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PARTE III – ANÁLISE POLÍTICO-ESTRATÉGICA

3.4. A Relação entre os Assuntos Internos e a Acção Externa da U.E

3.4.2. O Alto Representante como elo de ligação entre os assuntos

3.4.2.3. A Articulação com a Comissão Europeia

Como forma de garantir a unidade, a coerência e a eficácia da acção externa da União, e tendo em conta a natureza sui generis do seu cargo e das suas funções, o Alto Representante tem, necessariamente, de se articular com a Comissão Europeia, instituição promotora do interesse geral de toda a União.

Enquanto responsável máximo pela execução da PESC, o Alto Representante tem competência para apresentar ao Conselho propostas e iniciativas, a título individual ou em conjunto com a Comissão Europeia.185 Entre elas destacam-se os casos das regras de execução da cláusula de solidariedade,186 a adopção de medidas restritivas.187Também as relações da U.E com as OI são, de acordo com o próprio direito originário, uma competência conjunta do Alto Representante e da Comissão Europeia.188 Deste modo, a articulação entre o Alto Representante e a Comissão assume uma relevância, particularmente, importante. Além do mais, enquanto principal responsável pela coordenação do trabalho desenvolvido pelo SEAE, o Alto Representante tem a missão de garantir que este organismo presta toda a assistência necessária ao Presidente da Comissão.189

185Ver art.30º do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do TL. 186Ver art.222º do TFUE.

187Ver art.215º do TFUE. 188Ver art.220º do TFUE.

189Cumprindo, assim, uma vez mais, com o disposto no art. 2º, nº2 da decisão do Conselho de 26 de

Julho de 2010 que estabelece a organização e o funcionamento do Serviço Europeu para a Acção Externa (2010/427/UE).

De modo a garantir que a assistência é prestada de forma regular e eficaz, sempre de acordo com as necessidades do Presidente da Comissão, o Alto Representante tem aqui, novamente, mais um motivo adicional para a manutenção de uma cooperação estreita e de um contacto regular com esta instituição. Ainda relativamente ao SEAE, a decisão que estabelece a organização e funcionamento deste organismo prevê no seu artigo 3º um princípio geral de cooperação com diferentes valências. De entre estas destacam-se a cooperação do SEAE com os serviços da Comissão Europeia, bem como com os serviços diplomáticos dos EM e com o Secretariado-Geral do Conselho. Esta cooperação traduz-se numa consulta regular entre o SEAE e os serviços da Comissão e, particularmente, na participação do primeiro nos trabalhos e procedimentos preliminares de futuros actos que a Comissão venha a elaborar, e, ainda, no estabelecimento de eventuais acordos entre ambas as partes. Tudo, naturalmente, no âmbito das matérias e assuntos que digam respeito à acção externa da União. Deste modo, o Alto Representante, enquanto responsável máximo por todo o trabalho desenvolvido pelo SEAE, desempenha, aqui, uma vez mais, um papel vital, sendo o primeiro e o principal garante de uma articulação eficaz com a Comissão Europeia.

Outro dos aspectos essenciais que caracterizam a articulação do Alto Representante com a Comissão Europeia diz respeito à cooperação deste com os demais comissários, particularmente aqueles cujas pastas digam respeito a políticas que comportem aspectos externos. Comércio, cooperação internacional e ajuda humanitária, alargamento e política de vizinhança, clima e ambiente são os exemplos mais evidentes das políticas com particular incidência na actuação externa da União e sobre as quais o Alto Representante deve ter um conhecimento profundo e acesso a informações privilegiadas, de modo a assegurar a eficácia do exercício das suas competências. O facto do Alto Representante ser também Vice- Presidente da Comissão faz com que esta cooperação com os demais comissários seja efectiva e eficaz, na medida em que o facto de integrarem a mesma instituição permite a manutenção de um contacto regular e de proximidade com os comissários responsáveis por estas pastas.

Por tudo o supra referido, uma vez mais, se comprova que a figura do Alto Representante se postula como um verdadeiro elo de ligação entre os vários elementos da actuação externa da U.E. Com efeito, a centralidade deste cargo assume, ainda, uma relevância superior, na medida em que não se esgota apenas no plano externo. Pelo facto de integrar directamente a Comissão Europeia e o Conselho, e de manter um contacto regular e privilegiado com duas outras grandes instituições da U.E (Parlamento Europeu e Conselho Europeu), o Alto Representante vem postular-se, também, como um relevante elo de ligação e articulação internas, sobretudo a nível das relações inter-institucionais.

Figura 3 – A centralidade do Alto Representante na orgânica interna da U.E

O facto destas instituições, no seu conjunto, serem responsáveis pela maioria das acções, das políticas e dos procedimentos relativos à organização e ao funcionamento internos da União, faz com que o Alto Representante se assuma, também, como elemento chave na promoção da própria coesão e coerência internas, condição indispensável para que a U.E se possa, consequentemente, afirmar do mesmo modo no plano externo.

Alto Representante (SEAE) Conselho Europeu Conselho (Presidente CNE) Parlamento Europeu Comissão Europeia (Vice- Presidente) Intergovernamental Supranacional

3.5. Breve Síntese Conclusiva

Em suma, de toda a análise levada a cabo ao longo desta terceira parte, resultam, desde logo, dois aspectos essenciais. Por um lado que a criação do cargo de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança tem vindo a demonstrar ser de particular relevância para que a União Europeia possa consolidar a sua imagem na contemporaneidade do séc. XXI. Na verdade as” medidas de aferição do conceito de relevância”190 revelam as potencialidades deste “Alto cargo” para a difusão do bem público da relevância por todo o sistema da União Europeia. Por outro lado, que este cargo de Alto Representante se tem assumido como um contributo deveras relevante para a afirmação da União Europeia, enquanto sub-sistema geopolítico pós-moderno num contexto concorrencial severo, e, mesmo hostil, cuja substância é formada por um sistema no qual coexistem os três paradigmas geopolíticos (pré-moderno, moderno e pós- moderno).

Foi, portanto, com esta consciência que se criaram os novos cargos, funções e estruturas no quadro da acção externa da União, particularmente as funções de Alto Representante, de Presidente do Conselho Europeu e o SEAE. Com efeito, se esta nova configuração político-institucional aportou consigo importantes melhorias, não é menos verdade que não foi, ainda, suficiente para resolver o problema da cacofonia de vozes europeias que continua a fazer-se ouvir, sobretudo a nível da representação externa da U.E. Assim, como forma de preservar o equilíbrio institucional no seio da U.E, e entre os próprios EM,a solução deverá passar por um compromisso, que assegure uma definição clara e inequívoca das competências e atribuições do(s) protagonista(s) da acção externa da U.E, sem que este seja, no entanto, demasiado rígido.

Ainda assim, não podemos, de modo algum, deixar de sublinhar que, de toda a nova arquitectura político-institucional, introduzida pelo TL, a criação do cargo de Alto Representante veio significar uma conquista e um avanço com implicações

bem mais profundas para U.E. Além de reforçar a relevância da U.E, através do seu reconhecimento, pelos demais actores e agentes internacionais, nas negociações internacionais, a própria articulação entre a esfera interna e a esfera externa da União veio conhecer um novo e importante capítulo contemporâneo com a criação deste cargo de Alto Representante. Referimo-nos concretamente à existência de instituições, de natureza supranacional, que intervenham, nomeadamente através da prestação de assistência, em esferas e domínios de actuação dos EM. Graças à sua natureza e às suas competências passou a ser um actor central em ambos os domínios, tornando-se, assim, no grande e verdadeiro “pivô” de grande parte da orgânica da União, pelo qual passará, directa e obrigatoriamente, a relevância e a afirmação futuras do projecto de construção europeia.

PARTE IV – O MODELO TEÓRICO DA POLÍTICA EXTERNA