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2.1 Trabalho Agrícola

2.1.1 Características da Cultura da Laranja

A citricultura corresponde à plantação de frutas cítricas como limão, laranja, lima, tangerina e cidra. No Brasil, os números expressivos dessa atividade traduzem sua grande importância dentro do contexto econômico e social do país. A história do desenvolvimento da citricultura está intimamente vinculada à própria história do Brasil, em que dadas às condições de cultivo favoráveis, as plantas introduzidas pelos portugueses, entre 1530 e 1540, ainda no Brasil Colônia, foram reconhecidas como de frutos mais sucosos e de excelente qualidade, quando comparados com os originários de Portugal. A implantação comercial de citros ocorreu somente a partir dos anos 30 do século passado, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia (EMBRAPA, 2005).

Os três maiores produtores mundiais de laranja são o Brasil, ocupando o primeiro lugar, seguido dos Estados Unidos e da China, esta com a terceira maior produção mundial (CONAB, 2017). A maior região produtora de laranja no Brasil concentra-se no cinturão citrícola e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais, destacando-se ainda o estado de São Paulo, com 80% da produção nacional (NEVES et al., 2010), apesar da queda produtiva neste estado, derivada de doenças, como o Greening, o qual prejudica o desenvolvimento dos frutos, tornando-os ácidos e com queda precoce (FUNDECITRUS, 2015).

A muda da laranja é resultado de uma implantação de uma porção do material genético da planta matriz na haste de outra planta que servirá de porta-enxerto. Ele tem forte influência na qualidade do fruto e sobre a copa das árvores, determinando suas características principais

(produção, época de maturação, teor de açúcares e ácidos, etc). (PAULILLO, 2006; JORGINO et al., 2008).

As principais variedades produzidas são ‘Natal’, ‘Valencia’, ‘Pera’ e ‘Hamlin’, cujos períodos de maturação as classificam em tardias, meia estação e precoce, respectivamente (CAPUTO, 2012; SARTORI et al., 2002). O grau de maturidade do fruto é dado pelo coeficiente resultante da relação entre o ponto ótimo do Brix, referente à quantidade de açúcares presente no suco, e o grau de acidez deste (% de ácido cítrico presente). Este coeficiente também é chamado de Ratio e representa o melhor teor ou porcentagem de sólidos solúveis presentes no suco (VOLPE, 2002; MUNHOZ, 2009).

A produção brasileira se estende ao longo de todo o ano, devido às diversas variedades existentes, entretanto, o período de safra maior ocorre de maio a fevereiro, com picos de produção nos meses de agosto a novembro, o que está relacionado às características das principais variedades plantadas (CONAB, 2011).

De acordo com estimativa recente do FUNDECITRUS, praticamente 90% do cinturão citrícola são formados por cinco variedades: Pera Rio, Hamlin, Valencia, Natal e Valencia Folha murcha. Dentre elas, destacam-se a Pera Rio, com 34% do total, liderando desde 2007 como a variedade mais plantada; a Valência com 29%, segunda variedade mais produzida e a Hamlin, com 12%, em terceiro lugar (Gráfico 2) (FUNDECITRUS, 2017).

Gráfico 2. Distribuição das árvores de laranja produtivas e não produtivas por variedade.

O ciclo de desenvolvimento de uma árvore cítrica sadia varia de 6 a 16 meses entre o florescimento e a maturação dos frutos. Em condições climáticas adequadas, a produção frutífera se inicia no terceiro ano de vida, tendendo ao aumento até o 10° ano, quando já se caracteriza como planta adulta, seguindo até os 20 anos, com produtividade economicamente viável (NEVES et al., 2010; PAULILLO, 2006).

A diversificação é incentivada como forma de redução de riscos e combate às doenças que assolam o cultivo de laranja, principalmente no Estado de São Paulo, o qual enfrenta o avanço doHuanglongbing (Greening) (GONÇALVES, 2011; ARANTES, 2013).

Desde a década de 1990, o adensamento de árvores por hectare tem crescido e se consolidado como estratégia para redução de custos, com melhor uso de insumos e recursos mecânicos. O número de pés plantados passou de 357 árvores/hectare para 467 árvores/hectare no início dos anos 2000. Essa técnica teve o objetivo de otimização da área ao reduzir o espaçamento entre plantas e entre as linhas que compõem as ruas de colheita (PAULILLO, 2006; NEVES et al., 2010).

Atualmente, a densidade média de pomares adultos é de 467 árvores/hectare. No entanto, tratando-se de pomares em formação, os seja, aqueles implementados em 2015 e 2016, a densidade média é de 759, onde há o dobro de plantas em comparação aos plantios formados há três décadas (Gráfico 3) (FUNDECITRUS, 2017). Ainda segundo este inventário, os pomares em formação com densidade média mais elevada, estão na região de Altinópolis, com 833 árvores/hectare, seguido de Itapetininga e Matão, com 783 árvores/hectare. No lado oposto estão os da região de Triângulo Mineiro com 568 árvores/hectare e Limeira 616 árvores/hectare.

Gráfico 3. Densidade média de pomares por ano de plantio.

O método de quantificação das árvores por faixas etárias dos talhões permitiu a segregação completa de suas árvores por categorias de idade e apresentou os seguintes resultados, divididos em dois grupos principais de plantas: no primeiro grupo, estão os pomares implementados de 2007 a 2011, formados por plantas com idade entre 6 a 10 anos, que contém 73,07 milhões de árvores, dentre as quais: 93% das árvores mantém a categoria de 6 a 10 anos, 4% pertencem à faixa etária de 3 a 5 anos e 3% à faixa de 1 a 2 anos; já o

segundo grupo é formado pelos pomares que ultrapassam os 10 anos de idade, ou seja, formados até 2006 e que totalizam 77,69 milhões de árvores, sendo: 88% das árvores com idade superior a 10 anos; 5% entre 6 e 10 anos; 4% entre 3 e 5 anos, e 3% entre 1 e 2 anos (Error! Reference source not found.) (FUNDECITRUS, 2017).

A idade média dos pomares adultos é de 10,3 anos, o que mostra um parque relativamente novo, porém a maior parte das árvores agora entra na categoria de idade mais avançada. Os mais velhos somam 32.851 hectares ou 8% da área total. Nesse grupo estão os pomares com idade superior a 20 anos (Gráfico 4) (FUNDECITRUS, 2017).

Gráfico 4. Árvores por grupo de idade e faixas etárias do talhão.

Fonte: FUNDECITRUS (2017).

A laranjeira adulta tem de 6 a 10 m de altura, dependendo da variedade e da idade da planta. O crescimento normal da árvore cítrica é ereto e semiesférico, no entanto, com a tendência de pomares com grande quantidade de plantas/ha, elas estão assumindo a forma colunar, com desenvolvimento de copas menores e crescimento em altura, devido à competição por espaço nas laterais (DONADIO e STUCHI, 2001).

Na literatura internacional, estudos de Phillips (1969) e Wheaton et al. (1991) apoiam o desenvolvimento de variedades anãs, para os pomares com maior densidade de árvores/hectare. O principal benefício apontado no controle do tamanho da planta seria o maior aproveitamento no uso das terras e, consequentemente, uma maior produtividade, pois, teoricamente, todo o volume da copa seria considerado como produtivo. Ademais, segundo Childers (1978), o uso destas variedades em pomares adensados acarretaria redução de custos da ordem de 50%, tanto na poda quanto na colheita, sendo nesta última em razão da diminuição da necessidade de uso da escada.

Segundo Donadio e Stuchi (2001), a prática de maior adensamento de árvores/hectare, apesar das vantagens já citadas, pode levar ao sombreamento excessivo da planta, com diminuição da produção na metade inferior da copa e aumento de frutos na parte superior da mesma. Por falta de espaço lateral as plantas tendem a crescer em altura, aumentando a necessidade de uso da escada durante a colheita.

O processo de colheita, de uma forma resumida, inicia-se com o acompanhamento do desenvolvimento dos frutos, em todas as fazendas delimitadas, até o estágio de maturação dos mesmos. Quando próximo de atingir o ponto ótimo de maturação, intensificam-se as análises dos frutos colhidos por amostragem, ocorrendo normalmente a cada duas a três semanas, a fim de verificar a porcentagem de sólidos solúveis presentes no suco (TACHIBANA et al., 2002; MOLIN et al., 2007; BAPTISTELLA, 1998).

Essa verificação, por meio de análises e observações diretas, favorece o planejamento nas fazendas para liberação de determinados talhões e organização para entrada dos trabalhadores nos pomares, com estes iniciando a coleta dos frutos no ponto ótimo de maturação ou o mais próximo dele, visando manter a qualidade dos frutos colhidos e, consequentemente, do suco derivado.