e complexo, completo, precisa recorrer a uma diversidade de fontes de coleta, de modo a se buscar uma compreensão holística da observação direta dos eventos estudados e entrevistas com as pessoas, não se limitando a estas, mas sendo elas fontes de evidência do caso. De tal maneira, a sua consistência se coloca nesta multiplicidade de evidências, seja documentos, entrevistas, observações etc, o que buscamos efetivar em todo o nosso caminho da pesquisa.

Como fatores importantes que se destaca é que este método não necessariamente precisa ser qualitativo, podendo ser imbricado com o quantitativo, o que não foi o foco deste trabalho, e, tem que apresentar de forma rigorosa e justa os dados empíricos, devendo ser usados quando:” A)As questões “como” ou “por que” são propostas; B)O pesquisador tem pouco controle sobre os eventos; C) O fenômeno está sobre um fenômeno contemporâneo no contexto da vida real” (YIN, 2010, p. 22).

Portanto, tal método do estudo de caso é preponderante quando nós pretendemos compreender um fenômeno social contemporâneo de forma profunda, holística e complexa. Neste viés de conceber o Estudo de Caso como metodologia de Pesquisa estão os autores: Denzin e Lincoln, 2005; Merriam, 1998 e Yin, 2009-2010, contudo, Stake (2005) diz que o mesmo não é um método, mas uma escolha que tem por significado estudar um caso no interior de um sistema delimitado (CRESWELL, 2014). Também acreditando no viés qualitativo em que o Estudo de Caso, perspectiva essa que nós acreditamos, Creswell (2014), é uma metodologia, um projeto de pesquisa que pode ser tanto objeto de estudo como também ser produto da investigação. Coaduna com o olhar de Yin (2010) no sentido de ser o estudo de uma situação em contexto real, ou múltiplos sistemas (casos) ao longo de um tempo determinado e com a máxima variedade de instrumentos de coleta, como forma de possibilitar tanto relatar o caso estudado como seus temas. Ainda segundo ele, a “unidade de análise no estudo de caso pode ser múltiplos casos (um estudo plurilocal) ou um único caso (um estudo intralocal)” (CRESWELL, 2014, p. 87, grifos do autor), o que no caso deste estudo foi plurilocal, por ter se dado em dois contextos diferenciados, sendo um dentro do Brasil e outro no exterior.

Fazer um estudo de caso é desafiador, pois requer habilidades, nem sempre compreendidas pelos pesquisadores, e assim, Philliber, Scwab e Samsloss (1980) apud Yin (2010) para ajudar na formulação de um bom estudo de caso diz que precisa conter os seguintes elementos: 1-Questionar da pesquisa; 2-Que dados são relevantes; 3-Quais dados a coletar; 4- Como analisar os resultados. De tal modo, o estudo neste sentido precisa se preocupar também com o que Stake (2000) coloca, que é a natureza, contexto em diversas facetas, histórico, outros casos que o fazem ser reconhecido, e os seus informantes que nos farão analisar o caso, os sujeitos de pesquisa.

Creswell (2014, p. 87) se apoia em Yin (2009) e Stake (1995) para caracterizar um Estudo de caso, e dentre os elementos destacamos alguns: 1-Escolher um ou mais casos concretos, que no geral os pesquisadores se detém em casos atuais para não perder dados relativos ao tempo; 2-A intenção de realizar um estudo de caso pode se dar de modo intrínseco (caso qualitativo para registro do que for peculiar), ou instrumental (caso para entender questão

problema, problema ou preocupação específica e, dentro disto se seleciona caso ou casos buscando resolver a questão), contudo este último pode se subdividir estudo de caso instrumental único (caso único) ou estudo coletivo (casos múltiplos), o que no nosso é coletivo, que ao nosso olhar tem a possibilidade ou não de contestar uma generalização teórica existente; 3- Precisa conter compreensão profunda do caso e múltiplas fontes de coleta; 4-Na forma de analisar os temas ou questões dos casos através do cronológico elaborado pelo pesquisador com semelhanças/diferenças entre os casos, ou apresentados por modelo teórico, e este último é que nos escolhemos realizar na tese, deixando; 5- A forma de finalização do caso são geralmente realizadas por conclusões a partir do olhar do pesquisador sobre os casos, o que Stake (1995) denomina asserções, explicações ou construções de padrões segundo Yin (2009) e o Creswell (2014) as coloca como lições apreendidas pelo pesquisador sobre o caso.

Na literatura Gil (2009, p. 2-5) traz colocações de extrema relevância para clarear o entendimento do que realmente Não se caracteriza um Estudo de Caso e, como tal, coloca 8 elementos: 1-O que não é estudo de caso: em que critica o abuso esta modalidade de pesquisa entre os pesquisadores, de maneira inadequada a modalidade de pesquisa, no qual ele denomina o Estudo de Caso; 2- Não é estratégia de ensino: pois não deve ser confundido com uma estratégia de ensino adotada em centros universitários com tal denominação, as quais são estratégias de ensino de cunho didático, o que acontece muito em cursos de Administração, por aproximar a sala de aula das empresas; 3-Não é estudo exploratório: nem todos estudos de caso são de cunho exploratório; 4- Não é pesquisa qualitativa: apesar de muitos serem de abordagem quantitativa, não se pode remeter a confundir estudo de caso com apenas esta abordagem; 5- Não é análise de caso: não se resume a analisar um caso, com dados já disponíveis de um grupo, organização ou comunidade, fato ou fenômeno, mas a trabalhar no sentido de como método realizar procedimentos de planejamento, coleta, análise e interpretação de casos; e, por fim 6- Não é simulacro de pesquisa: não é inventar que se está fazendo uma pesquisa, onde critérios são aleatórios e circunstanciais, sem ligação com o objeto, mas com a conveniência do pesquisador. Tal colocação do autor nos faz percebemos a importância e o comprometimento que um pesquisador precisa ter para realizar tal metodologia de Estudo de Caso, tendo ciência de seus usos indevidos e buscando realizar com ética científica o trabalho que se propõe, quando escolhe tal viés de pesquisa.

O mais interessante, é que Gil (2009) não apenas se prende na crítica do que não é Estudo de Caso, mas apresenta para nossa reflexão o que seria verdadeiramente, e, coloca um modelo proposto para produzir conhecimento no âmbito da Metodologia de Pesquisa Científica, não o reduzindo como método ou técnica de coleta de dados. De tal modo, complementa seu

conceito pontuando suas características inerentes a tal estudo, sendo estas: A) É um delineamento de pesquisa: não sendo confundido com técnica, método ou outros com essência apenas em coleta de dados; B)Preserva o caráter unitário do fenômeno estudado: a unidade caso é vista de maneira ampla e complexa, como um todo; C)Investiga um fenômeno contemporâneo: mesmo considerando diversos elementos condicionais históricos o objeto é de ocorrência no momento que se realiza a pesquisa; D)Não separa o fenômeno do seu contexto: difere de outras linhas, pois não se limita por variáveis, por exemplo, sendo flexível; E)É um estudo em profundidade: neste tipo de estudo os elementos de coleta, como entrevistas e outros, não são tão estruturados, como forma de obter maior profundidade; F)Requer utilização de múltiplos procedimentos de coleta de dados: ou seja, busca utilizar técnicas de coletas e múltiplas fontes para conseguir dar conta de sua necessidade de olhar o caso de maneira holística.

Nesta tese, realizamos o estudo de dois casos bastante peculiares, um na Universidade Aberta de Portugal, com os alunos do curso de Mestrado em Pedagogia do Elearning, a qual é referência única de ensino público e tem grupo de pesquisa na área de avaliação da aprendizagem online, bem como o curso no Consórcio CEDERJ/UERJ, este último de Licenciatura em Pedagogia à Distância. Ambos têm grande relevância por seu destaque com atuação numa perspectiva paradigmática de EOL, com pressupostos de interatividade como elementos da avaliação da aprendizagem. Realizaremos a melhor descrição dos campos e sujeitos a posteriori.

Assim, buscamos descrever e explicar os casos e suas especificidades, singularidades no nível nacional e internacional, sem buscar comparar os contextos que são bem diversos, mas dialogar com o que cada um deles pode nos auxiliar para ampliarmos o olhar para uma avaliação da aprendizagem coerente com a Educação Online, levando em consideração as partes que o compõem em cada um com o todo.

Neste sentido de ser um estudo de caso múltiplo, o autor coloca que “tentar usar um projeto de dois casos é um objetivo valioso, portanto, comparado com a realização de um estudo de caso único” (YIN, 2010, p. 46). Sabemos que quanto mais casos menor o nosso poder de descrição aprofundada dos mesmos, mas escolhemos os dois, mencionados anteriormente, por serem bastante significativos para nossa questão de pesquisa e que eram situações plurais, mas que muito poderiam nos auxiliar a analisar o complexo objeto de estudo que temos.

Além disto, a maioria dos pesquisadores, de acordo com Creswell (2014), buscam não generalizar um caso para outro, em virtude dos contextos serem diferenciados, e em estudos de casos múltiplos ele nos fala que

[...]Quando são escolhidos múltiplos casos, um formato típico é fornecer primeiro uma descrição detalhada de cada caso chamada de análise dentro

do caso, seguida por uma análise temática entre os casos, chamada de análise cruzada, bem como asserções ou uma interpretação do significado do caso

(CRESWELL, 2014, p. 89 grifos do autor).

Assim, fizemos um estudo intrínseco de cada caso, analisando dentro dos casos, aprofundando seus elementos peculiares e, que nos ajudaram a compreender nosso objeto problema de pesquisa e, possíveis indicações para resolver a questão central. Entercruzando os temas que transversalizavam nosso debate acerca da Avaliação da Aprendizagem Online tivemos, a posteriori, a ousadia de realizar uma generalização analítica (STAKE, 2010), por meio de nossa proposta de avaliação interativa-mediadora, a qual segundo Yin (2010), pode gerar proposições teóricas que podem ser aplicadas em contextos outros. Tal ação, faz o Estudo de caso tentar sair da crítica ao mesmo de que seus resultados nem sempre podem ser generalizados e da questão de como aplicar os seus resultados, pretendendo evadir “da lógica que rege o desenho da pesquisa não é a da amostragem, mas a da replicação” (ALVEZ- MAZZOTI, 2006, p. 10).

Portanto, coadunamos com o consenso científico que conceitua o Estudo de Caso Qualitativo, que tal tese se centra, como uma investigação de uma unidade específica, situada em seu contexto, com critérios definidos de maneira predeterminada, que se utiliza de variedade de fontes de coleta de dados, e que, por síntese, propõe a gerar uma visão holística do (s) fenômeno(s) que se coloca para estudo (ALVEZ-MAZZOTI, 2006, p. 14).

Uma de nossas grandes dificuldades foi definir o que descrever e explicar dos casos, uma vez que as práticas avaliativas de ambos os campos eram diferenciadas, complexas e de bastante riqueza, e isso Creswell (2014) coloca também como desafio, que se retrata não apenas da ou das escolhas dos casos, mas “decidir as fronteiras do caso”, ou seja, modos de fazer com que o caso seja descrito em sua essência mais importante, para que possa ser delimitado de maneira coerente em virtude de fatores como tempo, eventos e processos dos casos.

Assim, tal Metodologia do Estudo de Caso não é simplista e, sendo assim, cabe a nós não banalizar a mesma, buscando relatar este tipo de estudo de maneira minuciosa, crítica, articulada, coerente com seus preceitos e características. É preciso analisar os casos em sua complexidade, olhando para o todo não como soma das partes, não desconsiderando sua multirreferencialidade, sua imersão em um contexto sócio-cultural, não perdendo a capacidade de dialogar com a área de objeto de estudo. Além disto, é de responsabilidade e inerente a todo pesquisador realizar o exercício de trazer contribuições à ciência a partir de sua autoria, ousadia e criticidade.

É importante salientar, que apesar do método ser Estudo de caso, tivemos uma pesquisa profundamente etnográfica, mas não em seu sentido complexo, pois de acordo com o conceito de etnografia ela se retrata como uma imersão completa, complexa, no processo em que os casos estão acontecendo, não apenas observando e relatando o fenômeno, mas realizando críticas, em que o pesquisador participa de modo ativo com o objeto do conhecimento (CRESWELL, 2014), e isto não foi realizado, pois realizamos os estudos de casos com os campos já iniciados, em suas disciplinas, o que impossibilitou esta imersão mais ativa e que conduz a intervenção da pesquisadora nos campos.