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2.3 Projetos Antropocentrados

2.3.3 Conforto e Desconforto no uso da ferramenta manual

Para Slater (1985), o conforto é determinado pelas categorias física, psicológica e fisiológica que devem existir em harmonia e serem atendidas, para assim resultar em conforto. Os aspectos fisiológicos dizem respeito ao funcionamento do corpo humano, os psicológicos estabelecem relação com o conforto mental e o aspecto físico refere-se ao ambiente e suas inter- relações com as demais categorias.

Quehl (2001), em sua definição, configura os fatores de variabilidade e influência sobre o conforto em duas categorias principais: objetivos (físicos) e subjetivos (psicológicos). Para o autor, conforto é uma sensação de prazer, bem-estar e satisfação percebida pelos sujeitos, durante sua interação com o ambiente e com artefatos. Vink et al. (2005) traduzem o conceito de conforto como uma conveniência experimentada pelo usuário, durante ou após lidar com um produto. Tomando como base esta perspectiva, o estado emocional do sujeito e a tarefa desempenhada passam a ser importantes determinantes do conforto (CHAFFIN et al., 2001).

O uso frequente do termo conforto na literatura científica pode sugerir que é uma construção, consensualmente, realizada. Entretanto, não há uma definição amplamente aceita de conforto, devido seu conceito complexo, o qual envolve um pool de aspectos e combinações de percepções, emoções e situações que a compõem. Apesar do ainda contínuo debate acerca do significado do termo, há alguns aspectos que são comumente aceitos (LOOZE et al., 2003), tais como:

1) O conforto é uma construção de natureza pessoal;

2) O conforto é afetado por fatores de natureza diversa (físico, fisiológico, psicológico);

3) O conforto é uma reação ao ambiente.

Khidiyia et al. (2010), em seu estudo, reforçam o uso de medidas subjetivas de conforto e desconforto como preferenciais, quando na avaliação de uma ferramenta manual, podendo usar as técnicas de Corlett e Bishop, além do questionário de conforto para ferramentas, uma vez que conforto e desconforto são sensações subjetivas.

Estudos tem mostrado um menor desconforto no uso de ferramentas manuais adequadamente projetadas (DEMPSEY et al., 2002). A relação entre o desenho de ferramentas

e o desenvolvimento de doenças musculoesqueléticas foi realizada, diretamente, pela primeira vez nos estudos de Tichauer (1978).

De acordo com Fellows e Freivalds (1991), a medição do conforto no uso de ferramentas manuais deve ocorrer em termos de desconforto, onde é necessário diminuir os constrangimentos físicos a níveis mínimos a fim de obter conforto, uma vez que a presença destes afeta o equilíbrio com o ambiente, direcionando a atenção para o desconforto (CHANG et al.,1999; CHAO et al., 2000).

Para Vink et al. (2005), a presença do desconforto no uso de ferramentas manuais torna secundários os fatores de conforto, com os usuários podendo avaliar este critério, enquanto utilização da ferramenta, em termos comparativos de ausência ou redução do desconforto.

De acordo com o modelo proposto por Looze et al. (2003), para avaliação da percepção de conforto e desconforto, sugere-se que é mais apropriado medir o desconforto, uma vez que este está associado à estimulação de sensores na pele, músculos e tendões e sensores da dor, enquanto o conforto está associado a fatores psicossociais, de maior subjetividade.

Looze et al. (2003) trazem um modelo para análise do conforto/desconforto, onde a interação (I) provocada pelo contato entre o homem e o produto, dentro de uma situação de uso e ambiente determinado, resulta em efeitos no corpo humano (H), como mudanças posturais, ativação muscular, dentre outros. Esses efeitos (P), por sua vez, são influenciados pelas expectativas (E), podendo ser interpretados como confortáveis (C), neutros (N), ou desconfortáveis (D), estando este último relacionado aos constrangimentos musculoesqueléticos (M) (Figura 9).

Figura 9. Modelo de conforto e desconforto.

Para Jordan (2000), são três as categorias que devem ser analisadas para percepção dos níveis de conforto em produtos: 1) a funcionalidade, referente ao papel que cada produto deve cumprir; 2) a usabilidade, atrelada à característica de fácil uso do produto; 3) o prazer, ou seja, materializando o conforto na relação do usuário com o objeto.

De acordo com Kuijt-Evers et al. (2004), os critérios de funcionalidade e a interação física homem-produto, dada pela usabilidade, estão mais relacionados à medição da percepção de conforto na utilização das ferramentas manuais, do que os fatores de estética do produto. Por sua vez, nos resultados obtidos no estudo de Zhang et al. (1996), em relação ao conforto ao sentar, o critério de estética da estação apresentou-se determinante, o que traz para discussão a ideia de que a teoria sobre a diferença entre conforto e desconforto depende do tipo de produto. Helander e Zhang (1997) corroboram, em seu estudo, que a aparência de uma ferramenta manual é fator secundário para influenciar e determinar o conforto do produto, tendo antes que evitar ou reduzir o desconforto na utilização, a partir da funcionalidade e da interação física.

Stanton e Barber (1996) delimitam o conceito de usabilidade e definem o seu escopo, sugerindo que o produto deva atender aos seguintes fatores:

• Efetividade no desempenho;

• Facilidade no aprendizado para o uso;

• Custos humanos aceitáveis (estresse, desconforto, fadiga); • Flexibilidade nas tarefas;

• Utilidade percebida do produto;

• Atendimento às caracterizações das tarefas e dos usuários.

Para Moraes (2001), o termo usabilidade é tratado a partir da adequação do produto às tarefas, cujo desempenho deste é dependente da adaptabilidade do usuário que o utilizará e do contexto no qual está inserido.

Em vista disso, identificar o saber-fazer e buscar uma melhor contextualização da situação de trabalho deveria ser uma fase comum e importante na construção do produto, tendo como última fase do desenvolvimento do projeto a participação de usuários como membros da equipe, no intuito de minimizar a fase de acomodação ao artefato, assim como diminuição de perdas no sistema por queda na produtividade, qualidade do trabalho e problemas de saúde.