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PARTE IV – O MODELO TEÓRICO DA POLÍTICA EXTERNA E DE

4. Fundamentos da Política Externa e de Segurança Comum

4.4. Génese, Evolução e Fundamentos Jurídicos da PESC

4.4.3. O Tratado de Amesterdão e a reformulação da PESC

Como qualquer inovação, também a PESC é, nos anos subsequentes a Maastricht, objecto de reformulações e aperfeiçoamentos que visam melhorar a sua implementação de uma forma mais eficiente e eficaz. Nesse sentido, a primeira grande redefinição da PESC acontece em 1999, com a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão, que vem introduzir um conjunto de alterações nesta política, às quais passamos agora a aludir.243

4.4.3.1. A introdução da Estratégia Comum

No que aos instrumentos da PESC diz respeito, são introduzidas as estratégias comuns, que se vêm juntar ao trio de instrumentos, à data, já existentes (cooperação

241Ver ex-artigo J.1, nº2 do TUE, na sua versão consolidada.

242Ver ex-artigos. J.1, nº3 e J.2, ambos do TUE, na sua versão consolidada.

243Para alguns estas alterações traduzem, mesmo, a emergência de uma nova PESC. É o caso de João

Mira Gomes, que em 2000 escreve um artigo intitulado: «A nova PESC» – expectativas, realidades e tendências; Centro de Informação Europeia Jacques Delors: Novas Fronteiras – A Presidência portuguesa da União Europeia nº7 (Jun. 2000) pp.28-33.

sistemática em questões de política externa e de segurança, com interesse geral; acções comuns e posições comuns). Com o intuito de reforçar a capacidade de acção da União, as estratégias comuns viriam a especificar os objectivos e os meios, bem como a sua respectiva duração, a facultar pela U.E e pelos EM. O Conselho Europeu passava a ter competência para decidir e adoptar as estratégias comuns nas áreas onde os EM tivessem interesses comuns, sempre de acordo com as recomendações do Conselho, a quem caberia a execução destas estratégias, através da adopção de acções e posições comuns por maioria qualificada.244

4.4.3.2. A institucionalização do Alto Representante para a PESC

A inovação mais evidente introduzida pelo Tratado de Amesterdão, e que maior relevo e importância tem para o desenvolvimento da presente tese, reside na criação das funções de Alto Representante para a PESC.245 Com a missão de assistir o

Conselho nas questões relativas à PESC e de contribuir para a formulação e execução das decisões políticas, este cargo foi atribuído ao Secretário-Geral do Conselho.246 Cabia-lhe, ainda, caso houvesse necessidade, conduzir o diálogo

político com terceiros, actuando, deste modo, em nome do Conselho, a pedido da sua presidência.

O Alto Representante para a PESC, em virtude da amplitude das suas funções, passava, ainda, a ser assistido por uma Unidade de Planeamento de Política e de Alerta Precoce, a ser estabelecida no seio do Secretariado-Geral do Conselho, sob sua autoridade.247 As suas funções passavam, essencialmente, por monitorizar os desenvolvimentos nas áreas relevantes para a PESC e fornecer avaliações sobre matérias e opções de interesse da U.E no âmbito desta política.

244Ver art.13º do TUE, versão consolidada, alterada pela redação do Tratado de Amesterdão. 245Ver art.26º do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do Tratado de Amesterdão. 246O Espanhol Javier Solana (1942- ) foi nomeado, em Outubro de 1999, o primeiro Alto

Representante para a PESC, tendo exercido o cargo durante dois mandatos consecutivos (1999-2005 e 2005-2009).

247Ver Declaração nº6, anexa ao Tratado de Amesterdão, relativa à criação de uma unidade de

Com a criação do Alto Representante para a PESC, os EM visaram, sobretudo, um reforço da continuidade das políticas da U.E, fazendo deste um elo de ligação privilegiado entre as sucessivas presidências rotativas.248 Com Amesterdão, a PESC passa, desde então, a ter um rosto visível e de continuidade, o que veio permitir reforçar, substancialmente, a visibilidade da União na cena internacional, sem que, no entanto, ficasse resolvida a questão relativa à representação externa da U.E, e que, ainda hoje, permanece confusa e pouca clara.

4.4.3.3. Um novo processo de tomada de decisão

Relativamente ao processo de tomada de decisão, a regra geral que consagra que as decisões tomadas no âmbito PESC estejam sujeitas a aprovação por unanimidade mantem-se inalterada com Amesterdão, mas, ainda assim, introduz-se uma alteração importante a este nível. Um sistema de abstenção construtiva ou qualificada que vem permitir a qualquer EM que se abstenha, a possibilidade de poder acompanhar a sua abstenção de uma declaração, que qualifique e justifique a mesma.249 250 Por outras palavras, qualquer EM que se abstenha, aceita, como sendo

válida, a deliberação adoptada pelo Conselho, passando igualmente a reconhecer que as medidas adoptadas serão medidas da União que o vinculam juridicamente ao seu cumprimento. Com efeito, o EM em causa não se encontra obrigado a participar na implementação dessas mesmas medidas, mas compromete-se a não adoptar outras que contrariem, expressamente, as constantes na deliberação aprovada pelos restantes EM.251

A regra de maioria qualificada é igualmente introduzida, no âmbito da PESC, apenas em dois casos específicos.252 Por um lado, na adopção, pelo Conselho, de acções ou posições comuns, bem como de qualquer outra decisão que tenha por

248Mira Gomes; Junho de 2000, p.31. 249Soares, 2005, p.239.

250Ver art.23º, nº1, segundo parágrafo do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do

Tratado de Amesterdão.

251Idem, Ibidem.

252Ver art.23, nº2, primeiro, segundo e terceiro parágrafos do TUE, versão consolidada, alterada pela

base uma estratégia comum. Por outro, na adopção, também pelo Conselho, de decisões que executem uma acção ou uma posição comum. Com efeito, para estas decisões de maioria qualificada passou a ficar prevista a introdução de uma cláusula de salvaguarda (travão de emergência), que veio prever a possibilidade de um EM bloquear a votação, exercendo direito de veto, e invocando razões de política externa nacional para se opor à aprovação de uma medida por maioria qualificada.253

4.4.3.4. A Política de Segurança e Defesa da U.E

O Tratado de Amesterdão vem consagrar, de forma explícita, a possibilidade da U.E ser parte activa, quer seja por colaboração, quer seja por liderança, num conjunto de missões de gestão de crises. Conhecidas como Missões de Petersberg254 dizem respeito a missões humanitárias, de manutenção e/ou

restabelecimento da paz, e de evacuação de cidadãos, e que passam, por conseguinte, a integrar o quadro da PESC.255 Deste modo, fica consagrada, à data, a possibilidade de definição de uma política de defesa comum como parte integrante da PESC. Um vínculo mais estreito é, também, estabelecido ao considerar a UEO como parte integrante do desenvolvimento da U.E, tendo em vista a sua futura e definitiva integração caso o Conselho Europeu assim o decida.256

4.4.3.5.O financiamento da PESC

Por último, em matéria de financiamento, Amesterdão vem estipular que, por norma, tanto as despesas operacionais como as despesas administrativas passam a ser suportadas pelo orçamento comunitário. Todavia, as despesas operacionais

253Ver art.23, nº2, quarto parágrafo do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do TUE 254Nome do local onde se realizou o Conselho de Ministros da UEO que definiu estas missões, em

Junho de 1992.

255Ver art.17º, nº2 do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do Tratado de Amesterdão 256Ver art.17º, nº1, segundo parágrafo do TUE, versão consolidada, alterada pela redacção do

poderão ser suportadas pelos EM, apenas e só, se o Conselho Europeu, após deliberação por unanimidade, assim o decidisse.257