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3.5 Do Artefato ao Instrumento: Instrumentação e Instrumentalização

3.5.6 Equipamentos de Proteção Individual

Os principais equipamentos de proteção que sofrem alterações na sua estrutura, ou possuem esquemas de uso agregados são: a perneira, o boné e o uniforme.

A perneira tem a função designada de proteção da perna contra o acesso e picada de animais peçonhentos, sendo estes a terceira causa de acidentes no pomar de laranja. Entretanto, os colhedores também fazem uso da sua estrutura para maior conforto no apoio da haste da escada, conforme citado, anteriormente, como estratégia de maior segurança e firmeza sobre o degrau da escada.

Seguindo este uso relacionado ao conforto, a existência de três barras de proteção na perneira, duas localizadas lateralmente e uma central, faz com que este modelo tenha a preferência de 81% dos colhedores, uma vez que oferece melhor ponto de apoio da perna do colhedor na haste da escada, reduzindo o desenvolvimento de calosidades, citado como situação comum de ocorrência, durante a safra, devido ao uso de perneiras sem essa proteção lateral (Quadro 10). Outros 12% dos colhedores optaram pelo modelo com apenas uma barra central, e outros 7% dos trabalhadores não viram diferença no uso entre os modelos de perneiras.

Quadro 10. Atributos desejáveis para perneira.

Perneiras

Sistema de fechamento e abertura atrás em velcro. Proteção em três pontos: um central e dois laterais.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

A barra central também deve permanecer nos modelos, pois confere maior estrutura à perneira, reduzindo a probabilidade desta girar, facilmente, na perna, fornecendo melhor conforto ao manter os pontos de apoio.

O uniforme, por sua vez, tem apenas a camisa com estrutura padrão alterada pelos colhedores, os quais fazem um furo na extremidade da manga, próximo ao punho, para passar o dedo e evitar que o tecido suba durante a colheita, mantendo a proteção dos braços.

Cerca de 70% dos colhedores adotam essa alteração com o intuito de reduzir a exposição dos braços a lesões em espinhos e galhos; dentre eles 45% associam esta alteração ao uso de um mangote adaptado, que trazem de casa. A confecção desse mangote ocorre a partir de uma meia mais grossa, cortando o fundo da mesma para poder vestir o braço, reforçando a proteção dessa região corpórea.

O uso de uma meia como mangote tem grande aceitação entre os colhedores, com cerca de 80% deles lançando mão desse recurso, seja associado com a alteração na camisa, ou uso individual deste (Gráfico 8).

Gráfico 8. Adaptação do uniforme.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

apenas mangote apenas alteração na camisa mangote e alteração nenhuma alteração total

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

Para proteção da cabeça, os colhedores utilizam não só o boné ou touca árabe, mas também trazem de casa um tecido que envolve toda a cabeça e, muitas vezes o pescoço, deixando exposto apenas o rosto, com o intuito de aumentar a proteção contra galhos, folhas, insetos e queimaduras ou manchas, provocadas pelo sol.

O boné sofre alteração apenas quando o tamanho fornecido não corresponde ao utilizado pelo trabalhador, com eles realizando ajustes na parte posterior da cabeça, para melhor encaixe, já que a aba do boné não pode ceder e cair sobre o olho, pois dificulta a visualização dos frutos e pode aumentar o risco de acidentes na escada e no solo.

Os trabalhadores salientam que o material mais fino é melhor, como o do tipo helanca, devido ao calor intenso e grande umidade nos pomares. Sob essas condições, é comum os colhedores optarem por não fechar por completo a touca árabe na região do pescoço, deixando- a conforme a Figura 59 (B), ou levando este tecido para a nuca, com fechamento em velcro.

Figura 59. A) Fechamento frontal da touca árabe; B) Laterais da touca árabe soltas para ventilação.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

Há tentativa de substituição desse modelo de touca árabe por outro com fechamento completo do pescoço e uso de tela frontal, evitando exposição do rosto aos agentes ambientais. Este segundo modelo em teste traz a vantagem de substituição dos óculos de segurança, o qual apresenta grande reclamação no pomar, por embaçar e dificultar a visualização durante o trabalho, com necessidade de limpeza constante. Outra vantagem encontrada está na proteção em 360° da região da cabeça, sem necessidade de complementos de tecido.

Entretanto, deve-se atentar na construção deste modelo para o tipo de tela utilizada, assim como seu material e cor da mesma, itens que influenciam diretamente o grau de

visibilidade da planta e as demais atividades. A tela em teste era escura e com certo brilho, o que ofuscava a visão, dependendo da angulação solar; a cor escura também não favorecia a adaptação, pois a maioria dos colhedores utilizavam óculos de sol com lente transparente, por ter dificuldade de visualização dos frutos com a lente escura.

Outro ponto de correção é a necessidade de inclusão de sistema de fechamento na parte posterior dessa touca, para que o tecido frontal fique mais próximo da região do pescoço e com isso aproxime a tela ao rosto, o que melhora não só a visibilidade, como também a respiração, dado que a tela se estende da região da sobrancelha até o nariz. O modelo entregue não havia este item de fechamento, o que fez com que um grupo de colhedores, por incentivo próprio, se reunisse para discutir a percepção sobre a touca árabe e o que poderiam melhorar, fazendo as alterações no próprio ônibus entre os deslocamentos casa – fazenda.

Eles testaram dois tipos de fechamento, com amarração em nó das laterais do tecido e a costura do velcro, sendo este último o escolhido, pois facilita a abertura posterior e liberação do rosto, para refeição ou hidratação. Para confecção deste modelo de touca árabe, é importante a escolha de tecidos com características que se adequem às diferentes regiões de proteções da cabeça, uma vez que deve proteger contra a lesão, mas também permitir a transpiração e respiração adequada, reduzindo a probabilidade da ocorrência de mal súbito.

Com as alterações realizadas houve 56% de aprovação do uso, o que favorece o teste em maior escala na safra seguinte. Esse índice de aprovação decorre, principalmente, da possibilidade de substituição dos óculos e garantia de maior proteção da cabeça, por exemplo, contra ataques de insetos.

“o boné só tem a aba e prende no pescoço, não tem muito a proteção do ouvido, por isso que coloca o tecido quando entra no pé de laranja. Assim que chegou o novo boné não gostei, era horrível, grande, dava zero para ele, consegui ficar meia hora só com ele, porque sufocava, sobrava muito tecido, tampava o olho, porque a tela descia. Mas depois arrumaram outro menor e surgiu a ideia entre as mulheres de arrumar um pouco, daí uma levou e no ônibus costurou com a agulha, diminuindo o tamanho, mostrou para todos o que diminuiu e ficou bom. Daí foi passando de um para o outro, para arrumar, porque vai ter que usar de qualquer jeito, aí vamos lá. Daí depois tinha que dar manutenção de novo, porque ainda estava atrapalhando pra tomar água, porque tampa tudo, daí para

ficar mais fácil para tomar água colocou o velcro atrás, para não ficar amarrando e soltando o tempo todo”.

“O conforto desse novo é melhor, porque hoje tem que trabalhar com os óculos e quando tá nublado ou chovendo não consegue trabalhar porque embaça demais. Agora a tela não, é normal. No começo estranhei a quentura dela, mas é tudo uso, você usa e acostuma, também não tem que ficar tirando. Já os óculos têm que ficar tirando para limpar e tinha gente que não usava. Agora esse protege bastante, há duas semanas teve dia de estar chovendo e trabalhando com esse boné novo e a única coisa que fazia era bater na tela para tirar a água”.

Com relação ao uso do sapato de segurança, algumas fazendas visitadas utilizaram, por um período, o sapato com biqueira de ferro, para maior proteção dos pés, entretanto houve número elevado de reclamações dos colhedores, devido peso excessivo do mesmo e aumento do cansaço ao final do dia, proveniente da grande necessidade de deslocamento no pomar. Em entrevista aos colhedores, os principais atributos que tornam o sapato de segurança adequado ao trabalho na colheita de laranja são: leveza, para facilitar os deslocamentos; palmilha destacável e macia, para conseguir lavar e fornecer bom amortecimento; uso de cadarço, para conseguir conformar melhor à anatomia do pé; solado com reentrância, para melhor fixação nos degraus e impedir deslizamentos do pé, principalmente, quando colhendo em pomar molhado.

“Deram o de bico de ferro para colher, mas não é necessário, fica muito pesado. Para cana é bom, por causa do facão. Na safra passada era mais leve, melhor para a colheita”.

As luvas sofrem pouca ou nenhuma alteração pelo colhedor, havendo modificação apenas quando o tamanho entregue não corresponde ao utilizado pelo colhedor. Dessa forma, quando a luva é de tamanho maior, sobra muito tecido nas pontas dos dedos, o que prejudica a pega no fruto, com baixa aderência e realização de força maior para retirá-lo do galho. Nessa

situação, os colhedores cortam as pontas dos dedos e costuram, novamente. Já no caso de luva de tamanho menor, situação menos frequente, a durabilidade é menor, assim como sua proteção contra espinhos.

Dentre os modelos utilizados no pomar, descritos e apresentados no item 3.3.3 – Equipamentos de proteção, os que tiveram maior aceitação foram o modelo emborrachado (52%) e o confeccionado em brim (38%), ambos possuindo punhos em tecido, o que promove maior proteção da região (Quadro 11).

Quadro 11. Atributos desejáveis para luvas de segurança.

(1) Luvas com punho em tecido, região palmar e dedos com material

plástico/borracha.

(2) Luvas de Brim com punho e pontos de borracha para aderência palmar e dedos.

(1)

(2)

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

“Essa luva emborrachada é a melhor que já veio, dura mais e dá até para o mês dependendo do uso, ficar 15 dias com ela dá sossegado. A outra tinha que trocar duas vezes por semana, não dava para uma semana”.