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2.1 Trabalho Agrícola

2.1.3 Artefatos utilizados na colheita manual de laranja

Para Oliveira et al. (2006), a colheita manual de produtos como frutos, hortaliças e a cana-de-açúcar utiliza processos, procedimentos e artefatos com condições ergonômicas de trabalho e níveis de produtividade bastante deficientes. Ainda segundo os autores, quando as condições ergonômicas de trabalho são desfavoráveis, ocorre a rejeição desses postos de trabalho por parte do empregado, principalmente das novas gerações; por sua vez, o empregador também não se sente motivado, quando o nível de produtividade está baixo.

De acordo com Nascente et al. (2004), os artefatos utilizados na colheita de laranja quando os frutos destinam-se ao mercado ou exportação são: escada (metal leve e resistente); sacolas de colheita (lona resistente e em modelo padronizado, com fundo falso, boca reforçada com couro ou aros metálicos, apresentando capacidade para 20 kg); tesoura ou alicate de colheita, (lâminas curtas e pontas arredondadas para evitar ferimentos aos frutos), cestos ou caixas plásticas com capacidade para 27 kg e reboques, utilizados para transportar as caixas de colheita para os galpões de pós-colheita.

Já na colheita de fruto para processamento do suco, os equipamentos utilizados são: sacola com capacidade de 27,2 kg e fundo falso preso por ganchos, para depósito dos frutos;

bags com capacidade cerca de 550 kg, para despejo e armazenamento final dos frutos da sacola; e escadas de metal, para alcance dos frutos (BAPTISTELLA, 1998; CORREA et al., 2009; MOLIN et al., 2007).

Ainda segundo os autores, todos os colhedores, presentes na colheita dos frutos para mercado, exportação ou para processamento do suco, devem fazer uso de bota de segurança, perneira para proteção contra animais peçonhentos, óculos de proteção contra galhos e partículas suspensas, luvas, boné árabe, marmita e garrafão térmico.

Os estudos encontrados relacionados, diretamente, aos artefatos utilizados na colheita manual de laranja foram: Rodrigues et al. (2008); Correa et al. (2009); Vidal et al. (2015); Lopes et al. (2000) e Mello et al. (2016), os quais serão abordados com maior detalhe abaixo.

Rodrigues et al. (2008) apontaram em seu estudo proposições de melhoria na sacola de colheita, com alterações de material, dimensão e característica da boca, para teste de protótipos, tomando como base a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Foram testados dois tipos de material diferentes para construção do sacador, a fim de proporcionar maior durabilidade, a saber: uma lona vinícola de PVC e uma tela de polietileno de alta densidade que

não desfia; outras alterações testadas foram os materiais utilizados para abertura da boca (correia, couro, borracha e mangueira) e a capacidade de 20 kg, ao invés de 27,2 kg.

De acordo com os autores, os protótipos seguiram em fase de teste, pois as alterações sugeridas apresentaram necessidades de melhoria, conforme relato dos trabalhadores entrevistados no estudo, com aceitação da abertura da boca e dos materiais utilizados para confecção do sacador.

Corrêa et al. (2009) direcionaram seu estudo para uma modificação estrutural na escada de uso normal dos colhedores, com perfil reto das hastes, com o objetivo de melhorar a condição de segurança na colheita, avaliando para isso os critérios relativos à estabilidade lateral, o transporte e o manuseio da mesma, além de aspectos da produção dos colhedores (caixa/dia). Para ganho de estabilidade, os autores adaptaram na ponta das hastes da escada um pino de sustentação, não pontiagudo, de 4 cm e, uma sapata ou mão francesa, nas laterais, reduzindo, com isso, as situações de instabilidade em 72%, durante a colheita (Error! Reference source not found.3).

Figura 3. Adaptação realizada na escada.

Fonte: (CORREA et al., 2009).

Por sua vez, Vidal et al. (2015) buscaram a melhoria da eficiência da colheita manual de laranja, avaliando as correlações das medidas antropométricas dos colhedores e o tempo de colheita dos frutos, nas diferentes regiões das plantas. Eles encontraram maior eficiência de colheita no terço médio da árvore, relacionando-a com a postura corporal adotada de tronco ereto e pernas, levemente, flexionadas sobre o joelho. Para os autores, estes posicionamentos permitiam aos colhedores maior ângulo de colheita e envergadura, com alcance da parte superior da planta, acima da cabeça e, também abaixo da cintura, o que proporcionava ganho em eficiência.

Mello et al. (2016) propuseram alternativas ao sistema de colheita normalmente utilizado, sugerindo a retirada da sacola do ombro do colhedor, com o objetivo de desenvolver uma atividade mais segura, confortável e produtiva, para o colhedor de laranja. Com base nisso, três sistemas de colheita foram selecionados para experimentação: 1) escada de alumínio com bacia e duto de lona e sacola fixa na base da escada, 2) escada de alumínio com bacia, duto de PVC, rodas e sacola fixa na base da escada, 3) escada de alumínio e sacola alternativa, denominada “pano de colheita com abas” apoiada no solo debaixo da copa da árvore.

De acordo com os autores, os dois primeiros sistemas se mostraram inadequados, em ensaios preliminares, devido à dificuldade do colhedor em manter a escada na vertical. Sendo assim, apenas a escada com uso de “pano com abas” foi comparada à escada convencional utilizada na propriedade, encontrando a partir da análise de tempos operacionais para colheita de uma sacola, melhora no conforto do colhedor. Entretanto, o sistema apresentou pontos de melhoria com relação à produtividade alcançada, já que houve uma queda na produção individual e aumento no tempo de colheita com seu uso.

De acordo com Tachibana et al. (2002) e Gameiro et al. (2011), os avanços tecnológicos presentes no processo de colheita manual de laranja, implantados e efetivos, referem-se apenas ao carregamento dos frutos, o qual está vinculado à logística de retirada dos frutos do pomar e distribuição dos mesmos nos bins, com transporte para o mercado in natura, ou empresas processadoras.

Este carregamento é realizado com uso de um trator com guincho e auxílio de um sistema de transbordo, ou bin, para o caminhão (TACHIBANA et al, 2002). Segundo o mesmo autor, essa alteração influenciou a forma de armazenamento intermediário dos frutos, a qual ocorria com o uso de caixas ou saquinhos depositados no solo para a equipe de carregamento, que posteriormente realizava o armazenamento final dos frutos contidos nas caixas ou saquinhos para os caminhões. Ao invés disso, com o uso desse sistema mecanizado, o trabalhador, que antes realizava apenas a retirada dos frutos, deve agora colhê-los e acomodá- los em bags, para armazenamento final.

Não obstante, a mecanização do carregamento e transporte interno tem se revelado economicamente atrativa por uma série de razões (GAMEIRO et al., 2011): a) Reduzem custos em função de notáveis ganhos de escala na operação de carregamento; b) Os bins funcionam como pulmões (estoques intermediários), possibilitando um fornecimento mais constante de frutos para os meios de produção, o que não ocorre quando o carregamento depende exclusivamente do carregamento manual pela equipe de colheita; c) O uso dos bins reduz os

riscos fitossanitários externos, pois os únicos veículos que adentram o pomar se restringem a um circuito fechado pomar-bin, ficando isolados do contato externo.

Iniciativas ligadas à mecanização do processo de colheita estão sendo testadas em pomares brasileiros e sua implantação ainda é incerta devido à dificuldade de adaptação aos pomares (declividade do terreno, densidade dos talhões, dentre outros), seu alto custo de implantação e a dificuldade em conciliar alta taxa de produtividade e qualidade dos frutos colhidos, sem prejuízo à safra seguinte.

O emprego de multiplataformas elevatórias destaca-se como alternativa à mecanização total da colheita, caracterizando-se por ser apenas um dispositivo de ajuda ao colhedor, com o intuito de manter o nível de seleção dos frutos e aumentar a produtividade. Estudos mostram que pode haver um incremento na produtividade da colheita fazendo uso deste sistema de multiplataformas, com dados indicando um aumento de 40% (COPPOCK et al., 1960; EHSANI et al., 2010).

Estudo desenvolvido no Brasil, comparando o método manual e o uso de multiplataformas, conduzido com base no referencial metodológico da Análise Ergonômica do Trabalho e critérios de análise de tempos de colheita, apontou aumento de produtividade em até 60% no uso de multiplataformas. A análise cinesiológica, realizada de forma comparativa entre esses métodos de colheita, apresentou resultados positivos na redução da carga física imposta, com melhorias nas condições de trabalho no uso de multiplataformas (COSTA et al., 2012).

Entretanto, ainda segundo os autores, apesar da redução da carga física e benefícios alcançados, verificou-se a necessidade de ampliar o estudo, com análises de ordem cognitiva e organizacional, para assim considerar todos os componentes da carga de trabalho, a fim de que se tenha um direcionamento completo a respeito da escolha do método que beneficie ambos, produtores e colhedores.