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3.4 Da Tarefa à Atividade de Colheita Manual de laranja: Processo de

3.4.1 Preparação para a colheita

Há duas ações comuns em qualquer modo de colheita escolhido, a saber: montagem dos

bags e posicionamento da escada. Elas ocorrem independente da forma de colheita escolhida - seja derriça, sacola ou suas combinações – como também da região da planta a ser colhida, ou altura da árvore. Nesse estudo elas estão alocadas na fase de preparação para colheita, que antecede a retirada do fruto e armazenamento do mesmo.

A) Montagem e Posicionamento dos bags

Para montar o bag, o colhedor primeiro organiza a parte inferior do mesmo, deixando a base em formato de triângulo e puxando a alça de engate para cima, a fim de deixá-la evidente para o carregador. O manuseio da alça de engate garante também a oclusão adequada do fundo falso do bag, por meio do posicionamento do recorte de polipropileno acoplado na alça, evitando a abertura do fundo falso antes do acionamento para descarregamento dos frutos (Figura 17).

Em seguida, o colhedor se preocupa em abrir as laterais do bag para facilitar o armazenamento dos frutos despejados da sacola, com o intuito de reduzir retrabalhos provenientes da coleta dos frutos do solo, não corretamente acondicionados.

Figura 17. Montagem do bag.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

O colhedor leva cerca de 3 a 5 minutos para montar o bag da forma correta, dependendo do nível de experiência e habilidade do colhedor. A montagem incorreta, não só dificulta a armazenagem dos frutos durante a colheita, como há grande probabilidade de perder toda a produção, caso o fundo falso abra antes de chegar ao transbordo.

O transbordo dos frutos do bag para o bin do caminhão é realizado por meio das alças de sustentação e da alça de engate, as quais são acopladas pelo carregador em diferentes ganchos do truck. Por sua vez, o motorista do truck libera a alça de engate para escoamento dos frutos, quando o bag estiver posicionado em cima da caçamba.

Segundo os colhedores, a negligência na preparação do bag, deixando-o com dobras na sua estrutura, dificulta a quantificação de caixas colhidas ao final do dia pelo colhedor e a

conferência da produção pelo encarregado de colheita, o que implica em descontos no valor a ser recebido e o surgimento de conflitos, devido à contagem dos bags.

“Quando você estica todo o bag, deixa ele todo certinho, você sabe que já tem garantido 20 caixas, ou 40 ou 60...daí fica mais fácil da sua conta bater com a do turmeiro e não tem rolo” (colhedores relatando a forma de montar o bag).

Com relação ao posicionamento do bag nas ruas de colheita (Figura 18), os colhedores devem atentar para os locais de passagem do caminhão de carga, alocando-os e realizando a montagem dos mesmos nessas ruas, a fim de facilitar o escoamento e descarregamento mais rápido dos frutos.

Figura 18. Posicionamento dos bags nas ruas de colheita.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

Normalmente, quando a safra apresenta alta produtividade, na qual a colheita de duas a três árvores é suficiente para completar um bag, este componente de armazenamento fica alocado mais próximo dos eitos de colheita e pontos de carregamento, havendo menor deslocamento dos trabalhadores; caso contrário, no pomar com baixa produtividade, a montagem e posicionamento do bag ficam longe dos pontos de colheita e carregamento, havendo maior deslocamento.

“Sofrimento é quando tem pouca laranja, daí você tem que baldear muito longe, igual a safra agora (2016), andava muito para encher um bag, eram 60 árvores

pra encher e o bag ficava muito longe. Tinha vez que tinha que pegar de 90 a 120 plantas para dar um bag que era armado no meio da rua”.

B) Posicionamento da Escada

Em seguida à montagem e posicionamento do bag, o colhedor experiente verifica as condições da árvore para realizar o posicionamento da escada nesta, a fim de conseguir uma fixação segura e subida até o ponteiro.

Logo, antes de posicionar a escada na árvore, o colhedor segurando a escada na posição vertical, estuda o ponteiro procurando localizar uma região com galhos fortes, considerada boa, a fim de garantir maior estabilidade na subida (Figura 19). Como aproveitamento de tempo, esse estudo da condição do ponteiro é realizado pelo colhedor experiente no mesmo momento em que ele se desloca e carrega a escada, para outro ponto de colheita.

Figura 19. Colhedor posicionando escada.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

Esta ação concomitante de deslocamento e análise do ponteiro, apesar de agregar valor ao tempo demandado, pode implicar em aumento dos índices de acidente com quedas em buracos de tatu, ao desviar a atenção do solo, havendo necessidade de conciliar essa estratégia desenvolvida com outras de regularização do solo, ou realizar a análise do ponteiro apenas quando o colhedor estiver parado.

Não são todos os colhedores que realizam o posicionamento dessa forma, pois afirmam perder muito tempo na análise da árvore, para eles a agilidade no posicionamento da escada e

maior segurança na subida é conquistada ao virar de lado a escada e encaixá-la entre os galhos, sem análise prévia da condição do ponteiro ou com baixo nível de análise. Entretanto, foi observado direta e indiretamente, por meio de entrevistas, que apesar dessa ação de encaixe lateral da haste promover melhor sustentação, do que o simples apoio reto, ela não garante a fixação, o que seria reforçado com a análise do ponteiro, seja em pomar alto ou baixo.

Normalmente, nos pomares mais baixos são utilizadas escadas menores, com 10 a 12 degraus no máximo, entretanto escadas maiores também são distribuídas (14 degraus) para trabalho em pomares com estas características. Segundo entrevistas, os colhedores consideram a subida nestas, em pomares menores, arriscada, com grande probabilidade de quedas e giro da escada de um lado a outro da planta. Na Figura 20 são apresentados exemplos de escadas com altura inadequada às características dos pomares.

Figura 20. Altura inadequada de escada para pomar baixo.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

A maior atenção e cuidado demandado ocorrem no ponteiro dos pomares altos, devido a maior probabilidade de ocorrência de acidentes, derivados, principalmente, da dificuldade acentuada em localizar galhos de sustentação. A poda dos galhos e/ou retirada de galhos pontuais, com o intuito de conter o crescimento da árvore e/ou evitar a proliferação de doenças, agravam essa dificuldade, uma vez que galhos serrados ficam escondidos dentro da copa das árvores (Figura 21), o que facilita o giro da escada, ao posicioná-la, e queda da mesma.

Figura 21. Galho serrado na copa das árvores.

Fonte: elaborado a partir da pesquisa de campo.

“...o galho serrado é mais perigoso, tem que trabalhar com mais cuidado. Eles serram quando tá com doença ou porque tá muito grande, mas você não vê do chão isso, quando vai posicionar a escada. Daí, quando você coloca e vai subindo, a escada gira ou entra pra dentro da planta. Se você tiver com o sacador é ainda pior”