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LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTIVAS EMPRESAS

4.2 OS RECURSOS TERRITORIAIS NA DINÂMICA DA AVICULTURA DE CORTE BAIANA

4.2.3 As articulações viária

Como ficou evidenciado anteriormente, um dos principais custos da produção avícola são oriundos da aquisição dos grãos de milho e de soja, utilizados na produção da ração. Tal fato tenderia a influenciar decisivamente na territorialização das unidades de produção avícola e, nesse sentido, haveria dentro do Estado da Bahia uma forte concentração dessas unidades nas áreas de maior produção de grãos, neste caso, a região Oeste do Estado, já que a mesma é responsável por mais de 70% da produção baiana de grãos. Entretanto, a maior expressão da expansão da avicultura de corte baiana tem sido verificada na Região Econômica do Paraguaçu e, mais precisamente, na área polarizada por Conceição da Feira, área de estudos do presente trabalho.

Nesse sentido, um dos aspectos que possibilitam explicar essa dinâmica é a importância da logística, neste caso, das redes de transportes e comunicação, como recursos de forte peso nas estratégias locacionais de territorialização da atividade avícola.

Na perspectiva discutida por Santos (1996), as redes são consideradas como uma realidade material, tendo em vista sua materialidade que se impõe aos nossos sentidos. Ao mesmo tempo, segundo o autor, elas (as redes) constituem um dado social e político, pelas pessoas, mensagens, valores que a freqüentam e, sobretudo, porque são construções humanas.

A constituição das redes é um processo de articulação de pontos (espaços) estruturado para atender a determinada organização social que configura o espaço geográfico. Nessa perspectiva, a constituição e transformação das redes são marcadas por uma relação dialética entre as mutações técnicas e a necessidade social que expressam as dinâmicas da territorialização dos agentes envolvidos na sua constituição e transformação.

Esses agentes, através de suas territorialidades, isto é, de suas ações e estratégias, tendem a se valer dos recursos presentes no território para envolvê-los na dinâmica de sua territorialização. Em outras oportunidades, esses mesmos agentes operam dotando o território de recursos (ou transformando os já existentes) de acordo com a sua lógica de atuação e seus interesses.

No tocante à atividade avícola, os imperativos colocados pela distância entre os centros de produção de grãos e as áreas de produção avícola tendem a ser suprimidos, ou melhor, amenizados pelo estabelecimento de infra-estrutura adequada que permita a integração entre essas duas áreas, revelando, assim, a conformação de uma rede inserida no circuito produtivo da avicultura de corte. Ao mesmo tempo, o fator infra-estrutura e as redes geográficas que se formam a partir dela tornam-se extremamente relevantes na alocação das estratégias por parte das agroindústrias para a produção e para a comercialização dos produtos da avicultura.

Esse fator certamente se revelou como uma das principais vantagens locacionais de Feira de Santana e, consequentemente, dos municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos. Em outros termos, uma das questões importantes no que se refere aos fatores de infra-estrutura é a disposição das vias de circulação e, nesse sentido, no eixo Feira de Santana / São Gonçalo dos Campos/ Conceição da Feira as vantagens são estabelecidas, sobretudo, em virtude

do acesso oferecido pelo maior entroncamento rodoviário do Nordeste, que tem o município de Feira de Santana como principal centro articulador.

Segundo Poppino (1968, p. 212), “por causa da sua posição estratégica nessa rêde [de estradas do Estado da Bahia e do Brasil], Feira de Santana tornou-se o mais importante centro de comunicação ao norte de Belo Horizonte”.

A localização geográfica estratégica teria colocado, ainda no período Colonial, Feira de Santana como relevante centro de articulação, pois, as principais rotas de ligação (os caminhos de gado) entre o sertão e a Cidade de Salvador tinham esta localidade como ponto de apoio.

Ao se iniciar o processo de implantação das rodovias, foi estabelecida a construção de sete estradas para ligar a Cidade do Salvador aos Estados de Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Piauí, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e grande parte dessas estradas tinha Feira de Santana como ponto de articulação (POPPINO, 1968).

O importante a reter neste momento é o fato de que, atualmente, Feira de Santana desempenha um papel destacável na articulação do Estado da Bahia com todas as regiões do território nacional. Nesse sentido, Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos, por conta de sua proximidade com Feira de Santana, acabam por obter uma posição favorável no processo de escoamento da produção avícola, pois, através dessa articulação, torna-se possível o acesso aos principais centros consumidores da região nordeste. Ao mesmo tempo, torna-se facilitado o acesso aos principais insumos produtivos utilizados na atividade avícola, e que são oriundos de outras regiões da Bahia, mas, também, de outros Estados da Federação (figuras n° 22 e n° 23).

Revela-se, aqui, a importância estratégica da proximidade e, também da acessibilidade, às áreas produtoras de insumos e aos potenciais mercados consumidores. Isso significa que, ainda que o aparato técnico possibilite o deslocamento de insumos, capitais e mercadorias para qualquer área do globo, em alguns momentos a facilidade de acesso e proximidade a determinados recursos ainda se faz importante. Esse é, inclusive um dos elementos que tem valorizado os municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos nas ações implementadas pelas empresas avícolas.

Através da análise das figuras é possível captar a importância exercida pela articulação das redes rodoviárias nas estratégias de territorialização e, consequentemente, de localização das agroindústrias avícolas dentro do Estado da Bahia. Na figura n° 22, encontram-se destacadas as áreas produtoras de milho e os principais centros populacionais do Estado.

Já na figura n° 23, além dos maiores centros urbanos, encontra-se em destaque as principais áreas de produção de soja no estado da Bahia. Em ambas as figuras verifica-se que há uma concentração expressiva de unidades agroindustriais avícolas em Feira de Santana, Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos. É, também, evidente a articulação, possibilitada pelas redes rodoviárias Federais e Estaduais, entre os maiores centros urbanos e as áreas de produção de grãos dentro do estado, com uma forte confluência dessas redes para área de Feira de Santana.

É importante destacar que a proximidade e a acessibilidade dos municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos em relação à Feira de Santana os possibilitam usufruir das benesses desta articulação. Desta forma, ao optar por se instalar ou mesmo ampliar as suas unidades produtivas em Feira de Santana, e principalmente em Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos, as agroindústrias avícolas acabam por explicitar parte de suas estratégias de territorialização.

Em outras palavras, ao se fazerem presentes nessa área, as agroindústrias avícolas têm viabilizado o seu acesso tanto aos principais mercados consumidores de seus produtos quanto às principais áreas de produção de grãos do Estado. Eventualmente, quando há necessidade de adquirir insumos de outros Estados da Federação, a localização dessas unidades avícolas é altamente privilegiada pela condição de entroncamento rodoviário nacional exercido pelo Município de Feira de Santana. Nesse sentido, os agentes territoriais (as agroindústrias avícolas) terminaram por utilizar os recursos presentes no território para envolvê-los na sua dinâmica territorial.

Essa é uma estratégia que se encontra explicitada, de forma mais evidente, nos depoimentos dos representantes das agroindústrias avícolas e de outros agentes ligados a essa atividade. Ao serem questionados sobre os principais fatores que têm contribuído para a expansão da atividade avícola na área polarizada

pelo município de Conceição da Feira e, consequentemente, no municípios de São Gonçalo dos Campos, esses agentes respondem que:

(...) é o fato de está perto de Feira de Santana, um centro que cresce e se desenvolve que é um absurdo, juntinho da capital Salvador. Por outro lado, a própria Feira, você sabe, que é um pólo que, onde você vai, de norte a sul do país, você passa por ela. Isso tudo o pessoal deve ter divisado. É bem verdade que o Oeste tem aquela produção de grãos, mas me parece que a questão mercadológica ou a questão da venda, fica muito mais fácil no aspecto da região de Feira de Santana. Querendo ou não, a capital e os grandes centros sempre chamam mais. (Secretário de Agricultura do Município de Conceição da Feira)

Já no eixo Feira de Santana/São Gonçalo, a vantagem é o acesso oferecido pelo maior entroncamento rodoviário do Nordeste. As rodovias BR- 101 e BR -116 ligam a Bahia aos outros estados nordestino, possibilitando um escoamento rápido da produção. (Wilson Broff)6

Um dos principais [fatores]é que nós estamos aqui próximos às fontes de consumo. Isso é o principal. Quais são os maiores centros consumidores hoje na Bahia? Salvador, Feira de Santana, Santo Antonio de Jesus, Alagoinhas, Conquista... Então, isso é um dos fatores principais.

E outro é a facilidade do escoamento. Porque Feira de Santana hoje... apesar dos pesares, da nossa economia estar em péssimo estado, mas, está centralizada em uma região onde tem saída pra tudo quanto é canto não só do Estado como do país. (Empresário ligado ao ramo de produção ração animal)7

E o outro fator é estar próximo do pólo consumidor. Aqui está mais próximo a Salvador, a Feira de Santana, ao porto já que a Avipal pretende exportar. (Diretor da Gujão Alimentos)8

Os depoimentos de agentes envolvidos na dinâmica da avicultura de corte baiana constitui um elemento revelador de um dos caminhos das estratégias de territorialização das agroindústrias avícolas dentro do Estado da Bahia. Na verdade, é a interação de um conjunto de fatores presentes no território que tende a exercer um forte peso nas estratégias e ações implementadas pelas empresas de avicultura. Observa-se nesses depoimentos que há um grande número de referências a dois fatores específicos aos quais é atribuída uma destacável contribuição para que os municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos pudessem apresentar uma expressiva dinâmica de expansão da atividade avícola. Esses dois fatores são: a proximidade e acessibilidade com o município de

6

Gerente da Avipal Nordeste S.A. na época da implantação da empresa na Bahia, em entrevista publicada na Revista Negócios Agrícolas de Dezembro de 1997.

7

Pesquisa de Campo realizada em Abril de 2006.

8

Feira de Santana que, na atualidade, constitui um importante centro de articulação rodoviária regional e nacional e a proximidade com os principais mercados consumidores em potencial dentro do Estado da Bahia.

Em verdade, é a articulação desses dois fatores que tem permitido uma posição privilegiada dos municípios que compõem a pesquisa, no que tange ao desenvolvimento da avicultura de corte na Bahia e, conseqüentemente, nas estratégias e ações territoriais das unidades avícolas.

Feira de Santana possui uma localização estratégica na articulação rodoviária entre as cidades baianas e nordestinas e essa condição de centro articulador em nível estadual e regional tem possibilitado também a integração desse município com os principais centros urbanos do Estado. Nesse sentido, a proximidade dos municípios de São Gonçalo dos Campos e Conceição da Feira em relação à Feira de Santana tem possibilitado aos mesmos também se beneficiar das vantagens estabelecidas por essa condição.

A territorialidade das agroindústrias avícolas instaladas na Bahia inclui uma preocupação com o futuro no sentido de estabelecer as condições necessárias para a sua permanência e reprodução.

Dentro dessa perspectiva, é importante ressaltar que um dos principais objetivos da Avipal Nordeste S.A., ao se instalar na Bahia, era atender o mercado regional e, posteriormente, promover a exportação de produtos avícolas a partir dessas unidades produtivas. Tal fato pode ser considerado como mais um elemento que influenciou na territorialização desta agroindústria avícola em São Gonçalo dos Campos, Conceição da Feira, Feira de Santana e municípios circunvizinhos, pois, a localização geográfica dos mesmos permite um melhor acesso aos principais portos do Estado. Percebe-se, portanto, como a preocupação com o futuro, no sentido de possibilitar as condições de reprodução do grupo, influenciou na sua dinâmica territorial.

Evidentemente que não se pode creditar apenas a esses fatores a exclusividade de mola propulsora do processo de expansão da avicultura de corte nos municípios de São Gonçalo dos Campos e Conceição da Feira. Destarte, também não é permitido atribuir a esses fatores o papel de únicos elementos decisivos na dinâmica da territorialidade das empresas avícolas instaladas em território baiano. Entretanto, é fato que os mesmos exercem uma influência considerável no conjunto das ações e estratégias dessas empresas.

O importante a reter neste momento é o fato de que os imperativos do meio técnico atual vêm possibilitando uma fluidez maior e cada vez mais acelerada dos elementos envolvidos no circuito produtivo, reduzindo assim a dependência locacional dos agentes produtivos. Entretanto, é fato também que, embora venha existindo uma redução dessa dependência, os fatores locacionais ainda continuam a exercer uma destacável influência no conjunto das dinâmicas territoriais dos agentes.

Essa é uma questão explicitamente observada na dinâmica territorial da avicultura de corte baiana. Mesmo que as condições técnicas atuais proporcionem, de forma virtual ou real, uma fluidez acelerada e eficiente no circuito produtivo, a “posição”, ocupada pelos municípios que compõem a microrregião de Feira de Santana, dentro da rede articulada e inserida na dinâmica das agroindústrias avícolas, tem sempre um peso destacável na territorialidade da avicultura de corte dentro do Estado. Tal peso é estabelecido até mesmo como uma forma de potencializar essa fluidez, leva-nos a considerar que os recursos presentes no território são extremamente importantes na dinâmica territorial.