• Nenhum resultado encontrado

4 APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ONLINE

4.1 Conceituando aprendizagem a partir das abordagens clássicas

A compreensão do conceito de aprendizagem não se dá de forma unívoca na literatura e tem relação com os construtos da Filosofia e da Psicologia. A partir do século XVI até o XVIII os filósofos se inquietam em refletir a respeito do conhecimento da verdade, o que caracteriza um período histórico do Renascimento, e negação a ideias que eram vigentes até o momento e ao poderio da igreja. Temos assim duas correntes filosóficas que consolidam o olhar sobre o conhecimento da verdade, o Racionalismo (Descartes, Malebranche, Spinoza, Leibniz, Wolff), que entendem que a razão não tem fundamento no sensorial, sendo o homem sujeito que nasce sabendo, os princípios lógicos são inatos, e o Empirismo (Francis Bacon, Hobbes, Locke, Berkely, Hume), que concebe que o homem nasce como uma tábula rasa e que a partir de suas experiências sensoriais com o mundo de origem se constroem os conhecimentos.

Fundamentando-se como ciência a partir da Filosofia, a Psicologia tendo como um de seus objetos de investigação o desenvolvimento humano, como o indivíduo se desenvolve a partir dos aspectos motor, afetivo e cognitivo bem como a relação que ele estabelece com o seu meio, concretiza diferentes reflexões acerca do processo de construção do conhecimento humano. A Educação, compreendendo que o seu foco apenas no ensino não auxilia a construção de um processo de formação autêntica, crítica e que contribua para emergir sujeitos críticos, atores de sua história e da transformação desta, busca compreender o sentido de aprendizagem para tal, e assim, fundamenta-se no campo da Psicologia para relacionar o ensino com a aprendizagem.

As teorias da aprendizagem oriundas da Psicologia propõem modelos explicativos do processo de ensino e aprendizagem a partir de três abordagens: Comportamentalista, Cognitivista e Humanista, consideraremos nesta discussão as duas primeiras. É importante

destacarmos que tais modelos não foram elaborados com o foco para a Educação, mas que esta ciência se apoia para ressignificar as práticas educativas.

A abordagem Comportamentalista não iremos discutir, pois não coaduna com nosso olhar de aprendizagem, por compreender a mesma como transmissão, memorização de conhecimento, condicionamento, como estímulo-resposta, que é central no Behaviorismo.

A Abordagem Cognitivista compreende a aprendizagem não mais a partir de elementos completamente externos aos indivíduos, mas do intrínseco, ou seja, baseada no cognitivo do sujeito, em sua mente, na forma como compreende o mundo. Dentro do que é concebido como Teoria Construtivista, ou como Construtivismos, termo adotado por Bidarra e Festas (2005) e coloca como argumento para tal que a “pedagogia construtivista”

Em primeiro lugar, podemos referir o factode a mesma não comportar um corpo uniforme de orientações quanto às estratégias e práticas a adoptar no campo educativo. Mesmo no interior de cada uma das perspectivas construtivistas, podemos encontrar directivas diversas quanto aos aspectos como o grau de intervenção do educador e de planificação do ensino, o papel da avaliação e o lugar ocupado pelos pares no processo de ensino- aprendizagem (BIDARRA; FESTAS, 2005, p. 178).

Apesar de diferentes concepções do processo de ensino e aprendizagem há um ponto comum entre os diversos Construtivismos, que é o aluno como fator primordial na aprendizagem, sujeito ativo na construção do conhecimento. Contudo, iremos discutir apenas os autores que nos auxiliam a pensar a Aprendizagem no cenário online, que são os autores Piaget (Epistemologia Genética), Vigotski (Teoria Sociocultural) e Ausubel (Aprendizagem Significativa).

Piaget foi o precursor das teorias Cognitivistas, pois a partir dele outros estudiosos se apoiaram para criar suas teorias com base em vertentes do seu pensamento, que é considerado dentro do Construtivismo. Piaget (1999, 2013) tinha como objetivo de estudo conhecer como o indivíduo saí de um nível de conhecimento para outro, ou seja, entender a inteligência humana, sua gênese e estrutura da inteligência. Para tal, ele foca os aspectos internos, individuais, e pontua estágios pelos quais todos os indivíduos passam para adquirir conhecimento, que é muito subjetivo, pois são os aspectos mentais. Sua teoria não enfoca tanto o social, apesar de não o desconsiderar por completo.

O que podemos associar de seus construtos para o olhar da aprendizagem em rede é a ideia de desequilíbrio cognitivo, pois mesmo ele não considerando a escola, o professor como agente de mediação importante no processo de construção do conhecimento, temos tal visão

como fundamental no processo de aprendizagem. O professor deve causar desequilíbrios cognitivos para que os alunos possam buscar a partir dos seus erros aprender, e neste aspecto e considerando a adaptação da teoria ao contexto virtual Alves (2008) nos fala

en la formación superior a través de Internet, las atividades deben ser organizadas, orientadas, fomentando la experimentación, la contrastación, la curiosidade, la iniciativa y la solució de problemas iguales. Dichas atividades devem suscitar dudas, contradicciones, pertubacionesy desequilíbrios en el sujeto, de manera que él intente compensar y alcanzar el equilíbrio mediante la revisión de la forma de pensar, resultando en una reestructuración cognitiva y en el consecuente progreso en el conocimiento (p. 34).

Assim, vemos que o erro não é elemento de punição, como no Behaviorismo, mas elemento que conduz os discentes a questionar, a pesquisar, a buscar refletir sobre soluções para o mesmo, e isto é um caminho para a aprendizagem sólida e efetiva. Portanto, o erro é um andaime para o aprender, e no online isto também é tido como aspecto fundamental.

Adentrando a teoria de Vigotski (2008, 2015) vemos que tem bastante contribuição para o nosso olhar da aprendizagem, pois adentra ao sociointeracionismo, não tem como foco uma perspectiva externa, mas social de construção do conhecimento. Isto significa que o processo de aprendizagem não é individual, mas acontece a partir da interação do sujeito com seu ambiente e outros sociais, no meio histórico e cultural do sujeito.

Os conceitos que nos são relevantes ressignificar para o online é o de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que remete aos indivíduos de diferentes níveis de conhecimento aprenderem uns com outros, e na interação conseguem realizar o que ainda não são capazes de fazerem sozinhos. Tal conceito ressalta a importância não apenas do professor no cerne do processo educativo, como dos pares, com o conceito de colaboração para aprendizagem, e onde professores e alunos são parceiros na construção do processo de ensino e aprendizagem.

O autor traz uma concepção de aprendizagem que considera o plano interpsicológico e intrapsicológico, o qual emerge o conceito de internalização, que é a forma como os indivíduos constroem e singularizam o conhecimento, pois cada pessoa irá conceber o aprendido de forma diferente. Vale salientar que ele dá ênfase que o aprender se dar do processo interpsicológico para o intra, mostrando a ênfase no social como elemento construtor de aprendizagem.

A ideia que somos seres mediados por instrumentos e signos, a importância dada a linguagem, primeiro com função comunicativa e posteriori como estruturadora do pensamento, sem falar na mediação humana que é salientada em sua teoria, o que só enfatiza a importância

que damos a ele também no conceber a aprendizagem online. Assim, tendo entendendo sua contribuição no online vemos

[...] en el contexto virtual de formación superior a través da internet, considerando los recursos comunicativos de este entorno, entendemos que esta teoria puede ser tomada como base teórica de los procesos de aprendizaje colaborativo. [...] la función docente es la de prestar ayuda estratégica para que el alumno sea cada vez más autónomo y activo en la construción del conocimiento. [...] el acento deve recaer sobre la generación de propuestas que reconozcan el valor de la facilitación externa y el desarrollo de atividades que posibiliten la interación [...] (ALVES, 2008, p. 57-58).

Concebendo a aprendizagem um processo a ser construído interativamente, a teoria de Vigotski (2008, 2015) nos dá base no virtual para buscar desenvolver um desenho didático interativo em que o professor possa criar atividades que façam os alunos vivenciarem a colaboração, a efervescência da ZDP nas interfaces do AVA, e atue também como mediador para além dos próprios alunos na construção do conhecimento dos discentes.

Consideramos também no olhar da aprendizagem para o online a Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, na qual o aprender acontece a partir da interligação dos conhecimentos prévios dos alunos com os novos conhecimentos que estão sendo abordados. Há duas condições básicas para tal: 1- que o material de aprender seja potencialmente significativo, 2- o aprendiz está predisposto a aprender (MOREIRA, 2011, p. 24). Assim, o processo de aprendizagem é visto dialeticamente, onde o professor e aluno precisam estar dispostos ao processo de ensino e aprendizagem, e o docente tem papel de facilitar para o aluno o conhecimento.

O professor, como na teoria de Vigotski, tem papel central no sentido de considerar os conhecimentos prévios dos alunos, criar organizadores prévios quando os alunos não possuírem os conceitos subsunçores para os conteúdos a ser abordados, de modo a construir conteúdo significativo, e o aluno por sua vez precisa está disposto, motivado a aprender, a descobrir. Considerando as singularidades do virtual vemos novamente a importância de se conhecer o contexto sócio-cultural do aluno e neste sentido

[...] el docente deve estar siempre atento a las variables cognitivas y las variables motivacionales, y a lo que se refiere a la influencia de estas variables en el aprendizaje significativo. [...] el professor debe dar a conocer a los alunos, de antemano, los objetivos del aprendizaje o de cada tarea para que la motivación aumente y sea posible desarrollar la situación educativa de manera eficaz. [...] Cada persona tiene una interpretación subjetiva de los contenidos- y esta interpretación se relaciona com las vivencias previas. Y estas vivencias previas son la base de la construcción del conocimiento, por tanto, no pueden ser ignoradas (ALVES, 2008, p. 77).

Vemos aqui a importância de se conhecer o aluno a partir da diagnose dos conhecimentos prévios e suas realidades, o que coaduna com o nosso olhar de avaliar e por conseguinte de aprender, pois não se pode desconsiderar estes elementos e as singularidades e formas de aprender dos alunos. Tanto que hoje muito se discute na literatura as inteligências múltiplas de e os estilos de aprendizagem dos alunos como forma de se considerar esta multiplicidade de seres singulares que são diferentes e aprendem de formas também diferentes. Adentrando a última teoria que consideramos relevante e também de base Cognitivista, temos a Psicogenética de Henri Wallon, pois o mesmo trata que as fases do desenvolvimento da pessoa humana tanto no sentido do ser como do conhecimento, e assim, propõem uma relação da afetividade com a inteligência. Sendo uma teoria que relaciona o comportamento humano em suas emoções nas diversas fases, com seus conflitos que precisam ser superados, é muito importante compreender estas singularidades para saber superar tais conflitos e fazer com que o discente em qualquer fase que esteja possa continuar se desenvolvendo.

O que tiramos de tal teoria é a importância dada as emoções, ao afetivo, entendendo que “a caracterização que apresenta da atividade emocional é complexa e paradoxal: ela é essencialmente social e biológica em sua natureza (…) sendo a consciência afetiva a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica” (DANTAS, 1992, p. 85-86). Concebemos que a afetividade é fundamental para a criação de um estar junto virtual (VALENTE, 2011), para que no virtual possamos criar uma comunidade de aprendizagem com os alunos. A empatia, o diálogo afetivo e próximo com os alunos, a abertura a espaços de comunicação informal com os alunos só tende a auxiliar e aproximar o aluno do professor, e isso, certamente, auxilia no processo de ensino e aprendizagem.

Portato, as teorias clássicas aqui tratadas, mesmo possuindo bases epistemológicas e pedagógicas diferenciadas nos auxiliam no olhar da aprendizagem em rede e nos mostra que nenhuma teoria em si deve ser considerada como completa, dar conta da complexidade do conceito de aprendizagem. Assim, podemos remixar, analisar o melhor de cada uma delas e utilizar as estratégias subjacentes de acordo com os contextos, momentos e objetivos de aprendizagem que temos em determinado processo formativo.

A Cibercultura desafia novamente o nosso olhar sobre a compreensão do que é aprendizagem, e de tal modo, precisamos fazer um esforço para entender o contexto atual, como se modificam os sujeitos e que novo rumo se dá a aprendizagem, tanto do ponto de vista teórico, que precisa ser construído, como do prático, com novas possibilidades de ação que possam realmente fazer com que o aluno aprenda de maneira significativa no online.