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2 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO TERRITORIAL DOS MUNICÍPIOS DE SÃO GONÇALO DOS CAMPOS E CONCEIÇÃO DA FEIRA

2.2 FORMAÇÃO TERRITORIAL DOS MUNICÍPIOS DE SÃO GONÇALO DOS CAMPOS E CONCEIÇÃO DA FEIRA

2.3.2 A ocupação territorial e dinâmica atual do Município de Conceição da Feira

2.3.2.1 Dinâmica do espaço rural de Conceição da Feira

Embora Conceição da Feira tenha verificado um processo de urbanização efetivo nos últimos anos, as atividades agrícolas ainda exercem forte influência na sua dinâmica socioeconômica. Nesse sentido, a análise da dinâmica do espaço rural

do Município torna-se indispensável tendo em vista a preocupação central do trabalho que é discutir a expansão da avicultura de corte a partir do sistema integrado de produção.

A proximidade geográfica entre os municípios de São Gonçalo dos Campos e Conceição da Feira (figura n° 7), somado ao fato dos processos de ocupação territorial desses municípios seguirem relativamente a mesma lógica, constituem indicativos reveladores das semelhanças das dinâmicas dos seus espaços rurais.

Durante um período relativamente longo, a principal atividade econômica de Conceição da Feira foi a fumicultura, o que o colocou como um dos integrantes da Zona Fumageira do Estado da Bahia e, nesse sentido, essa atividade apresentou forte influência na organização socioespacial do município através da instalação dos armazéns de beneficiamento de fumo. Entretanto, a decadência fumageira verificada em São Gonçalo dos Campos e região também se fez sentir em Conceição da Feira o que resultou num processo de transformação da dinâmica rural do município que hoje, em termos de agricultura, se caracteriza pelo desenvolvimento da policultura, representada pelo cultivo da mandioca, laranja, feijão e fumo.

Em termos de utilização das terras, verifica-se através dos dados contidos na tabela n° 7 que, as lavouras temporárias e as permanentes constituem a forma de exploração da maioria dos estabelecimentos rurais.

Tabela n° 7

Utilização das terras no município de Conceição da Feira – BA: 1996

Usos Estabelecimentos Área (ha) Área (%)

Lavouras temporárias 392 490 7,2

Lavouras permanentes 325 482 7,0

Pastagens naturais 204 1.962 29,0

Pastagens plantadas 190 3.422 50,1

Matas e florestas naturais 81 356 5,2 Matas e florestas plantadas 05 04 0,05 Produtivas não utilizadas 48 57 0,8

Total - 6.817 100

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1996

As lavouras temporárias estão presentes em 392 estabelecimentos, enquanto que as lavouras permanentes são exploradas em 325 estabelecimentos.

Em termos de área ocupada, as lavouras ocupam, respectivamente, 490 ha e 482 ha, totalizando 972 ha, o que representa um percentual de 14,2% do total das áreas rurais do município. Por outro lado, as pastagens naturais e as plantadas são as formas de utilização da terra presentes em, respectivamente, 204 e 190 estabelecimentos rurais de Conceição da Feira. Entretanto, em termos de área ocupada, observa-se que 1.962 ha (29,0%) destinam-se ao uso de pastagens naturais e 3.422 ha (50,1%) são explorados via pastagens plantadas, o que totaliza cerca de 5.384 ha, ou seja, 79,1% das terras.

Quando se observa a atividade principal dos estabelecimentos rurais (tabela n° 7), nota-se que um número expressivo deles estão voltados, principalmente, para a agricultura (lavouras temporárias, permanentes e horticultura).

Embora as pastagens ocupem uma parcela considerável de 79,1% das áreas rurais do município, dos 546 estabelecimentos, em 325 (59,5%) desenvolve- se, como atividade principal, a agricultura, distribuída entre lavouras temporárias (48,2%), lavouras permanentes (10,0%) e horticultura (1,3%).

Essa situação traz consigo a revelação do caráter extensivo da pecuária desenvolvida em Conceição da Feira, pois, verifica-se que mesmo não sendo a atividade principal da maioria dos estabelecimentos rurais, conforme demonstrado na tabela n° 8, ela expressivamente ocupa a maior parcela da área rural, isto é, 79,1%, conforme verificado na tabela n° 7. Por outro lado, a agricultura que constitui atividade básica de um número expressivo de estabelecimentos (59,5%, ou seja, 325 propriedades distribuídas entre lavouras temporárias, permanentes e horticultura) abrange uma área relativamente pequena se comparada com as áreas de pastagens.

Tabela n° 8

Atividade econômica principal nos estabelecimentos rurais do município de Conceição da Feira – BA: 1996

Atividade Estabelecimentos %

Lavouras temporárias 263 48,2

Lavouras permanentes 55 10,0

Horticultura 07 1,3

Pecuária 166 30,4

Produção mista (agricultura e pecuária) 54 9,9 Silvicultura e exploração florestal 01 0,2

Total 546 100

A agricultura do município, que anteriormente tinha na produção de fumo seu principal destaque, hoje se caracteriza pela presença da policultura desenvolvida em pequenas propriedades rurais.

É importante ressaltar que, em que pese o fato da agricultura se constituir na principal atividade na maioria das propriedades rurais, já neste período, a avicultura representa a atividade de maior expressão socioeconômica municipal. Essa atividade, que foi implantada no município na década de 1960, gradativamente passou a transformar a dinâmica social, econômica e espacial de Conceição da Feira, tornando-o o maior centro de produção avícola do Estado da Bahia.

A isenção de impostos contribuiu para que essa avicultura apresentasse uma dinâmica de crescimento, constituindo a grande atividade econômica municipal, sendo praticada por pequenos, médios e grandes avicultores, influenciando também na dinâmica espacial através da implantação de aviários e infra-estrutura adequados ao desenvolvimento dessa atividade.

Considerando que a análise da dinâmica dessa atividade constitui a principal preocupação desse trabalho, procurar-se-á realizar uma discussão mais aprofundada sobre o desenvolvimento da avicultura na área de estudo nos capítulos seguintes. Entretanto, cabe ainda nesse momento fazer considerações referentes à estrutura fundiária municipal por entender que ela constitui um elemento fundamental no movimento de expansão avícola no município de Conceição da Feira.

Assim, no que se refere ao quadro fundiário de Conceição da Feira, os processos históricos de ocupação e exploração territorial se fazem sentir seja através da distribuição de terras ou mesmo na condição dos produtores presentes neste espaço.

Nessa perspectiva, semelhante à dinâmica predominante verificada no território nacional com um todo e, consequentemente, no Município de São Gonçalo dos Campos, a estrutura fundiária de Conceição da Feira se caracteriza pela presença maciça de pequenas propriedades que, no conjunto, ocupam uma área relativamente reduzida se comparada com a área ocupada pelo conjunto de propriedades de maior dimensão (tabela n° 9).

Tabela n° 9

Número de estabelecimentos e áreas ocupadas no município de Conceição da Feira – BA: 1996

Grupos de áreas (ha) Estabelecimentos (%) Área (ha) (%)

Menos de 1 ha 121 22,1 62 0,9 De 1 a menos de 2 94 17,2 135 1,9 De 2 a menos de 5 135 24,7 442 6,1 De 5 a menos de 10 67 12,3 476 6,6 De 10 a menos de 20 56 10,3 800 11,0 De 20 a menos de 50 44 8,0 1352 18,7 De 50 a menos de 100 11 2,0 805 11,1 De 100 a menos de 200 14 2,6 2101 29,0 De 200 a menos de 500 04 0,7 1054 14,6 Total 546 100,0 7227 100,0

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1996

De acordo com os dados da tabela n° 9, de um total de 546 estabelecimentos rurais cerca de 473, ou seja, 86,6%, têm dimensões que variam de 1 a menos de 20 ha, sendo que, destes estabelecimentos, uma parcela expressiva (350 estabelecimentos) possuem dimensões menores que 5 ha. Esse quadro constituído pela existência expressiva de propriedades com área inferior a 5 ha, certamente, em grande parte, deve-se ao processo de fracionamento das pequenas propriedades como forma de redistribuição da terra entre os membros da família no momento da constituição de novos “embriões” familiares.

Entretanto, em que pese o fato de haver uma predominância de pequenas propriedades, com áreas que variam de 1 a menos de 20 ha, elas ocupam apenas 26,5% da área rural do município.

Por outro lado, não se observa a existência de propriedades com área superior a 500 ha, mas, as maiores propriedades de Conceição da Feira possuem área entre 100 e 500 ha e constituem apenas 3,3% do número de estabelecimentos. Contraditoriamente, esse pequeno percentual abarca cerca de 3.115 ha de terra, o que representa aproximadamente 43,6% da área rural do município.

Esse é um aspecto que mais uma vez denuncia a rigorosa tendência à concentração fundiária que, por sua vez, não constitui um fato verificado apenas no município de Conceição da Feira, pois, está presente na maior parte do país. De forma semelhante ao município de São Gonçalo dos Campos, grande parte dos estabelecimentos rurais de Conceição da Feira (86,6%) possui dimensões inferiores ao módulo rural da região que é de 30 ha. Essa situação tende a influenciar

decisivamente nas condições socioeconômicas das pessoas que vivenciam diretamente essa realidade.

No tocante à condição dos produtores, esmagadoramente a maior parcela (82%) é constituída de proprietários. Entretanto, é possível verificar a existência de outras formas de relações de produção, pois, 15% dos estabelecimentos são explorados por produtores na condição de ocupantes, 2,2% de arrendatários e 0,73% de parceiros, conforme demonstrado na tabela n° 10.

Tabela n° 10

Condição do produtor no município de Conceição da Feira – BA: 1996

Condição Estabelecimentos (%) Área (ha) (%)

Proprietário 448 82,0 6.797 94,0

Ocupante 82 15,0 205 2,8

Arrendatário 12 2,3 176 2,4

Parceiro 04 0,7 50 0,7

Total 546 100 7.228 100

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1996

Outro aspecto marcante na dinâmica rural de Conceição da Feira é a predominância da mão-de-obra familiar como forma de exploração da terra, embora seja constatada, em menor expressividade, a ocorrência de relações de produção capitalista assalariada e também de outras formas de relações não capitalistas, entre elas a parceria.

Oliveira (2001, p. 25) oferece alguns indicativos para explicar a presença de diferentes relações de produção no campo ao afirmar que o

conjunto de contradições que marcam o processo de desenvolvimento capitalista revela, também, que o processo pelo qual o capitalismo se expande no país passa necessariamente pelo domínio do trabalho assalariado nas grandes e médias propriedades e pelo predomínio do trabalho familiar, camponês portanto, nas pequenas propriedades ou pequenas unidades de produção.

Essa é uma situação presente na dinâmica rural de Conceição da Feira, pois, embora as relações assalariadas tendam a apresentar uma expansão acentuada nos últimos anos, a predominância da mão-de-obra familiar se torna cada vez mais evidente nas pequenas unidades produtivas.

Nesse sentido, é importante destacar que o modo de produção capitalista no campo não se expande absolutamente através do trabalho assalariado por todo o canto e lugar, destruindo de forma total e absoluta o trabalho familiar (Oliveira, 2001). Ao contrário, essa expansão também é viabilizada pela criação e recriação de relações de produção não-capitalistas de produção, sobretudo, nas pequenas propriedades.

No geral, a estrutura fundiária do município de Conceição da Feira é caracterizada pela existência de um grande número de propriedades cujas condições não permitem atender as necessidades básicas das famílias que habitam e exploram essas unidades produtivas, pois, elas estão submetidas à condições de produção com uso intenso de técnicas rudimentares, contam com incipiente utilização de equipamentos e insumos agrícolas, mão-de-obra pouco especializada e grande dificuldade de acesso à assistência técnica e financeira.

Essa é uma realidade agravada ainda mais pela falta de políticas públicas que visem conceder crédito e extensão rural para viabilizar a produção agropecuária nas pequenas propriedades exploradas pela mão-de-obra familiar. Em que pese o fato de estar havendo uma preocupação maior, nos últimos anos, com a agricultura familiar, vivencia-se ainda uma dinâmica das políticas agropecuárias que priorizam a produção para exportação e as grandes propriedades.

A compreensão de que o espaço geográfico constitui um conjunto indissolúvel de sistemas e objetos e sistemas de ações (SANTOS, 1996), leva-nos à necessidade de procurar identificar os contornos e a essência estabelecida entre as formas materiais e ações estratégicas implementadas entre os diversos agentes e destes com o espaço. Tal tarefa passa a exigir que se encontre as variáveis explicativas fundamentais a essa indissociabilidade entre os objetos e as ações.

Nesse sentido, a análise do processo de ocupação e exploração territorial bem como da dinâmica dos espaços rurais dos Municípios de São Gonçalo dos Campos e Conceição da Feira, constituiu um exercício importante no sentido de captar as conjugações existentes entre as “heranças” e as “novidades” presentes no espaço geográfico.

A análise da estrutura física desses municípios, associada à evolução da dinâmica socioeconômica, sobretudo do espaço rural, permite que se descubram os contextos e a evolução das principais variáveis que estruturam o uso do território.

Formas geográficas materiais e as ações dos diversos agentes que normatizam o espaço, conjuntamente, determinam o uso do território, e é exatamente nesse sentido que “um território condiciona a localização [e a natureza] dos atores [agentes], pois, as ações que sobre ele se operam dependem da sua própria constituição.” (SANTOS, 2001, p. 22).

Portanto, apreender a constituição territorial desses municípios tornou-se indispensável para a identificação dos seus recursos e, consequentemente, compreender como seu uso é orientado através da atividade avícola, fato este que será explicitado nos capítulos subseqüentes.

3 COMPLEXO AGROINDUSTRIAL AVÍCOLA E A AVICULTURA DE CORTE NO